O “anjo” em Apocalipse 1 e 2 é o pastor?

Apocalipse 1; Ap 2

Esta é uma dúvida de muitas pessoas que pertencem ao sistema denominacional, pois há muitos líderes eclesiásticos como “pastores”, “profetas”, “reverendos”, “apóstolos”, ou seja lá qual título adotam, que arvoram para si o título de “anjo da igreja”.

Mas a expressão "ao anjo da igreja que está em...”, repetida no início de cada mensagem às igrejas em Apocalipse 2 e 3, não está se referindo a essas figuras que compõem o clero das religiões modernas.

Aliás, a própria ideia de um clero é combatida nas mensagens às igrejas de Éfeso e Pérgamo. A palavra ‘Nicolaítas’ vem de "Nico", que significa "conquistar" em grego, e "laíta", que significa "pessoas" (ou "povo"). A palavra pode significar “conquistador de pessoas” ou “conquistador das pessoas”.

Para responder sua dúvida vou traduzir um trecho de "Notes on the Revelation”, escrito por Hugh Henry Snell (1815-1891), um médico britânico que deixou sua profissão para dedicar-se ao evangelho em tempo integral. Os trechos entre colchetes foram acrescentados por mim para esclarecimento.

"Quando se pergunta ‘Qual o significado do ‘anjo’ da igreja, ao qual cada carta é endereçada’, nossa resposta é: Não existe qualquer fundamento nas escrituras para identificar esse anjo com ‘o pastor’. Apesar de pastores serem dons benditos concedidos por Jesus ressuscitado, a ideia do ‘pastor’ [no sentido denominacional] não é encontrada no Novo Testamento, mesmo porque deviam existir muitos ‘pastores’ em cada assembleia. Em Éfeso havia muitos supervisores [pessoas que tinham o cuidado da assembleia], como também ‘bispos’ e ‘diáconos’ na igreja em Filipo. É mais fácil dizer o que não é o ‘anjo’ do que definir o que é. Portanto é humildemente que falamos de um assunto envolto em tanta controvérsia.

Mas ao encontrarmos a expressão, ‘O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra... São os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas’ (Ap 1:20), e notarmos que eles são segurados pela ‘destra’ do Jesus ressuscitado que subiu ao céu, somos inclinados a acreditar que o anjo é uma figura das pessoas portadoras dos dons mencionados em Efésios 4, aqueles que têm a obra do Senhor no coração, através dos quais o Senhor poderia comunicar seus pensamentos, e os quais ele tem, em certo sentido, como responsáveis, tanto pela fidelidade quanto pelo fracasso da assembleia”.

Outro autor, F. W. Grant, comentando o mesmo livro de Apocalipse, acrescenta: "A responsabilidade de cada coisa errada é atribuída ao anjo; é ele que tem aqueles que professam a doutrina dos Nicolaítas; é ele que permite a mulher Jezabel; é ele que é ameaçado com a remoção de seu castiçal. Fica bem claro que ele de algum modo representa a igreja, e deve-se notar que a palavra ‘anjo’ possui esta força de ser um representante”.

Volto a lembrar de que esse papel de “representante”, apesar do singular “anjo”, sempre é visto na doutrina dos apóstolos como uma função coletiva. Não havia “o pastor” nas congregações que encontramos em Atos e nas Epístolas, mas “pastores”, que eram dons como também eram “evangelistas” e “mestres” ou “doutores”. Não havia qualquer ideia de um “reverendo” ou, resumindo, de um homem à frente de uma congregação. A representação sempre era plural, mais por um papel de responsabilidade assumida do que de cargo delegado.