Batendo no peito alheio
Jesus conta uma parábola sobre “alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros”. Ele diz: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’” (Lucas 18:9-13).
Os fariseus eram a seita mais rigorosa do judaísmo, sempre preocupados em apresentar boa aparência mesmo que fossem “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mt 23:27). Publicanos eram coletores de impostos que entregavam ao invasor romano o dinheiro de seu próprio povo. Eles sabiam que estavam enfiados até o pescoço num esquema de traição e corrupção. Apesar de insistir para que se arrependessem, Jesus não era severo com publicanos, ladrões e prostitutas, porém chamava de “raça de víboras” (Mt 23:33) os religiosos fariseus.
Mesmo que Deus nunca tenha incluído na Lei a obrigatoriedade ou frequência do jejum, o fariseu se gaba de jejuar duas vezes por semana. Do mesmo modo, muitos dos que hoje se dizem cristãos inventam regras, “as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2:23). No fundo o fariseu não está satisfazendo a Deus, mas a seu próprio ego por não ser ladrão, corrupto ou adúltero, e por jejuar e dar o dízimo. Ao fazer isso ele condena os que não são como ele, batendo, por assim dizer, no peito alheio.
O publicano, por sua vez, bate no próprio peito, ou seja, mostra que é merecedor do juízo divino por ser pecador. Ele ficava “à distância... e nem ousava olhar para o céu”, mas confiava na misericórdia de Deus, e não em sua obediência ou boas obras. Se você gosta de bater no peito alheio saiba que quando tiver um dedo apontado para alguém terá três apontados para o seu próprio peito. Apesar de toda a aparência de religiosidade do fariseu, Jesus revela: “Eu lhes digo que este homem [o publicano], e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lucas 18:14).
tic-tac-tic-tac...