Como me preparar para evangelizar?

Todo cristão deveria estar preparado e disposto a falar do evangelho, conforme nos ensina Pedro em sua carta: “Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). Nem todos têm o dom de evangelista, mas podem comunicar o evangelho de alguma maneira. Timóteo provavelmente não tinha o dom de evangelista quando Paulo o exortou: “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista” (2Tm 4:5).

Para todos os efeitos devemos ter em mente que o único capaz de convencer um pecador do pecado e da justiça, levando-o a crer no Salvador, é o Espírito Santo. Portanto nenhuma técnica de persuasão irá convencer verdadeiramente uma pessoa. Algumas denominações enviam seus pastores para treinamentos de persuasão porque o que buscam não é abrir os corações dos ouvintes para o evangelho da salvação, mas entrar em suas mentes e manipulá-los para abrir seus bolsos.

Se não podemos fazer nada para salvar um pecador com nossa pregação, podemos fazer muito para que a mensagem de salvação chegue até ele sem ruídos e interferências a fim de a Palavra de Deus ser transformada em vida e salvação em sua alma. Pregar o evangelho é uma interação na qual o papel do pregador é ajudar o ouvinte a fazer um diagnóstico de sua condição e apresentá-lo a Cristo como o Salvador. Um bom roteiro é a pregação de Pedro a Cornélio e seus companheiros no livro de Atos. Cornélio não era um pagão, mas um prosélito, isto é, um gentio convertido ao judaísmo. A Palavra de Deus já havia atingido sua alma e lhe incutido vida, porém ainda não era um homem salvo por não conhecer a obra de Cristo para salvá-lo. Então Pedro apresenta os pontos principais de sua mensagem que aparece em Atos 10:34-44:

Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável” (At 10:34-35).

Até aqui o que Cornélio já sabia, pois como dizia no início do capítulo, ele era um homem “piedoso e temente a Deus com toda a sua casa e que fazia muitas esmolas ao povo e, de contínuo, orava a Deus” (At 10:2). Então Pedro traz uma novidade para Cornélio: “Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos” (At 10:36).

Não existe um evangelho à parte do Nome de Jesus, porque nenhum outro nome foi dado entre os homens para que sejamos salvos. Por isso se a sua pregação falar de um milhão de verdades da Bíblia e deixar de fora o nome de Jesus, tudo o que ele é e fez, você só aborreceu seus ouvintes.

Agora Pedro dá mais detalhes sobre essa pessoa, Jesus, de quem Cornélio devia ter ouvido falar sem saber exatamente quem era ele ou o que fez: “Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judeia, tendo começado desde a Galileia, depois do batismo que João pregou, como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele; e nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro. **A este ressuscitou Deus no terceiro dia **e concedeu que fosse manifesto, não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos; e nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos. Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados. Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra” (At 10:37-44).

Repare em todos os elementos da pregação de Pedro, primeiro trazendo para o centro da mensagem o Nome de Jesus, então deixando claro ter ele sido o escolhido de Deus, por meio de quem o Espírito de Deus deu provas disso. Então ele fala da morte e ressurreição de Cristo, pois não é possível um evangelho que não tenha sangue, já que é o sangue que purifica o pecador de seus pecados. O papel de Jesus como o Juiz que virá é o tema seguinte para deixar claro que haverá um juízo e condenação para aqueles que rejeitarem a graça de Deus, mostrando também que esse Juiz não será alguém que desconheça o que é ser humano, mas o próprio Jesus em carne e ossos. Finalmente o anúncio e convite de que todo aquele que nele crê recebe a remissão ou retirada dos pecados.

A passagem da conversa de Jesus com a mulher samaritana em João 4:1 também apresenta um roteiro para o evangelista:

A primeira lição da passagem é que pregar o evangelho é uma ação urgente e você precisa passar por cima de seu desejo de autopreservação de imagem e pensar na perdição à beira da qual seu interlocutor pode estar porque a vida de qualquer um neste mundo está sempre por um fio. É verdade o ditado popular de que “para morrer basta estar vivo”. Por isso em João 4:4 diz, de Jesus, que “era-lhe necessário passar por Samaria”. Não era o caminho usual para um judeu da época, que geralmente preferia evitar a Samaria e contorná-la. Mas para Jesus era “Necessário passar por Samaria”, pois havia ali uma alma preciosa necessitada de salvação e, por assim dizer, “ao ponto” para ouvir as boas novas.

Jesus não se apresenta como um Super-Homem, à semelhança de alguns cristãos que querem passar uma imagem de perfeitos, poderosos e capazes de agarrar o diabo na unha em uma luta corpo a corpo. Você não é um lutador de UFC num ringue, você é um socorrista tentando salvar uma alma da condenação. Por isso na passagem vemos Jesus “cansado do caminho” (Jo 4:6) e demonstrando estar com sede. Ele desce ao nível da mulher samaritana e não se coloca acima dela com aquele olhar de desprezo típico do fariseu cheio de justiça própria no templo quando se comparava com o publicano pecador em Lc 18:9-14. Jesus até mesmo pede água a ela: “Dá-me de beber” (Jo 4:7).

Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida” (Jo 4:8) vemos que Jesus está só quando conversa com a mulher, e isso nos ajuda a entender a necessidade de se ter alguma privacidade, principalmente no caso de uma evangelização pessoal. É fácil percebermos o quanto o excesso de pessoas pode atrapalhar quando vemos a reação dos discípulos no versículo 27: “E nisto vieram os seus discípulos, e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que perguntas? Ou: Por que falas com ela?”. A razão é que “Os judeus não se comunicam com os samaritanos” (Jo 4:9), e por isso os discípulos de Jesus, que eram judeus, eram naturalmente preconceituosos e poderiam tratar a mulher com desprezo e discriminação, não apenas por não ser judia, mas também por sua condição moral.

Evangelizar sozinho traz algumas vantagens, como evitar que um companheiro seu desconstrua toda uma estratégia que você construir para levar o ouvinte ao ponto de uma conclusão e tomada de decisão. Nessa hora um parceiro de pouco entendimento pode puxar o assunto para algo que não tem nada a ver e acabar tirando o ouvinte da frente da cruz aonde você o tinha levado. Estar sozinho, ou no máximo em dois, pode evitar aquela impressão que o ouvinte tem de estar cercado por um bando de hienas, cada uma rindo de sua ignorância da Bíblia e querendo tirar um pedaço para depois apresentar de troféu, do tipo “Eu ganhei aquela alma para Cristo!”.

Até aqui Jesus havia chamado a ATENÇÃO da mulher de diferentes formas. Agora, diante da surpresa dela de um judeu estar conversando com uma samaritana, ele aproveita para apresentar uma oferta que irá despertar seu INTERESSE. “Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (Jo 4:10). Ela não apenas tem seu interesse despertado, como retruca com um impedimento prático de receber o que Jesus oferece. “Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado?” (Jo 4:11-12).

Lembre-se de que ao iniciar uma conversa evangelística você estará falando de coisas eternas e celestiais com um interlocutor incrédulo que estará pensando em termos temporais e terrenos. É preciso criar aquilo que em comunicação chamamos de “rapport”, ou seja, uma conexão para os dois entrarem no mesmo clima e propósito. Quem é do tempo da conexão de Internet discada ainda se lembra do barulhinho que o modem fazia antes de conectar. Naquele momento, o seu modem conversava com o modem do provedor para estabelecer os parâmetros da troca de dados. Isso é o rapport ou a sincronização de propósitos na comunicação.

Chega a hora de Jesus introduzir o PROBLEMA na conversa: “Qualquer que beber desta água tornará a ter sede” (Jo 4:13), o qual decorre da SITUAÇÃO da mulher que claramente tinha percebido a falta de água e a necessidade de buscá-la. Todo ser humano têm naturalmente uma sede existencial por perceber em si um vazio que nada pode preencher, pois é do tamanho de Deus. O ser humano não entende qual é a origem desse vazio e nem como fazer para preenchê-lo de forma definitiva, mas antes mesmo de explicar a razão do vazio, Jesus procura despertar o DESEJO pela solução:

Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la” (Jo 4:14-15).

Este é o momento de colocar o dedo na ferida, isto é, colocar o PROBLEMA sob o holofote para a pessoa não achar que está lidando apenas com alguma mensagem motivacional de uma vida melhor. O grande problema de todo ser humano tem sua raiz no PECADO que entrou na Criação com a queda de Adão e Eva e com isso arruinou a raça humana. “Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5:12). O PROBLEMA e suas CONSEQUÊNCIAS devem ser claramente apresentados, mas não só isso — é preciso levar o ouvinte a sentir isso na própria pele. Por isso Jesus diz: “Vai, chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade” (Jo 4:16-18).

Como costumamos dizer, “a batata quente” agora está na mão de seu interlocutor que agora precisa lidar com isso. Enquanto uma pessoa não se reconhece pecadora não há como reconhecer em Cristo o Salvador. Afinal, Jesus deixa bem claro em Marcos 2:17: “_Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento”._Alguns pregam uma hora falando da necessidade de seu interlocutor ser salvo e em nenhum momento explicam que ele precisa ser salvo. Então não se esqueça de deixar bem claro que seu ouvinte tem um problema que precisa ser resolvido, e foi para isso que Cristo veio.

Pregar o evangelho não é passar a mão na cabeça do ouvinte com frases do tipo “Você é especial... Você precisa evoluir... Você precisa desenvolver... Você é um diamante bruto que precisa ser lapidado... Deus vai lhe dar a vitória...”. Já pensou um médico diante de um paciente com câncer dizer que é só um arranhão? Não, o pecado — a condição natural do ser humano que o levará à morte e condenação eterna — precisa ficar muito patente, ainda que ao fazer isso você possa ser considerada a pessoa mais politicamente incorreta do mundo.

Quando colocado diante do seu pecado e da consequente condenação, que aquela mulher conhecia muito bem por serem os samaritanos conhecedores das Escrituras do Antigo Testamento, seu interlocutor vai querer fugir da raia. Talvez pergunte como vai sua família (que traduzido é “vai cuidar da sua vida e não se intrometa na minha”), ou pergunte onde foi que você estudou para conhecer tão bem a Bíblia (que traduzido é “quero alisar seu ego para você parar de prestar atenção no meu”), ou até diga que isso que você está falando seria bom a Fulana escutar (como se estivesse preocupado com mais alguém além de livrar a própria pele daquela conversa).

Tudo isso não passa de uma tentativa de fuga, e a mulher samaritana irá fazer isso usando, primeiro de um elogio à guisa de reconhecimento: “Senhor, vejo que és profeta”. Em seguida ela faz uma afirmação de caráter social, teológico e doutrinário para levar o assunto para longe de si mesma: “Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar” (Jo 4:19). Jesus poderia ter caído na conversa e corrido atrás da bomba de fumaça que ela lançou para desviar dela própria e de seu pecado que urgia uma solução, e de Jesus que devia ser sempre o centro de toda conversação. Ele faz questão de mostrar que tudo o que ela sabia até ali já não iria valer, além de frisar a urgência da situação em que uma mudança precisava ser adotada imediatamente. Além disso, depois de uma breve explanação sobre adoração ele a conduz de volta ao cerne da questão que é a própria pessoa de Cristo:

“‘Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.’ ‘Eu sei’, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas’. Disse-lhe Jesus: ‘Eu o sou, eu que falo contigo’(Jo 4:22-26).

É importante lembrar que este episódio ocorre antes da cruz, portanto o que interessa aqui é que ela reconheça ser ele o Messias ou Cristo que fora prometido pelos profetas. Naquele momento era ainda o Evangelho do Reino que estava sendo pregado, como o de João Batista que anunciava a chegada do Rei de Israel e convidava: “Arrependei-vos que o Reino é chegado!”. Após a morte e ressurreição de Jesus os discípulos passariam a pregar o Evangelho da Graça que é o que pregamos hoje: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (At 16:31).

Lembre-se de que seu ouvinte não é um cristão convertido, então muitos termos e expressões não farão qualquer sentido para ele. Ao invés de dizer “A Palavra nos diz...” prefira “Na Bíblia diz...”. Não precisa exigir que seu ouvinte procure passagens na Bíblia, porque isso poderá distraí-lo e perder o que você está querendo dizer. Prefira você mesmo citar versículos de memória ou lendo de sua Bíblia. Se a evangelização for pessoal, talvez uma ou outra vez você possa estender a Bíblia e apontar com o dedo pedindo: “Leia aqui”. A importância dos versículos é evidente: O que irá convencer o pecador é a Palavra de Deus, e não seus raciocínios e argumentos. O poder é dela, não do pregador.

O evangelho de Cristo... é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê... Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus... Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus... Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus” (Rm 1:16; 1 Co 1:18, 24; 2:5).

Todos gostamos de ouvir histórias e elas ajudam a fazer o ouvinte retomar o foco se o pensamento já estiver voando para longe de sua pregação. Por isso introduza alguma história interessante em sua pregação. Existem muitos livros com exemplos para pregadores, ou você pode pegar uma história de sua experiência ou até uma notícia de jornal e usá-la à guisa de parábola para o que deseja dizer. Foi o que Jesus fez quando ouviu alguns comentando do que seria o equivalente ao telejornal da época: “Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam. Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13:1-5).

Repare que, assim como fez para iniciar a conversa com a mulher samaritana à beira do poço, Jesus partiu de um assunto que estava fresco na memória dos judeus e era objeto do comentário de todos ali. Paulo fez algo assim quando iniciou sua pregação em Atenas. Ele toma como ponto de partida o pedestal vazio que os gregos dedicavam ao “Deus Desconhecido” e passa a falar desse “Deus” que eles desconheciam, mas Paulo conhecia bem.

Fuja da abstração o mais que puder. Se o uso de figuras do Antigo Testamento pode ser de muito proveito em ensino para crentes que já conhecem a realidade dessas figuras no Novo Testamento, para um incrédulo, que não conhece nem um nem outro, isso será um enigma indecifrável. Você só irá confundi-lo.

Nem pense em transformar as boas novas do Evangelho em uma lista de “faça isso, não faça aquilo”. Se você foi evangelizado com algo assim sinto dizer que não foi evangelizado, mas “judaizado”. É melhor fazer a lição de casa e crer na graça de Deus antes de sair por aí fazendo prosélitos para sua religião. Grande parte das religiões cristãs prega um misto de fé e obras da Lei, mas isso não é o Evangelho da Graça e basta ler a carta aos Gálatas para perceber. O Evangelho da Graça é Graça em contraste com a Lei. Não é por seguir uma lista de compromissos que um pecador recebe a salvação e ninguém em sã consciência iria acreditar em um evangelho, cujo significado é “boas novas” ou “boa notícia”, que exija atender a uma lista de deveres. Isso não seria uma boa notícia de jeito nenhum. Nem preciso dizer que pregar o evangelho não é convidar alguém para “ir à igreja” ou para congregar onde quer que seja. É o Espírito Santo quem congrega aqueles que Cristo acrescenta ao seu próprio corpo, não ao rol de membros de alguma denominação religiosa.

Resista ao máximo à tentação de ensinar doutrina e desvendar as profundezas da Palavra de Deus querendo impressionar seus irmãos em Cristo com o tanto que você já aprendeu. Lembre-se de que você está falando com incrédulos e estes estão tão mortos quanto a descrição dada por Paulo no início do capítulo 2 de Efésios: “...mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” (Ef 2:1-3). Tudo o que você deseja e deve fazer é conseguir que esses mortos ouçam a Palavra de Deus que é a única capaz de lhe dar vida e chamá-lo para fora de seu túmulo. Um morto não entende nada, está morto. A chave do sarcófago é a fé em Cristo como Salvador, e tudo o que você precisa explicar é como Jesus tomou o lugar de seus ouvintes morrendo numa cruz para pagar seus pecados.

Uma vez eu estava conversando com uma jovem e perguntei a ela se sabia qual era seu destino eterno, para onde ela iria após a morte. Ela disse que acreditava ir para o céu, e eu perguntei a razão de sua crença. Ela disse que era uma pessoa boa, que não fazia mal a ninguém, procurava seguir uma religião e coisa e tal. Então falei do evangelho da graça e de como ela, como pecadora perdida, nada poderia fazer para escapar da pena e do juízo aos quais estava destinada por causa do pecado. Mas mostrei como Deus a amava tanto que dera seu Filho para morrer numa cruz substituindo-a no juízo. Agora Deus oferecia o perdão de todos os seus pecados e a salvação graciosamente se ela tão somente cresse em Jesus como Salvador.

Quando terminei perguntei: “Entendeu como ser salva?”. Ela respondeu: “Ah, sim, agora entendi!”. Então perguntei para onde ela iria se morresse e respondeu que agora tinha certeza de que iria para o céu. Perguntei o que lhe dava tal certeza e ela disse que era uma pessoa boa, que tratava bem a todos, seguia uma religião.... Então falei tudo de novo de outra maneira, e depois mais uma outra vez de outra maneira com exemplos diferentes e não sei quantas vezes repeti a velha história de diferentes maneiras. Até hoje não sei se ela chegou a crer no Salvador.

O que eu quero dizer com isso é que enquanto uma pessoa não se converter a Cristo você pode repetir a mesma coisa centenas de vezes que para ela sempre será a primeira vez. Da vez anterior aquilo terá entrado por um ouvido e saído pelo outro sem atingir a consciência. A ideia de pregar o evangelho é usar a técnica da tautologia. A palavra “tautó” vem do grego e significa “o mesmo” e a palavra “logos” significa “assunto” ou “conhecimento”. Portanto tautologia é dizer sempre a mesma coisa de maneiras diferentes, usando diferentes exemplos. É isso que faz o pregador do evangelho. Sua mensagem nunca será inédita e você não deve cair na tentação de inventar algo novo.

Evite também tentar impressionar seus ouvintes que já são cristãos, exibindo o conhecimento que você adquiriu. Não são eles o seu alvo. Se os convertidos acharem que já ouviram o que você está dizendo, ótimo, porque assim não existe o perigo de errar. Talvez eles se impressionem com a forma e roupagem diferente como você apresentou, mas a história deve ser sempre a mesma. Então repita, repita, repita a velha história da cruz como diz o hino “A velha história”, de autoria de William Howard Doane (1832-1915) e Katherine Hankey (1834-1911), extraído do Hinário “Cantor Cristão”:

Contai-me a velha história, do Grande Salvador

De Cristo e Sua glória, de Cristo e seu amor

Com calma e com paciência; pois quero penetrar

À altura do mistério: que Deus nos pode amar.

Falai-me com doçura, do amante Redentor

Falai com sentimento pois sou um pecador!

Querendo consolar-me, em tempos de aflição

Sempre essa velha história; dizei do coração.

Se o brilho deste mundo, toldar do céu a luz,

Narrai a mesma história; da graça de Jesus

E quando enfim a glória do mundo além raiar,

Contai-me a velha história que veio aqui salvar.