Para que serve a imposição de mãos?
Considerando toda a confusão eclesiástica existente hoje, com homens se valendo do ato de impor as mãos como se fosse algum passe de mágica ou transmissão de algum poder, o melhor é analisar o assunto pelo que encontramos nas Escrituras.
Para isso vou traduzir aqui um texto que considero muito bom, publicado em 1893 na "The Christian’s Friend and Instructor”.
No que diz respeito à imposição de mãos, parece ter sido praticada de várias maneiras. Primeiro, o Espírito Santo foi comunicado, em diversas ocasiões, em conexão com imposição de mãos dos apóstolos sobre crentes (veja Atos 8:17; 19:6).
Segundo, pessoas foram designadas desta maneira, ou melhor dizendo, separadas, para algum ofício especial.
Em Atos 6, por exemplo, os sete que foram escolhidos para “servir as mesas” foram colocados diante dos apóstolos que, depois de orarem, impuseram suas mãos sobre eles (v. 6); e Paulo instrui Timóteo a não impor as mãos indiscriminadamente sobre qualquer um; isto é, conforme entendemos, Timóteo não devia escolher ninguém para ser um ancião ou diácono sem antes ter certeza de que a pessoa preenchia todos os requisitos para tal função.
Em seguida vemos que um dom foi concedido a Timóteo através da imposição das mãos do apóstolo (2Tm 1:6). Em todos estes casos pode-se reparar que a imposição de mãos é feita ou pelos apóstolos, ou por Timóteo que era um enviado dos apóstolos, e que, portanto, agia sob a autoridade direta de Paulo.
Em nenhum desses casos, portanto, a imposição de mãos poderia ser praticada hoje, a menos que se acreditasse em uma “sucessão apostólica”, do que não temos nem mesmo uma sombra sequer nas Escrituras que, pelo contrário, desaprovam tal ideia. O debate se dá, portanto, sobre pretensões e presunções eclesiásticas, e não sobre a Palavra de Deus.
Todavia existem dois outros tipos de imposição de mãos que devem ser consideradas. Quando o Espírito Santo diz “Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”, aqueles que estavam reunidos com eles jejuaram e oraram, “e pondo sobre eles as mãos, os despediram” (Atos 13:2, 3).
Isto de modo algum poderia ser considerado como a ordenação para um ofício, pois não foi uma função que eles tinham sido chamados a ocupar, mas estavam sendo enviados para um serviço específico. O Espírito Santo tinha designado seus servos para a missão que lhes cabia. A imposição de mãos aqui tinha mais o sentido de identificação ou de se expressar total comunhão com Barnabé e Saulo em seu trabalho.
O significado da imposição de mãos é visto no Antigo Testamento em conexão com os sacrifícios. Ao impor as mãos sobre a cabeça do cordeiro consagrado, Aarão e seus filhos se identificavam, diante de Deus, com todo o doce aroma do sacrifício quando era queimado sobre o altar (Ex 29:15-19).
Um exemplo do mesmo significado pode ser encontrado em 1 Timóteo. Como já vimos, o dom foi concedido a Timóteo “pela” (por intermédio da) imposição das mãos de Paulo. Na primeira epístola, ao referir-se a isso, Paulo faz alusão à imposição de mãos do presbitério (cap. 4:14). Mas as palavras exatas que ele usa demonstram o seu caráter. Aqui a palavra não é “pela” ou por intermédio de, como na segunda epístola onde ele fala da imposição de suas próprias mãos, mas “com”, ensinando claramente que eles nada mais faziam do que estar associados a Paulo em seu ato, de modo que estavam assim se identificando com o que estava sendo feito, e também com Timóteo no serviço para o qual ele estava sendo chamado. Essa forma de imposição de mãos é simplesmente um ato de comunhão.
O outro e único tipo de imposição de mãos é mencionado em conexão com a cura do enfermo. O próprio Senhor impôs suas mãos sobre o enfermo (Lc 4:40), e comissionou seus discípulos, depois de sua ressurreição, a fazerem o mesmo (Mc 16:18). Mas se, por um lado, os “dons de cura” eram encontrados na assembleia em Corinto, não existem indícios de que a comissão dada aos discípulos tivesse sido estendida a outros. Já escrevi o suficiente para ajudar o leitor na investigação do assunto, e este, valendo-se dos casos mencionados dentro de seu contexto, será capaz de compreender a verdade envolvida nisso e a avaliar o assunto “imposição de mãos” quando comparado às presunçosas reivindicações feitas nos meios eclesiásticos. —Traduzido de “The Christian’s Friend and Instructor” – 1893.