A Bíblia foi realmente inspirada por Deus?

Você escreveu que “se houve uma inspiração para escreverem a Bíblia, o ser que inspirou isto era totalmente ignorante”.

Bem, nada melhor do que apertar o tubo para sair a pasta, não é mesmo. Sob pressão revelamos o que há em nosso coração, e foi o que aconteceu quando “apertei” você. Você quer se livrar de Deus e colocar-se, a si mesmo, sua lógica, sua razão, seu bom senso, como padrão.

Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas. Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles”. (Sl 2).

Você continua, dizendo que “por isto que os espíritas não aceitam tudo que está na Bíblia; obviamente procuramos amealhar o que há de bom deixando de lado o que foge à lógica, à razão e ao bom senso”.

Em outras palavras, você considera o Deus que inspirou a Bíblia ignorante, e considera a si mesmo sábio e capaz de julgar todas as coisas. Ora, o quanto sabe você? O quanto ignora você? Baseado em que padrão você julga “o que há de bom”?

O cristão, ao sujeitar-se à Palavra de Deus e à orientação do Espírito Santo coloca-se na condição de um ignorante incapaz de discernir as coisas por si só. Precisa de Deus. Seu padrão, portanto, está fora de si. O homem não está no centro do universo. Para o espírita bastam a lógica, a razão, o bom senso e a ciência. Você ainda não percebeu, mas ao nortear-se pela sabedoria humana, acaba colocando o homem no lugar de um deus. Obviamente isso já era previsto:

Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível” (Rm 1:21-23).

Você argumenta que fugi do assunto sobre “como se deu a formação da terra e em quanto tempo”. Bem, então vamos lá:

No princípio criou Deus os céus e a terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo”. (Gn 1:1-2).

O versículo 1 é a criação original. Entre o versículo 1 de Gênesis e o 2 você pode imaginar zilhões de anos atuais e não temos ideia do que aconteceu nesse período. Provavelmente foi nesse intervalo que ocorreu a queda de Lúcifer e seus anjos, o que acabou transformando a criação original de Deus em um verdadeiro caos. Daí “sem forma e vazia”, “trevas” e “abismo”, coisas estranhas Criação, já que “Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas”. (1 João 1:5). Considerando que antes das coisas virem à existência só existia Deus, fica fácil concluir que não havia trevas.

Além disso, há outra referência de que Deus não teria criado a terra “vazia” em Isaías 45, e as referências a Lúcifer existentes na Bíblia apontam para uma época anterior ao estado caótico e às etapas de criação, que poderíamos chamar de restauração da criação, descritas a partir de Gênesis 4.

Não me lembro de falar da Terra como centro do Universo, apoiada sobre estacas ou girando em torno do Sol, como você alegou que seria minha crença. Mesmo assim, a Bíblia é escrita do ponto de vista da Terra, portanto ela pode eventualmente ser adotada como centro. Quando aprendemos na escola que ela gira em torno do Sol é porque este é tomado como referencial, mas o Universo todo é relativo. A mosca que voa dentro de um avião a 980 km/h está voando a que velocidade? Não é errado dizer que a Terra gira em torno da Lua, se tomarmos esta por referencial. Todos os dias você vê o sol percorrer a abóbada celeste e até fala do sol subindo ou descendo no horizonte, porque adota você e a terra como referência.

Quanto a estar apoiada sobre estacas, não me lembro, mas pode existir algum verso, já existem “colunas do céu” em Jó 26 e a linguagem poética faz parte da Bíblia. Hoje ouvi uma música que dizia:

“Mas se ela voltar, se ela voltar/ Que coisa linda, que coisa louca/ Pois há menos peixinhos a nadar no mar/ Do que os beijinhos/ Que darei na sua boca.”

Vinícius e Tom Jobim certamente não sabiam quantos peixes há no mar, não é mesmo. Oh! Esses ignorantes!

Sobre a terra ser plana (você não perguntou?!), “E ele o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; é ele o que estende os céus como cortina, e o desenrola como tenda para neles habitar” (Is 40:22).

Provavelmente depois de eu citar este versículo você irá discordar dizendo que os céus não são cortina e muito menos tenda, ou que é impossível desenrolar o firmamento...

Quanto à Lua, Gênesis diz que foi colocada junto com o Sol para iluminarem a Terra. Acaso suas noites de Lua são escuras? Se estudar iluminação irá aprender algo sobre “luz incidente” e “luz refletida”. Qualquer bom fotógrafo sabe disso. Talvez, se consultar um “espírito” que tenha sido fotógrafo em outra vida... Provavelmente seja difícil encontrar um “espírito” de um mero fotógrafo, pois curiosamente é fácil encontrar Napoleão, Sinhá-Moça, Preto Velho, Cacique... Sempre arquétipos. Como dizem os americanos, será que isso não “ring the bell”?

Você continua indagando a razão de a Bíblia não ensinar coisas que você considera importantíssimas para o homem: “Como falar aos homens de então, da pluralidade dos mundos?... Que a terra é esférica?... Que esta mesma terra flutua no espaço?... Que a terra gira em torno de si mesma e em torno do sol? É a mesma questão com relação a Nicodemos, pois se vocês crentes não entendem as coisas materiais, como então entender as coisas Espirituais que são muito mais transcendentes?”.

Não, a questão com Nicodemos era outra. Nicodemos devia saber das coisas terrenais, a saber, o reino, a vinda do Rei e Messias etc., e não ciência quântica. Era um mestre religioso em Israel, portanto versado nas coisas terrenas relativas ao povo terreno de Deus. As coisas celestiais diziam respeito ao novo nascimento, o tema de João 3.

Quanto aos conhecimentos astronômicos que citou, aqui vai uma história. Era uma vez um professor que alugou um barco para atravessar um rio. Cheio de si, começou a tirar uma do barqueiro, homem humilde.

“E aí, barqueiro, você sabe matemática?”

“Sei não, dotô, nunca estudei”

“Então você perdeu dez anos de sua vida. Sabe Física?”

“Sei não, dotô”.

“Perdeu mais alguns anos de sua vida. Sabe Química?”

E por aí foi a conversa. Chegou uma hora o barqueiro interrompeu o doutor e, no meio do rio, perguntou:

“O dotô sabe nadar?”

“Não, só me preocupo com coisas realmente importantes, como física, matemática, química...”.

“Então o sinhô perdeu a vida inteira, porque o barco tá afundando”.