A besta e o anticristo são pessoas diferentes?

Para você entender melhor (mesmo porque Apocalipse fala de duas bestas diferentes), decidi traduzir um texto escrito por J. A. Trench (1843 — 1925):

As dúvidas sobre quem são a Besta e o Falso Profeta podem exigir uma visão mais ampla do escopo da profecia, a fim de tornar a resposta compreensível dentro dos limites deste texto.

Repare que há duas bestas em Apocalipse 13. A primeira, identificada por suas sete cabeças relacionadas às formas passadas do Império Romano, deve sua última forma ao poder satânico (Ap 13:2). Uma das cabeças, sem dúvida a cabeça imperial, foi ferida de morte, mas ao sobreviver como forma de governo no final faz com que todo o mundo se maravilhe com a besta. Ela é, em outras palavras, o Império Romano satanicamente revivido, o qual ainda verá. Trata-se da continuidade da última metade da septuagésima semana de Daniel, descrita como “um tempo, tempo e metade de um tempo”, ou quarenta e dois meses, como aparece aqui, ou 1260 dias (Ap 11:3; Ap 12:6), ou seja, os últimos três anos e meio antes da vinda do Senhor para estabelecer o seu reino. O caráter desse poder é blasfemo e especialmente maligno em relação a Deus e aos santos celestiais. Tudo isso ocorre na terra com uma classe de pessoas que é característica do relato de Apocalipse e que, tendo um dia sido apresentada ao chamado celestial, escolheu a terra e a adoração à Besta. Uma classe de pessoas formadas por todos aqueles cujos nomes não estavam escritos desde a fundação do mundo no livro da vida do Cordeiro que foi morto (que é como a expressão deve ser lida).

em Apocalipse 13:11 temos a segunda besta com chifres como de cordeiro, uma imitação de Cristo (como ele aparece em Apocalipse5:6), mas esta tem dois chifres ao invés de sete, e sua boca revela sua origem satânica. Ele engana os habitantes da terra fazendo grandes maravilhas e tem poder para fazê-las na presença da primeira besta. Este é o Homem de Pecado, o ímpio de 2 Tessalonicenses 2, que atua sob os auspícios do poder Romano no Ocidente, levando todos a adorarem sua imagem em meio à dor e morte; enquanto no Oriente ele revela o seu verdadeiro caráter como o Anticristo, se exaltando e se opondo contra tudo o que está relacionado a Deus, se colocando como objeto de adoração no Templo de Deus que terá sido reconstruído em Jerusalém.

Temos esta trindade satânica do mal em Apocalipse 16:13, onde os espíritos imundos saem da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta. Apocalipse 19:20 nos mostra o fim destes dois últimos, que lideram a última grande confederação de nações contra Cristo e contra os santos que descem com ele dos céus. A besta e o falso profeta são lançados no lago de fogo.

Se a identificação da segunda besta com o homem de pecado for correta (e eu tenho certeza disso), 2 Tessalonicenses 2 demonstra que antes de sua manifestação deve ocorrer a vinda do Senhor Jesus e nossa reunião com ele. Por enquanto, os poderes que existem foram ordenados por Deus e colocam limites contra a total disseminação da iniquidade a ser encabeçada pelo iníquo. Isso será então removido. “ Agora, vós sabeis o que o detém” , no versículo 6, e, além disso, “ há um que, agora, resiste até que do meio seja tirado” , a saber, o Espírito Santo na Igreja, antes que seja manifestado o homem de pecado.

No estudo de Apocalipse é importante atentar para a divisão do livro em três partes que nos é dada em Apocalipse 1:19: “ as coisas que tens visto” , a saber, a forma como o Senhor se apresenta a João no capítulo 1; depois “ as que são” , a saber, a presente época enquanto a Igreja permanecer na terra como vemos nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse e, finalmente, “ as que depois destas hão de acontecer” , que vai de Apocalipse 4 em diante, quando não haverá mais a Igreja aqui. Como costuma acontecer na profecia, pode haver um cumprimento parcial do que é revelado antes que tudo se cumpra no final. Tudo o que vem depois de Apocalipse 3 aguarda para ser totalmente cumprido depois que a história da Igreja e sua existência na terra tenham terminado. [J. A. Trench - Article of 55 from ‘Truth for Believers’ Volume 2]