Como devemos nos congregar?
Fico contente por saber que vocês pediram seu lugar à comunhão à mesa do Senhor e agora aguardam serem recebidos. Também é bom saber que vocês estão promovendo reuniões regulares em casa aí em sua cidade até começarem a congregar como assembleia de irmãos reunidos ao nome do Senhor.
Devo ter explicado que essas reuniões têm um caráter informal, apesar de vocês já serem "dois ou três” (Mt 18:20), pois ainda não existe a prática governamental dada pelo Senhor aos dois ou três congregados em seu nome. Falo da responsabilidade de ligar e desligar, isto é, tomar decisões em nome do Senhor e também do caráter solene que tem uma reunião de assembleia.
Se decidissem fazer isso agora, isto é, congregar-se como assembleia sem aguardar a destra à comunhão dos irmãos da assembleia mais próxima (que estão assim exercitando o “ligar e desligar”), vocês estariam agindo em independência, um princípio contrário ao reconhecimento de que há um só corpo no qual os membros não podem ser independentes uns dos outros e da cabeça no céu.
Estas são questões pouco compreendidas entre os cristãos. Muitos acreditam que o simples fato de dois ou três cristãos estarem conversando das coisas de Deus é suficiente para se considerarem na condição de Mateus 18:20 e poderem contar com a promessa do Senhor, que disse, "aí estou eu no meio deles”. Não é bem assim.
Dois ou três cristãos que se encontram num ônibus, restaurante, parque, escola, em casa ou mesmo em uma sala ou salão reservado às reuniões cristãs não estão por isso reunidos em nome de Jesus. Eles podem ter uma ótima comunhão juntos, conversar das coisas de Deus, ensinar uns aos outros e até cantar hinos de louvor, mas o caráter é de uma reunião informal.
Para entender isso, pense em uma grande empresa cujos funcionários se encontram regularmente para conversar nos corredores, no refeitório ou no local de trabalho. Qualquer um pode participar dessas reuniões informais e eles até podem discutir e decidir coisas para a empresa, mas essas reuniões não são a “reunião de assembleia” que a empresa promove regularmente entre diretores e acionistas.
A “reunião de assembleia” de uma empresa tem um caráter solene e bastante distinto dos encontros no corredor. Há um presidente para presidir a reunião, assim como temos o Espírito presidindo uma “reunião da assembleia” nos moldes de Mateus 18:20. Ninguém pode simplesmente trazer seus palpites; é preciso que o presidente da empresa conceda a palavra a quem ele achar que deve falar. Existe um secretário que anota tudo, existe uma ata para oficializar o que é dito ali, costuma-se publicar os resultados da reunião, etc. Existe um caráter solene que não existe nos encontros informais, onde qualquer um pode falar, fazer gracejos ou até comer um lanche enquanto conversam.
Portanto, pensem nisso quando vocês começarem a congregar como uma assembleia de irmãos em nome do Senhor. As reuniões da assembleia (ou igreja) em uma localidade seguem a mesma ordem ou atividades das reuniões dos primeiros cristãos em Atos"perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Entendo, portanto, que há três tipos básicos de reuniões que podem ou não acontecerem num mesmo dia: doutrina e comunhão dos apóstolos (ministério da Palavra), partir do pão (ceia do Senhor, aos domingos) e orações.
Veja que interessante: não encontramos o mesmo caráter de uma reunião da assembleia em uma reunião para se pregar o evangelho, porque as reuniões de assembleia são um momento exclusivo entre os santos e o Senhor (embora visitantes possam assistir, evidentemente). Doutrina, ministrada por aqueles que têm dons e ministério, é algo para os já convertidos; a ceia do Senhor, que não é uma reunião de ministério ou oração, mas de louvor e adoração, também tem o caráter de uma reunião da assembleia, e neste caso particularmente para os que foram recebidos à comunhão à mesa do Senhor.
O mesmo acontece com a oração, que não tem o mesmo caráter das orações em casa com a família, mas têm um sentido mais amplo e condizente com as necessidades que afetam os santos. Os irmãos trazem e explicam os motivos de oração antes de todos orarem por esses motivos. Em todos esses casos o sentido do que é feito é na vertical, seja de Deus para os homens (ministério da Palavra) ou dos homens para Deus (oração, louvor, adoração).
Já uma pregação do evangelho tem um sentido horizontal, de homens para homens, no caso, do pregador para os incrédulos. Neste caso podemos dizer que é uma reunião de quem prega o evangelho, não da assembleia. Quem prega tem a responsabilidade pelo que acontece no local o evangelho está sendo pregado (que pode coincidir com a sala onde são feitas as reuniões formais de assembleia). Outras reuniões, como a escola dominical para crianças e jovens, são reuniões no mesmo caráter da pregação do evangelho, só mudando o público.
É sempre bom lembrar que já não estamos nos dias de Atos, portanto não espere grandes coisas, como o chão tremer quando se reunirem para orar. E nem acredite ser hoje possível dividir suas posses com os irmãos como faziam os primeiros cristãos, pois hoje você precisaria dividi-las com todos os irmãos da igreja que está em sua cidade, e a igreja que está em sua cidade é, biblicamente falando, composta por todos os crentes que vivem aí.
Quando você lê os livros de Esdras e Neemias percebe que as coisas são muito pequenas em relação ao que tinham sido no passado. Até mesmo o templo reconstruído era uma triste maquete, se comparado ao original. Por isso, enquanto os jovens se alegravam, os velhos choravam (tinham conhecido o anterior). Não espere grandes coisas neste tempo igualmente de ruína.
Às vezes você percebe longos períodos de silêncio dos irmãos durante uma reunião, mas creio que existe no silêncio uma expressão de dependência, de esperar que o Senhor indique quem deve falar e o que falar, ou quem deve orar ou sugerir um hino. Mas não espere alguém afirmar que escutou Deus trovejando do céu ou o Espírito Santo sussurrando em seu ouvido para escolher o hino tal ou ler a passagem tal. Quando falamos de direção do Espírito na reunião da assembleia não estamos falando de alguma espécie de experiência mística.
Quando buscamos na Palavra encontramos que os discípulos do Senhor também cantavam hinos (os próprios Salmos eram hinos) e na época deviam ler do Antigo Testamento ou falar passagens de memória, além de lerem as cartas dos apóstolos (como vemos o próprio Paulo estimular tal prática em Colossenses 4:16). Havia também profetas no início, pois não tinham ainda o Novo Testamento, e estes falavam da parte de Deus. Hoje não temos esse mesmo tipo de revelação espontânea, por isso dependemos da Palavra escrita de Deus, e mesmo quando a lemos ou comentamos é bom que isso seja feito em reverência. Se minha forma de expressar reverência for esperar alguns minutos antes de abrir a boca, não creio que seja algo ruim.
O fato de se usar um hinário específico é uma decisão da assembleia local. Nos países de língua inglesa os irmãos com os quais estamos em comunhão usam um hinário chamado Little Flock; nos de língua espanhola “Mensajes del amor de Dios” e em outros países outros hinários ou compilações próprias de hinos selecionados como apropriados. Não existe uma “sede central”, “ministério” ou “casa publicadora oficial” que publique o hinário que todos devem usar. Se os irmãos de uma assembleia em uma localidade decidirem cantar outros hinos, é uma decisão deles, embora isso possa dificultar para visitantes de outras assembleias.
No Brasil, depois de procurar por um hinário apropriado, os irmãos decidiram criar um com uma seleção de hinos traduzidos do inglês e do espanhol, além de outros que já existiam em antigos hinários em português. A razão disso é que muitos hinários em português usados nas denominações têm erros doutrinários nas letras dos hinos. Além disso, boa parte deles mistura indistintamente hinos evangelísticos com hinos de adoração, e alguns ainda trazem o Hino Nacional, Hino à Bandeira, e coisas do tipo. Como não há um “pastor” à frente das reuniões e os irmãos é que sugerem os hinos, sempre poderia acontecer de um irmão menos informado sugerir para a assembleia cantar um hino de evangelismo (tipo “pecador vem a Cristo Jesus”) quando estivessem reunidos para adorar o Senhor na ceia, ou quem sabe até, numa situação extrema, alguém sugerir que cantassem o Hino Nacional!
No que diz respeito ao ministério da Palavra, mais uma vez lembre-se de que estamos em tempos de ruína. Há muitos dons em cada cidade onde há cristãos, mas o problema é que estão espalhados nas diferentes denominações. Por isso em qualquer assembleia reunida somente ao nome do Senhor você encontrará essa carência, porque Deus não distribui os dons de acordo com cada grupo de cristãos, mas a todos sem distinção. Às vezes somos obrigados a fazer o trabalho de um dom que nem é o nosso, em razão dessa deficiência, como parece ser o caso quando Paulo diz a Timóteo para fazer o trabalho de um evangelista. Mesmo assim é prudente ter a direção do Espírito em tudo.
Na última carta de Paulo, que é a que escreve a Timóteo e é também aquela em que diz que todos o abandonaram (e onde fala também da grande casa onde há vasos de honra e desonra), ele diz a Timóteo: (2Tm 4:5) "Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”. Provavelmente Timóteo não tivesse o dom de evangelista, daí Paulo precisar admoestá-lo a fazer a obra de um evangelista.
Veja que o reconhecimento dessa fraqueza na cristandade como um todo é também característico daqueles congregados ao nome do Senhor. O contrário seria acreditar que estamos falando de um grupo que é suficiente em si mesmo, com todos os dons necessários, etc. Acaso não é esse o espírito das denominações com seus próprios pastores, evangelistas e mestres? Todavia o Senhor distribuiu esses dons à igreja como um todo, e não a uma organização ou reunião local.
Por mais que nos alegremos de poder estar congregados somente ao nome do Senhor, dando testemunho do “um só corpo” na prática, mesmo assim devemos nos humilhar sabendo que estamos na mesma condição de Laodiceia (Ap 3): nós nos achamos ricos e abastados e sem necessidade de coisa alguma.
Vou tratar em detalhes do assunto “evangelismo” em sua relação com a assembleia. Como já disse em outra mensagem, e não custa lembrar, o evangelismo é um dom e atividade individual. Você não encontra o evangelismo entre os tipos de reuniões que mencionei: comunhão e doutrina dos apóstolos, ceia do Senhor e orações. Do mesmo modo como a Igreja não ensina doutrina (são os dons individualmente que o fazem quando a assembleia está reunida), a Igreja não prega o evangelho.
Esse é um erro comum na cristandade que os protestantes adotaram dos católicos, que até hoje falam coisas do tipo “a Santa Igreja ensina tal e tal”. A Igreja dá testemunho a homens e anjos por ser o corpo de Cristo, mas ensinar e evangelizar são atividades dos diferentes dons. A falta de entendimento de que o evangelismo não é uma reunião da igreja, mas sim uma exposição para incrédulos, e a falta de liberdade para o Espírito Santo escolher quem lhe apraz para ministrar doutrina para os crentes em uma reunião, faz com que em muitas denominações os irmãos só escutem o evangelho dia após dia.
Não que isto seja ruim, pois afinal o evangelho “é o poder de Deus para todo aquele que crê”. O problema é que, se o dom do pastor for o de evangelista, essa congregação não receberá alimento mais sólido e não crescerá no conhecimento das glórias de Cristo, que é o verdadeiro tema da ministração para crentes. Quando, há mais de 30 anos, eu me congregava numa congregação batista na qual não havia um “pastor” oficial, eu e outro irmão nos revezávamos para pregar, e obviamente o tema era sempre o evangelho e todas as reuniões terminavam com um convite para as pessoas se converterem, levantarem a mão, virem à frente, etc. Uma noite não apareceu nenhum incrédulo convidado e ficamos completamente perdidos, sem saber o que fazer.
Por isso, lembre-se sempre de que quando a igreja ou assembleia está reunida, ela está reunida para o Senhor, não para os incrédulos, que é o motivo principal de uma pregação do evangelho. Numa assembleia numa localidade podem existir iniciativas dos que evangelizam e estas serem endossadas por todos os irmãos de uma assembleia, como é o caso da pregação do evangelho que temos aos domingos à noite no salão de reuniões aqui em Limeira. A cada domingo um irmão (de um grupo de 5 ou 6 que têm esse exercício no coração) se reveza para pregar o evangelho às pessoas que são convidadas para este fim. Mas não é uma reunião da assembleia, e sim uma pregação das boas novas de salvação feita por um irmão à frente de uma audiência convidada para este fim.
Há também iniciativas individuais de irmãos voltadas para o evangelho, como é o caso do trabalho que tenho feito na Internet, ou de uma editora que existe no Brasil chamada Verdades Vivas, de responsabilidade de 3 irmãos, que publica folhetos evangelísticos, livretos e calendários. E há também a iniciativa individual de cada um que fala a seus amigos, vizinhos e parentes.
Existe também a possibilidade de algum irmão sentir um chamado do Senhor para dedicar parte ou todo o seu tempo na obra do evangelho ou da visita a irmãos, e isso é uma questão entre ele e o Senhor. O irmão não irá pedir a permissão de ninguém para isso, mas obviamente também não irá querer fazer algo à revelia da assembleia onde congrega. Esta pode reconhecer que aquele trabalho vem do Senhor e decidir ter comunhão com esse irmão também em suas necessidades materiais, se for o caso. Mas entenda que não existe nem uma solicitação neste sentido pelo irmão que sai para trabalhar na obra do Senhor, e nem um compromisso da assembleia de sustentá-lo. O exercício é entre o irmão e o Senhor, portanto é do Senhor que ele deve esperar o auxílio, que pode vir através de assembleia ou de iniciativas individuais.
Mais uma vez é bom frisar isto, pois dentro das denominações é comum não existir uma definição clara do que seja uma reunião dos santos para adorar a Deus ou para a edificação, exortação e consolação dos santos, e uma pregação do evangelho para incrédulos. É comum nesses lugares todas as reuniões indistintamente terminarem com algum tipo de apelo para as pessoas se converterem.
Embora eu esteja passando rapidamente por estes assuntos sem dar muitas referências bíblicas, certamente você irá identificar as passagens que falam desses assuntos e poderá conferir se são de fato assim na Palavra de Deus, e espero que você o faça.
Deve existir também uma distinção clara entre uma reunião da assembleia, que tem um caráter solene, e uma reunião mais informal, quando uma família ou um grupo de irmãos se reúne para ler a Palavra, orar, cantar hinos, conversar, etc., que é basicamente o que vocês vêm fazendo enquanto aguardam serem recebidos à comunhão à mesa do Senhor.
Uma reunião da igreja é o momento solene onde dois ou três são reunidos pelo Espírito para o Nome do Senhor Jesus. Não se trata de um encontro casual entre irmãos, como um bate papo ou uma festa de aniversário. Nem é uma reunião de negócios, mas uma reunião que tem por objetivo partir o pão, aprender a doutrina e a comunhão dos apóstolos e orar, reconhecendo a presença real do Senhor no meio.
É neste caráter de reunião que se aplicam algumas ordens, como por exemplo a de que "falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem. Mas se a outro, que estiver sentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, cada um por sua vez; para que todos aprendam e todos sejam consolados; pois os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas; porque Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar”(1 Co 14).
No atual estado de ruína e degradação em que está a cristandade, é provável que a maioria das assembleias reunidas ao nome do Senhor que você encontrar estejam reunidas literalmente com 2 ou 3 apenas. E há casos em que uma assembleia se congregue com apenas um irmão varão (por morte ou abandono de outros). Aí as reuniões de assembleia não incluirão o ministério da Palavra e tampouco aquela assembleia terá poder de deliberar ou julgar. Quando o assunto é o julgamento, o “dois ou três” de Mateus 18:20 nos fala de dois ou três varões, uma vez que a passagem está falando da tomada de decisões, de ligar e desligar, o que deve ser feito por varões (que são cabeças).
Assim, uma assembleia “normal”, isto é, funcional em todos os seus aspectos, deve ter 2 ou 3 irmãos (homens) reunidos, pois caberá a eles julgarem as questões de doutrina durante o ministério nas reuniões, e o recebimento (ligar) e exclusão (desligar) pessoas da comunhão à mesa do Senhor. (Lembrando que esse ligar e desligar é da comunhão à mesa do Senhor, mas jamais do corpo de Cristo, como pretendiam fazer os Inquisidores no passado com aqueles que caíam em pecado. Ninguém tem o poder de desligar um membro da Igreja, que é o corpo de Cristo).
Digamos que os irmãos de uma assembleia morram ou se afastem, ficando apenas irmãs. Elas poderão continuar se reunindo para partir o pão quando visitadas por outros irmãos, se o Senhor as dirigir a isso (o correto é que busquem o auxílio dos irmãos de uma assembleia próxima), mas não poderão se reunir como assembleia naquilo que envolver julgamento e ministério. Ou seja, não poderão receber pessoas à comunhão à mesa do Senhor ou colocar em disciplina alguma irmã em pecado, pois não encontramos nenhuma instância disso nas Escrituras. Para isso devem buscar o auxílio de varões de outra assembleia. Sempre que forem agir, vocês devem perguntar: “Alguém já fez assim na Palavra de Deus?” ou, por assim dizer, devem verificar se existe uma “jurisprudência bíblica” para aquela situação.
O mesmo se aplica ao ministério da Palavra. Em 1 Coríntios 14 diz "falem dois ou três e os outros julguem”quando se refere a irmãos que ministram. Uma assembleia formada apenas por irmãs não poderá exercer esse tipo de ministério, pois estariam desobedecendo a ordem das mulheres ficarem caladas nas assembleias ou reuniões da igreja. Além disso, não haveria um irmão para julgar o que falassem. Então elas podem se reunir sim, mas não no caráter de uma assembleia, e sim no caráter de uma reunião informal de irmãs que têm o desejo de orar e estudar a Palavra.
Uma assembleia onde tenha restado apenas um irmão varão também não poderá adotar ações que envolvam julgamento (pois é preciso de dois ou três para julgarem as coisas), portanto não poderá receber ou excluir pessoas da comunhão. Para isso o único irmão do local deverá buscar auxílio de irmãos de outra assembleia próxima. Não me lembro se existe alguma coisa no Novo Testamento (é a tal “jurisprudência” que mencionei) sobre essa questão da proximidade, mas em Números 35 existe um princípio que pode ser aplicado, que é o das seis cidades de refúgio. Alguém que pudesse ser alcançado pelo vingador do sangue (por ter matado alguém por acidente) podia correr para a cidade de refúgio mais próximo e não ser morto. A divisão das cidades era de tal modo que qualquer pessoa em qualquer lugar de Israel poderia alcançar uma cidade de refúgio no mesmo dia.
Pela mesma razão, as reuniões de leitura, estudo ou ministério de uma assembleia assim não podem ser consideradas reuniões no caráter formal de uma assembleia, uma vez que não há quem julgue o que aquele irmão falar. Ele e as irmãs que participarem estarão reunidos em um caráter informal, como acontece, por exemplo, quando uma família se reúne para ler a Bíblia, ou em uma reunião da escola dominical, quando um irmão ensina aos jovens a Palavra de Deus, podendo ele inclusive responder perguntas de irmãs nessa ocasião. Por não estarem reunidos em assembleia, as irmãs não estarão impedidas de falar.
Portanto, quando você perguntou como seriam as reuniões que fazem em sua casa antes de vocês serem recebidos à mesa do Senhor e começarem a partir o pão como uma assembleia local, é este o caráter, isto é, o mesmo de uma reunião informal de uma família para ler a Palavra, cantar hinos e orar. Neste caso não existe a necessidade de se aguardar pela direção do Espírito para trazer uma palavra, sugerir um hino ou uma oração, como se costuma fazer em uma reunião de assembleia, e algum irmão até pode querer agir como dirigente da reunião. Numa reunião assim também não há nenhum problema se os irmãos desejarem fazer leituras de livros e comentários ou até acessar a Internet para pesquisar alguma coisa, coisas que não caberiam quando a assembleia estivesse reunida ao nome do Senhor tendo apenas a Palavra de Deus e a direção do Espírito como recursos.
Vejo que às vezes erramos quando queremos dar a uma reunião informal entre irmãos um caráter de solenidade que a torna “parecida” com uma reunião de assembleia, causando confusão na cabeça de alguns. Existe sempre o perigo de se adotar um ritual. É bom que qualquer reunião de cristãos em torno da Palavra seja feita com reverência, mas pode causar confusão tentar “imitar” uma reunião de assembleia, pois esta tem um caráter diferente e solene.
Além disso é comum em reuniões informais termos amigos e parentes incrédulos que às vezes querem até fazer perguntas, comentar ou dar palpites. Embora isso seja perfeitamente normal numa reunião informal, não deve ser o caso quando a assembleia está reunida. Às vezes o fato de uma assembleia se reunir em uma casa pode dar a um incrédulo ou irmão visitante desavisado a ideia de que se trata de um bate-papo (por causa do ambiente onde a reunião é realizada). Em casos assim é importante avisar de antemão e com muito amor e cuidado as pessoas que não estão em comunhão à mesa do Senhor para que deixem qualquer comentário ou pergunta para depois que terminar a reunião.
Quando eu morava em São Paulo, a assembleia naquela cidade começou em meu apartamento e este era um problema que costumava ocorrer. Às vezes nos esquecíamos de explicar a um visitante a dinâmica da reunião e éramos surpreendidos no meio da reunião por um visitante dando uma opinião do tipo “Eu não acho que seja assim, porque blá, blá, blá...” Aí era preciso manter a calma e pedir educadamente ao visitante que assim que terminássemos aquela reunião teríamos o prazer de responder a todas as perguntas e a considerar todos os seus comentários e opiniões.
O número de reuniões semanais varia muito de assembleia para assembleia. Aqui em Limeira temos às quartas feiras à noite uma reunião que começa com uma leitura de um capítulo do Antigo Testamento que é depois comentado pelos irmãos que ministram. Poderíamos classificá-la como uma reunião de ministério da Palavra. Em seguida fazemos uma reunião de oração, que começa com os irmãos trazendo motivos de oração (algum irmão doente, alguma necessidade de alguém, alguma viagem na obra, etc.). Não se trata de trazermos orações muito pessoais, mas aqueles motivos que envolvam a assembleia e a obra do Senhor. Eu não preciso, por exemplo, pedir orações para meu filho ir bem na prova da escola, ou para decidir que carro comprar, porque este tipo de oração fica melhor eu fazer em casa com minha família, pois não afetam a assembleia.
Aos sábados à noite temos uma reunião de ministério da Palavra, que pode ser aberta a qualquer irmão que tenha um tema específico para ministrar, ou pode ser um estudo como o que fazemos na quarta feira, neste caso do Novo Testamento. Mesmo o “modelo” de reunião aberta de ministério pode variar de um lugar para outro. Em Limeira, quando é o caso, um irmão que traz um tema poderá ministrar sobre o tema boa parte do tempo da reunião, mas é conveniente sempre que ele deixe espaço para que "falem dois ou três” como vemos em 1 Coríntios, e não monopolize o tempo (Aqui uma reunião costuma durar de uma hora a uma hora e meia, embora em outros lugares esse tempo também varie bastante. Ouvi que em alguns países, como Bolívia, as reuniões são muito mais longas).
Geralmente aqui quando um irmão termina de falar sobre o tema que trouxe, outro poderá dar continuidade falando do mesmo tema ou capítulo, mas já estive em uma assembleia nos EUA onde vi três irmãos falarem uns quinze minutos cada um de temas e passagens completamente diferentes, cada um dando o começo, meio e fim de sua mensagem. Já estive em assembleias onde as reuniões de ministério parecem mais um pingue-pongue, com um irmão fazendo um comentário rápido de uma passagem, outro continuando logo a seguir, outro concatenando o seu comentário, etc. E também já vi lugares onde há um longo período de silêncio entre um e outro. Isso deve variar também em outros lugares, como na Índia, Japão, Nigéria, Malavi, etc. Basta pensar na diversidade de costumes e de povos que temos no mundo para entendermos que poderão existir diferenças também em alguns detalhes das reuniões.
Geralmente começamos com irmãos sugerindo um ou mais hinos, algum irmão abrindo a reunião dando graças e pedindo a direção do Senhor e, no final também terminando com hinos e oração. Como devemos nos colocar sob a direção do Espírito, não podemos estabelecer regras, embora tudo deva ser feito com decência e ordem, como ensina 1 Coríntios 14:40.
Aos domingos na parte da manhã temos uma escola dominical para crianças (em uma sala) e jovens e adultos (em outra). Não se trata de uma reunião da assembleia e nem tem tal caráter. Elas apenas utilizam o mesmo espaço onde em outros horários são realizadas as reuniões da igreja ou assembleia. São cantados hinos infantis, as crianças repetem o versículo que decoraram durante a semana e enquanto um irmão traz algum assunto para os jovens e adultos, um irmão ou irmã cuida das crianças pequenas em outra sala ensinando a elas o evangelho e dando alguma atividade lúdica. São iniciativas dos irmãos e irmãs que fazem tal trabalho, portanto é bem no estilo de um que ensina e os outros aprendem, podendo ocorrer perguntas, comentários, etc.
Em seguida, ainda no domingo ou "primeiro dia da semana” ou "dia do Senhor”, como encontramos na Palavra, temos uma reunião em caráter de assembleia, que é a Ceia do Senhor. Essa não é uma reunião para orarmos por necessidades, ou para o ministério da Palavra. É uma reunião de louvor e adoração, portanto as orações ao longo da reunião tem esse caráter de gratidão e louvor. Também cantamos muitos hinos, geralmente aqueles que falam da morte do Senhor. É importante também ter sabedoria na escolha de hinos, pois há hinos que se adequam mais ao louvor e adoração, enquanto outros falam de nossas dificuldades no mundo e são mais apropriados à reunião de oração, e há também hinos evangelísticos. Não caberia ver uma assembleia, numa reunião onde supostamente estão reunidos para adorar o Senhor, cantando “Pecador vem a Cristo Jesus...”
Na ceia do Senhor, depois de um tempo de louvor um irmão vai até a mesa onde estão os símbolos (o pão e o vinho), dá graças pelo pão, o parte e passa para os irmãos. Aqui em Limeira a travessa ou cesta com o pão passa de mão em mão com cada um pegando um pedaço e comendo. O mesmo é feito com o cálice. Embora possam ter visitantes numa reunião da ceia do Senhor é importante lembrar que só participam do pão e do vinho aqueles que foram regularmente recebidos à mesa do Senhor. Os demais (e também as crianças) podem assistir, porém não participam do pão e do vinho. Em seguida é passada uma sacola também apenas aos que estão em comunhão para que coloquem nela suas ofertas que serão posteriormente utilizadas em despesas (salão, energia elétrica, etc.), necessidades de irmãos enfermos ou desempregados, viagens de irmãos na obra do Senhor, etc.
Nos domingos à noite alguns irmãos (5 ou 6 aqui) costumam promover uma pregação do evangelho. É a oportunidade para convidarmos amigos e parentes para escutarem as boas novas. Como expliquei, não é uma reunião no caráter de reunião de assembleia, portanto neste caso é um irmão que vai à frente pregar para uma audiência e isso inclui exortar as pessoas para que aceitem a Jesus como Salvador.
Como expliquei, esse formato e periodicidade de reuniões que temos em Limeira foi uma decisão tomada pela assembleia local para as necessidades locais e conveniência dos irmãos. Porém em diferentes lugares há diferentes necessidades. Embora a ceia do Senhor seja biblicamente celebrada sempre no dia do Senhor (domingo), não existe a mesma indicação para as outras reuniões. Em alguns lugares, como numa cidade grande com dificuldade de locomoção, os irmãos podem decidir fazer tudo no domingo, em outros podem ter reuniões ao longo da semana. Uma curiosidade: quando os irmãos em Limeira começaram a se reunir há quase 40 anos havia reuniões todos os dias. Obviamente na época a maioria era bem jovem, poucos tinham um trabalho regular e quase nenhum era casado ou com filhos.
O melhor de tudo é deixar que o Espírito Santo nos guie também nessas coisas, e a assembleia da cidade “A” não poderá dizer como a assembleia na cidade “B” deve proceder. Tampouco existe uma sede ou colegiado para ditar as ordens a todas as assembleias e nem mesmo alguma publicação que seja usada como uma “homilia” em todas as assembleias, para que todos leiam a mesma passagem no mesmo dia, por exemplo.
Considerando que vocês estão se reunindo em um caráter informal (como é a leitura bíblica de uma família) aí você é o dono da casa e você é o dirigente das coisas que acontecem em sua casa. Se fosse uma reunião de assembleia e o local da reunião fosse a sua casa, durante a reunião desapareceria o “dono da casa” já que sua casa estaria sendo usada apenas como local físico “emprestado” para a assembleia. Mas no caso que você mencionou, você é o dono da casa e você é quem deve decidir como serão essas reuniões. Se comparecem incrédulos, como citou, talvez seja melhor aproveitar a oportunidade e pregar o evangelho. Se estiverem somente os irmãos e irmãs, é uma boa oportunidade para lerem a palavra juntos, tirarem dúvidas em algum escrito de irmãos, orarem, etc. O mais prudente é não tentar “imitar” uma reunião de assembleia para não causar confusão, e também para que fique muito clara a diferença quando passarem a se reunir como assembleia congregada ao nome do Senhor.
O batismo é uma responsabilidade individual de quem batiza (não da assembleia). A ordem “batizai” é dada individualmente. Se você encontrar um eunuco na estrada de Jerusalém a Gaza, e este quiser ser batizado, você poderá fazê-lo sem consultar ninguém. Filipe não precisou voltar a Jerusalém, apresentar a questão aos irmãos, pedir que enviassem um “pastor” para efetuar o batismo, etc. Porém, se alguém expressa o desejo de ser recebido à mesa do Senhor para participar da ceia do Senhor, esta é uma decisão que envolve a assembleia que irá ligar a pessoa à comunhão.
Em 1 Coríntios vemos a ordem dada à assembleia para “desligar” uma pessoa em pecado. Em 2 Coríntios 2:5 mostra que isso é algo que afeta toda a assembleia e não é (como no caso do batismo) uma questão individual. Uma pessoa, ao ser batizada, não necessariamente estará em comunhão à mesa do Senhor. Seu batismo simplesmente a colocou em uma nova posição sob novas responsabilidades para com Cristo, de quem agora leva o nome, mas ela poderá ainda estar em uma condição de vida que não permitiria que estivesse em comunhão à mesa do Senhor. Existe muita confusão entre as denominações, que consideram o batismo como a porta de entrada à comunhão. Nem sabemos se Filipe voltou a se encontrar com o eunuco que foi batizado e voltou para a África.