Não preciso fazer nada para entrar no céu?

Você disse não concordar com o que escrevi sobre o espiritismo, quando afirmei que “se Deus providenciou um Salvador foi porque viu que não éramos capazes de nos salvar a nós mesmos. Por que existiria um Salvador se as pessoas pudessem se salvar a si mesmas?”.

Então você argumentou, dizendo: “Pela sua lógica, eu não preciso fazer nada para entrar no reino dos céus? Até porque é inútil. Deixo que o Salvador faça por mim. Na busca da salvação somos todos inúteis e irresponsáveis, como crianças ingênuas. Que absurdo! Um mundo de irresponsáveis. Prefiro continuar sendo responsável pelos meus atos. Ora, existiu o Salvador para ensinar o caminho correto, que é o amor, mas quem decide que rumo dar a própria vida é cada um.”.

E continuou tentando explicar a superioridade do espiritismo por ser “autônomo”, ou seja, independente de qualquer dogma ou religião. Sua reação é natural, pois sempre procuramos defender que há em nós algo de bom. Então, quando confrontados com a Palavra de Deus, que diz que não há nada de bom em nós, que precisamos ser salvos, e que isso não vem de nós, obviamente ficamos decepcionados. Se o espiritismo for verdade, a Bíblia inteira, de capa a capa, é o pior engano que já existiu. E isso inclui as palavras de Jesus (muito usadas no espiritismo), já que ele endossou tudo o que foi escrito no Antigo Testamento:

Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos” (Lc 16:29).

Abraão, porém, lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lc 16:31).

E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicou-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” (Lc 24:27).

Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José” (Jo 1:45).

Pois se crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim ele escreveu. Mas, se não credes nos escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5:46-47).

A questão deixa então de ser de lógica e passa a ser de coerência. Se você acreditar na Bíblia, então o Espiritismo é falso. Se crer no Espiritismo, então a Bíblia não pode ser verdadeira.

Se optar por crer na Bíblia, verá que, logo após o pecado no Éden, Deus fez uma vestimenta de pele de animal para cobrir Adão e Eva (substituindo a vestimenta de folhas de figueiras que eles próprios tinham feito). Era a provisão de Deus cobrindo, por meio da morte de um animal inocente, o pecado do homem, o que este foi incapaz de fazer com a obra de suas mãos e um cinto de folhas.

O que motivou Caim a assassinar Abel foi Deus ter se agradado da oferta de Abel — um animal inocente de seu rebanho morto em sacrifício a Deus — e não ter se agradado da oferta de Caim — o fruto de seu trabalho e da terra que cultivou.

A partir daí você verá uma sucessão de sacrifícios ao longo de toda a história do Antigo Testamento. Sempre que alguém pecava, devia levar um animal (geralmente um cordeiro) para ser morto no lugar do pecador. Era o inocente assumindo o lugar do culpado. Séculos se passaram com esses sacrifícios que apontavam para um sacrifício maior sendo repetidos dia após dia, ano após ano.

Até o dia em que, quando vê Jesus, João Batista declara: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. João Batista estava se reportando aos sacrifícios continuados de cordeiros do passado e apontava para o sacrifício definitivo, o Cordeiro de Deus que havia de ser morto.

Se perder isso na sua leitura da Bíblia, certamente não entendeu seu espírito que vai de Gênesis a Apocalipse. Veja, por exemplo, esta cena do céu, em Apocalipse, que se passa no futuro:

Nisto vi, entre o trono... um Cordeiro em pé, como havendo sido morto... os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro... E cantavam um cântico novo, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação; e para o nosso Deus os fizeste reino, e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra. E olhei, e vi a voz de muitos anjos ao redor do trono e dos seres viventes e dos anciãos; e o número deles era miríades de miríades; e o número deles era miríades de miríades e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória... Ouvi também a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e no mar, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos: e os quatro seres viventes diziam: Amém.” (Ap 5).

Considerando que tudo o que há no céu, na terra e debaixo da terra irá louvar o Cordeiro que foi morto e com seu sangue os salvou, onde estarão aqueles que considerarão ter sido salvos por seus próprios méritos? Enquanto todos os seres viventes cantarem “Digno és!” dirigindo-se ao Cordeiro, como cantarão aqueles que pretendem chegar lá por seus próprios meios? “Digno sou?”.

Pode me dizer qual será a letra da canção que você cantará? “Digno sou” ou “Digno é o Cordeiro”?