Como entender tempo e matéria?

Sua dúvida partiu de um versículo no Salmo 90:4: “Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite”. Eu acrescentaria também, “Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pe 3:8). Entender tempo e matéria é algo complicado para a mente humana e os cientistas têm se debruçado sobre este tema por séculos. O tempo foi criado junto com a matéria, portanto não existia antes. E ele deixará de existir com o fim do universo material quando terão início os novos céus e a nova terra dos quais a Bíblia nem fala muito porque seria impossível entender, a nós, criados para este universo de tempo e espaço.

Para Deus o tempo é apenas uma linha que ele criou em algum momento no passado e que irá terminar no futuro. Então tudo voltará a ser o estado eterno, sem tempo e sem linearidade nos acontecimentos. Como fomos criados no tempo, não somos capazes de entender o que ocorre fora do contexto do tempo, mas quando formos transformados (ou ressuscitarmos) estaremos aptos para viver na eternidade, sem tempo.

Para você ter uma leve ideia do que é Deus agindo hoje, independente do tempo, pense na estrela mais próxima da terra: Proxima Centauri que está a 4,22 anos-luz de nós, ou seja a quarenta trilhões de quilômetros. Só para você se situar, quando olhamos para essa estrela no céu vemos como ela era há 4,22 anos, e não como ela é agora. Se ela explodir agora, só veremos a explosão daqui a quatro anos. Se quisermos viajar para lá com o pé na tábua nos meios hoje disponíveis (sondas espaciais) levaremos 60 mil anos. Se formos a pé levaremos um bilhão de anos.

Agora imagine que Deus fosse um gigante muito alto, tão enorme que pudesse enxergar Proxima Centauri bem diante de seus olhos e ao mesmo tempo ter a Terra em sua visão periférica. Ou seja, ele seria capaz de ver a estrela e a Terra ao mesmo tempo! Eu entendo que é assim que Deus pode ver o passado, o presente e o futuro tudo ao mesmo tempo. Em nós, com esse raciocínio linear que temos do tempo, algo assim não faria qualquer sentido, mas para Deus é tudo perfeitamente normal.

Jesus, o Filho de Deus, Deus e Homem, ficou sujeito ao tempo quando se fez carne e veio habitar na terra. Que ele já era o Filho de Deus na eternidade, não há como contestar: “O Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (1 Jo 4:14). O Pai não enviou Jesus para ser Filho, mas enviou o Filho para ser Jesus em humanidade, “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” (Gl 4:4). Não tente entender a encarnação, pois “sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” (1Tm 3:16).

O Filho de Deus não foi criado em carne, mas sim manifestado em carne, por ter existência prévia. “Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus. E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo... Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo” (1 Jo 4:2-3; 2 Jo 1:7).

Mas, apesar de viver no contexto do tempo, ele deu provas de não estar limitado ao tempo e de ser capaz de manipular a matéria. Ele é o “Filho Eterno” de Deus. A palavra ‘eterno’ não faz muito sentido para nós, que nascemos e vivemos no tempo. Assim como os céus e a Terra, o tempo também foi criado e está intimamente ligado ao mundo material. A Bíblia afirma isso e Einstein também. Ele disse:

“Supondo que toda matéria desaparecesse do mundo, então, antes da relatividade, acreditava-se que espaço e tempo continuariam a existir em um mundo vazio. Mas, de acordo com a Teoria da Relatividade, se matéria e movimento desaparecessem, já não haveria mais espaço ou tempo” - Albert Einstein

Muito antes de Einstein, Agostinho escreveu: “Não há dúvida de que o mundo não foi criado no tempo, mas com o tempo”, e acerca de Deus, ele diz: “Teus anos permanecem ao mesmo tempo... Teus anos são um dia, e Teu dia não é como nossa sequência de dias, mas é hoje”. Agora imagine você o nó na cabeça dos judeus quando nos evangelhos escutavam Jesus dizer: “Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8:58). Ele não diz “antes que Abraão existisse, eu já existia”, mas usa novamente a mesma expressão usada por Deus para se apresentar a Moisés: “EU SOU” (Ex 3:13-14).

Isto revela que Jesus é Deus, o Filho Eterno, não sujeito ao tempo, ou pelo menos não mais do que naquilo que ele mesmo quis se sujeitar em sua relação com a criação. Este aspecto atemporal de Jesus pode ser visto no mesmo evangelho de João, quando ele diz no capítulo 3: “ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu” (Jo 3:13).

Veja que na passagem o “Filho do Homem”, que é o Filho Eterno em sua condição humana, desceu do céu, está no céu e, ao mesmo tempo, conversa na terra com Nicodemos. Quer mais? Então veja o capítulo 1 da carta aos Colossenses: Jesus “é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis... tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele”.

Em João 17 Jesus ora: “Glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse”. O Filho Eterno já estava com o Pai antes que o tempo e a matéria viessem a existir. Em Hebreus diz que ele sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder”. Além de ser o Verbo ativo da criação, Jesus governa as leis da física e mantém coesas as partículas que compõem a matéria. O capítulo 8 do Evangelho de João termina dizendo que os judeus “pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou”. Como ele fez isso?

Se você tiver familiaridade com a língua inglesa poderá ler o excelente artigo publicado na Web com o título The Complexities of Time”de um cientista chamado Lambert Dolphin.