Por que o Salmo 91 parece não funcionar comigo?

Você leu o Salmo 91, viu que ele promete muitas coisas, porém nada parece funcionar com você. Por que será? Porque você ainda não chegou à última página. Vou tentar explicar. Quando Paulo escreveu a Timóteo para manejar bem a Palavra da Verdade, o sentido era cortar ou dividir com precisão cada parte para ser aplicada dentro de cada contexto. Então se você não entender as diferentes divisões da Bíblia vai ficar confuso.

Por exemplo, temos todo o Antigo Testamento e também os evangelhos voltados aos judeus, enquanto a partir de Atos temos uma nova realidade que é a Igreja, os salvos da presente dispensação. Se você não conhece ou não acredita nas diferentes dispensações ou maneiras de Deus agir ao longo das eras, então nem siga adiante porque nada do que vou dizer fará sentido para você.

As promessas no Antigo Testamento eram para um povo terreno, Israel, e os gentios associados a esse povo. As promessas de Deus para a Igreja, que encontramos nas epístolas, são celestiais. Por isso, enquanto vivemos na terra não devemos nos espantar se passarmos por dificuldades. Então quando você lê o Salmo 91 que promete proteção e sustento em todas as circunstâncias, entenda que isso é uma promessa ainda a ser cumprida para um remanescente judeu que irá se converter e juntamente com outras tribos de Israel e gentios habitará no reino milenial de Cristo na terra.

Mas se você discorda desta forma de entender a Bíblia, então tente explicar como foi que todos os apóstolos, exceto João, morreram de forma violenta nas mãos dos adversários da fé cristã? Será que não habitavam “no esconderijo do Altíssimo” e nem descansavam “à sombra do Onipotente”? Porque teriam sido presa do “laço do passarinheiro e da peste perniciosa”? Recebi uma mensagem de uma irmã em Cristo indignada porque na denominação que frequenta o pastor pregou que a culpa da morte de Estêvão foi da igreja, que não orou como orou por Pedro quando este foi preso e depois libertado. Faltou ele explicar por que Pedro mais tarde também seria executado. Ou porque todos os cristãos nos últimos dois mil anos morreram. Teria sido falta de orações fervorosas? No caso de todos os apóstolos, discípulos e cristãos que morreram de forma violenta no passado e nos dias atuais, como os degolados por radicais islâmicos, como fica a promessa que diz que “caiam mil ao teu lado, e dez mil à tua direita; tu não serás atingido”?

Em Hebreus você lê de homens e mulheres fieis do Antigo Testamento que “pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fuga os exércitos dos estranhos” (Hb 11:33-34). Mas na continuação o texto fala de homens e mulheres não menos fieis que “experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra” (Hb 11:36-38). Qual teria sido a falha deles? Não, eles não falharam, pelo contrário são citados nas Escrituras por sua fé e perseverança em Deus. A questão é que ainda não estavam na última página.

Para os cristãos que desde o início da Igreja foram traspassados por lanças e espadas, crucificados, queimados vivos, degolados, enforcados, a história não tem sido diferente. Será que teriam falhado? Afinal, o Salmo 91 prometia que “Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda, porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”. Para aqueles santos que eram estraçalhados nas arenas romanas certamente não funcionou a promessa “pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a serpente”, porque acabaram mortos de qualquer maneira. Mas volto a insistir que não tire conclusões antes de chegar ao final da história.

Percebe como promessas como as do Salmo 91 não podem ser evocadas por alguém da presente dispensação, a não ser na forma de princípios de proteção, porém não literalmente? Sim, eu tenho certeza de que é verdade também para mim o que Deus diz: “Porque a mim se apegou com amor, eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo porque conhece o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livrá-lo-ei e o glorificarei. Saciá-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação”, porque estas são promessas que de algum modo me serão cumpridas, mas se para os israelitas elas apontam para a nova terra, para mim e todos os salvos da presente dispensação da graça de Deus elas apontam para os novos céus. A última página está escrita lá, na eternidade.

Mas talvez você conteste, pois como eu disse um pouco antes, também os israelitas sempre sofreram muitos suplícios e estas promessas não valeram para eles. Tem razão, porque afinal a aplicação primeira e mais direta deste Salmo não é para judeus nem gentios, mas para o próprio Senhor Jesus. O Salmo é messiânico como muitos outros. Jesus é aquele que habita no esconderijo do Altíssimo como nenhum outro.

No primeiro capítulo do Evangelho de Marcos há sete testemunhos acerca de Jesus. Sabemos que na Bíblia o número sete é o número de Deus e representa a perfeição. Primeiro, é o próprio Marcos quem testemunha que “Jesus Cristo” é “o Filho de Deus” (Mc 1:1). Depois, nos versículos 2 e 3 de Marcos, o testemunho vem dos profetas referindo-se a Jesus como o Jeová do Antigo Testamento. Apenas para citar a origem do versículo 3, é uma profecia de Isaías que diz: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho de Jeová, endireitai as suas veredas” (Is 40:3), referindo-se a João Batista que viria para anunciar a chegada de Jesus. Em terceiro lugar vem o testemunho do próprio João Batista, que diz: Ele é “mais poderoso do que eu”. O quarto testemunho vem do Pai no versículo 11, que diz: “Tu és o meu Filho amado em quem me comprazo”. Obviamente quem não crê ou entende a Trindade não vai conseguir entender isso, mas apenas para esclarecer: Um Deus, três Pessoas distintas, Pai, Filho e Espírito Santo.

Nos versículos 12 e 13 de Marcos capítulo 1 encontramos os últimos três testemunhos. O quinto é providenciado pelo Espírito Santo para mostrar que Jesus era sem pecado e impermeável à tentação. Ele “o Espírito o impeliu para o deserto. E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás.”. O sexto testemunho é dado pela Criação, sobre a qual o Filho de Deus tem o domínio, pois “vivia entre as feras” e estas, nenhum dano lhe causaram. O sétimo testemunho nós vemos quando “Os anjos o serviam”, e um bom leitor da Bíblia saberá que isto tem a ver com Hebreus 1:6-8, que diz: “Quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem. E, quanto aos anjos, diz: Faz dos seus anjos espíritos, E de seus ministros, labareda de fogo. Mas, do Filho, diz: O Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino”.

Mas Jesus um dia chegou ao ponto de clamar a Deus na cruz por tê-lo abandonado, mas aquilo foi só momentâneo. Sabemos que ele morreu, mas também que ressuscitou e está hoje glorificado nos céus provando serem verdadeiras todas as promessas do Salmo a respeito dele. Se este Salmo 91 tem sido de consolo e auxílio para muitos que sofrem ao longo de milênios é porque encontraram descanso não em promessas vazias, mas em promessas cumpridas acerca de Cristo e que se cumprirão também em sua totalidade a respeito de cada salvo de cada dispensação. Não tire conclusões de uma história até chegar à última página. Não ouse duvidar da Palavra de Deus em nenhuma circunstância, porque há coisas que eu e você só entenderemos depois da última página, quando entrarmos na eternidade.