Qual a maneira correta de tratar Satanás?
É bom saber que você conhece o Senhor e também que as mensagens de “O Evangelho em 3 Minutos” têm sido de ajuda. Sim, você pode gravar, distribuir ou publicar em seu blog. Mas vamos ao que escreveu em seu e-mail:
Você escreveu algo que chamou minha atenção: "Tenho um ódio profundo a esse cão (satanás) e aos seus ajudantes (demônios) e quero assim desmascará-lo até que Deus me permita”.
Embora todo cristão sinta aversão por Satanás, será esta a maneira correta de falar dele? Vamos ver o que diz a Palavra de Deus:
(Jd 1:8) "Contudo, semelhantemente também estes falsos mestres, sonhando, contaminam a sua carne, rejeitam toda autoridade e blasfemam das dignidades".
A passagem fala dos falsos mestres (há muitos hoje na cristandade) que não apenas rejeitam toda autoridade, humana ou divina (isso inclui até mesmo a autoridade do Senhor e sua Palavra), mas também blasfemam das dignidades. E que dignidades seriam essas?
Obviamente pensaríamos logo nos anjos que permaneceram fiéis. Mas não é disso que o apóstolo está falando, pelo que podemos ver na continuação:
(Jd 1:9) "Mas quando o arcanjo Miguel, discutindo com o Diabo, disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: O Senhor te repreenda”.
Sem entrar na questão de quando pode ter ocorrido essa disputa entre Miguel e o Diabo pelo corpo de Moisés (que foi sepultado em lugar secreto), o ponto aqui é que Miguel não ousa maldizer Satanás. Apesar de Miguel ser o arcanjo que em Apocalipse 12 irá expulsar Satanás do céu e lançá-lo à terra (e o cristão tem autoridade do Senhor para também expulsar demônios e espíritos malignos em nome de Jesus), Miguel deixa todo juízo nas mãos do Senhor, por reconhecer que Satanás é uma dignidade ou autoridade sobre as hostes que se submeteram a ele quando da rebelião.
Veja que interessante esta passagem:
(Rm 13:1-2) "Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de deus; e as que existem foram ordenadas por deus. Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação”.
Quando nos indignamos contra um tirano qualquer, acreditando que Deus jamais teria algo a ver com sua posição de líder de um povo ou nação, precisamos pensar melhor. Nada do que acontece no Universo foge ao controle de Deus (ou ele não seria Deus, não é mesmo?). Ainda que o mal que existe no mundo seja consequência direta do pecado e da humanidade ter rejeitado a Deus, e também ao Filho de Deus, Deus pode permitir ou não que o mal se estabeleça, conforme seus propósitos que nem sempre entendemos.
O próprio apóstolo Paulo, mesmo sendo tratado indignamente, percebe que errou ao faltar com o respeito diante de uma autoridade.
(Atos 23:2-5) "Mas o sumo sacerdote, Ananias, mandou aos que estavam junto dele que o ferissem na boca. Então Paulo lhe disse: Deus te ferirá, parede branqueada; tu estás aqui assentado para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas ferir? E os que ali estavam disseram: Injurias o sumo sacerdote de Deus? E Paulo disse: Não sabia, irmãos, que era o sumo sacerdote; porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo".
Por mais que as autoridades sejam cruéis e corruptas, elas são autoridades instituídas por Deus, e isso inclui os anjos, caídos ou não. Por mais injusto que seja o governante de um país, se visito aquele país devo me sujeitar a ele. O cristão pode até combater a maldade imposta por uma autoridade, mas não deve combater a autoridade. Basta vermos o exemplo do Senhor e dos primeiros cristãos, que em momento algum tentaram derrubar o corrupto governo da época, fosse ele o governo judeu ou romano, mas brilharam como luz em meio às trevas.
Obviamente um cristão sob uma autoridade cruel não deverá praticar crueldades, como fizeram muitos alemães sob o comando de Hitler. Paulo não perseguia mais os cristãos, como as autoridades de seu tempo mandavam fazer, mas ainda assim estava sujeito a elas — tanto as autoridades religiosas como as seculares — por ser judeu e romano. A ideia de que Jesus ou seus discípulos eram revolucionários tentando mudar a sociedade por caminhos políticos não tem qualquer sustentação bíblica.
Dou outro exemplo: não existe no Novo Testamento a figura do padre católico ou do pastor protestante, isto é, um homem que dirige uma congregação. Isso existiu no judaísmo na figura do Sumo Sacerdote, mas no cristianismo todo cristão é um sacerdote com igual acesso à presença de Deus. O cuidado da assembleia ou igreja está sempre sob a responsabilidade plural de mais de um irmão, chamados na Palavra de Deus de bispos, presbíteros ou anciãos e reconhecidos pelo mesmo critério com que eram reconhecidas as igrejas, ou seja, pela cidade onde estavam (e não por diferentes denominações criadas para identificá-las).
Porém, mesmo entendendo que o “pastor” singular não é autoridade sobre mim por seu posto singular não existir nas Escrituras (não confundir com o dom de pastor que não tem a ver com governo da assembleia), se eu fosse à reunião de alguma denominação seria obrigado a respeitar aquele homem à frente, porque ali ele é uma autoridade reconhecida pelos membros daquela organização. Eu não poderia querer contestá-lo ou falar mal dele naquele ambiente. O correto seria eu não estar ali, ou sequer ir até lá para atacar uma autoridade diante daqueles que a reconhecem como tal (por esta razão não aceito convites para falar em denominações).
Voltando ao texto do apóstolo Judas, fica muito claro que a descrição que ele dá ali desses homens réprobos quanto à fé cabe como uma luva nesses pregadores que vemos por aí desafiando Satanás ou até lançando maldições contra ele.
(Jd 1:10-11) "Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem. Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré”.