Como proceder para me congregar somente em nome de Jesus?
Fico contente pela decisão sua e de sua esposa de deixarem o sistema religioso para servirem ao Senhor sem vínculos com uma denominação. Estar congregado em nome do Senhor, e não em nome do Senhor e de mais algum nome, é um privilégio.
O primeiro passo é o que vocês aparentemente já deram: entender que as denominações não estavam nos planos de Deus e que devemos nos afastar delas se quisermos estar onde o Senhor prometeu estar, isto é, no meio daqueles reunidos ao seu nome.
Outro passo importante é reconhecer que há um só corpo, do qual fazem parte TODOS os que foram salvos pela fé em Jesus, inclusive aqueles que são convertidos, mas permanecem nas denominações. Este entendimento é muito importante para não se criar um pensamento sectário.
Na passagem em 2 Timóteo 2:17-25 você encontra passos importantes que deve dar se quiser sair do arraial religioso para estar no lugar de rejeição que Jesus tomou para si. Quando falo do arraial, estou me referindo ao sistema criado pelos homens que hoje chamamos de cristandade, o qual é uma cópia carbono do sistema religioso do judaísmo, exceto pelo fato de que aquele tinha sido instituído por Deus e este não.
Em Hebreus 13, depois de falar do sistema religioso judaico, que trazia tantas cerimônias, porém era incapaz de reconhecer o próprio Cristo, o Espírito Santo mostra aos hebreus convertidos que eles tinham agora um altar que nada tinha a ver com o altar do judaísmo. Era um lugar que tinha sido estabelecido fora do sistema, pois o próprio Senhor foi levado para fora do arraial para ser morto, como faziam com os transgressores no passado para serem apedrejados.
O convite então é para que saiamos também para nos encontrarmos com Jesus fora do arraial, em seu lugar de expulsão e levando nós também a sua vergonha ou ignomínia. Sempre me lembro de que o cego de nascença que fora curado só teve um conhecimento mais perfeito de quem era aquele que o curou depois que foi expulso pelos religiosos e encontrou-se com Jesus “fora do arraial”, por assim dizer.
Voltando a 2 Timóteo, vemos ali um caso de mal doutrinal (introduzido entre os cristãos da época por Himeneu e Fileto, que possivelmente estariam conquistando seguidores).
(2Tm 2:17-18) "E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto; Os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns”.
Independentemente do tipo de erro que estavam cometendo, o importante é a frase: "... os quais se desviaram da verdade”. Isto é motivo mais que suficiente para saber o que devemos fazer quando as pessoas com as quais temos comunhão "se desviaram da verdade” que é a Palavra de Deus. Em seguida vêm as instruções quanto ao modo de proceder.
Primeiro vem o entendimento daquilo que aqui chama de fundamento de Deus: não cabe a nós decidirmos quem é salvo ou não, quem é do Senhor e quem não é, porque é o Senhor quem conhece os que são seus. Portanto a passagem não estará falando de nos separarmos de pessoas por elas serem incrédulas, mas de nos separarmos do erro doutrinário e das pessoas que o praticam. Se aqui o assunto é o mal doutrinário, chamado aqui de "iniquidade", em 1 Coríntios 5 você encontra o mesmo princípio de separação aplicado ao mal moral.
(2Tm 2:19) "Todavia o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade".
Veja que não se trata de tentar reparar a má doutrina ou criar contendas com os que a professam. É pura e simples uma ordem clara de “sair do arraial”, apartar-se do mal, separar-se, fugir do pecado doutrinário com a mesma presteza com que José fugiu da mulher de Potifar quando ela quis seduzi-lo.
O mal, seja ele moral, doutrinário ou eclesiástico (este aparece na epístola de Judas em três aspectos representados por Caim, Balaão e Coré), é sedutor e não devemos achar que podemos contra ele. Temos ligações naturais e sentimentais com aqueles que estão envolvidos com o mal, e estas ligações podem nos fazer tropeçar como fizeram tropeçar a Adão, ao querer ficar ao lado de sua esposa sabendo que o que fazia era errado (“Adão não foi enganado”). “Apartai-vos” é a ordem dada aqui em alto e bom som.
Em seguida vem uma explicação sobre a casa de Deus, que é a esfera dos que professam ser cristãos e que podemos também chamar de cristandade no estado atual. A casa de Deus é o lado terreno da expressão da igreja de Deus. Enquanto a igreja de Deus, que é a parte que cabe a Deus, continua perfeita e sem mácula, a casa de Deus, que é o seu aspecto governamental deixado sob a responsabilidade do homem, passou de "casa de Deus” que deveria representar a "coluna e firmeza da verdade” de 1 Timóteo 3:15, à "grande casa” de 2 Timóteo, onde há de tudo um pouco: má doutrina, vasos para desonra, etc.
(2Tm 2:20) "Ora, numa grande casa não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra".
Se no versículo 19 de 2 Timóteo 2 nos era dito para nos separarmos da iniquidade, ou do mal doutrinário propriamente dito, agora o Espírito Santo nos diz para nos purificarmos dos vasos para desonra que ele mencionou no versículo 20. Vasos são pessoas, e esta costuma ser a parte difícil para qualquer um que deseja servir ao Senhor fora do sistema religioso criado pelos homens. Temos laços de amizade ou familiares, como tinha Jônatas com seu pai Saul, que podem nos levar a deixar de seguir nosso verdadeiro Davi em seu lugar de exclusão e desterro fora do arraial, para permanecemos sob a falsa segurança que dá um sistema estabelecido.
(2Tm 2:21) "De sorte que, se alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra”.
Entendo que não se trate aqui de perder a amizade com irmãos sinceros que permanecem nos sistemas religiosos, mas simplesmente de nos purificarmos desses vasos, isto é, deixarmos de caminhar com eles nas questões que envolvem suas associações com os sistemas dos homens. Nenhuma amizade é tão bela quanto a de Davi e Jônatas, porém viviam em mundos diferentes. É emblemático vermos que “Jônatas se despojou da capa que trazia sobre si, e a deu a Davi, como também as suas vestes, até a sua espada, e o seu arco, e o seu cinto”, porém não suas sandálias. Jônatas amava a Davi, mas não queria andar com ele.
Embora às vezes possamos ser grandemente auxiliados pela fé desses irmãos, é preciso entender que em toda associação podem existir também dificuldades que venham a desonrar o nome de Cristo ou subverter a pureza da Palavra de Deus. Quer um exemplo? Uma vez decidi pregar o evangelho em um pequeno povoado no interior de Goiás e, ao invés de simplesmente fazer aquilo que o Senhor tinha colocado em meu coração, confiando que ele abriria as portas, fui à casa de um homem que eu sabia ser crente em Jesus e morava ali. Achei que assim as coisas ficariam mais fáceis, pois ele conhecia todo mundo no lugar e podia me acompanhar às casas das pessoas e me apresentar a elas.
Na primeira casa que visitamos, quando terminei de falar do evangelho puro e cristalino da salvação pela fé em Cristo e da graça de Deus em salvar o pecador independente de obras de justiça que ele possa praticar, senti-me satisfeito por ter passado a mensagem. Mas aí meu amigo cristão fez um aparte que simplesmente destruiu toda a mensagem que eu tinha acabado de pregar. Ele disse às pessoas da casa: “Mas não basta só crer. É preciso também guardar o sábado”.
O versículo seguinte mostra que não é para simplesmente nos apartarmos da má doutrina e dos vasos ou pessoas que a professam. O versículo 22 fala de fugirmos (mais uma vez, como José fugiu da mulher de Potifar) das paixões da mocidade. O que um jovem deseja da vida: sexo, dinheiro, poder, fama, prazeres... a lista é grande. Hoje costumamos chamar a isso de ambição.
(2Tm 2:22) "Foge também das paixões da mocidade;”.
Se por um lado a ordem é clara para nos separarmos, nos purificarmos, e fugirmos, existe agora o lado positivo. Não devemos nos separar para nós mesmos ou para ficarmos sozinhos. Separar-se do mal não significa deixar de congregar, porque Deus deseja que os cristãos estejam congregados, porém apenas em nome do Senhor Jesus, para desfrutar da promessa de tê-lo bem ali, no meio dos que estão assim congregados pelo Espírito Santo.
(2Tm 2:22) "e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”.
Nós devemos nos separar de umas coisas para nos unirmos a outras: "a justiça, a fé, o amor e a paz”, porém não sozinhos. "Com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”. Para entender o que "coração puro” significa aqui, entenda que não se trata de pessoas melhores, mais espirituais ou perfeitas. São irmãos em Cristo tanto quanto os que você deixará na denominação onde estava, com todos os defeitos que todos temos. A palavra “puro” aqui tem o sentido de expurgado ou livre do pus, isto é, daquilo que contaminava. Lembre-se do que foi dito no versículo 21: "se alguém se purificar destas coisas”. O texto está falando de purificados, de nos unirmos em comunhão com pessoas que passaram pelo mesmo processo de se apartar dessas coisas.
Finalmente, a Palavra de Deus nos fala em que estado de espírito devemos fazer isso: rejeitando questões loucas e fugindo de contendas, mas ensinando com mansidão as pessoas. Uma pessoa que entende que deve apartar-se do mal, não deve fazer disso um cavalo de batalha e causar divisões entre aqueles com quem ela se congregava. A decisão de separar-se é uma decisão individual. Se for para outros fazerem o mesmo, eles o farão pelo exemplo que enxergarem naquele que se separou, não por alguma articulação política feita dentro de uma denominação para se criar um partido e angariar seguidores. Assim como aconteceu com você, é Deus quem irá tocar o coração de outros.
(2Tm 2:23-25) "E rejeita as questões loucas, e sem instrução, sabendo que produzem contendas. E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade".
Muitos neste processo acabam caindo no erro de tentar criar contendas entre os irmãos ou de corrigir os erros que encontram na denominação. Não se trata de corrigir erros, mas de sair de algo cujo próprio fundamento está errado. Quando a defesa civil descobre um problema no alicerce de uma casa construída em uma área de risco, as autoridades não tentam convencer o dono da casa a pintá-la de outra cor, mas ordenam que ele deixe imediatamente o local. Tudo o que estiver sobre o alicerce comprometido irá ruir, não importa se a casa é feita ou bonita.
Deixo aqui mais um alerta: hoje há muitos grupos de irmãos reunidos sem denominação, mas reunir-se sem denominação não é a questão envolvida aqui. A questão é de fundamento. Podemos estar congregados sobre um fundamento errado, mesmo não tendo uma placa com um nome na porta da sala. Muitos grupos que hoje estão congregados sem denominação são descendentes de pecados, divisões e erros ocorridos no passado entre irmãos que estavam congregados somente em nome do Senhor Jesus. Portanto é bom dar uma olhada na história daquele grupo para ver quais foram suas origens, antes de tomar uma decisão que pode levá-lo a associar-se ao erro.
Uma vez que o Espírito Santo tenha mostrado a você que os irmãos que estão congregados ao nome do Senhor tenham se “purificado” desses erros descritos em 1 Timóteo, seu próximo passo será fazer contato com a assembleia de irmãos mais próxima de você e pedir o seu lugar à comunhão à mesa do Senhor. Os irmãos procurarão conhecê-lo melhor para saber se você não está em algum tipo de pecado moral, doutrinário ou eclesiástico e quando sentirem paz neste sentido você será convidado a tomar o seu lugar à mesa do Senhor.
Se não existir uma assembleia em sua cidade, provavelmente continuará participando da ceia do Senhor quando visitar uma assembleia em outra localidade ou for visitado por irmãos. Quando em sua cidade existirem dois ou três irmãos que se converteram a Cristo ou saíram do sistema religioso para estarem onde o Senhor prometeu estar, chegará a hora desses dois ou três formarem uma assembleia local, com suas responsabilidades e privilégios.