A salvação é pela graça somente?

Posso ver que você, como muçulmano que é, tem um grande problema com a graça de Deus, mesmo porque não é algo que se encaixa na fé que professa. Obviamente, você procura ver o caráter valoroso dos personagens bíblicos, mas deixa escapar o cerne da mensagem que é a graça de Deus, que nos dá o que não merecemos e nos livra daquilo que merecemos.

O que o islamismo tem de comum com todas as religiões é que esse “algo” que é preciso para ser salvo depende do ser humano. Assim, se Deus não faz, eu faço, se Deus não elimina, eu uso a espada, se Deus não me salva, eu preciso me esforçar para chegar lá.

Veja que as religiões pensam assim: a salvação do homem está nas mãos do homem, com uma ajudazinha de Deus se ele (o ser humano) merecer isso. Obviamente o cristianismo acabou equivocadamente entrando no mesmo barco, daí a história de sangue e horror que os cristãos escreveram ao longo dos séculos.

Agora vamos a outra questão. O cristão é salvo por Cristo e pode ter a certeza dessa salvação. Isto equivale dizer que, se eu morrer neste exato momento, tenho certeza e segurança absolutas de ir para o céu, de não passar sequer por algum tipo de julgamento. É isso que o Novo Testamento ensina. E se você morrer neste exato momento, para onde TEM CERTEZA de ir? Que segurança a sua fé muçulmana lhe dá quanto a isso?

Veja que não estou falando dos fiéis do Antigo Testamento, com os quais até mesmo sua religião está familiarizada, mas do cristão. Os santos do Antigo Testamento não tinham a perspectiva completa da salvação, ou a certeza dela, uma vez que a revelação da verdade ainda estava em andamento. Você não tem toda a verdade revelada no Antigo Testamento.

HAVENDO Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” (Hb 1:1-3).

Você escreveu: “E indica um texto que se propõe a ensinar que o que os gregos e romanos ensinaram sobre Jesus (novo testamento) é superior a cinco mil anos de sucessivos profetas verdadeiros (Antigo Testamento).”.

Aparentemente você não aceita as cartas apostólicas como parte da verdade revelada por Deus, mas não ficou claro se aceita os evangelhos (também escritos pelos apóstolos). Deve aceitar, pois do contrário como teria Maomé recontado várias passagens dos Evangelhos em seus escritos?

Você escreveu: “Você diz que a grande diferença depois da vinda de Jesus é que agora se salva exclusivamente pela graça e pela fé, mas isso de acordo com as cartas, porque não foi isso que Jesus ensinou.”.

Sim, foi também o que Jesus ensinou. Aliás, a salvação pela graça foi o tema do primeiro ato expiatório de Deus logo após o pecado no Éden: Deus matou animais inocentes para com suas peles cobrir o homem e a mulher. Um inocente morrendo em lugar do pecador. Lembra algo?

Deus também se agradou da oferta de Abel (o sangue de um animal inocente morto), mas não da oferta de Caim (o fruto de seus esforços e de seu trabalho em uma terra pouco antes amaldiçoada por Deus). Daí para frente você verá, vez após outra, animais inocentes sendo mortos no lugar do homem pecador (os sacrifícios no tabernáculo e depois no Templo, por exemplo), até chegar o derradeiro sacrifício, o Cordeiro de Deus.

Você escreveu: “Então o Jesus mitológico do cristianismo diria: “confia firmemente na salvação do meu sangue divino e redentor” porém não é o que Jesus ensina.”.

Se você observasse o histórico de sangue de inocentes até chegar ao Cordeiro de Deus, não afirmaria isso com tanta pressa. Um judeu, por outro lado, entenderia perfeitamente a declaração de João Batista, “eis o Cordeiro de Deus”, quando visse aquele homem pregado na cruz. Teria entendido, mas não queria entender, porque isso não se encaixava. A menos que entendesse o significado do Messias “tirado”, da profecia de Daniel 9.

Quanto à sua afirmação de que o Senhor Jesus não tenha falado da salvação pela graça e, principalmente, da CERTEZA da salvação e da isenção do juízo (ou julgamento), vamos lá:

Na verdade, na verdade vos digo que quem OUVE a minha palavra, e CRÊ naquele que me enviou, TEM a vida eterna, e NÃO ENTRARÁ em condenação, mas PASSOU da morte para a vida.” (Jo 5:24).

Veja o tempo dos verbos: Quem OUVE (presente), CRÊ (presente), TEM (presente), NÃO ENTRARÁ (futuro), PASSOU (passado). Portanto, como você pode dizer que OUVE a Palavra de Deus, CRÊ no que ele diz e, mesmo assim, NÃO TEM a vida eterna? Acaso não está duvidando da graça salvadora de Deus e confiando em seus próprios feitos, em sua “castidade, serenidade, cortesia, honestidade, verdade e justiça, coragem e paciência, perdão, caridade, amor e simpatia”?

A diferença entre a fé cristã e qualquer outra é que, se indagado, no céu o cristão irá responder: “Estou aqui porque sou um pecador perdoado e lavado pelo sangue do Cordeiro”. Afinal, não é essa a letra do hino que cantam no céu, segundo o livro de Apocalipse? “Ao que está sentado no trono, seja a glória etc... porque com o teu sangue compraste... etc.”. Pelo que entendi, se um dia você chegar ao céu, seu cântico irá destoar completamente, porque você irá cantar:

“Glória a mim, que fui salvo graças à minha castidade, serenidade, cortesia, honestidade, verdade e justiça, coragem e paciência, perdão, caridade, amor e simpatia”.