A reencarnação é uma doutrina racista?

Sim, pelo menos na forma como Allan Kardec a coloca, o que acho que vale para a doutrina de um modo geral, já que é evolucionista em sua essência. Mas há outros problemas com a ideia de reencarnação:

A ideia da reencarnação transforma o “palmas para Deus” pela Salvação em “palmas para o homem”. “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador”. (Is 43:11).

Fala o que ele gosta de ouvir: “Você precisa desenvolver sua mediunidade, você pode subir, evoluir, chegar lá”; mas não diz o que ele não gosta: “Você é pecador e precisa de um Salvador”. “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (Jr 13:23).

A reencarnação exclui Cristo da equação da salvação e coloca o homem e seus esforços no lugar. “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (Atos 4:12).

Ela também afirma que nascemos e morremos muitas vezes. Mas a Bíblia diz que “Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo”. (Hb 9:27).

Além de jogar a glória de Deus para escanteio, a reencarnação prevê a evolução do ser humano, o que leva a ideias tenebrosas a respeito da dignidade humana e ao preconceito. Se eu acredito em uma evolução física, intelectual e espiritual, vou admitir que há seres mais e menos evoluídos. Quem seriam as pessoas mais evoluídas e quem seriam as menos evoluídas pela visão kardecista?

Antes que alguém me acuse de racismo, quero deixar bem claro que os textos abaixo são de autoria de Alan Kardec, e não de minha autoria, pois eu mesmo tenho um filho negro e não concordo que ele seja isso que o Kardec falou:

“O negro pode ser belo para o negro, como um gato para os gatos; mas não o é no sentido absoluto, porque os seus traços grosseiros, os lábios grossos, acusam materialidade dos seus instintos; podem perfeitamente exprimir paixões violentas, mas nunca variedades do sentimento e as modulações de um Espírito elevado. (Allan Kardec, “Obras Póstumas”, 1ª parte, capítulo da “Teoria do Belo”).

“Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos, que aos chineses, e ainda menos aos europeus civilizados” (Allan Kardec, “A Gênese”, Esdras Lake, São Paulo, 1ª edição, p. 187).

“Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomarmos uma criança negra recém-nascida e a educarmos nas melhores escolas, fareis dela, um dia, um Laplace ou um Newton? (...) ...o negro é de uma raça inferior; então, perguntaremos se o negro é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucasiana? Se não é um homem, porque procurar fazê-lo cristão?” (Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos”, Instituto de Difusão Espírita, Araras, São Paulo, sem data, capítulo 5, p. 126-127).

Respeito você e obviamente você acredita naquilo que achar melhor, mas será que acha seguro crer nos ensinamentos de um homem que escreveu isso? na dúvida (é, eu duvidei) se os textos que colei aqui eram mesmo de verdade ou alguma gozação de um anti-espírita, fui pesquisar e encontrei um texto do escritor espírita Paulo Neto que tenta amenizar a ideia de racismo nos textos de Kardec. Veja que pérola ele produziu para explicar os textos acima:

“Quanto à questão de mal se distinguir dos macacos, devemos informar que na Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, Goodman e sua equipe compararam 97 genes de humanos, chimpanzés, gorilas, orangotangos e outros macacos e descobriram que o grau de semelhança, nas regiões do DNA analisadas, é de 99,4% entre seres humanos e chimpanzés. Daí poder se afirmar que realmente a raça humana pouco se difere da dos “macacos”. Por mais que isso venha a ferir o orgulho de alguns, essa é a realidade insofismável”.

A questão é que no texto ele não falava da “raça humana” de modo geral não, ele foi específico ao referir-se aos negros. Alguém ficou com o orgulho ferido? Então ele disse que é assim mesmo.

É isso. Ao aceitar a reencarnação kardecista é preciso levar tudo o que vem no pacote, goste ou não. Por favor, os espíritas não tomem isso como uma crítica pessoal; embora não concorde com o espiritismo, nada tenho contra as pessoas que professam essas ideias. Já quanto à lei contra discriminação racial...

Você escreveu: “O ‘Evangelho segundo o espiritismo’ é um livro de estudo, onde os ensinos morais de Jesus são analisados e mostrados de maneira clara e atual.”.

Vou dar uma mão acrescentando uma citação de um site espírita: “Allan Kardec e os espíritos que participaram da Codificação, deixando de lado os pontos polêmicos, puderam com tranquilidade reconstruir a moral evangélica conservada pelos evangelistas”.

Mesmo com a assessoria de uma equipe de espíritos assim, nenhum deles avisou o Allan da questão do racismo e segregação?! O espiritismo fala tanto de amor ao próximo, que eu particularmente não considero um amor desinteressado já que o sujeito que pratica esse amor está querendo mesmo é reduzir seu próprio carma, mas dá uma pisada na bola dessas!

Se Kardec realmente tivesse mesmo “reconstruído a moral evangélica” como diz, saberia como um discípulo de Cristo se comportaria em relação à segregação. Os discípulos de Jesus, embora judeus e extremamente separados de outros povos, aprenderam a lição do Senhor. A Lei do Antigo Testamento ordenava coisas como separação total de gentios (não judeus), que eram proibidos de entrar no Templo de Jerusalém para adorarem a Deus. Proibia também de ser sacerdote um homem que não tivesse testículos.

Para mostrar como os Evangelhos eram realmente “Boas Novas”, em Atos 8 Filipe sai nas carreiras ao lado da carruagem de um homem, só para explicar que Isaías 53 falava de Jesus. E, maravilha das maravilhas, aquele homem se converteu a Cristo! O primeiro não judeu convertido a Cristo era negro e eunuco, isto é, castrado!

Filipe não mediu esforços para falar de Cristo àquele homem. Agora vamos perguntar ao Allan Kardec: “E você, Allan, o que faria a respeito?”

“... o negro é de uma raça inferior... por que procurar fazê-lo cristão?” (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, cap. 5, p. 126-127).

Na opinião de Allan Kardec Filipe correu à toa.