Quem são os justos na Bíblia?

Todos aqueles que foram justificados por Deus, não aqueles que tentaram se justificar a si mesmos por Atos de justiça. É um grande engano pensar que somos justificados pelo nosso modo de agir. O mais justo dentre os homens sempre será ímpio se comparado com a justiça de Deus. Veja o caso de Jó e o que um de seus melhores amigos conta que ele fazia (ele devia saber):

Porventura não é grande a tua malícia, e sem termo as tuas iniquidades? Porque sem causa penhoraste a teus irmãos, e aos nus despojaste as veste Não deste ao cansado água a beber, e ao faminto retiveste o pão. Mas para o poderoso era a terra, e o homem tido em respeito habitava nela. As viúvas despediste vazias, e os braços dos órfãos foram quebrados” (Jó 22:5-9).

Todavia, a opinião de Deus a respeito de Jó era bem diferente:

E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (Jó 1:8).

A opinião de Deus era vertical, baseada na sua justificação do ímpio. A opinião de Jó era baseada na justificação horizontal, de homem para homem. É por isso que existe uma aparente discrepância entre Tiago e Romanos:

Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?... Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.... Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?” (Tg 2:14-21).

Tiago falava da justificação horizontal, “mostra-me a tua fé sem as obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Mas em Romanos, Paulo fala da justificação em seu aspecto vertical, como Deus vê o homem:

Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei... Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus... Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça... Ora, àquele que faz qualquer obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida. Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça. Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, E cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado” (Rm 3 e 4).

Davi também foi justificado por Deus, mas não tinha nada que pudesse fazê-lo merecer. No tempo em que os reis deviam estar guerreando ele estava em casa, dormindo até tarde, olhando uma mulher se banhando. Não satisfeito com o que tinha, ainda mandou buscar essa mulher, esposa de Urias, e a engravidou. Para encobrir seu pecado armou todo um estratagema que, por não funcionar, levou Davi a um dos mais cruéis Atos que um homem pode cometer: dar à vítima, sem que ela soubesse, a carta de sua condenação para ser levada ao general no campo de batalha. No entanto, após reconhecer seu pecado (Sl 32 e 51) e se arrepender, ele ficou livre de morrer e foi reputado por justo aos olhos de Deus.

Quando Deus olha para um dos seus ele o vê pelas lentes de Cristo, ou através da obra na cruz do Calvário. Fora disso, não há justificação para o homem. Nossa opinião humana de justo é de alguém que anda direito e tem uma vida correta, mas quem é o justo da parábola do fariseu e do publicano? E qual dos filhos foi justificado, o pródigo, que gastou tudo e viveu dissolutamente, ou o que ficou na casa do pai?

Graças a essa justificação divina a Bíblia pode dizer que Deus “Não viu iniquidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó...” (Nm 23:21). Não é que Israel ou Jacó não tivessem iniquidade ou maldade, mas Deus não viu, não reputou ou levou isso em conta. Deus justificou a Jacó, mas fez isso com base no sacrifício (ainda futuro na ocasião) de Cristo e na sua ressurreição.

Você perguntou de Ananias e Safira e eu creio que irei encontrá-los no céu, pois o próprio fato de terem sido castigados com morte é prova de que eram crentes.

O cristão sempre morre como consequência do pecado. Mesmo um convertido traz em seu corpo a deterioração causada pelo pecado, portanto adoecer ou morrer faz parte do processo, apenas interrompido se o Senhor voltar para buscar os seus. Quanto a uma morte prematura, ela pode ser por causa de pecado (como aconteceu com Ananias e Safira), quando o crente já não serve para viver aqui como testemunho para seu Senhor, para servir de testemunho e para que sua morte seja um instrumento nos desígnios de Deus (Estêvão) ou simplesmente porque terminou o trabalho que Deus havia designado para ele aqui no mundo (Paulo). Nos três casos a morte não foi natural, mas por razões diferentes.

Depois de morto, o cristão não entra em juízo (não será julgado). O juízo é só para o incrédulo. Muitos fazem confusão entre o trono branco (para incrédulos) e o tribunal de Cristo (para crentes). O tribunal de Cristo não é um tribunal de julgamento para condenar ou não, mas é mais como um júri de concurso de beleza ou de calouros, para escolher a qualidade da obra de cada um e recompensar.