Podemos entender a Trindade?
É possível entendermos a Trindade? A resposta é NÃO. Por sermos seres criados no tempo e no espaço, nossa mente carnal não é capaz de compreender coisas fora da esfera da relatividade tempo-espaço. Ou seja, não nos é possível entender a Divindade, pois ela não está sujeita às mesmas limitações. Deus é assim. Afinal, estamos falando daquele “que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver” (1 Tm 6:16). Como entender o infinito se estamos presos ao finito? Como compreender o imortal em um corpo mortal? Como enxergar aquilo que não pode ser visto por habitar numa faixa do espectro inacessível ao ser humano?
Portanto, não podemos entender a essência de Deus (porque nossa mente é limitada pela matéria), e a Trindade é a própria essência de Deus; algo intrínseco à sua divina natureza. Mas podemos crer que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, pois assim ele se revelou na Palavra de Deus. Portanto tudo começa pela fé na Palavra para crermos no invisível e incompreensível.
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem. Porque por ela os antigos alcançaram testemunho. Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente” (Hb 11:1-3).
A maioria das pessoas perde de vista o fundamento do que é cristianismo por não entender que é tudo fundamentado na revelação de Deus dada por sua Palavra, não em naquilo que podemos enxergar ou entender. Mas essa mesma revelação chegou a um ponto tal que aquilo que só podia ser revelado foi feito palpável em Cristo.
Pense num software formado por milhões de códigos escritos a partir de uma linguagem binária. Temos então aí uma linguagem ou “fala”. Agora pense nesse código sendo introduzido em um computador ligado a uma impressora 3D e se transformando em um objeto tridimensional. Aquilo que era invisível, intangível e hermético à compreensão (pelo menos para o leito) pôde ser visto e tocado. Se o código incluir áudio, poderá ser ouvido. Este é um exemplo rudimentar do que foi o Verbo fazendo-se carne para habitar entre nós.
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14).
“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 João 1:1).
Jesus, que é Deus e Homem, já é incompreensível à mente humana, pois pela teoria dos conjuntos que aprendemos na escola um conjunto menor nunca poderia conter um conjunto maior. Mas é exatamente o que aconteceu com Jesus andando neste mundo: O Criador de todas as coisas (o conjunto maior) caminhando aqui como um “conjunto menor”.
“Porque nele [em Jesus] habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2:9).
“Todas as coisas foram feitas por ele [Jesus], e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3).
“Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve. Tudo por meu Pai me foi entregue; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que veem o que vós vedes. Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram” (Lc 10:21-24).
Jesus comparou os que creem nele a criancinhas, pois estas creem sem duvidar. Você diz a uma criança que amanhã irá levá-la passear em Marte e ela acredita sem contestar. Ela nem imagina na dificuldade que seria viajar pelo espaço, mas ela acredita em você. Mas se a promessa de levar a criança a Marte é ficção, a revelação de Deus dada ao homem não é. O Filho de Deus veio ao mundo para nos revelar o Pai, e assim é. Todo aquele que crê tem em si o Espírito Santo e pode chamar a Deus de Pai e se relacionar com ele em oração, adoração, louvor e aprendizado.
Mas se prestar atenção na passagem verá que, se é verdade que o Filho pode revelar o Pai a quem ele quiser, a recíproca não é verdadeira. Ou seja, podemos conhecer ao Pai, e até entender que ele seja Deus e esteja acima de todas as coisas e que tudo dependa dele, mas não podemos conhecer o Filho no sentido de quem ele realmente é em sua essência, em sua natureza, porque isto só o Pai conhece. E é aí que entra o que eu disse a respeito da “teoria dos conjuntos” ou da impossibilidade de compreendermos um Homem inserido no conjunto maior da Criação da qual ele próprio é o “conjunto maior” que a própria criação!
Eu sei que sua dúvida estava em compreender a Trindade, mas se não podemos compreender uma única Pessoa da Trindade, a mais visível e palpável delas, como poderíamos achar que seríamos capazes de compreender a Divindade como um todo? Isto apenas já seria suficiente para descansarmos no fato de que nunca iremos entender tudo (porque estamos falando da Divindade, não de um ser criado, como eu e você). O que de Deus podemos ver é Cristo, a expressa imagem de Deus, “o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa” (Hb 1:3). Mesmo assim, apesar de homens terem visto, ouvido e tocado em Jesus, nunca o puderam compreender totalmente e muitas coisas continuarão sendo para nós um enigma enquanto as enxergarmos com as limitações impostas por nossa condição atual. Se alguém neste estágio considerar-se capaz de compreender todas as coisas essa pessoa não terá em sua perspectiva compreender as coisas que só serão percebidas na eternidade.
Esta passagem de 1 Coríntios aplica-se apenas aos que já creram em Cristo e agora possuem uma nova natureza divina em si, mas ela mostra que mesmo assim eles se encontram numa condição limitada pelo contexto da velha criação em que vivem. “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” (1 Co 13:12). Pense em “espelho” não naquele que tem em sua casa, mas nos espelhos que eram usados antes da invenção do espelho moderno no século 13. Até então só era possível ver o reflexo de um rosto em chapas de metal polido ou numa bacia de água. A visão era tão rudimentar quanto a que podemos ter das coisas eternas e divinas.
Resumindo, você nunca irá entender a Trindade, mas poderá crer na Palavra de Deus que a revela em diversas passagens, como estas:
“No princípio criou Deus [Elohim, plural] os céus e a terra... E disse Deus [Elohim, plural]: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1:1, 26).
“Então disse o Senhor Deus [Jeová, singular]: Eis que o homem é como um de NÓS, sabendo o bem e o mal” (Gn 3:22).
“Depois disto ouvi a voz do Senhor [Adonai], que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por NÓS?” (Is 6:8).
“Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que aquilo se fez EU estava ali, e agora o Senhor Deus [Jeová Adonai] me enviou a mim, e o seu Espírito” (Is 48:16) -- repare que a Pessoa divina que fala faz menção de outras duas Pessoas.
“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos” (Is 61:1) -- esta é a mesma passagem lida por Jesus em Lucas 4 quando revelou ser dele que o profeta Isaías falava.
“E, sendo JESUS batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o ESPÍRITO de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus [o PAI] dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3:16-17) -- três Pessoas, o Filho, o Espírito e o Pai cuja voz é ouvida vinda do céu.
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28:19).
“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós” (2 Co 13:14).
Uma pessoa que seja simples como uma criança irá crer no que Deus diz em sua Palavra, e esta mostra claramente as três Pessoas da Trindade, embora este termo “Trindade” não apareça na Bíblia. Mas será que cada uma dessas três Pessoas é Deus? Sim, e aí entra nossa incapacidade de compreender como três podem ser um, isto é, como pode existir pluralidade de Pessoas em um único Deus. Talvez um exemplo tosco disso seja o ovo. Existe um só ovo, mas ele é formado por casca, clara e gema. Quando vemos um ovo inteiro dizemos: “É ovo”. Quando vemos um ovo frito, dizemos: “É ovo” (mas estamos vendo apenas clara e gema).
Aqui vão algumas passagens que mostram que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito é Deus.
O PAI É DEUS:
“Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; porque a este o Pai, Deus, o selou” (Jo 6:27).
“Graça e paz de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (Rm 1:7).
“Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pe 1:2).
O FILHO É DEUS:
“No princípio era o Verbo [Jesus], e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:1, 14).
“Dos quais são os pais [patriarcas de Israel], e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente” (Rm 9:4).
“Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2:9).
“Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; cetro de equidade é o cetro do teu reino” (Hb 1:8).
“E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 João 5:20).
O ESPÍRITO SANTO É DEUS:
“Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo... Não mentiste aos homens, mas a Deus” (Atos 5:3-4).
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós”? (1 Co 3:16) - está falando do Espírito Santo que habita no crente, conforme Romanos 8:9, Jo 14:16-17 e Atos 2:1-4.
É claro que para crer que Deus é um só em três Pessoas é preciso crer também na Palavra de Deus, a revelação que nos foi dada. Quem não crê na Palavra de Deus não crerá na Trindade e achará que é a sua compreensão carnal o ponto de referência para entender aquilo que não se pode ver.
As religiões humanas costumam ter características semelhantes quando o assunto é o cristianismo. Ainda que algumas considerem Jesus um grande homem, ou a Bíblia uma bela leitura, elas negam que a Bíblia seja a revelação de Deus, que Jesus seja o Filho Eterno de Deus vindo em carne (tendo, portanto, existência prévia sem nunca ter sido criado), que Deus seja Um em três Pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo.
Mas será que existe uma chave infalível para se detectar se uma religião é ou não de Deus. Existe. Pergunte a algum religioso o que ele aprende em sua religião e ele responderá que aprende que é preciso fazer o bem. Esse “fazer o bem” pode variar, mas basicamente a ideia é de que cabe ao ser humano melhorar a si mesmo para chegar a Deus, atingir um nível mais elevado, alcançar o Nirvana, eliminar seu carma, pagar seus pecados, limpar a “poeira” de seu ser material... Os termos usados variam. Mas a tônica é sempre a mesma: Depende de você.
No cristianismo autêntico e bíblico nada depende do homem, tudo depende de Deus, que enviou o seu Filho para morrer como um sacrifício substitutivo para o homem pecador. Ao homem resta apenas a opção de crer em Jesus, o Cordeiro de Deus que morreu, ressuscitou e está agora assentado na glória. Qualquer religião que coloque seu foco no aprimoramento pessoal não é de Deus (apesar de ser louvável tentar melhorar). Por quê? Simples! Se eu preciso fazer algo para resolver meu problema eterno toda a glória por isso será minha, caso eu consiga. E se eu sentir lá no fundo que estou conseguindo isso irá despertar em mim o orgulho de ser alguém um pouco melhor que meu vizinho. Eu preciso ser hipócrita para negar que existe em mim este tipo de sentimento e você também.
Por isso o apóstolo Paulo, ao escrever aos colossenses, revela bem as características das falsas religiões. Veja na passagem abaixo que elas procuram dominar as pessoas sob o pretexto da humildade. Também se dedicam ao culto de entidades angelicais ou espirituais. São baseadas em “visões”, ou “coisas que não viu”, como está nesta versão e seus adeptos se orgulham de poder racionalizar tudo com sua “carnal compreensão”, descartando assim as coisas que não compreendem.
Por não crerem em Cristo como Senhor, seus membros não estão ligados à Cabeça, que é Cristo, portanto vivem desconectados da fonte do verdadeiro conhecimento. Ocupam-se com “rudimentos do mundo” e “ordenanças”, porque toda a sua esperança resume-se em utilizar o que é visível e palpável (e isso inclui a própria mente física) para preparar-se para a eternidade. Religiões assim são cheias de regras e ordenanças do tipo “não toques, não proves, não manuseies”, que não passam de “preceitos e doutrinas dos homens”.
Agora vem a parte melhor: Coisas assim podem até ter “alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade e em disciplina do corpo”. Isto é muito encontrado em religiões orientais, que consideram que o está tudo bem com o homem em sua parte mental ou espiritual, mas falta apenas colocar seu corpo na linha por meio de exercícios, alimentos, meditações etc. A conclusão da Palavra de Deus para o resultado disso? “Não são de valor algum senão para a satisfação da carne”. Traduzindo, isto significa que todo o meu esforço de nada adiantará, mas satisfará minha carne, o orgulho que existe em mim de me considerar alguém melhor quando comparado a alguém pior do que eu.
“Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, E não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2:18-23).