Você é “espiritualista” ou o quê?

O diálogo que se segue ocorreu em 1999 com um autor de textos espiritualistas e de um livro de ufologia. Se me lembro corretamente, ele estaria tentando atrair adeptos para uma sociedade “espiritualista” que estaria organizando e me encontrou ao acaso quando leu sobre minha conversão na Internet.

Após eu responder ao primeiro e-mail, ele incluiu um número de pessoas, provavelmente de seu relacionamento, para que acompanhassem nossa conversa. Aparentemente ele não conseguia entender como eu teria abandonado o “espiritualismo” e me tornado “crente”. Decidi publicar o diálogo aqui por saber que muitas das questões que ele levanta são também dúvidas sinceras de muita gente. Outra razão de publicar é para revelar os pensamentos de um “espiritualista” quando confrontado com a Bíblia. Se você for alguém que teme a Deus irá se surpreender com o ódio que essa pessoa destila ao se referir ao Deus da Bíblia e ao Senhor Jesus.

Que isto sirva de alerta para aqueles que são encantados com as frases bonitas do espiritualismo, mas que não conhecem o que se esconde debaixo do véu de uma falsa piedade. Eu já estive lá, eu já pensei assim, e esta não é a primeira e nem a única pessoa com quem tive diálogos semelhantes e ouvi opiniões escabrosas sobre Deus e a Bíblia.

Você escreveu: “Me parece difícil compreender como alguém que diz ter se convertido a Cristo (ou a Jesus?), que disseminava ideias essencialmente espiritualistas, pode colocar os mesmos “por terra”. Talvez o seu conceito de “espiritualismo” não seja o mesmo que conheço.”.

Exatamente. É o oposto. O “espiritualismo” que eu professava era homocêntrico, do tipo “você pode, você faz, você consegue”. É, em síntese, o que ensinam as religiões. O homem precisa melhorar, se aperfeiçoar, se elevar, etc. E isto ele consegue... Se melhorando, se aperfeiçoando, se elevando. Glória para quem? Para o homem, evidentemente. Mas a Bíblia é clara a respeito de quem merece toda (100%) a glória: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.” (Is 42:8).

A Bíblia não deixa glória para o homem. É Deus quem faz a obra de transformação (ou de nova vida) naquele que crê em Jesus. Não sobra glória para o homem. Toda ela vai para Deus. Evidentemente esta não é uma ideia nem um pouco simpática para nosso EGO. Gostamos de confete seja aqui seja no além. Todavia, (falando do homem) “... quando morrer, nada levará consigo, nem a sua glória o acompanhará.” (Sl 49:17).

Você escreveu: “Bem... Pela forma como o amigo escreve, devo supor que conhece “o Autor” com grande intimidade e segurança, não é mesmo?”.

Conheço. Como conhece todo aquele que se converteu a Cristo e crê nele como Salvador. Aliás, o desejo do Senhor era que cada pessoa o conhecesse pessoalmente. Isto não significa uma assertiva intelectual sobre certos pontos dogmáticos ou um privilégio obtido por grande esforço, exercícios espirituais, elevação ou alguma privação monástica. Trata-se do resultado de um encontro pessoal que transcende o visível e até o intelectual. Não está restrito a iniciados que leram uma montanha de livros ou galgaram os graus de alguma loja mística, mas é privilégio até de crianças. Todavia é preciso fé, pois “sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” (Hb 11:6).

Você escreveu: “Como pode a Inteligência Maior (onipotente, onisciente e onipresente) ter um “inimigo” num falível ser humano que, aliás, (dizem os cristãos) foi criado por ele mesmo?”.

Não era. Ficou depois da queda. NÓS somos inimigos de Deus. Deus NÃO é nosso inimigo. Para entender todo o rancor e ódio que temos em nosso coração (inimizade contra Deus), releia o que me escreveu em seu e-mail. É inegável que você tem ódio de Deus, porque ele não é como você gostaria que fosse. Porque se a Bíblia estiver certa você está errado como eu estive um dia. E então não sobra glória para você, suas palestras, seu conhecimento.

Eu entendo bem o que sente, pois depois de minha conversão a Cristo encontrei muitos a quem havia ensinado o espiritualismo homocêntrico (no meu caso, extremamente egocêntrico) e precisei me retratar. Alguém disse que a última coisa que morre no homem é o orgulho. E nascemos orgulhosos e não queremos que Deus interfira em nosso caminho. Ou você acha que não somos orgulhosos por natureza? Negar isso é negar que você se conhece.

O apóstolo Paulo passou por algo assim quando precisou admitir que sua bagagem (que não era pouca) era esterco, comparada com o que tinha então. Ele descreve bem o que passou:

Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Fp 3:4).

Você estaria pronto, caso “trombasse” com a Verdade, a considerar escória toda sua vida até aqui?

Você escreveu: “O amigo por ventura acha que Deus é um homem, ou algo assim, ao conferir-lhe atributos como ‘paciente’?.

Sim, agora é... Também! Ele se fez homem na pessoa do Senhor Jesus. Você e eu nunca vamos entender isso. O que se entende é o que se pode aceitar sem fé. “ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” (Hb 11:1). Cristo é Deus feito homem, “qual, sendo o resplendor da sua glória (de Deus), e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;” (Hb 1:3). Hoje existe um Homem de carne e osso no céu. Obviamente você não crê na Bíblia e não pode crer nisto. Mas ou a Bíblia é a Palavra de Deus ou é a mais perigosa armação, já que se declara ser a Palavra de Deus.

Você escreveu: “Meu querido... Ninguém é mais aberto do que eu a criticas, sugestões, debates, especialmente sobre os livros da Bíblia e as centenas de outros textos (apócrifos e pseudoepígrafos) que não foram incluídos nela.”.

Bom saber isto. A verdade é algo que aceitamos ou rejeitamos. Não podemos julgá-la, pois se o fizéssemos nos tornaríamos juízes de Deus. Você critica o Deus do Antigo Testamento como algo absurdo para sua razão. Qual é o gabarito que você usa para suas afirmações? O seu bom senso? A sua razão? O seu conhecimento? Não é estranho que julgue a Deus com a mesma confiança que julga assuntos do dia a dia. Você só justificará a Deus, em todos os seus Atos e desígnios, quando se submeter a ele, quando se tornar seu filho. “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.” (Lc 7:35). “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;” (Jo 1:12).

Você escreveu: “O companheiro não sabe que cheguei a vender Bíblias de porta em porta quando tinha 12 anos de idade! Estudei a Bíblia e fui conhecer alguns trabalhos dos maiores expoentes em estudos bíblicos do mundo, que dominam, com fluência, o hebraico, o aramaico e o grego. Estudei um pouco de arqueologia bíblica e tive a felicidade de constatar as verdades e inverdades contidas naquela secular coletânea de textos. Estou com quase 40 anos nesta vida. Comecei a estudar a Bíblia com 11 anos de idade... É provável que até mesmo Jesus fosse analfabeto e, portanto, não saberia ler os textos, se os tivesse conhecido!”.

Então, se me permite a franqueza, é melhor mudar seu método de estudo. Parece que não estudou a Bíblia tanto quanto fala. “E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se PARA LER. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías: e, quando abriu o livro achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a por em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor. E cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro...” (Lc 4:17-20).

Você escreveu: “Querer ver a Bíblia como “a palavra de Deus” me cheira a uma gravíssima ofensa a qualquer ser divino.”.

Não sou eu quem quer vê-la assim, é ela que diz ser. Se for verdade, devo aceitá-la 100%. Se não é, devo rejeitá-la 100%. Aceitar 10% de verdades que EU julgue ela conter faria de mim juiz do que Deus revelou. Quem sou eu para separar o que Deus falou e o que não falou? A Bíblia tem evidências suficientes para demonstrar ser ela a Palavra de Deus. Aconselho que leia o livro “Evidências que demandam um veredicto” de Josh McDowell

Você escreveu: “O Deus em que acredito jamais seria capaz de cometer as barbaridades descritas na Bíblia.”.

Que você julga serem barbaridades. Que gabarito usou? Para mim Deus tem poder soberano sobre suas criaturas e não cabe a nós discutir isso. Se o dono de uma empresa despede um funcionário porque a seu critério — e somente a seu critério — o considerou desqualificado para o serviço, quem pode discutir? Ele é o dono e ponto final. O primeiro passo para se conhecer a Deus é reconhecer a Deus e respeitá-lo pelo que ele é, não pelo que pensamos dele.

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência” (Pv 9:10). Se você quer “começar” a conhecer a sabedoria, o ponto de partida é o temor, o respeito de quem sabe que está entrando em terreno santo. Moisés, ao se aproximar da sarça que ardia, foi aconselhado a tirar suas sandálias, porque entrava em terreno santo ao se aproximar de Deus e ouvir sua voz. O segundo passo, que na verdade é consequência do conhecimento do Santo, é prudência. E parece que isto é o que falta em seu linguajar quando fala de Deus de um modo como não falaria de seu pai ou de sua mãe.

Você escreveu: “Ele jamais seria burro o bastante para se comunicar com a sua criação através da palavra escrita.”.

É a este modo de falar que me refiro. Sim, Deus se comunica com sua criação através da palavra escrita, justamente para evitar os “achismos” que você tanto teme. E aquele que se propõe a aceitar o que ele quer dizer, este passa a conhecer o teor dessa Palavra escrita. É aí que entra o Espírito Santo, quando faz sua habitação aquele que crê em Jesus. “Mas, como está escrito: as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” (1 Co 2:9-10).

Você escreveu: “Um Deus de “amor” que sacrifica seu filho numa cruz para salvar um bando de pecadores alienados?!!”.

Por favor, não queira ridicularizar o que não entende. Como poderia o que é finito julgar o que é infinito? A criatura julgar seu Criador? Como o Filho de Deus é inseparavelmente Deus, jamais entenderemos o que se passou. Mas é suficiente saber que ele nos ama e ao ponto que chegou.

Você escreveu: “E o pior de tudo é que, se tivesse sido assim, esse “deus” quebrou a cara!! Como você mesmo já constatou, o mundo está um caos! De que adiantou o sacrifício de Jesus?!! Nada!! Nem mesmo os cristãos são menos pecadores do que os demais!!”.

Aconselho que leia Romanos. Ser pecador é uma coisa. Ser pecador justificado é outra. Depois que ler Romanos podemos voltar a tratar do assunto da justificação se quiser. O tempo do mundo ainda não terminou. O final de sua frase é verdade: os cristãos não são menos pecadores que os demais. Porém estão justificados, pois Alguém pagou. Dos dois ladrões, que a princípio também agrediram o Senhor na cruz com suas palavras, um foi justificado quando creu. O outro não. O levita e o publicano no templo eram igualmente pecadores. O que pensou ser alguma coisa de si mesmo não foi justificado. O publicano, reconhecendo sua falta, foi.

Se você reconhecer que é um pecador perdido e que não existe em você um átomo sequer de poder para tirá-lo dessa condição, então se humilhará na presença de Deus e clamará por socorro. Então Deus virá ao seu encontro e fará valer o preço já pago na cruz para você. Terá TODOS os seus pecados perdoados pela obra substitutiva de Cristo na cruz. Perderá sua glória, mas ganhará a vida eterna.

Você escreveu: “Não é como quero, mas como a sensatez mostra que é! Quem precisa de um livro para “ouvir” a voz de Deus ou sentir a sua ÓBVIA presença não tem sensibilidade para encontrá-lo!”.

Exatamente. Um pecador com os sentidos tão embotados quanto os meus jamais teria encontrado a Deus. Nem dando trombada. Por isso ele precisou falar comigo através da sua Palavra e o Espírito Santo precisou tocar meu coração para me fazer reconhecer pecador perdido. O Senhor Jesus usou a sua palavra ao resistir a Satanás com o “está escrito”. Aconselho que leia a Bíblia sem preconceitos. Jamais conhecerá o pensamento de Deus com um espírito assim crítico (no mau sentido). E se tem alguma consideração pelo que o Senhor Jesus falou nos Evangelhos, terá que aceitar o Antigo Testamento, principalmente Moisés, pois ele mesmo colocou Selo de aprovação. Já encontrei pessoas que diziam crer somente no que Jesus falou (será você um deles?). Veja que interessante o que ele disse aos judeus, que o rejeitavam por gostarem de ter seus egos inflados:

Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus? Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, “se não credes nos seus escritos”, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5:44).

Já não tenho certeza se agi corretamente ao iniciar um debate com você após ter recebido um e-mail seu. Gosto de uma boa esgrima de ideias, sempre respeitando a pessoa que crê, ainda que venha a criticar aquilo que a pessoa crê. Não respeitar pessoas seria negar até mesmo um dos princípios do Cristianismo, o que pode até ter acontecido em meu caso, já que sem dúvida alguma costumo falhar com uma frequência indesejável.

Considerando sua reação tão tempestiva, apoiada pelos que comungam de suas ideias, creio que me deparei com um caso singular de intolerância religiosa sob o pretexto de se iniciar uma nova sociedade “espiritualizada”. Vai mal, de início, essa nova sociedade se seus membros são incapazes de tolerar um pobre ignorante como eu (segundo seus próprios conceitos... e também o que eu próprio tenho a meu respeito). A tolerância e o respeito são primordiais para a convivência e isto começa já na menor célula que é a família. O que se dirá de uma sociedade.

Se a sua intenção é a de criar mais uma seita cujo elemento aglutinador seja baseado nas ideias encontradas em um universo limitado a algumas centenas ou milhares de pessoas que pensam igual, desculpe-me pela minha intromissão. Ela foi uma reação natural aos primeiros e-mails que recebi. Espero que você e seus amigos não estejam planejando um mundo de clones que concordem em tudo. A diferença de opiniões não pode ser jamais motivo para gerar a violência, mesmo que esta venha na forma de palavras (ásperas) enfeitadas com um “glacê” de paladino da justiça e defensor da verdade.

Prefiro pensar que estejam me confundindo com algum “pastor”, padre, ou membro de alguma organização religiosa. Não sou. Aliás, nem mesmo pertenço a alguma religião oficialmente estabelecida. Entendo que o Cristianismo seja como a pura neve que desce do céu, enquanto que a Cristandade (o que os homens fizeram dele) seja o barro formado quando a neve branca entra em contato com esta terra, com as sujeiras deste mundo. Se você me tomou por algum religioso (no sentido dos vendedores de milagres), não é de estranhar que reaja da maneira como reagiu, sem nem mesmo abrir a possibilidade de um debate franco sobre a Bíblia.

Espanta-me porém, o desdém que de um modo geral você e seus amigos têm pela Bíblia. O livro dos muçulmanos, que prega a conversão à espada, não sofre os mesmos ataques. Interessante, não? Por que tanto ódio por este livro? Um livro que conta a história de como Deus interferiu no tempo e na humanidade, fazendo-se carne na Pessoa de Cristo! Seria este o foco de tamanho desprezo? Certamente vocês sabem ter sido este o libelo de acusação usado contra o próprio Senhor: o de expressar ser ele o Filho de Deus feito Homem.

Todavia, se não foi o caso de ter me confundido com algum adepto de alguma “igreja milagreira”, só me resta pensar que você não esteja preparado para debater, que não conheça a Bíblia (como provou não conhecer ao considerar Jesus analfabeto) ou não tenha argumentos inteligentes para refutar tudo o que escrevi, e não aqueles que utilizou tentando ridicularizar a Bíblia.

Você escreveu: “Realmente não apenas a Bíblia, mas todas as publicações similares são escravizantes, escravizam 95% dos seres humanos, inclusive um grande número de intelectuais.”.

É interessante sua opinião, mas se eu lhe disser que foi através da Bíblia que fui libertado da escravidão você acreditaria? Existem coisas que não se pode contestar, e uma delas é a experiência de alguém. Se você me disser que viu um elefante cor de rosa, posso duvidar que seja o animal, mas não posso colocar em dúvida que você tenha tido algum tipo de visão de alguma coisa. Se eu digo que a Palavra de Deus me mostrou o caminho da libertação, e que há vinte anos sou uma nova criatura e vivo uma vida de paz e certeza de minha salvação eterna, com base em que você poderia dizer que isto não é assim? Se digo que sinto amor por alguém, será que você poderia provar ser isto algo falso? Uma experiência pessoal de conversão é algo que transcende o véu. É algo que vem de Deus.

Nicodemos foi confrontado com o novo nascimento e tentou tratar o assunto do ponto de vista da limitada razão: Como pode alguém entrar no ventre da mãe? Perguntou ele infantilmente. O Senhor respondeu que o novo nascimento era uma obra do Espírito de Deus em uma alma. E que tudo tinha por base o fato de Deus haver amado os homens de tal maneira que entregou o seu Filho Unigênito para que todo o que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna.

Você escreveu: “É triste que certas pessoas não consigam se libertar dessa anestesia mental, dessa estupidez crônica e alienante. Você me mandou uma resposta cheia de transcrições de passagens bíblicas e afirmando, entre outros absurdos, que ‘Deus tem a forma de homem’ e que os horrores praticados pelo estúpido ‘Senhor dos Exércitos’ do Velho Testamento (uma criatura sub-demoníaca!) são perfeitamente justificáveis uma vez que nós não podemos compreender os desígnios do que chama de ‘deus’ (aliás, afirma que encontrou essa ‘coisa’, esse ‘deus’, ‘pessoalmente’).”

Mais uma vez uma clara manifestação de intolerância religiosa. Suas palavras poderiam ter sido tiradas da boca (ou da pena) dos inquisidores quando queimavam pessoas que liam a Bíblia. E tudo em nome de Deus. “Anestesia mental”, “estupidez crônica e alienante” são palavras fortes para descrever alguém que apenas tentou expor a razão de sua fé. Você diria o mesmo a qualquer outro que não comungasse de suas crenças ou essa rispidez é reservada apenas aos que creem na Bíblia? É esta a tônica adotada por todos os da confraria a que pertence?

Você escreveu: “Não há necessidade de pedir perdão a DEUS porque jamais se ofende com as nossas mediocridades, encontra-se em um patamar de outra realidade.”.

Você fala com muita certeza. Deve saber o que diz. Mas e se não for assim? E se Deus for diferente do que imagina? Quando me coloco numa posição absoluta em relação a certos assuntos, o faço porque creio na Bíblia como um documento fidedigno deixado por Deus. E se creio é porque vejo nela evidências internas e externas, tanto em sua harmonia, como no cumprimento de suas profecias, que para mim são suficientes. Talvez não o sejam para você, porém até aqui os únicos argumentos que usou foram opiniões, não provas. Gosto de uma boa crítica que seja baseada em fatos. Descer ao nível do mero criticismo não seria demonstrar falta de elementos para discutir, ou em linguagem mais clara, querer fugir da raia?

Você escreveu: “Você defende a ‘fé pela fé’, sem questionamentos!! Quer dizer... O Criador nos deu inteligência, razão e intuição para não usarmos, para aceitarmos as coisas passivamente (Sem dúvidas?!! ...Sem questionamentos??!!) Que absurdo!! Antes tivesse criado um bando de autômatos, sem cérebro, sem mente, sem alma.”.

Passei sim pelos questionamentos. Talvez você nunca saiba até que ponto. Você se interessa por manifestações do que diz serem UFOs e até escreveu um livro sobre o assunto? Bem, em 1979 passei duas vezes por experiências assim, uma por espaço de meia hora (tenho minha opinião a respeito do que vi). Você se interessa por mover objetos com o que acredita ser o poder da mente? Ok, já fiz isso. Costuma se ocupar com o que acredita ser transmissão de pensamentos? Também já fiz experiências assim com cores. Detecção de aura? Idem. Pêndulo, radiestesia? Também. Experiências com energia de pirâmides? Idem.

Considerando que esteja envolvido em muitas coisas que me interessavam no passado, me espanta ver que possa considerar “absurdo” crer no mesmo que pessoas como o apóstolo Paulo creram. Você já leu a Bíblia? Você já tentou compreender o primeiro capítulo do livro aos Romanos? Não estou falando aqui de um livro desconhecido, mas de algo que tem influenciado milhões de pessoas por séculos. Não me venha citar os católicos/protestantes, as guerras religiosas, etc., pois tudo isso nada mais é do que a versão humana do cristianismo. E é o que existe mais hoje. Creio que a moeda que sofra mais tentativas de falsificação seja o dólar. Se fazem isto, é porque tem valor. O mesmo se deu com o cristianismo. Mas voltando ao assunto, leia Romanos 1 e depois podemos discutir a questão da fé, pois ali deixa claro que o justo viverá de fé.

Você escreveu: “Por que jogar fora tudo o que já aprendeu e de repente achar-se um idiota que, tudo o que viveu de nada serviu? Você jogou fora uma parte de sua existência como se nada tivesse vivido de bom, de útil, de proveitoso. Quero ficar longe de um Deus assim.”.

Porque encontrei algo melhor. Só por isso. Você pode afirmar que não é melhor? Não, não pode. Os tiranos é que decidem o que é melhor para quem, e não creio que você seja assim. Ainda continuo acreditando que todo o seu rancor contra alguém que conheceu só via bits e bytes se deva a confundir-me com algum membro de alguma seita vendedora de milagres.

Não importa o conceito que você tenha de Deus, ele jamais fica longe de você. (Atos 17:24) “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra... de um só sangue fez toda a geração dos homens... para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós”.

Você escreveu: “Não consigo compreender isso!!”.

Já experimentou pedir a Deus sabedoria? É a primeira prova de humildade que pode dar ao se reconhecer incapaz de compreender como ele age. Ore a Deus como uma criança faria, sem preconceitos. E fique atento para as respostas. Ele responde, sabia? Não queira compreender tudo, pois isto não seria fé. A fé não anula a razão, mas não espera que esta tenha seu vagão cheio para por o trem em movimento. Não podemos compreender o modo de Deus agir, pois ele é muito mais do que nós. Apenas compreendemos aquilo que ele revelou em sua Palavra, e que achou que era o que deveríamos saber. Há mais, muito mais. Por exemplo, o modo como Deus age em uma pessoa convertendo-a, fazendo com que nasça de novo é comparado em João 3 a um vento que sopra onde quer. Ninguém sabe de onde vem nem para onde vai. Assim, diz a Palavra, é todo aquele que é nascido do Espírito.

Você escreveu: “A humanidade já esta passando por uma fase natural de saneamento. Esperamos que esses malucos de pedra se juntem aos seus “deusezinhos de ira”, aos seus amalucados e prepotentes “Senhores dos Exércitos” e nos deixem em paz para explorar o amor do Criador.”.

“Saneamento...”, “malucos de pedra...”. O saneamento de que fala, o que seria? Uma limpeza étnica? Um holocausto de judeus e ciganos? Uma inquisição dos inimigos da mãe igreja? Ou algum meteoro errante a atrair os menos evoluídos para bem longe da Terra? Repito: Não existe aí um embrião de intolerância religiosa que possa se tornar perigoso? Essa incapacidade de suportar a simples existência de pessoas com opiniões diferentes não me parece muito à altura dos nobres ideais que você quer me fazer crer que comunga. Talvez eu não tenha entendido o que quis dizer sobre os ideais.

Você escreveu: “Vou parar por aqui. Adoro discutir a Bíblia com quem entende, com quem tem estudo e conhecimento de causa, não com decoradores de parábolas normalmente mal sabem pensar e, muito menos escutar. Um dia, espero, você vai reconhecer o mal que está fazendo a si mesmo e o quanto está se distanciado da Inteligência Suprema. Sou um missionário com um grande trabalho destinado a pessoas como você, que querem SER e interagir amorosamente com o Criador, sem fantasmagorias, mistificações, dogmatismos baratos e “sabedoria” decorada. Somos livres pensadores, amantes do uso amplo e irrestrito da inteligência, da intuição e do amor.”.

Uau! Acho que não sou digno de me misturar a gente de tão nobre estirpe! Brincadeiras à parte, deixo vocês para que continuem com seus planos e ideias. Não quero mais importuná-los com minhas vis mensagens. Desculpe se fiz aumentar a acidez de seu suco gástrico levando-o a se alterar e descarregar adjetivos que certamente não devem fazer parte de seu vocabulário usual ou de sua forma de tratar pessoas. Caso você ou alguém queira bater um papo saudável, ou até expor dúvidas e opiniões contrárias sinceras sobre a Bíblia, estarei à disposição.