Por que o exame prévio para participar da ceia e ministério?
Você perguntou se os irmãos com os quais estou congregado fazem um exame prévio na pessoa que deseja participar da comunhão antes que possa estar à mesa do Senhor. Sim, e o mesmo vale para ministrar a Palavra nas reuniões. Embora a maioria dos cristãos já tenha ouvido falar da ceia do Senhor, poucos entendem o que seja a mesa do Senhor, que é o lugar onde se expressa comunhão, do mesmo modo como a mesa de nossa casa é onde temos comunhão com família e amigos mais chegados. Você dificilmente irá convidar alguém para comer com você em sua casa se não conhecer a pessoa até certo ponto. Se existe um cuidado assim com sua mesa, quanto maior deve ser o cuidado com a recepção à mesa do Senhor.
Se vivêssemos nos tempos dos apóstolos, quando havia uma mesma doutrina e todos até chegavam a viver tendo tudo em comum, não teríamos muito com que nos preocupar. Mas com a entrada do mal na “casa de Deus, que é a igreja do Deus” de 1 Timóteo 3:15, que deveria ter sido “a coluna e firmeza da verdade”, esta se transformou no final “numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra” (2Tm 2:20). À semelhança do que aconteceu com Israel, passamos daquela condição dos tempos de sua glória no reinado de Salomão para os tempos de ruína encontrados nos livros de Esdras e Neemias. A ordem dada para as tribos remanescentes naquela ruína em que se tornou Israel era de não abrir os portões da cidade de Jerusalém, a menos que o sol estivesse a pino, para não existir sombra de dúvida quanto a quem entrava, se era amigo ou inimigo.
“Sucedeu que, depois que o muro foi edificado, eu levantei as portas; e foram estabelecidos os porteiros, os cantores e os levitas. Eu nomeei a Hanani, meu irmão, e a Hananias, líder da fortaleza, em Jerusalém; porque ele era homem fiel e temente a Deus, mais do que muitos. E disse-lhes: Não se abram as portas de Jerusalém até que o sol aqueça, e enquanto os que assistirem ali permanecerem, fechem as portas, e vós trancai-as; e ponham-se guardas dos moradores de Jerusalém, cada um na sua guarda, e cada um diante da sua casa. E era a cidade larga de espaço, e grande, porém pouco povo havia dentro dela; e ainda as casas não estavam edificadas” (Ne 7:1-4).
Por isso a assembleia tem esse cuidado na recepção de irmãos à comunhão à mesa do Senhor. Você ficaria tranquilo participando da ceia do Senhor ao lado de um adúltero, pedófilo ou herege? Não que sejamos perfeitos, mas existem pecados graves e comprometedores para o testemunho do Senhor, e estes devem ser resolvidos antes de alguém tomar seu lugar à mesa do Senhor. A autoridade para receber é a mesma usada para excluir da comunhão (não do corpo de Cristo) pessoas em pecado, como vemos em 1 Coríntios 5. Paulo escreveu àquela assembleia:
“Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai. Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação... Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade. Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” (1 Co 5:1-13).
Seguindo estes preceitos é também colocado fora da comunhão à mesa do Senhor aquele que porventura tenha caído em um pecado grave que comprometa o testemunho. Tal pessoa, à semelhança da figura que encontramos no leproso do Antigo Testamento, é colocada fora da comunhão e convívio dos irmãos até demonstrar um arrependimento genuíno, para só então ser restaurada. Não se trata de excluir do corpo de Cristo ou da igreja, como alguns costumam dizer, porque nenhum membro do corpo de Cristo pode ser excluído de seu corpo. A exclusão é do lugar que representa comunhão, isto é, a mesa do Senhor. Neste caso faz todo sentido o que Paulo escreve: “com o tal nem ainda comais”.
Quanto aos que ministram nas reuniões, deve existir igual cuidado, pois nunca sabemos se aquele desconhecido que entra no local da reunião dizendo-se cristão está associado a alguma seita herética. Se deixado livre para falar, depois de derramar seu veneno contaminante o mal já terá sido feito. Entendo que podemos aplicar para o ministério da Palavra para as necessidades espirituais o mesmo princípio que os apóstolos utilizavam para o ministério do suprimento das necessidades materiais. Para a escolha de diáconos a ordem era: “E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis” (1Tm 3:10). Mas mesmo entre os conhecidos que ministram a Palavra nas reuniões da assembleia de irmãos congregados ao nome do Senhor é exercitado aquilo que o apóstolo escreveu: “falem dois ou três e os outros julguem” (1 Co 14).