Devo denunciar as perversões?
“Gente! Vocês viram que coisa horrível?!!!” Tenho certeza de que você já viu alguma frase assim numa rede social, geralmente acompanhada de uma foto ou vídeo de algo que é de virar o estômago. Eu já devo ter feito isto também, ou posso voltar a fazer se estiver distraído, mas tenho pensado no assunto. Falo de cristãos que publicam perversões, seja em vídeo, fotos ou textos, com a boa intenção de denunciar as maldades do mundo.
Existe um sentimento de missão cumprida quando denunciamos um mal contra o qual nada podemos fazer. É como aquelas cartas a editores de jornais do tipo “Precisamos resolver o problema da fome...”, “É um absurdo deixarmos tantas crianças morrerem sem cuidados...”, “Não devemos nos omitir de...” e por aí vai.
Falar na primeira pessoa do plural (“nós precisamos fazer algo”) é uma técnica usada para se eximir da responsabilidade pessoal, dividindo-a com os sete bilhões de habitantes do mundo e esperando que um deles faça algo. Geralmente quem escreve a denúncia não move uma palha no sentido de resolver, mas sente-se bem com sua consciência por achar que já fez sua parte denunciando o problema.
Obviamente o cristão não deve se omitir de fazer o bem, e isto às vezes envolve denunciar às autoridades algum problema quando ele próprio não tem o poder de resolvê-lo. Mas a simples divulgação do mal não é o melhor caminho para o bem. Existe na mídia um acordo não escrito de não publicar notícias de suicídio para não encorajar outros cometer esse ato. Nos EUA também se evita ao máximo divulgar as tentativas de massacres em escolas (divulgam quando efetivamente acontece) para evitar que outros adolescentes se sintam motivados a fazer o mesmo para conseguirem quinze minutos de fama.
Divulgar o mal nas redes sociais pode até ser que ajude em alguns casos, mas quando vejo postagens assim, ainda que em tom de denúncia, me lembro de um texto de um poeta que perguntava quem seria o perverso na tourada. O touro não era, porque estava defendendo a própria vida. O toureiro também não, pois estava ali para garantir o sustento dos filhos. O perverso só podia ser o espectador, porque só assistia a morte do touro ou do toureiro e ainda pagava para isso.
Outro dia uma irmã em Cristo postou um vídeo de uma perversão e comentou: “Gente, que absurdo! Não sei como permitem publicar essas coisas na Internet!!!”. Às vezes não nos damos conta de que somos cúmplices na divulgação do mal. O que diz a Palavra?
“Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz (porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade), provando sempre o que é agradável ao Senhor. E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha. Mas todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo que se manifesta é luz” (Ef 5:8-13).
O simples fato de um cristão andar como luz neste mundo revela as obras das trevas. Ele não precisa divulgá-las para que todos percebam o contraste. Aliás, a passagem diz que ele não deve divulgá-las, pois “até mencionar é vergonhoso”. W. Macdonald comenta a passagem assim:
“As pervertidas formas de pecado que o homem inventou são tão ruins que até descrevê-las iria contaminar as mentes dos ouvintes. Portanto o cristão é ensinado a se refrear até de falar sobre elas. A luz é o que torna manifesto por contraste a amplitude do pecado nas vidas não regeneradas”.