O templo de Jerusalém era a Casa de Deus?

Sim, no Antigo Testamento a expressão “casa de Deus” referia-se ao Templo em Jerusalém. O templo era, ao mesmo tempo, um marco da presença de Deus entre o seu povo (como foi o tabernáculo no deserto) e um lugar de adoração onde o povo de Deus podia entrar respeitando certos limites.

No Novo Testamento temos uma amplitude maior do que significa a casa de Deus. Primeiro, o Templo de Jerusalém já não existe como casa de Deus. O lugar de habitação de Deus é agora identificado de três formas diferentes: como o próprio corpo do crente, a assembleia ou igreja local, e a igreja como um todo. A casa de Deus também aparece como templo de Deus e os verdadeiros crentes em Cristo como pedras dessa construção que é edificada por Deus. Em nenhuma circunstância na atual ordem de coisas a Bíblia identifica a casa de Deus como um edifício físico como era o templo de Jerusalém.

Creio que o aspecto mais importante que temos hoje da casa de Deus (e a razão de sua dúvida) é o revelado em 1 Timóteo 3:15: “ ...para que, no caso de eu tardar, saibas como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade”.

Aqui a casa de Deus é identificada também como a igreja do Deus vivo em seu aspecto temporal e visível, e não em seu aspecto perfeito e eterno. Não se trata da igreja sem mancha e sem mácula que Cristo veio preparar (e efetivamente preparou por sua obra), mas do aspecto comportamental e governamental dessa mesma igreja. Um pouco antes, em 1 Timóteo 3:4-5 vemos uma relação daqueles que cuidam da casa de Deus com pessoas que cuidam da própria casa, o que mostra o aspecto material e temporal do que é mostrado aqui. É responsabilidade dos cristãos manterem essa casa limpa de todo mal. Não se trata, porém, de limpar o pecado das pessoas, mas de evitar a contaminação da comunhão na casa de Deus, a esfera em que nós cristãos atuamos nas coisas de Deus, o que pode ser visto também como a assembleia.

Em 2 Timóteo 2 essa mesma casa de Deus é vista como uma “ grande casa” , na qual se introduziram todo tipo de vasos e materiais. À semelhança do templo de Jerusalém, onde era possível (apesar de não permitido) entrarem coisas impuras, na casa de Deus, que é o aspecto exterior da igreja de Deus, é possível também encontrar impurezas. Daí a necessidade de governo, julgamento e disciplina na assembleia.

Nos evangelhos (um tempo ainda dentro da dispensação da lei e do judaísmo) o Senhor Jesus chamou o templo de “ casa de Deus” (Mt 12:4) e rechaçou os mercadores da casa de Deus, que ele chamou de “ casa de meu Pai” . Em Mateus 11 ele expulsou os vendedores do templo e disse que a casa de Deus devia ser chamada de casa de oração. O fato de estarem usando a casa de Deus como lugar de comércio mostra como era possível o mal entrar nela e, ainda assim, continuar sendo a casa de Deus.

Quando lemos 1 Coríntios 5 vemos os procedimentos que tomam lugar na casa de Deus, agora no sentido da assembleia local. Uma pessoa que esteja em pecado deve ser julgada pela assembleia local e colocada fora da comunhão à mesa do Senhor. Trata-se de uma disciplina exercida com a autoridade que o Senhor deu à assembleia (o que ligarem na terra será ligado no céu). Não se trata de tirar de alguém sua salvação, mas simplesmente de limpar a casa de Deus do mal.