Jesus era rico?

Não, o Senhor era pobre. Pelo menos é o que diz a Palavra de Deus quando se refere a ele:

(2 Co 8:9) “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.”.

É claro que o significado exato dessa passagem não é exatamente material, mas espiritual, já que as riquezas das quais os que creem puderam usufruir são (Ef 1:3) “todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”, as mesmas que Cristo tem e de quem somos coerdeiros.

Mas em termos materiais ele não foi rico quando caminhou aqui, ao contrário dos absurdos que ouvi outro dia em um programa evangélico. A mulher que pregava — se não estou enganado, esposa de um ex-profissional de marketing que fundou uma igreja milionária — tentava de todas as formas convencer o público de que o Senhor era muito rico.

Disse que ele andava de “Rolls Royce”, já que jumentos tinham esse status na época porque eram transportes de reis. Bobagem. Reis, quando não eram carregados em liteiras por escravos ou viajavam em carros puxados por cavalos, como fazia o nobre mordomo da rainha Candace quando abordado por Filipe na estrada que vinha de Jerusalém.

E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração, regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías.” (Atos 8:27-28).

Este sim era o “Rolls Royce” da época, que permitia viajar, ler e tinha até espaço para Filipe ter sido convidado para sentar. E se ainda permaneciam os costumes do Antigo Testamento, é interessante lembrar que os ricos não cavalgavam jumentos, mas mulas. E quando Isaías escreve profeticamente sobre aqueles que transportarão o remanescente fiel a Jerusalém no futuro, são mencionados os melhores meios de transporte da época, e o jumento não está entre eles:

(Is 66:20) “E trarão a todos os vossos irmãos, dentre todas as nações, por oferta ao Senhor, sobre cavalos, e em carros, e em liteiras, e sobre mulas, e sobre dromedários, trarão ao meu santo monte, a Jerusalém, diz o Senhor; como quando os filhos de Israel trazem as suas ofertas em vasos limpos à casa do Senhor”.

Portanto, andar de jumento na época em que o Senhor viveu aqui não era sinal de riqueza. E se nos lembrarmos de que o jumento que ele monta para entrar em Jerusalém era emprestado, o assunto se encerra aqui.

Mas a pregadora não parecia querer encerrar o assunto no jumento e continuou insistindo que carpinteiros eram ricos — tentando avaliar o status de uma profissão há dois mil anos comparando-a ao status atual. Não há subsídios para isso e você encontra carpinteiros ricos e pobres ainda hoje.

Tentou também dizer que suas roupas eram caras — só faltou dizer que eram de grife — quando se referiu aos soldados que dividiram suas vestes em quatro partes. Segundo ela, eram tão boas que os soldados nem se importavam de ficar com apenas um pedaço delas. O que faltou dizer foi que era só o que tinha. As vestes e a túnica. Essas eram suas posses materiais quando morreu, muito menos do que pessoas consideradas pobres hoje possuem.

Enfim, a mulher fazia um esforço hercúleo, mas dava para perceber que não era tanto para provar que o Senhor era rico, como era para justificar a riqueza dos líderes religiosos que professam a teologia da prosperidade. Foi assim mesmo que o movimento começou nos Estados Unidos em medos do século 20, quando muitos pregadores começaram a enriquecer e acharam um jeito de mudar o discurso. Se eram ricos era porque eram abençoados por Deus. O resto da história a gente já conhece.

Ao lançar perguntas no ar, algo mais ou menos assim, “Se um dono de revistas pornográficas tem o direito de ter jato particular para aliciar suas garotas, os cristãos não podem ter esse direito?”, ela queria dizer que podemos reivindicar as mesmas regalias de um dono da Playboy, por exemplo. Deu outros exemplos, de outras atividades do mesmo nível, das riquezas que usufruem. Baixou o nível. Antes que sentisse vontade de vomitar, achei melhor mudar de canal.

A mulher não tem nem ideia do lugar do cristão neste mundo. Um estrangeiro, a caminho de sua pátria celestial, peregrino como foi seu Senhor cujo reino não era deste mundo. Poderia citar muitas passagens, mas uma ou duas bastam para entendermos como devemos ser e viver em relação às riquezas materiais:

(Mt 6:25) “Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?”.

(1Tm 6:8) “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.”.

Sim, vamos encontrar cristãos ricos e pobres. A alguns Deus deu mais para poderem compartilhar com os outros. Mas não é esse o foco e a fonte de nosso contentamento.