De que mal devemos nos apartar?

Basicamente somos exortados a nos apartarmos do mal moral, doutrinário e eclesiástico. Em toda a Palavra de Deus somos exortados, não a nos acomodarmos ou nos conformarmos (tomarmos a forma) com o erro, mas a nos separarmos dele. Nem sempre a coisa é preto no branco, ou seja, você não vai encontrar uma passagem que diga “Apartai-vos do erro moral, doutrinário e eclesiástico”, mas temos o Espírito e a Palavra para discernirmos o que é errado aos olhos de Deus.

Na maioria dos casos esses erros se misturam de tal modo que fica difícil compartimentá-los como “moral”, “doutrinário” e “eclesiástico”. Para nós, o fato de ser erro devia bastar. Por exemplo, a epístola de Judas denuncia três tipos de erros, dos quais nem precisa dizer que precisamos manter distância:

(Jd 1:11) "Ai deles! porque entraram pelo caminho de Caim, e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão, e pereceram na contradição de Coré".

Caminho de Caim: Justiça própria. Pode ser considerado um erro moral, pois visa satisfação da natureza carnal. Caim se deixou levar pelo pensamento carnal ao achar que tinha algo em si mesmo ou em seus esforços que fosse aprazível a Deus.

Engano do prêmio de Balaão: Ganância. Este é um erro eclesiástico. Balaão quis fazer das coisas de Deus um meio de lucro, o que não é muito diferente de muitas religiões atuais.

Contradição de Coré: Insubordinação à autoridade de Deus e àqueles que Deus havia levantado (Aarão e seus filhos). Você pode encontrar um pouco de tudo isso nas religiões criadas pelos homens.

Sobre esta passagem C. H. Mackintosh escreve:

"Judas resume os três tipos de caráter do mal (conforme é evidenciado nestes homens), e da independência de Deus. Primeiro, o mal natural, a oposição da carne ao testemunho de Deus e ao seu povo genuíno, e o ímpeto que essa inimizade dá ao desejo da carne. Em segundo lugar, o mal eclesiástico, ao ensinar o erro em troca de recompensa, sabendo o tempo todo que isso é contrário à verdade e prejudicial ao povo de Deus. Terceiro, a deliberada oposição e rebelião à autoridade de Deus que é encontrada em seu verdadeiro Rei e Sacerdote. Conforme somos lembrados aqui, estas três formas de mal foram representadas por Caim, Balaão e Coré, e agora aprendemos que, por meio da energia do inimigo, elas são reproduzidas em cada época da Igreja, por não passarem de expressões típicas do corrupto coração humano em oposição à obra do Espírito de Deus. Tendo sido assim alertados e instruídos, não é difícil detectarmos todas essas formas de corrupção na Igreja de Deus nos dias atuais”.

Uma forma de identificarmos os erros principalmente eclesiásticos é lendo as cartas às 7 igrejas que encontramos em Apocalipse. Com exceção de Esmirna e Filadélfia, todas as outras são denunciadas como tendo erros. Quando olhamos os erros delas podemos identificar o que são erros eclesiásticos:

​1. Éfeso mergulhou em um estado de apatia por ter deixado seu primeiro amor (Jesus).

​2. Esmirna não recebeu reprovação, mas consolo por ser perseguida pelo que era.

​3. Pérgamo fez uma aliança com o mundo e suas instituições, colocando-se à sombra do poder secular. Passou a habitar no mundo, onde está o trono de seu príncipe, Satanás. Também tem em seu meio pessoas com o espírito de Balaão, que visavam lucrar com as coisas de Deus fazendo tropeçar o povo de Deus. Também tem um embrião de clericalismo (doutrina dos nicolaítas).

​4. Tiatira tem muito amor, serviço, fé, paciência e muitas obras, porém permite o ensino errado (uma mulher ensinando), além de estimular a idolatria. Também se prostitui, ou seja, se corrompe e contamina em troca de favores.

​5. Sardes tem nome de que vive, mas está morta. Parece ter feito coisas boas, mas também se deteriorou por ter se afastado do que tinha recebido e ouvido. Não anseia pela volta do Senhor, tanto é que será surpreendida por ele como se fosse um ladrão inesperado.

​6. Filadélfia também não recebe reprovação, mas consolo e a certeza de que tem diante de si uma porta aberta, apesar da pouca força, do apego à Palavra e ao nome de Jesus (o inverso dessas três características — muita força e sem compromisso com a Palavra e com o nome de Jesus — pode denotar também erro eclesiástico).

​7. Laodiceia é tudo de ruim: mornidão, justiça própria, interesse em lucro, contaminação (por isso é exortada a comprar vestes brancas). O Senhor está do lado de fora buscando a comunhão individual, já que coletivamente Laodiceia é um desastre.

O que fazer quando nos deparamos com o mal onde estamos congregados? Quando Moisés viu a corrupção no arraial de Israel, armou a tenda fora:

(Ex 33:7) "E tomou Moisés a tenda, e a estendeu para si fora do arraial, desviada longe do arraial, e chamou-lhe a tenda da congregação. E aconteceu que todo aquele que buscava o Senhor saía à tenda da congregação, que estava fora do arraial".

Paulo manda Timóteo se apartar dos que têm má doutrina:

(2Tm 2:19) "Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”.

Judas nos alerta para os que causam divisões:

(Jd 1:19) "Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito”.

Há ainda o mal moral e sua necessidade de julgamento pela assembleia, como encontramos em 1 Coríntios 5.

Em um artigo de F. G. Patterson, "The Walk of Saints according to the Spirit” há um trecho que diz: "Aqui estão a razão e a garantia bíblicas para abandonarmos os sistemas religiosos criados pelos homens. Fazemos assim, não simplesmente por existir uma grande parcela de mal nesses sistemas, mas porque Cristo está fora desses sistemas, e desejamos ir a ele e dar a ele o seu lugar de direito. Nós saímos ...a ele".

(Hb 13:13) "Saiamos pois a ele fora do arraial, levando o seu opróbrio”.