Será que o que você prega é a Verdade?
Você me enviou um e-mail com a pergunta: “Será que o que você prega é a Verdade?”. Fiquei intrigado com sua pergunta, seguida de um longo texto detalhando os grandes feitos da organização religiosa da qual você é um militante. Você disse que seus irmãos dessa organização “se esforçam ao máximo para seguir os ensinos de Jesus”, o que é louvável. Disse que “creem em Jesus como sendo o único meio provido por Jeová para que sejam salvas e tenham vida eterna”, o que também creio. Você continuou dizendo que eles “exercem fé em Jesus e pregam as boas novas do reino conforme ele ordenou”. Então lançou seu desafio: “Você conhece outra religião que faça a pregação como Jesus e os apóstolos fizeram?”.
Bem, não sei o que quis dizer com isso porque não encontrei nenhuma religião na Bíblia que tivesse boca para pregar. Encontrei apenas pessoas com bocas pregando, e a mensagem delas nunca foi religião ou o convite para que as pessoas se filiassem a uma. Encontrei apenas pessoas pregando a Cristo, que morreu e ressuscitou, que é o que também prego em meus textos e vídeos na Web. Então por que depois de ler e ouvir o que prego você teria levantado a dúvida “Será que o que você prega é a Verdade?”. Se eu prego a Jesus, o Salvador, e tenho muitas provas bíblicas de que ele é “o caminho, e a verdade e a vida” e que ninguém vai ao Pai senão por ele (Jo 14:6), em que você viu falta? Será que você não acha que ele seja a Verdade? Então o que é a Verdade para você?
A continuação de seu e-mail deu algumas pistas do que você acha que seja a Verdade, e no seu entender ela não seria uma Pessoa — Jesus —, mas uma organização religiosa, a qual seria também a responsável por salvar alguém eternamente. E pelo que escreveu no final pude crer que você acha que se eu não me filiar a essa organização não existe salvação para mim, mas terei minha existência sumariamente deletada com o aniquilamento total de minha pessoa. Sério?!
Então você me convidou a ir ao site de sua organização para ler o anuário com os relatórios que mostram que os militantes desse sistema religioso “pregaram cerca de 2 bilhões de horas no último ano de serviço e dirigiram cerca de 10.115.264 estudos da Bíblia”. Realmente impressionante, mas eu pergunto: Devo parar de teclar para aplaudir os militantes de sua organização religiosa por esse esforço hercúleo em divulgar a própria organização religiosa? Sério que eles marcam o tempo de pregação? Será que existe algum prêmio para quem pregar mais tempo ou fizer visitas mais demoradas? E se o militante falar devagar, enrolar, tem alguma penalidade? Como operacionalizam isso? Cada um leva um taxímetro? E se a visita for à noite, tem bandeira 2, tipo tempo dobrado? Agora fiquei curioso em imaginar se os primeiros cristãos levavam uma ampulheta ou um relógio de sol quando saíam para evangelizar. Seu discurso estaria OK se você estivesse tentando me vender ações de uma empresa, um plano de saúde ou título de clube de campo. Mas qual a razão de fazer propaganda dessa organização?
“Foram gastos na divulgação da mensagem do reino mais de 213 milhões de dólares no ano passado”, acrescentou você em seu esforço de convencimento. Então, num arremedo de justiça própria, acrescentou que os militantes de sua organização têm “amor entre si”, o que os caracterizaria como os verdadeiros discípulos de Cristo. Neste ponto, por alguma razão, me vêm à memória Provérbios 27:2: “Que um outro te louve, e não a tua própria boca; o estranho, e não os teus lábios”.
Você me informa que os jovens militantes dessa organização religiosa, fundada por volta de 1870, “não fazem tiro de guerra ou exército e por isso muitos passam anos presos”. É mesmo? E onde na Bíblia você viu que Deus proibiu o cristão de ser militar? Quando Pedro pregou a Cornélio, o centurião romano, ele não disse nada a respeito, mas concentrou-se na Pessoa e obra de Cristo.
E repare que Pedro começa seu discurso dizendo “nós somos TESTEMUNHAS de todas as coisas que fez, tanto na terra da Judeia como em Jerusalém, ao qual mataram, pendurando-o num madeiro. A este ressuscitou Deus ao terceiro dia, e fez que se manifestasse, não a todo o povo, mas às **TESTEMUNHAS **que Deus antes ordenara; a nós, que comemos e bebemos juntamente com ele, depois que ressuscitou dentre os mortos. E nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos. A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (At 10:39-43).
Por duas vezes Pedro diz que ele e os outros discípulos eram TESTEMUNHAS, um título que você e os de sua organização gostam de utilizar, mas em nenhum momento Pedro diz a Cornélio para ele deixar a farda e a carreira militar. João Batista não incentivou os soldados de seu tempo à deserção, mas quando alguns lhe perguntaram como deviam agir, ele simplesmente disse para tratarem bem as pessoas e se contentarem com o salário. Acho que eu e você concordamos que as pessoas que deviam ser bem tratadas não eram os marginais, mas os cidadãos de bem. “E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo” (Lc 3:14). O “evangelho” que você prega condiciona a pessoa, não apenas a ser membro dessa organização, mas a desertar se for soldado ou policial e sofrer as consequências de sua deserção, apesar de não ter nenhum caso semelhante na Bíblia para apresentar.
Você terminou seu texto com uma crítica e desafio dirigido a mim: “É fácil ficar atrás da tela de um computador e dizer o que acredita, mesmo sem conhecer a fundo o assunto [você quis dizer sua organização que critiquei em um de meus artigos que leu]... Na Bíblia Jeová nos ordena que devemos avisar para não termos culpa de sangue no caso de a pessoa não retroceder de seu caminho”.
Dá para perceber que você se deu a todo esse trabalho de escrever para mim, não por estar preocupado com minha salvação, mas para livrar a sua cara, pois aparentemente estava pensando no texto de Ezequiel 3:16-19, que começa dizendo: “Veio a palavra do Senhor a mim, dizendo: Filho do homem: Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel...” Bem, você nem precisava se incomodar em me avisar, porque isso não foi dito a você, mas a Ezequiel, o profeta, e a mensagem que ele tinha de passar não era para mim, mas para “a casa de Israel”, sobre a qual tinha sido colocado por profeta. Fique tranquilo, pois Deus não iria requerer seu sangue por não ter me avisado de que eu deveria me filiar à sua organização. Afinal, acho que nem Ezequiel fazia ideia na época de que deveria avisar a casa de Israel a se filiar à sua organização.
É realmente intrigante a pergunta que me fez — “Será que o que você prega é a Verdade?” — porque fiquei com vontade de perguntar o mesmo a você. Se você viu, leu ou ouviu o material que publico, deve ter percebido que não sigo nenhuma organização religiosa, não faço propaganda de nenhuma e nem convido pessoas a se juntarem a uma. Não apresento relatórios de grandes feitos, porque só falo de um grande feito, que é o mesmo evangelho que Paulo pregava: “Primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15:3-4). Curiosamente Paulo e os outros apóstolos nunca convidaram ninguém para se filiar a alguma denominação ou organização religiosa, e muito menos uma que seria criada quase dois mil anos depois de Jesus andar aqui.
Se não prego alguma denominação religiosa é porque “em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:12) e tampouco convido pessoas para se filiarem a alguma, porque os apóstolos não falaram de uma organização, mas de um organismo, um corpo vivo: a igreja, o corpo de Cristo. Mas os mesmos apóstolos e discípulos nunca convidavam alguém a se tornar membro desse corpo porque homem algum tem poder para isso. E quando digo que homem algum tem o poder de se fazer membro desse corpo é porque o próprio Jesus é quem acrescenta os que são seus, e para isso vou usar um versículo da versão da Bíblia que você utiliza: “Ao mesmo tempo, **Jeová continuava a ajuntar-lhes **diariamente os que estavam sendo salvos” (At 2:47).
Eu realmente não entendi esse seu método de evangelização que consiste em desfilar os predicados e grandes feitos da organização à qual faz parte. Me fez lembrar do fariseu no Templo querendo impressionar a Deus pelos seus feitos, enquanto desprezava o publicano contrito. Embora eu faça um trabalho de evangelização, seria inútil eu querer conquistar pessoas apresentando a um pecador perdido algum relatório com o número de pessoas que são alcançadas por meus textos, áudios e vídeos, porque nem eu sei o quanto desse trabalho vem realmente do Espírito ou é apenas esforço de minha carne. Deixo para o Senhor julgar isso quando eu estiver diante do Tribunal de Cristo, que é o julgamento, não do crente, mas de suas obras. Lá ele será o único capaz de dizer o que é “ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha” (1 Co 3:12). Mas isso não é agora, e nem espero receber louvor de homens, “portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor” (1 Co 4:5).
Finalizando, pelo que entendi não pregamos o mesmo evangelho, pois apesar de eu dizer às pessoas para crerem em Cristo para serem salvas, eu não as convido para se filiarem à organização que você tentou me vender com seus relatórios. E por eu não ter aceitado seu convite a me juntar às 20 milhões de pessoas em todo o mundo que fazem parte de sua organização, isso me coloca na fila dos que não irão sofrer eternamente no lago de fogo, como creio que seja o destino dos perdidos, mas estarei entre os que serão deletados para sempre, como ensina sua organização. Aniquilamento total do ímpio, no caso eu. Me fez lembrar o que disse um rapaz ateu que recebeu no portão um dos militantes de sua organização, e quando este o ameaçou do aniquilamento eterno, ele fez questão de pedir uma confirmação:
— Você garante que serei aniquilado no final, que deixarei de existir?
— Garanto — respondeu o outro guardando suas revistas na pasta.
— OBRIGADO! MUITO OBRIGADO! Era tudo o que eu queria ouvir! Não tenho nenhum interesse em continuar existindo.