Por que alguns prosperam nessas religiões?

Você pergunta se é milagre a prosperidade que muitos dizem ter alcançado depois de passarem a frequentar uma determinada religião que segue a teologia da prosperidade. Uma coisa é certa: Deus pode beneficiar quem ele quiser, mas essas religiões não têm nada a ver com isso. Um pouco de observação das Escrituras logo revela que os supostos milagres operados ali estão longe de serem aqueles narrados na Bíblia.

Por exemplo, veja este: “E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos; os quais eram todos curados” (Atos 5:16). Isso aconteceu no princípio, quando Deus estava dando o devido crédito à pregação dos apóstolos por meio de sinais e maravilhas. Percebe que “eram todos curados”? Acaso já viu algum desses pregadores modernos de curas e prosperidade curarem todos os ouvintes de sua pregação?

Outra coisa que precisa ser levada em conta é que qualquer pessoa que adota uma religião que dá a ela uma lista de restrições irá melhorar sua vida e sua saúde. Ela passará a ser mais dedicada ao trabalho, irá parar de beber, fumar, virar a noite nas farras e passará a economizar dinheiro, pois agora tem uma obrigação, que é contribuir com dízimos e ofertas para sua religião, além de ser constantemente vigiada, ensinada e encorajada pelos outros membros. Todos sabemos que pessoas em grupos ou associações se ajudam mutuamente e obtêm benefícios disso.

Junte a lista de regras, a vigilância, a cobrança e o encorajamento e você já verá resultados, como acontece até em grupos dos Alcoólicos Anônimos. A pessoa passará a economizar o dinheiro que gastava com noitadas, bebidas, drogas e cigarros, graças ao suporte da ajuda mútua dos membros daquela sua religião. Por que você acha que o governo gosta tanto das religiões, principalmente as evangélicas? Porque elas fornecem tudo isso aos seus seguidores, além de os colocarem sob o comando de um só homem que pode ser mais facilmente controlado pelas autoridades. O governo precisa controlar apenas o pastor e assim estará controlando milhares de seguidores.

Existe ainda outro fator da suposta realização de milagres e bênçãos, que é uma característica da mente humana. Nosso cérebro se esquece facilmente da dor (ou nenhuma mulher teria um segundo filho), porém se lembra do prazer. Então nos esquecemos de quando oramos por algo e aquilo não aconteceu, ou aconteceu justamente o oposto que foi algo desagradável e dolorido, mas gravamos na mente as orações que aparentemente foram respondidas com algum benefício que nos trouxe satisfação, mesmo que não tenham sido pela interferência divina, mas simplesmente porque aquilo aconteceria naturalmente.

Este raciocínio pode também ser aplicados nas “profetadas”, as supostas “profecias” que são abundantes nos meios pentecostais, e o mecanismo é o mesmo para qualquer tipo de adivinhação. Pessoas vão a centros espíritas, cartomantes, adivinhos, astrólogos etc. porque viram serem realizadas as “profecias” feitas ali, sem perceberem a influência deste mecanismo da mente humana de se lembrar do que dá certo e esquecer o que deu errado.

Além disso, nessas “igrejas”, principalmente as pentecostais, onde o testemunho é estimulado, todos gostam de ir falar ao microfone, e quando isso acontece, um resfriado já vira pneumonia e o sujeito que roubou uma fruta na feira vira assaltante, porque temos a tendência de exagerar para sermos aceitos. Jornais sensacionalistas costumam colocar uma lente de aumento nas notícias por saberem que “se não sangrar não dá audiência”, pois é outra característica do ser humano gostar de se entreter com o mal. Então nesses testemunhos acaba valendo a velha máxima do “quem conta um conto aumenta um ponto” e nem todos os frequentadores dessas igrejas sabem que muitos dos que vão ali dar “testemunhos” recebem um cachê para isso e alguns têm até empresário para negociar sua presença. Na “bolsa do testemunho” quem tiver a história mais escabrosa cobra o cachê mais alto.

Como pode ver, basta conhecer um pouco da natureza humana para entender como a questão dos “milagres” funciona dentro das religiões, e muitos desses “pastores” que você vê todos os dias no rádio, na TV e nas “noites de milagres” que anunciam são campeões em entenderem e manipularem comportamentos. Muitos deles devem ser leitores assíduos de “As 48 Leis do Poder”, livro que é o mais lido nas bibliotecas dos presídios norte-americanos e usado como guia por muitos políticos, pastores e ditadores que desejam exercer influência, poder e controle sobre as pessoas. Li apenas alguns trechos do livro, o suficiente para querer evitá-lo porque iria dar muito trabalho eu transformar sua mensagem no avesso para andar como cristão.

Termino deixando claro que não duvido que Deus possa atender orações (ou eu pararia de orar), que ele seja poderoso para curar enfermidades, restaurar vidas, recuperar as finanças e os relacionamentos. Mas é sempre bom não deixar o bom senso de lado quando estas questões envolvem religiões e líderes que têm uma agenda paralela de exercer controle sobre as pessoas e enriquecer. Não encontramos na vida dos apóstolos nenhum que tenha sido bem-sucedido aos olhos do mundo, ou que tenham escapado de problemas, doenças e dificuldades. Pelo contrário, dos treze (incluindo Paulo), todos menos João foram executados por meio de morte violenta. João passou seus últimos dias na prisão do exílio. E se você prestou atenção nos sítios arqueológicos do mundo antigo e nos museus certamente nunca terá encontrado algum palácio ou mansão pertencente aos apóstolos ou objetos preciosos de ouro e prata que estavam entre seus pertences, como encontramos dentre o que foi deixado por reis, príncipes e magnatas do passado.