Podemos usar novas mídias na evangelização?
Quando a fotografia foi inventada, muitos cristãos fizeram oposição àquilo porque entendiam que era pecado fazer imagens, conforme diz o mandamento da Lei. “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra” (Ex 20:4). Em 1992 visitei uma irmã em Cristo na Escócia em companhia de um irmão mais velho, e antes de chegarmos à casa dela ele me avisou para guardar a câmera. Ela congregava em um grupo de cristãos que não aprovavam fotografias. Isso foi nos anos 1990 e acredito que o grupo nem exista mais.
Obviamente muitos desses costumes mudaram mesmo entre irmãos que tinham dificuldades para aceitar as novas tecnologias que surgiram na idade moderna. Tome, por exemplo, a televisão. Em casa não tivemos TV até nossos filhos chegarem aos 17 ou 18 anos, que foi quando nos mudamos para um apartamento em um condomínio no qual o custo da TV a cabo estava incluído. Então emprestamos uma velha TV de meus pais com o argumento de que, sendo TV a cabo, poderíamos filtrar a programação e assistir apenas History Channel, Mundo Animal e coisas do gênero. Obviamente estávamos enganados. Mas mesmo que hoje existam irmãos que preferem não assistir TV em casa (e até aqui tem sido esta a opção que meus filhos fizeram em seus próprios lares), já não é possível deixar de levar a TV no bolso, no mesmo smartphone onde levamos nossa Bíblia, hinário e uma coleção de livros cristãos. Agora o “não ter TV” deixou de ser uma opção e o controle próprio passou a ser uma necessidade.
Quando comecei a produzir os vídeos de “O Evangelho em 3 Minutos”alguns irmãos não gostaram da novidade, pois achavam que seria errado usar vídeos para evangelizar. Eu já tinha enfrentado alguma oposição e críticas quando criei meu primeiro site “Histórias de Verdade”, numa época quando quase ninguém tinha Internet e muitos achavam que as coisas de Deus não poderiam se misturar com as coisas do mundo em uma mesma plataforma. Uma das razões apresentadas era a ideia do “carro de boi”, tirada do Antigo Testamento em 1 Samuel 6, quando o povo de Israel usou dos mesmos meios dos incrédulos filisteus para carregar a Arca da Aliança que teria de ser carregada só da maneira ditada por Deus, ou seja, por meio de varais nos ombros dos levitas.
Mas, se tomarmos a passagem como regra, teremos de limitar a evangelização às pregações orais e o ensino bíblico a cartas manuscritas, pois eram estas as mídias utilizadas nos tempos bíblicos. Não poderíamos usar microfones, e já ouvi falar de ao menos um cristão que abomina os microfones sem fio por achar que o príncipe das potestades do ar poderia distorcer o que é dito e transmitido através das ondas eletromagnéticas que viajam pelo ar. Também não poderíamos usar mensagens gravadas em áudio ou vídeo, além de calendários com fotos coloridas, telefone, rádio, Internet etc. E até mesmo teríamos de deixar de usar o papel, já que este surgiu muito tempo depois dos tempos bíblicos. Nossas Bíblias seriam em tabletes de argila, rolos de peles de animais ou papiros vindos do Egito.
Mesmo hoje acredito que muitos irmãos mais velhos não aprovem o uso de vídeos ou de textos na Internet para evangelizar ou publicar a sã doutrina. Já ouvi um argumento de que não devemos colocar as coisas de Deus lado a lado com as coisas imorais e pagãs que existem na Internet. Um irmão me disse conhecer alguém que usava desse argumento para não concordar com a venda de livros de sã doutrina em sites como o da Amazon.
Existe sempre o risco de aceitarmos algo apenas como tradição humana, mesmo que seja uma boa tradição, porque a linha que separa uma boa tradição da discriminação e preconceito é muito tênue. No século 19 e início do século 20 os filhos usavam as mesmas roupas dos pais, falavam da mesma maneira e tinham as mesmas tecnologias, pois as coisas não chegavam a mudar muito em um século. Hoje vivemos quatro ou cinco gerações de costumes, ideias e tecnologias em apenas uma vida. É difícil nos acostumarmos com coisas que não faziam parte de nosso hábito quando éramos mais jovens, mas que hoje fazem parte da vida diária de nossos filhos. Por esta razão muitos pais precisam hoje dos filhos para usar tecnologia, algo que no passado sempre foi o inverso.
“Ora, este é o número dos homens armados para a peleja, que vieram a Davi, em Hebrom, para lhe transferirem o reino de Saul, segundo a palavra do Senhor... dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos chefes e todos os seus irmãos sob suas ordens” (1 Cr 12:23; 32).