Você leu “Caçadores de Deus”?

Não li o livro “Caçadores de Deus” de Tommy Tenney, mas a simples leitura de suas primeiras páginas já fez soar o alarme. Veja o que encontrei:

“ A diferença entre a verdade de Deus e a revelação de Deus é muito simples. A verdade é onde Deus esteve. A revelação é onde Deus está... A igreja, hoje, gasta incontáveis horas e muita energia debatendo sobre onde Deus esteve, quão poderosamente ele agiu quando estava lá e a natureza de sua operação. Para os verdadeiros caçadores de Deus todas estas coisas são irrelevantes ... Um verdadeiro caçador de Deus não se satisfaz com a verdade passada, ele anseia pela verdade presente ... Existe uma grande diferença entre a verdade presente e a passada. Temo que muito do que a igreja tenha estudado seja a verdade passada, e muito pouco do que sabemos seja a verdade presente”.

Trocando em miúdos, ele está dizendo que aquilo que Deus nos diz em sua Palavra, ao contar o que fez no passado, não é tão importante (ele chega a chamar de “irrelevante”) quando comparado com aquilo que Deus está fazendo em nossos dias. E por aquilo que Deus está fazendo em nossos dias obviamente o autor do livro está se referindo às experiências místicas e sobrenaturais que irá descrever nas páginas seguintes sem fazer a pergunta mais importante de todas: Será que essas experiências são realmente de Deus ou não passam de manifestações da carne ou, o que é pior, manifestações demoníacas?

O tema todo gira em torno da Palavra de Deus versus a experiência do cristão (emoções, êxtases, etc.) e é aí que mora o perigo. Quando damos atenção ao que os cristãos estão fazendo ou experimentando, acabamos colocando a experiência acima da Palavra de Deus, como se Deus não estivesse agindo, a menos que eu estivesse sentindo isso. Isso joga muitos cristãos sinceros em um mar de dúvidas, quando não conseguem experimentar coisa alguma e aí passam a duvidar de que sua fé seja genuína. No meio pentecostal você vai encontrar muito disso: pessoas totalmente desmotivadas porque não falam línguas estranhas ou não têm um testemunho mirabolante para contar, como se essas coisas fossem a essência da vida cristã. Olhar para nossas experiências (mesmo que sejam genuínas) é perder de vista aquilo que deve ser realmente o foco de nosso olhar: Cristo.

(Cl 3:1) “ Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.

O cristão que vive “turbinado” por experiências místicas é como um viciado em drogas que não consegue viver feliz se não estiver mergulhado em experiências sensoriais ou assistindo algum pregador pulando em um palco, gritando palavras de ordem ou curando uma fila de supostos enfermos. Não somos chamados a viver numa êxtase da carne, mas somos exortados a nos ocuparmos com Cristo, ainda que seja na quietude de uma experiência como a de Elias, que precisou aprender que não era nas manifestações grandiosas que iria encontrar Deus, mas em um leve sussurro.

(1 Rs 19:11) “ E ele lhe disse: Sai para fora e põe-te neste monte perante a face do Senhor. E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento, que fendia os montes e quebrava as penhas diante da face do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e, depois do vento, um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; e, depois do terremoto, um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, uma voz mansa e delicada . E sucedeu que, ouvindo-a Elias, envolveu o seu rosto na sua capa, e saiu para fora, e pôs-se à entrada da caverna; e eis que veio a ele uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias?”.

Livros como “Caçadores de Deus” de Tommy Tenney podem até encher de adrenalina seus leitores e ajudarem a “turbinar” por um tempo alguns cristãos que preferem viver mais por vista que por fé; gente que não consegue se animar se não viver mergulhado em experiências místicas e sobrenaturais. Mas livros assim também costumam mergulhar muitos na decepção de não conseguirem ver em suas vidas manifestações que possam experimentar, como se a vida cristã dependesse disso. A alma que se contenta com o Senhor e nada mais vai passar ao largo desse tipo de “estimulante” religioso.

Em tempo: no site do autor ele se refere ao Pai, Filho e Espírito Santo, não como pessoas divinas, mas como diferentes “manifestações” de Deus, o que aparentemente tem o mesmo efeito de negar a Trindade, ou seja, um só Deus em três pessoas distintas. Se eu fosse você passaria longe desse e de outros livros que vivem prometendo experiências místicas como o suprassumo da vida cristã. O cerne da vida cristã é e sempre será Cristo, quer você sinta algo ou não.