Por que não deram água a Jesus?

Interessante sua pergunta, pois eu mesmo não tinha parado para pensar a razão de terem dado vinagre ao Senhor na cruz, e não água. Em um determinado momento oferecem a Jesus vinagre misturado com mirra, que era um anestésico e o Senhor recusou-se a beber. Isso parece ter acontecido ainda antes da crucificação, quando chegaram ao Gólgota, e devia fazer parte do processo de execução do condenado, como em alguns países quando aplicam um sedativo no preso que será executado.

“E, chegando ao lugar chamado Gólgota, que se diz: Lugar da Caveira, deram-lhe a beber vinagre misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber” (Mt 27:33-34).

E havia o vinagre, que ele aceitou quando disse que tinha sede, pouco antes de entregar sua vida e morrer.

“Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede. Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num híssope, lha chegaram à boca. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 19:28-30).

Segundo o “Concise Bible Dictionary”, vinagre nos evangelhos “era um vinho azedo que podia ser chamado tanto vinho como vinagre, enquanto outras palavras eram usadas para o vinho de melhor qualidade. Era a bebida dos ceifeiros e dos soldados romanos. Ele aparece como uma bebida embriagante e que irrita os dentes. 'O que canta canções para o coração aflito é como aquele que despe a roupa num dia de frio, ou como o vinagre sobre salitre.' (Pv 25:20). Sua acidez é mencionada em Provérbios 10:26: 'Como vinagre para os dentes, como fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o mandam.' Foi oferecido ao Senhor vinagre misturado com mirra ou fel, e ele se recusou a bebê-lo; porém ele aceitou o vinagre quando disse 'tenho sede', em conformidade com a profecia que dizia 'na minha sede me deram a beber vinagre.' (Sl 69:21)”.

O fato de ele ter se recusado a beber o vinagre anestésico foi por querer sofrer de forma consciente por nossos pecados. Mas ao aceitar o vinagre puro dos soldados, quando pediu por água, ele estava demonstrando tanto o fato de mais uma profecia estar se cumprindo (Sl 69:21), como também a outra profecia que dizia: “Esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por consoladores, mas não os achei” (Sl 69:20).

A Palavra de Deus, que aqueles judeus conheciam tão bem, dizia: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão para comer; e se tiver sede, dá-lhe água para beber” (Pv 25:21). Todavia, em sua hora de maior sofrimento, quando a sede de Jesus fazia sua língua inchar e grudar no interior da boca, ao invés de darem água para mitigar sua sede os homens lhe deram a bebida mais azeda encontrada na face da terra, e isto para causar mais sede.

Será que poderia haver alguma dúvida da maldade do coração do homem ao tratar assim o Filho de Deus? Os homens que o trataram assim talvez tenham sido curados e alimentados por ele dias antes, ou tinham amigos ou parentes que foram beneficiados, mas ainda assim prevaleceu o ódio e inimizade contra Deus que todos nós, por natureza, trazemos no coração. Esta é a descrição que Deus dá do ser humano em sua natureza arruinada herdada de Adão, e isto inclui eu e você:

“Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos” (Rm 3:12-18).

Acho engraçado quando alguém questiona a Palavra de Deus, dizendo que se Deus existe por que permite tanta maldade no mundo. Talvez seja porque quando o seu Filho teve sede nós lhe demos vinagre ao invés de água, como daríamos até a um cão. E se demos vinagre provavelmente isso foi porque teria sido muito complicado colocarmos sal numa esponja na ponta de uma vara para dar a ele. Se fosse fácil, teríamos dado sal.

O vinagre como resposta ao pedido de água feito por Jesus foi nosso último ato de crueldade ao nos despedirmos do Filho de Deus. E se não bastasse, minutos depois seu cadáver seria profanado quando o soldado furou o seu lado com uma lança, mesmo sabendo que ele já estava morto. Ferir um cadáver é algo abominável, por mais que seja o de um inimigo.

“E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que, traduzido, é: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Eis que chama por Elias. E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a numa cana, deu-lho a beber, dizendo: Deixai, vejamos se virá Elias tirá-lo” (Mt 15:34-36).

“Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas. Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água” (Jo 19:33-34).

“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque... tive sede, e destes-me de beber” (Mt 25:34).