O que a Bíblia ensina sobre o Sheol ou Hades?

Para responder suas dúvidas, vou “pedir ajuda aos universitários”, traduzi um texto de irmãos que sabiam muito mais que eu, e foi publicado em 1912 no volume 9 do "The Bible Treasury”. Esta publicação costumava ter como seu editor William Kelly, porém nesta época ele já devia ter partido para o Senhor, portanto a resposta deve ter vindo de outro editor.

No Antigo Testamento a palavra Sheol ocorre sessenta e cinco vezes e é traduzida na versão inglesa da Bíblia trinta e uma vezes como “sepultura”, três vezes como “abismo” e trinta e uma vezes como “inferno”, o que significa que os excelentes tradutores da versão inglesa de 1611 não consideraram a palavra como tendo um significado uniforme. Ela aparece na versão grega sessenta e uma vezes como Hades, duas vezes (2 Sm 22:6 e Provérbios 23:14) como “morte” (thanatos), enquanto em duas passagens (Jó 24:19 e Ez 32:21) não exista uma contrapartida exata das referências hebraicas que esteja reproduzida na Septuaginta, e por isso não há uma representação dessa palavra nestes casos.

Já nas passagens que se seguem (existem outras), como Gênesis 37:35; Gênesis 42:38; Gênesis 44:29, 31: Números 16:30, 33; 1 Reis 2:6, 9; Salmos 49:15; Salmos 141:7, a palavra Sheol pode muito bem não significar nada além de “túmulo” ou “sepultura”, e é assim que aparece na Versão Autorizada (King James) (exceto em Números 16, onde aparece como “abismo”); enquanto nos demais lugares costuma ser feita uma referência genérica como o lugar para onde vão os espíritos que partiram. A sepultura recebe o corpo. Assim, no Antigo Testamento a palavra Sheol (ou Seol) é usada para ambos os receptáculos.

Todavia, quando vamos para o Novo Testamento essa indefinição desaparece, pois vida e incorrupção são coisas que agora são desvendadas ao longo do evangelho. O Hades, uma representação genérica da palavra Sheol (Seol) aparece no Novo Testamento restrito ao mundo invisível dos espíritos separados, ou como “morte”, ou como a sepultura, e aplica-se (Ap 20) apenas ao corpo, e não à alma ou ao espírito. É o corpo que morre; enquanto o espírito retorna para Deus que o deu. O espírito e a alma nunca deixam de existir, seja para o bem, seja para o mal. Além disso, o Hades recebe apenas os ímpios; enquanto o crente, quando chamado a morrer, não vai para o Hades, mas para o Paraíso.

Mesmo assim costuma-se pensar que tanto bons quanto maus poderiam ir para o Hades, apesar dessas duas classes de pessoas serem separadas por um grande abismo; mas em nenhum lugar as Escrituras falam dos bons no Hades, ao contrário, sempre aparecem bem longe dos que estão ali. É claro que, se considerarmos o Salmo 16:10 (que é duas vezes citado em Atos 2) como ensinando que nosso Senhor ao morrer foi para o Sheol (Seol), ou Hades, havendo sua alma não permanecido ali — como sabemos ele foi para o Paraíso (um jardim de delícias, não de trevas), onde também o ladrão que morreu foi recebido — então devem ter existido neste caso duas áreas, respectivamente para os maus e os bons. Mas este erro vem de uma tradução equivocada do Salmo na versão de 1611 (King James). O que o versículo realmente diz é, “Não deixarás” (abandonarás ou relegarás) minha alma para (e não “no”) Sheol (ver Revised Version), e esta forma é confirmada também pelo texto corrigido de Atos 2:27 (aceito pelos editores críticos Lachmann, Tischendorf, Tregelles, Westcott e Hort, e pelos revisores — isto se refere à mais recente edição na época do valioso trabalho de W. Kelly, “The Preaching to the Spirits in Prison”, 1910, págs. 125, 133-139).

O Hades volta a ser mencionado no Novo Testamento em um bom sentido. Se existisse no Hades uma parte boa e outra ruim, por que deveríamos ler do destino dos ímpios ser invariavelmente ali sem que houvesse qualquer indício de ser também o destino dos bons?

Perguntas e Respostas:

Entendemos “seio da terra” ou “partes mais baixas da terra” como a sepultura. O Senhor não apenas morreu, mas foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia. Jonas era um sinal disso. O Salmo 139:15 pode nos ajudar a nos guardarmos de uma interpretação muito literal das palavras “partes mais baixas da terra” que poderiam parecer indicar como algo fora de vista ou um lugar escondido. O sepulcro existiu com certeza e foi fechado pela pedra (Mt 27:66). Assim nenhum olho humano poderia perscrutar esses santos domínios onde o corpo de Jesus ficou.

Antes da vinda do Salvador o seio de Abraão representava o ápice da bênção para o judeu piedoso, considerando que Abraão foi chamado de amigo de Deus! Estar “com Cristo” é a perspectiva de bênção que o cristão tem agora revelada para si. Isso ocorre no Paraíso de Deus, nas alturas. O Paraíso não é o Hades, e tampouco Abraão esteve no Hades, mas é visto “ao longe” das almas atormentadas que estão no Hades (Lc 16:23). É loucura alguém pensar que o Senhor desceu ao Hades e libertou qualquer um que estivesse ali. O Senhor não foi ao Hades, mas ao Paraíso. Tampouco as Escrituras dão qualquer ideia de que exista uma libertação do Hades. Juízes 5:12; Salmos 68:18, Efésios 4:8 falam, não de ter libertado prisioneiros, mas de ter levado cativo o cativeiro e os poderes opressores do mal, aqui chamados de “cativeiro”. Cristo derrotou as potestades e principados (maus) e os exibiu publicamente ao triunfar sobre eles (Cl 2:15). Ele levou cativo o próprio cativeiro; não existe qualquer menção de ter livrado cativos do inferno, como alguns querem entender.

Descer ao Sheol (Seol) é descer à sepultura ou ao abismo que está visualmente sob nós.

O abismo de Apocalipse 20 não é onde o homem está, mas onde Satanás será lançado por mil anos, antes de ser lançado no lago de fogo por toda a eternidade; enquanto Hades é o lugar que recebe os espíritos daqueles que morreram — os ímpios mortos, cujos espíritos habitaram antes um corpo mortal. A alma e o espírito vão para o Hades, enquanto o corpo que é feito de pó vai para a “sepultura” (seja ela o mar ou a terra), enquanto aguarda sua ressurreição para o juízo. Quando o homem for levantado da sepultura, considerando que a terra e os céus terão passado, ele será lançado, não no Hades (que já não terá um lugar para existir), mas no lago de fogo que foi preparado, não para o homem, mas para o diabo e seus anjos. O crente, se tiver sido colocado para dormir [não um sono literal, mas uma forma de mostrar a morte do ímpio e do justo como antagônicas — N. do T.], ressuscitará, não para o juízo, mas para a glória (Fp 3:20-21).

Sheol (Seol) ou Hades não pode ser aplicado ao céu, mas está em contraste com o céu por ser o oposto.