Qual a melhor tradução da Bíblia?

Não temos nenhum original da Bíblia, seja do Antigo, seja do Novo Testamento. Tudo o que existe são cópias de cópias, algumas com gerações de distância do texto original. Depois temos as diferentes traduções de diferentes cópias. Obviamente sempre ocorre alguma diferença aqui e ali, mas se Deus foi suficiente para cuidar que o teor da sua Palavra se mantivesse inalterado em sua essência nas muitas cópias manuscritas, ele também tem cuidado para não deixar a coisa se corromper nas traduções.

Porém, trabalhando como tradutor inglês-português há mais de 30 anos, sei que uma tradução pode ser melhor ou pior, dependendo de alguns fatores. Então é sempre bom recorrer a mais de uma tradução na hora de ler ou tentar entender uma passagem em particular. Existe também a questão da dinâmica de uma língua, cujo sentido se altera com o tempo. Hoje quando você diz “igreja”, as pessoas pensam logo em um edifício físico de pedras ou tijolos, mas isso é uma distorção da palavra original, que nunca significou um edifício, mas apenas um ajuntamento de pessoas. Outras palavras, embora sofram alterações com o tempo, são difíceis de substituir por um equivalente moderno ou no idioma destino.

Você perguntou sobre a versão Fiel da Sociedade Trinitariana. Eu não sou nenhum expert em traduções bíblicas, mas me parece ser uma boa tradução (bem literal), como também é a Revista e Corrigida da Sociedade Bíblia, embora esta esteja sendo alterada em sua última edição. Eu uso a Revista e Corrigida Almeida da Sociedade Bíblica, mas também comparo com outras versões, como versões católicas, em inglês (a de J. N. Darby é bem fiel), e algumas versões inglesas literais (ao pé da letra).

Sugiro que instale o programa e-Sword para ter várias versões e poder comparar versículos. Ultimamente tenho feito minha leitura diária no próprio notebook usando o e-Sword que permite que eu leia comentários de diversos autores e faça também minhas próprias anotações que depois são transformadas nas mensagens de “ O evangelho em 3 minutos” .

Quanto à NVI eu a utilizo nos vídeos de “ O evangelho em 3 minutos” por ser mais coloquial e utilizar pronomes pessoais como “você” e “vocês” ao invés de “tu” e “vós”. Eventualmente eu lanço mão dela para esclarecer alguma passagem que possa parecer confusa na linguagem mais arcaica das versões tradicionais. Mas não me fio nessa versão, pois li que há incrédulos envolvidos na tradução e mesmo quando a utilizo nos vídeos de “ O evangelho em 3 minutos” eu costumo adaptar a passagem caso perceba algum desvio da são doutrina como podemos encontrar claramente nas versões Almeida Revista e Corrigida ou Almeida Revista e Atualizada.

É fácil entender a razão de ficar com um pé atrás da NVI ou Nova Versão Internacional. Eu, que trabalho com tradução, recentemente recusei traduzir um livro acadêmico sobre redes de computadores porque a tradução exigia conhecimento e vocabulário técnico de redes e informática, o que não tenho. Por esse vocabulário não fazer parte de meu vocabulário usual e de negócios, eu não seria um bom tradutor neste caso. Do mesmo modo, um incrédulo dificilmente será um bom tradutor na hora de traduzir as Escrituras ou até mesmo de livros cristãos, pois não basta trocar uma palavra por outra, é preciso entender o sentido do texto.

Mesmo usando hoje a versão Almeida Revista e Corrigida, já percebo que esta também está sendo alterada nas edições mais novas, e de uma maneira nem sempre positiva. Por exemplo, nas novas versões a palavra “ caridade” , usada nas versões Almeida antigas, foi substituída por “ amor” , sob a alegação de que atualmente a palavra “ caridade” tem o sentido de piedade e até esmola. Na revista “ A Bíblia no Brasil” publicada pela Sociedade Bíblica há até uma explicação: “ Hoje há uma grande diferença entre afirmar ‘Eu me casei com você por amor’ e dizer ‘Eu me casei com você por caridade’“ .

Tudo bem se fosse esse o sentido bíblico do amor de Deus, mas é preciso entender que Deus nos amou sim no sentido de caridade, de piedade e até de esmola, nos dando o que não tínhamos, não correspondíamos e nem sequer merecíamos. O amor do exemplo da revista da SBB é o amor afetivo, mas quando falamos do amor de Deus ele não é o mesmo, pois não havia nada em nós que Deus pudesse amar.

Na nova edição da Almeida Corrigida alteraram também 1 João 3 substituindo a expressão “ não peca” por “ não vive pecando” . A explicação da SBB é que “ João não está querendo dizer que a pessoa que nasce em Cristo não peca, mas que não vive pecando. Em outras palavras, ela continua pecadora, mas não tem prazer no pecado”. Afirmar isso é não entender o novo nascimento e a nova vida que o crente recebe, uma vida que vem de Deus e é perfeita. Portanto, o que é nascido de Deus, não peca mesmo. O que peca é o que é nascido de Adão, e como conservamos em nós essa velha natureza que é capaz de pecar, então pecamos. Essa velha natureza não pode ser melhorada e tem sim prazer no pecado. Mas a nova natureza, recebida pelo novo nascimento, não peca, não tem prazer no pecado, e também não pode ser melhorada por ser isso algo impossível de ser feito com uma natureza perfeita que recebemos do próprio Deus.

Resumindo tudo, independente da tradução da Bíblia que você usa, vai precisar do Espírito Santo para entender a Palavra de Deus, porque não são coisas naturais que possam ser compreendidas com a inteligência. Um versículo apenas de uma tradução capenga pode ser uma verdadeira bomba atômica na alma quando guiado pelo Espírito Santo, enquanto o mais letrado doutor pode ler todas as traduções e os manuscritos originais de trás para frente e não entender uma vírgula por não crer no Autor da Palavra.