O que você pensa do divórcio?

Você escreveu que tem dúvidas sobre a questão do divórcio e que, por estar separado há um ano por iniciativa de sua esposa, tem perguntado ao Senhor todos os dias qual é a sua vontade a respeito. No meu entendimento, segundo a Palavra de Deus a separação só é permitida em caso de adultério. Somente neste caso o outro está livre para casar-se novamente, desde que seja no Senhor.

É que o matrimônio cria um vínculo que está relacionado aos dois se tornarem uma só carne. Quando alguém se une corporalmente a outra pessoa, esse vínculo é rompido. Mas mesmo em caso de adultério, não se trata de uma ordem para a pessoa se divorciar, mas uma possibilidade. A prioridade, porém, é o perdão e a reconciliação. (Lc 11:4; Ef 4:32).

Há outras situações, como a mostrada em 1 Coríntios 7, quando parece existir a possibilidade de uma separação entre cônjuges crentes, mas não para um novo casamento, e sim para a reconciliação:

Todavia, aos casados mando, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher”. (1 Co 7:10-11).

Outra tradução (J. N. Darby) parece indicar que este caso seria para um casal que já estivesse separado ao conhecer o Senhor: “mas se ela já estiver separada, que fique sem casar, ou que se reconcilie com seu marido”.

Outra situação é um dos cônjuges ser incrédulo e tomar a decisão de separar-se.

Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.” (1 Co 7:15). Em outras traduções “servidão” é traduzida como “vínculo”. Mas o contexto não está falando em novo casamento, mas apenas na não obrigatoriedade de se manter o vínculo.

Em Malaquias 2 fica claro o que Deus pensa do divórcio: “Pois eu detesto o divórcio, diz o Senhor Deus de Israel” (Ml 2:16).

Quanto ao fato de você perguntar todos os dias, há um ano, qual é a vontade do Senhor, já é uma grande coisa, porque muita gente não pergunta ou, quando pergunta, não espera a resposta. Quando ele permite algo em nossa vida, sempre há uma razão, mas nem sempre nos será dado conhecê-la aqui. Deus permitiu que Satanás tirasse tudo de Jó e ele certamente não entendeu coisa alguma. Mas no final podia dizer que antes só conhecia a Deus de ouvir falar, mas depois de tudo podia vê-lo claramente em seus propósitos. “Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem os meus olhos.” (Jó 42:5).

Desde 2002 estou separado. Portanto, a mesma pergunta que você faz eu também faço desde então e ainda não sei a resposta. Mas o que aprendi nestes anos eu não aprenderia em lugar algum. Você também. O próprio fato de você escrever, um ano depois de sua separação, dizendo que todos os dias quer saber a vontade do Senhor nisso já mostra o quanto ele o tem conservado na fé em todo esse tempo.

Você e eu perguntamos a razão de termos ficado sem esposa. Um irmão que conheço pergunta a razão de ter ficado paraplégico aos vinte anos vítima de um tiro. Outro pergunta por que perdeu um filho ainda pequeno... E por aí vai. Todos teremos perguntas enquanto estivermos aqui, mas o grande segredo é que, assim como Jó com suas falhas e fraquezas, continuamos perguntando ao Senhor. Um dia ele vai responder. Se não for aqui, será lá, com certeza.

Normalmente quem passa pela experiência de uma separação quer saber também sobre a questão de um novo casamento. Há alguns anos fiz a mesma pergunta a um irmão. Seu e-mail me trouxe o seguinte: “Quando os judeus perguntaram ao Senhor sobre o divórcio, o Senhor voltou ao princípio, em como Deus havia instituído o matrimônio.” (Mt 19:3-12).

Algumas coisas que ficam claras da passagem são:

1. O que Deus uniu, o homem não deve separar.

2. Moisés permitiu o divórcio por causa da dureza do coração do homem.

3. A fornicação (ou adultério) é a única causa justa para alguém se divorciar (vers. 9).

Em 1 Coríntios 7:15 há outros casos que penso estarem incluídos em Mateus 19:9: “Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.” e “Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.” Aqui é o caso de um incrédulo separando-se de um crente por causa de sua fé no Senhor. Neste caso o crente não está sujeito à servidão.

Creio que este caso especial mostra que o Senhor dá mais importância ao nascimento espiritual de alguém do que à preservação de um relacionamento natural como é o matrimônio quando há uma ruptura nele. Quando uma pessoa casada se converte e o cônjuge incrédulo quer se divorciar o caso fica muito claro. Não diz que o cônjuge crente esteja livre para se casar, mas que ele não está sujeito à servidão, mostrando a atitude correta em relação ao caso, quando um novo casamento é permitido.

Obviamente cada caso é um caso. Mas creio que é sempre bom ter em mente que o matrimônio nunca deve ser buscado como solução para um problema, já que a Palavra é clara em mostrar que, apesar das bênçãos relacionadas a ele, problemas é que não faltam na relação marido-mulher. Daí o conhecido conselho da Palavra de Deus:

Tenho, pois, por bom, por causa da instante necessidade, que é bom para o homem o estar assim. Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher.” (1 Co 7:26-27).

Quer saber o que fazer? Esperar. Pelo menos é o que tenho feito até aqui. Sim, porque esperar no Senhor é um dos grandes exercícios da fé. Afinal, não é isto que estamos fazendo aqui, aguardando a vinda daquele que morreu para nos salvar e que prometeu voltar? Acho que esta tem sido a maior lição na escola na qual fui matriculado contra a minha vontade desde 2002.

Certamente eu cairia fora deste curso ou cabularia suas aulas se pudesse. Mas jamais iria querer abrir mão do que aprendi. Só que o problema é que o Senhor sabia que estas coisas eu não iria aprender em nenhum outro lugar, por isso me mantém matriculado. Não sou um de seus melhores alunos, mas continuo aprendendo e esperando.

O que você gostaria que voltasse primeiro, a esposa ou o Senhor? Acho que não precisa nem responder, não é mesmo? É por isso que devemos aprender a colocar também na ordem de importância nossas expectativas. Afinal, há um esposo no céu que sabe muito bem o que eu, você e tantos outros estamos passando. Há dois mil anos ele não vê a hora de se reunir com sua esposa, a Igreja. Pode ser hoje.

Vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus... Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.” (2 Pe 3:14).