Jesus elogiou a infidelidade do mordomo infiel?
A passagem de Lucas 16 que fala do mordomo infiel não é uma autorização para agirmos injustamente. Não é o modo injusto de agir do mordomo ou sua infidelidade que é o ensinamento do Senhor aqui, mas o que ele faz com aquilo que obteve durante seu tempo de mordomo vivendo em infidelidade: ele faz provisão para o futuro. Trata-se de um elogio à prudência, não à desonestidade. Esta é a lição.
J. N. Darby faz o seguinte comentário da passagem:
“ O homem de um modo geral é mordomo de Deus; e em outro sentido Israel foi mordomo de Deus, introduzido na vinha de Deus e recebendo a responsabilidade da lei, das promessas, das alianças, da adoração. Mas em tudo isso Israel desperdiçou aquilo que pertencia a Deus. O homem foi visto como um mordomo completamente infiel. Agora, o que fazer? Deus aparece e na soberania de sua graça transforma aquilo que o homem utilizou mal na terra em um meio de se obter fruto celestial.
As coisas deste mundo que foram confiadas ao homem não devem ser usadas para desfrutar agora deste mundo, o qual está totalmente separado de Deus, mas tendo em vista o futuro. Não devemos buscar possuir as coisas agora, mas usá-las corretamente para fazer uma provisão para outro tempo. É melhor transformar tudo em um amigo que servirá em outra ocasião do que juntar dinheiro para o agora. O homem que aparece aqui está destinado à destruição. Portanto, no presente o homem é um mordomo fora do lugar que lhe foi confiado.”
Generalizando, podemos dizer que todas as atividades profissionais, industriais e comerciais trazem em si a marca do pecado, por serem concebidas e realizadas por homens caídos em um mundo arruinado. O próprio dinheiro que ganhamos com nosso trabalho é “riqueza da injustiça”, já que não precisamos rastrear muito o dinheiro que temos no bolso para descobrir que passou por lugares e atividades pouco recomendáveis. “ Porque tudo o que há no mundo (o sistema e as concupiscências humanas)... não é do Pai, mas do mundo”.
Granjeamos, negociamos e obtemos as “riquezas da injustiça” enquanto no mundo, mas se formos sábios como o mordomo da parábola, daremos a essas riquezas um destino que garanta resultados eternos. Evidentemente o assunto da parábola não é salvação, mas provisão, portanto isso não invalida o fato de que coisa alguma, incluindo riquezas, caridade, trabalho para Deus etc. pode nos dar a salvação, a qual só recebemos pela graça de Deus e pela fé em Cristo e em sua obra substitutiva e expiatória na cruz.
Depois de salvos (e não como meio de salvação), passamos a conquistar novos “amigos” eternos e a “fornecer material de construção”, por assim dizer, que resultará, não em salvação, mas em galardão (recompensa ou prêmio). (1 Co 3:12-15) “ E, se alguém sobre este fundamento levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo”.
Uma historinha que li certa vez ilustra bem isso. Conta que um homem chegou no céu e viu muitas mansões construídas para habitação dos salvos. No final da rua havia um casebre e o anjo indicou que ali seria sua morada. O homem reclamou, mas o anjo explicou: “Foi o melhor que pudemos fazer com o material que você mandou”.