Enoque morreu ou não?

Entendo que Enoque não morreu, mas foi trasladado diretamente para a presença de Deus. Isto é revelado aqui: (Gn 5:24) "E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou”.

Outras versões dizem: "... e desapareceu, porque Deus o levou”; “... desapareceu, pois Deus o havia arrebatado”; “... e já não foi encontrado, pois Deus o havia arrebatado”. Gosto de pensar no que um irmão disse certa vez, que Enoque andou tanto tempo com Deus que chegou uma hora em que Deus disse a ele: ‘Enoque, agora você está mais perto de minha casa do que da sua; por que não fica aqui?’.

Mas sua dúvida está em Hebreus 11, onde também fala que Enoque foi trasladado para não ver a morte, mas alguns versículos depois de citar outros santos do Antigo Testamento diz que todos eles teriam morrido. Enoque morreu ou não morreu?

(Hb 11:5) "Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus”.

Para entender a Bíblia é preciso aceitar o que ela diz como sendo a inerrante Palavra de Deus. Quando alguma coisa parece não fazer sentido, não é que está errada, mas sim que nós não entendemos. Além disso, é preciso enxergar as passagens como complementares.

Por exemplo, em Hebreus 11:5 diz que Enoque não viu a morte, mas no versículo 13 do mesmo capítulo diz que "todos estes morreram na fé”. Evidentemente desse "todos” devemos excluir Enoque, pois um pouco antes foi dito que ele não viu a morte. Em Romanos 3:23 diz que "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”, mas em Hebreus 4:15 fala de Cristo como sendo "sem pecado”, portanto devo concluir que todos pecaram exceto Jesus.

Na passagem de Mateus que fala de dois homens possessos que Jesus liberta na província dos gadarenos, mas em Marcos só fala de um. Afinal, um ou dois? A resposta é dois. Em Mateus está falando deles, enquanto em Marcos a história está concentrada em um dos dois.

Uma aparente contradição é o modo como Judas morreu. Em Mateus 27:5 diz que "retirou-se e foi-se enforcar”. Em Atos 1:18 diz que "precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram”. Afinal, enforcou-se ou despencou de um precipício? As duas coisas.

Quando Barzan Ibrahim al-Tikriti, o meio-irmão de Sadam Hussein, foi enforcado, o impacto da corda estirada causou sua decapitação. Quem estivesse sobre o cadafalso diria que ele foi enforcado. Quem estava sob o cadafalso disse que ele morreu decapitado.

Judas provavelmente se enforcou em um lugar alto o suficiente para precipitar-se, com o rompimento da corda ou do que a prendia (galho, por exemplo). Depois de morto, seu corpo apresentava os ferimentos de uma queda de um lugar alto.

Algumas das chamadas contradições pelos céticos podem entrar facilmente na categoria das exceções. É o caso da proibição da confecção de imagens em Êxodo 20 e a ordem para fazer dois querubins de ouro para ficarem sobre a Arca da Aliança em Êxodo 25, ou o caso da serpente de bronze em Números 21 ou dos leões, bois e querubins que adornavam várias partes do templo em 1 Reis 7.

A primeira ordem tinha o objetivo claro da confecção de imagens com o objetivo de adorá-las, o que não se aplicava às exceções, que tinham a função de adorno. Se eu fosse um israelita na época teria facilmente interpretado que no geral imagens não deviam ser construídas, exceto naquelas condições particulares.

Qualquer contrato dos dias de hoje é escrito assim. “Cláusula tal: Haverá multa no caso do não cumprimento deste contrato, etc...”; “Cláusula tal: A multa da cláusula anterior não se aplicará em caso fortuito ou de força maior”. Simples assim.