Só Jesus

Lucas 9:27-36

Depois de serem acordados de seu sono pela aparição de Jesus transfigurado e acompanhado de Moisés e Elias, os três discípulos — Pedro, Tiago e João — reagem conforme o instinto religioso inerente ao homem. Adão e Eva tiveram uma reação semelhante no jardim do Éden, quando se viram nus: fizeram um cinturão de folhas para tentar cobrir sua nudez. Caim também tentou fazer algo: ofereceu a Deus o trabalho de suas mãos.

No caso de Adão e Eva, foi preciso que Deus sacrificasse um animal inocente para, com sua pele, cobrir a nudez deles. A oferta de Caim, do trabalho de suas mãos, foi recusada em detrimento da oferta de fé de Abel: o sacrifício cruento de um animal inocente. Desde então assim tem sido a história da humanidade: o homem sempre tentando fazer e dar algo para Deus, sem perceber que é Deus quem faz e Deus quem dá. Ao homem resta apenas a humilde posição de beneficiário da graça divina — e que bendita posição!

O versículo mais famoso da Bíblia fala justamente destas duas coisas: Deus é o dador e sua dádiva foi o sacrifício de seu próprio filho: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).

Mas o que tudo isso tem a ver com a reação dos discípulos diante de Cristo transfigurado? Veja o que Pedro diz: “Façamos três tendas...”. Ele se sente na obrigação de fazer algo para Deus. “Mestre, é bom estarmos aqui”, diz ele. “Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias” (Lucas 9:33). Pedro não é capaz de apenas desfrutar da presença de Jesus em contemplação. Ele quer fazer algo e, o que é pior, colocar Moisés e Elias, meros servos de Deus, no mesmo nível de Jesus, o Filho eterno de Deus.

Quantas vezes você já viu capelas e altares edificados em homenagem a homens e mulheres por alguém que achou que fazendo assim agradaria a Deus? “Façamos três tendas”, diz Pedro e isto não é diferente de dizer “Façamos três capelas” ou qualquer outra coisa que sirva para abrigar o Filho de Deus ou perpetuar nomes de meros servos de Deus.

Pessoas de boas intenções gostam de homenagear os servos de Deus, mas é errado. Moisés e Elias são ocultos dos olhos dos discípulos por uma nuvem e os discípulos ficam só com Jesus. Uma voz do céu diz: “Este é o meu amado Filho; a ele ouvi” (Lucas 9:35). A exaltação de homens não tem lugar nas coisas de Deus. Exaltar servos de Deus é um costume humano e nada tem a ver com as coisas de Deus. O correto é dizer como disse João Batista, quando viu a Jesus: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3:30).

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