Linguagem figurada
“Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim’. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês’” (Lucas 22:19-20).
Não existe fundamento para a ideia de que a ceia seja a repetição do sacrifício de Cristo, e que ali pão e vinho sejam transformados literalmente em carne e sangue. Primeiro, porque ao dizer “Isto é o meu corpo”, Jesus ainda não tinha morrido. O seu corpo estava bem ali e o sangue ainda corria em suas veias. Segundo, porque seu sacrifício não poderia se repetir jamais: “Fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez por todas” (Hb 10:10). Se o pão não era literalmente o corpo de Cristo, o que seria então?
Um retrato. Você já viu alguém apontar para uma foto e dizer: “Aquele ali sou eu”? Quando Jesus disse “Eu sou o pão que desceu do céu” (Jo 6:41) você entendeu que ele se referia à figura do maná no deserto. Quando disse “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8:12) você não achou que ele brilhasse no escuro, e quando falou “Eu sou a porta” (Jo 10:9) nem precisou explicar que a linguagem era figurada. Ao dizer “Eu sou a videira; vocês são os ramos” (Jo 15:5) os discípulos não procuraram por folhas uns nos outros.
Considerar a Ceia uma transubstanciação do trigo em carne e do extrato de uvas em sangue é uma desonra para Cristo; é tentar fazer sua carne e sangue voltarem à condição de antes da ressurreição e glorificação. “Se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo” (2 Co 5:16). Então como ele está agora? “Vemos, todavia, aquele que por um pouco foi feito menor do que os anjos, Jesus, coroado de honra e glória” (Hb 2:9). Longe de nós achar que seu corpo possa retroceder à condição de fraqueza e humilhação de seus dias aqui.
Como o erro não caminha sozinho, a ideia de se beber vinho acreditando ser sangue esbarra na proibição de Levítico 17 e também na decisão dos apóstolos Atos 15:20 acerca dos gentios que se convertiam: “Devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham... do sangue”. E mais: nos lugares onde se crê na transubstanciação, nem mesmo uma ordem simples de Jesus é obedecida, pois apenas o autodenominado ‘sacerdote’ bebe do cálice. No entanto Jesus ordenou: “Bebei dele todos” (Mt 26:27).
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