O pregador profetizou que eu encontraria emprego?
Você disse que o pregador “profetizou” que viu um carimbo em seu nome e algum tempo depois você encontrou um emprego com carteira assinada. Considerando que com ou sem “profecia” você teria arranjado emprego de qualquer jeito (o que faz de uma profecia assim algo inútil ou mera adivinhação), num país com tantos desempregados alguém pode profetizar isso todos os dias para diferentes audiências e alguns acharem que a profecia se cumpriu. O difícil teria sido ele profetizar que você não encontraria emprego e isso se cumprir.
Isto ocorre em razão de um aspecto psicológico de nossa mente que faz com que ninguém se importe de se lembrar das tantas vezes que alguém fez uma previsão e não aconteceu. Todos os anos os jornais falam de algum “astrólogo” cujas previsões se cumpriram no ano que findou, mas nenhum jornal fala dos astrólogos que erraram porque faltaria papel para publicar tudo. No caso de sua “profecia de emprego”, algo que lhe foi falado sem data para se cumprir sempre vai ter a possibilidade de acontecer ainda que seja daqui a 50 anos. Para você entender como funciona esse tipo de “profetada”, vou contar duas historinhas para você entender o comportamento humano, uma de ilustração e outra real.
Um sujeito tinha um burro e este adoeceu e morreu. Todos na vila sabiam que ele tinha um burro, mas ninguém ficou sabendo da morte do animal. Aproveitando-se da ignorância do povo, ele lançou uma rifa para sortear o burro ao custo de cinquenta centavos cada bilhete. Muita gente comprou e a rifa rendeu quinhentos reais, mas obviamente apenas um ganhou. Quando ele entregou o burro morto o homem pediu seu dinheiro de volta e ele devolveu os cinquenta centavos ficando com quatrocentos e noventa e nove reais e cinquenta centavos, o que ainda foi um bom negócio. Nenhum dos que não foram sorteados se importou em reclamar os cinquenta centavos.
O outro caso me contaram como real, mas vou resumir porque o processo era mais longo e envolvia mais gente. Um golpista pegou uma lista de cem pessoas que costumavam apostar em corridas de cavalo e enviou cem cartas pelo correio dando uma dica para o próximo prêmio. Em dez cartas ele colocou que o ganhador seria o cavalo “A”, em dez o cavalo “B” e assim por diante. Como havia dez cavalos no páreo, ao menos um cavalo ganhou e quem recebeu justamente a carta com aquela dica, tendo ou não apostado, ficou sabendo que o remetente da dica sabia das coisas. Obviamente os dez deste caso não conheciam as outras 90 cartas com dicas erradas que outros receberam.
O passo seguinte do golpista foi enviar dez cartas, uma para cada pessoa do grupo do cavalo ganhador, e mais uma vez cada carta tinha um cavalo diferente como ganhador. No final um ganhou e este já estava convicto de que o remetente conhecia mesmo os resultados das corridas, pois no caso dele acertou “todas”. Lembre-se que também desta vez o que recebeu a carta com a dica certa não sabia das outras nove cartas com dicas erradas.
Então o golpista apareceu na casa desse “ganhador” e fez uma proposta para o grande páreo da semana seguinte: ele entraria com a dica e se responsabilizaria em fazer a aposta, e o outro com um volume grande de dinheiro para apostar. Não preciso explicar o que aconteceu com o dinheiro da vítima.
Esses que saem por aí disparando “profetadas” a torto e direito não têm escrúpulos, tanto em semear falsas esperanças nas pessoas, como às vezes levá-las a tomar decisões erradas que podem arruinar uma vida ou uma família. Conheci pessoas de uma seita em que a “pastora” profetizava que algumas pessoas ali deviam se separar de seu cônjuge para se casar com outro membro da igreja, e o surpreendente é que alguns seguiram aquela falsa profetiza e destruíram suas famílias.
Deus previu que essas coisas aconteceriam e deixou um alerta em Deuteronômio 18:20, 22: “O profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar... esse profeta morrerá. Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele”. Se ainda vivêssemos nos tempos da Lei dada a Israel iriam faltar pedras para apedrejar todos os falsos profetas e profetizas que se apresentam nos púlpitos de algumas igrejas pentecostais e neopentecostais. O objetivo deles é encher o ego de suas audiências e o próprio bolso com as ofertas.
Então como saber se as manifestações vistas em algumas igrejas vêm mesmo do Espírito Santo? Existem vários cuidados que podem ser tomados, e um deles está em 1 Coríntios 12:7-10 que começa dizendo que “a manifestação do Espírito é dada a cada um, PARA O QUE FOR ÚTIL”. Portanto a manifestação do Espírito tem um objetivo utilitário, ou seja, não é mera exibição de poder, adivinhação ou algo como um número de mágico de circo. Também não tem nada a ver com pessoas histéricas sapateando, dando piruetas, rodopiando e fazendo malabarismos. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, diante de algo assim, perguntaria: “Que utilidade tem isso?”.
Para quem vive atrás de profecias, premonições, revelações, etc., aqui vai uma dica sobre o funcionamento de nosso cérebro: Nós mesmos costumamos ter mil “premonições”, e então quando uma se realiza o nosso cérebro se esquece das 999 que não se realizaram e nem cogita ter sido apenas coincidência, ou um caso de “déjà vu”. A expressão significa uma forma de ilusão da memória que leva o indivíduo a crer já ter visto ou vivenciado alguma coisa ou situação de fato desconhecida ou nova para si. Às vezes chamado de paramnésia. A psiquiatria explica assim:
“O cérebro possui vários tipos de memória, como a memória imediata, responsável, por exemplo, pela capacidade de repetir imediatamente um número de telefone que é dito - e logo em seguida esquecê-lo; a memória de curto prazo, que dura algumas horas ou dias, mas que pode ser consolidada; e a memória de longo prazo, que dura meses ou até anos, exemplificada pelo aprendizado duma língua. O déjà vu ocorre quando há uma falha cerebral: os fatos que estão acontecendo são armazenados diretamente na memória de longo ou médio prazo, sem passar pela memória imediata, o que nos dá a sensação de o fato já haver ocorrido” (fonte Wikipedia).