A Bíblia ensina que a salvação é por obras?

Vamos ao outro texto que indicou, “Fora da caridade não há salvação X Fora da Igreja não há salvação” de um autor espírita. O texto já começa adotando a premissa falsa de que a salvação esteja numa “igreja” (isso é técnica para enfraquecer de cara um argumento contrário). As afirmações do autor estão destacadas, seguidas de meus comentários.

Você escreveu: “Caso a fé fosse o único meio de salvação, o que seria dos povos que viveram na América antes da mesma ser ‘descoberta’?”.

Romanos 2:15 mostra que Deus trata cada um segundo o que sabe. A Bíblia não fala quase nada de quem nunca ouviu, pois não é um livro para curiosos. No momento que alguém tem contato com ela, já ouviu, já é responsável por aceitar ou rejeitar a Palavra de Deus.

Você escreveu: “Como resolver então essa questão?”.

Para a fé que sabe que Deus é justo, é questão resolvida. O sacrifício de Cristo cobre também crianças, pessoas mentalmente deficientes e qualquer um que não esteja no uso de suas faculdades para decidir. Da igreja, que é o corpo de Cristo, fazem parte apenas os que creram conscientemente, mas haverá muitos salvos dos que morreram antes e depois da cruz que não fazem parte da igreja. No final haverá novos céus e nova terra, esferas habitadas por diferentes categorias de salvos. Porém, para todos eles, foi o Cordeiro de Deus, que tirou o pecado do mundo, quem possibilitou isso.

Você escreveu: “Um ponto interessante na salvação pela fé é o que se coloca em Tiago 2:19.”.

O interessante aqui é que o autor apela para Tiago, um livro que não está entre os “canônicos” do espiritismo, que acredita apenas nas afirmações morais contidas nos evangelhos e nos dez mandamentos.

Já falei sobre Tiago, que aborda a justificação de homem para homem, enquanto Romanos fala da justificação do homem para com Deus. Escrevi bastante sobre a questão Fé X Obras nas respostas às perguntas “Deus não mais quer boas obras?”, “É pecado considerar-se salvo?”, “Qual fé é suficiente para salvar?”, “A salvação é pela graça somente?”, “O que preciso fazer para ser salvo?” que você encontra neste e nos outros volumes de “O que respondi”.

Você escreveu: “Diga-se de passagem, Tiago, 2:14-26 é uma verdadeira aula sobre o tema, sendo o seu ponto de vista corroborado por 1 Coríntios, 13:2.”.

Como não se podem excluir as passagens que falam da salvação pela fé, é preciso entender o todo, e não se arvorar juiz da Palavra de Deus selecionando apenas trechos que sustentem algumas ideias particulares.

Você escreveu: “Melhor fazemos em nos ater ao que disse Jesus Cristo: Mateus, 16:27 — Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras.”.

E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras” (Ap 20:13). “Quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida” (Jo 5:24). Para mim fica bem claro que alguns serão julgados, outros não.

Você escreveu: “Vê-se que pela Bíblia as pessoas poderão chegar a duas conclusões diferentes. O que fazer então?”.

Ler toda ela e pedir a Deus orientação para compreender o todo, não os “princípios morais de Jesus” apenas. Se você pegar um voo para Nova Iorque e o sujeito sentado ao seu lado disser que vai para Miami, isso não significa que está no voo errado. Significa que o avião poderá fazer escala em Miami ou que o sujeito fará conexão em Nova Iorque. Se o autor do texto escolheu Mateus 16:27 e outro escolher Efésios 2, nenhum dos dois verá o roteiro completo da viagem.

Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25:31-46).

O autor cita um versículo que fala da seleção pré-entrada no reino Milenar de Cristo na Terra (não no céu). É um julgamento de vivos quanto à forma como trataram dos seus (o remanescente judeu fiel) durante a grande tribulação (se deram um copo de água aos pequeninos que creram nele). É um julgamento de “todas as nações”, portanto, gente viva, portugueses, espanhóis, iraquianos, chineses, etc. No céu não haverá nações. Falta ao autor do texto um conhecimento de profecia bíblica.

Você escreveu: “Na parábola do bom samaritano (Lc, 10:25-37), contada por Jesus, quem seria salvo, segundo ele: o sacerdote (homem de fé) ou o samaritano (homem de obras, mesmo que de um povo anatematizado pelos judeus ortodoxos)?”.

Nossa, que salada o autor fez da passagem! O samaritano não é o salvo na parábola, ele é salvador, ora! na parábola o salvo é o que foi assaltado, que ia de Jerusalém (a cidade escolhida por Deus) para Jericó (a cidade amaldiçoada por Deus), assim como acontece com cada pecador que está vagando perdido. Nem a religião (sacerdote), nem a lei (levita) podem salvar. Só o samaritano desprezado pelo povo de Israel é o Salvador.

Os judeus consideravam Jesus samaritano, daí a parábola. Obviamente Jesus, sendo o Salvador, não precisava ser salvo, não é mesmo? “Responderam, pois, os judeus, e disseram-lhe: Não dizemos nós bem que és samaritano, e que tens demônio?” (Jo 8:48).

Vamos ao contexto. Depois de receber a confirmação de que deveria amar seu próximo, o doutor da lei que inquiria Jesus perguntou: “Quem é meu próximo?”. No fim o Senhor pergunta: “Qual, pois, destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?”. Respondeu o doutor da lei: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”.

O próximo foi o que usou de misericórdia, não o assaltado. Todos leem pensando que o próximo é o assaltado, mas a pergunta é clara: “Qual... parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?”. Quem você acha que é o “próximo” que usa de misericórdia com os que caíram nas mãos de salteadores enquanto se afastavam de Jerusalém a caminho de Jericó?

O assaltado nada podia fazer, nenhuma obra, além de se deixar salvar. Somente aquele que foi rejeitado por Israel podia salvar. Lembra algo?

Saiba, pois, com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. (Atos 2:36).