Existem milagres?

Sim, a Bíblia está cheia deles. Os céticos ora atacam os milagres, ora tentam explicá-los como fenômenos naturais. Lembro-me de ter lido um livro em minha juventude chamado “A Bíblia Tinha Razão”, que nada mais era do que uma tentativa de explicar os milagres bíblicos como fenômenos naturais. Obviamente ele não explicava a coincidência dos fenômenos terem ocorrido justamente quando o povo de Deus mais precisava deles.

Os milagres na Bíblia incluem a ressurreição de mortos, cura de cegos, surdos, mudos e aleijados, expulsão de demônios, multiplicação de pães, peixes etc., transformação de água em vinho e vários outros, alguns perceptíveis apenas para a pessoa abençoada, outros de grandes consequências tanto para crentes como para incrédulos, como um mar aberto ou muralhas caindo.

Talvez o maior milagre seja mesmo o da conversão de uma alma morta em delitos e pecados que passa a desfrutar de vida eterna. Digo que este é o maior de todos porque suas consequências são eternas e permanentes, enquanto os milagres de cura, multiplicação ou até de ressurreição tinham uma duração limitada em seus benefícios. Os que ressuscitaram na Bíblia voltaram a morrer depois, os que ganharam saúde voltaram a perdê-la e os que foram alimentados voltaram a ter fome. Portanto, se você busca por um milagre, certifique-se de estar buscando pelo melhor deles.

A dúvida de muitos é se os milagres ainda acontecem hoje. Creio que sim, mas não com a intensidade e nem com o propósito do que encontramos na Bíblia. Os milagres sempre ocorriam como um sinal de que Deus estava agindo para fazer algo grandioso. Assim foi na libertação dos judeus do Egito, na vinda do Senhor e na formação da Igreja. Nos intervalos disso quase não vemos milagres ou, se ocorrem, têm um caráter mais pessoal e privativo.

Uma coisa é certa: Deus fazia os milagres tendo em vista o povo judeu em sua incredulidade. Não sou eu quem diz isso, mas a Palavra de Deus:

Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria” (1 Co 1:22).

De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis; e a profecia não é sinal para os infiéis, mas para os fiéis”. (1 Co 14:22).

Nos períodos de degradação e ruína, poucos eram os sinais de Deus, apenas no início de suas grandes manifestações. É o caso da formação da Igreja, quando havia terremotos quando os discípulos oravam, pessoas eram curadas pelos apóstolos. E não eram “alguns” que eram curados, mas “todos”:

E até das cidades circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos e atormentados de espíritos imundos; os quais eram TODOS curados”. (Atos 5:16).

Todavia vemos que com o tempo isso foi desaparecendo ou ficando restrito aos momentos quando Deus tinha algo a dizer aos incrédulos judeus. Até mesmo o apóstolo Paulo tinha uma enfermidade, que chamava de espinho na carne, deixou “Trófimo doente em Mileto” (2Tm 4:20) e sugeriu a Timóteo: “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades”. (1Tm 5:23).

Por que Paulo não curou Trófimo ao invés de deixá-lo doente, ou Timóteo, a quem preferiu receitar um remédio caseiro? Porque curá-los não estava nos planos de Deus provavelmente por não trazer qualquer consequência favorável à obra de Deus. Ou também porque curá-los poderia impedi-los de aprender alguma lição que Deus estava tentando lhes ensinar.

Por isso, todo esse alvoroço em torno de supostos apóstolos, bispos e pastores fazendo curas na TV e distribuindo carnês para o pagamento de prestações pelas graças recebidas ou a receber não passa de uma triste caricatura do que foi o cristianismo no princípio. Além de uma boa dose de malandragem.

Um irmão que cuidava de uma editora cristã no Canadá colocou um anúncio no jornal procurando um funcionário para serviços gerais. O que apareceu disse que tinha experiência trabalhando em igrejas, pois sempre era contratado para ser curado. Ora ele era cego, ora aleijado... Obviamente, o irmão ao qual me refiro não o contratou.

Em um taxi a caminho do aeroporto em Fortaleza, dei um folheto evangelístico ao motorista que, por sua vez, contou-me de um passageiro que transportou. Pegou o homem no aeroporto para levá-lo ao hotel e lá o passageiro combinou para o motorista passar à noite. Quando voltou ao hotel, o taxista disse que o homem entrou no taxi todo mal vestido e levando duas muletas, mas caminhava sem elas. Ao ser deixado na porta de uma igreja, saiu do taxi e entrou no templo pendurado nas muletas e arrastando os pés moles pelo chão. Não precisou explicar o que o homem foi fazer lá.

Eu mesmo dei carona para um homem no interior de Goiás e ele contou que ia a uma igreja evangélica, mas, segundo ele, o pastor não sabia fazer o trabalho bem feito. Ele contou que foi uma vez e algumas mulheres ficaram possessas de demônios, que o pastor expulsou. Voltou lá outro dia, e as mesmas moças ficaram possessas e o pastor expulsou. Foi outro dia e a mesma coisa. Então disse que parou de ir, porque aquele pastor não estava fazendo o serviço direito!