O EVANGELHO EM 3 MINUTOS LUCAS
O Evangelho em 3 Minutos
- LUCAS -
Uma mensagem urgente para quem tem pressa.
por
Mario Persona
Smashwords Edition
ISBN:
Publicado por:
Mario Persona no Smashwords
Copyright © 2015 by Mario Persona http://www.mariopersona.com.br
contato@mariopersona.com.br
Capa: Valentina Pinova - fiverr.com/vikiana
Foto: Jay Simmons - rgbstock.com/user/jazza
As citações são da Bíblia nas da versão NVI - Nova Versão Internacional em função do estilo coloquial adotado originalmente para o formato vídeo. Onde esta versão não concedia a clareza necessária para transmitir a ideia do texto foram utilizadas outras versões, como a ACF - Almeida Corrigida Fiel, ARC - Almeida Revista e Corrigida, ARA - Almeida Revista e Atualizada, JND - John Nelson Darby ou eventualmente uma tradução livre baseada nestas versões.
Este livro pode ser reproduzido, copiado e distribuído sem fins comerciais, desde que o texto permaneça na sua forma original. Apreciamos seu apoio e respeito a esta propriedade intelectual.
Livros por Mario Persona:
Crônicas de uma Internet de Verão
Gestão de Mudanças em Tempos de Oportunidades
Crônicas para ler depois do fim do mundo
Laura Loft - Diário de uma recepcionista
O Evangelho em 3 Minutos - Mateus
O Evangelho em 3 Minutos - João
Coleção“O que respondi aos que me perguntaram sobre a Bíblia” (9 volumes)
Os livros e e-books de Mario Persona estão nos endereços:
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“Então o Senhor me respondeu, e disse: Escreve a visão e torna bem legível sobre tábuas, para que a possa ler quem passa correndo”
Prefácio
Em 2008 decidi publicar uma série de mensagens evangelísticas em formato vídeo na Internet, aproveitando a experiência que havia adquirido desde 2006 publicando meus vídeos profissionais no canal “TV Barbante” no Youtube, criei a série “O Evangelho em 3 Minutos”.
Durante minha leitura dos Evangelhos em meu notebook eu consultava comentários de outros autores e fazia anotações que seriam transformadas nessas mensagens. Sempre que o assunto exigia, comentava passagens de outros livros, antes de voltar ao texto do evangelho em questão. Cada comentário tinha um número aproximado de palavras que permitisse a leitura em pouco mais de três minutos. Nos finais de semana eu gravava em vídeo as mensagens em casa, os quais eram depois publicados na Web em versão vídeo, texto e áudio. O texto deste livro é o resultado daquelas anotações.
Você irá reparar que os textos são enxutos, com frases curtas, linguagem coloquial e poucos recursos literários, pois foram criados na forma de script especialmente para locução. O objetivo principal das mensagens é o de evangelizar, todavia, considerando a enorme confusão de igrejas e doutrinas em que se transformou a cristandade, eventualmente falo de outros assuntos igualmente importantes para aqueles que já creem em Jesus.
Apesar de ler regularmente a Bíblia na versão Almeida Revista e Corrigida, nesta série de mensagens feitas inicialmente para serem narradas preferi utilizar as citações da Nova Versão Internacional, principalmente por esta usar um português mais coloquial. Sempre que necessário, seja por imprecisão da tradução da NVI, seja para tornar a passagem mais clara, faço as citações a partir da versão Almeida Corrigida ou Almeida Atualizada, além de eventualmente fazer uma tradução livre da versão J. N. Darby para a melhor compreensão da passagem. Pela própria informalidade do meio vídeo, para o qual as mensagens foram criadas, o leitor entenderá que não está diante de uma obra erudita ou de um estudo aprofundado.
Optei também por não usar caixa alta na primeira letra dos pronomes relativos à divindade. Portanto, ao me referir ao Pai, Filho ou Espírito Santo, utilizo “ele” ao invés de “Ele” e “seu” em lugar de “Seu”. De maneira nenhuma isto implica em desrespeito ou irreverência, mas é apenas para manter o texto graficamente mais leve. Esta é também a forma adotada na maioria das edições da Bíblia. Na época em que foram escritos os manuscritos não havia maiúsculas ou minúsculas, mas todos os caracteres tinham o mesmo formato.
Para que você aproveite ao máximo a leitura deste livro, tenha sua Bíblia à mão e leia antes a passagem indicada no início de cada capítulo. Sem a leitura bíblica os meus comentários não farão muito sentido para você e você perderá boa parte da compreensão do contexto. No momento em que reviso este material para o formato livro, os vídeos na Web já receberam alguns milhões de visualizações. Provavelmente você encontrará algumas falhas de digitação por ser um trabalho feito nas horas vagas, mas estas poderão ser corrigidas numa futura edição. Que Deus possa ser glorificado neste trabalho e que muitas almas sejam salvas e abençoadas por sua Palavra.
Mario Persona
www.3minutos.net
Novembro, 2015
Lucas
Cada evangelho apresenta Jesus em um diferente caráter. Mateus mostra o Rei prometido a Israel e seu texto é repleto de expressões do tipo “cumpriu-se o que fora dito pelo profeta”. Ali a genealogia de Jesus é desde o Rei Davi. Mateus, um coletor de impostos, conhecia os assuntos do governo real, enquanto Marcos é visto em Atos atuando como servo dos apóstolos. Seu evangelho revela o Servo Jesus, portanto não espere encontrar uma genealogia no currículo de um servo.
No evangelho de João, Jesus é o Deus eterno, sem começo nem fim, e mesmo assim acessível ao homem. João é o “discípulo amado”, aquele que se reclinava sobre o peito de Jesus. Agora temos Lucas, um médico, descrevendo Jesus do modo como só um médico poderia fazê-lo: como um ser humano. Neste evangelho a genealogia começa em Adão, o primeiro exemplar de humanidade.
Rei, Servo, Homem e Deus. É assim que Jesus é apresentado nos evangelhos. Qualquer coisa menos que isso não vem de Deus. E por falar em Escrituras, Lucas nos dá uma boa pista de como elas foram inspiradas. Lucas, ao contrário dos outros três evangelistas, aparentemente não teve contato direto com Jesus. Ele não foi um apóstolo, como foram Mateus e João, e mesmo assim Deus quis usá-lo para apresentar o Filho eterno de Deus.
Os primeiros quatro versículos nos ajudam a entender que os textos inspirados não foram psicografados ou escritos sob algum tipo de transe mediúnico. Os escritores não foram usados como meras carcaças possuídas, mas estavam no total controle de suas faculdades mentais. Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, deixa claro que “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Pois Deus não é Deus de desordem, mas de paz” (1 Co 14:32-33).
Aquele que profere algo da parte de Deus — e este é o sentido de profetizar — não perde o controle de si, não muda o tom da voz e nem se debate como se fosse um fantoche de alguma entidade espiritual. Isso você encontra nos rituais pagãos e demoníacos, não nas coisas de Deus. Portanto esteja ciente de que nem tudo o que é apresentado hoje como vindo de Deus vem realmente de Deus. Histeria, fingimento e possessão demoníaca estão entre as coisas que fazem alguém perder o controle de si querendo se passar por profeta de Deus.
Devemos ser sábios, prudentes e diligentes para discernir o que é de Deus e o que não é, e nos próximos 3 minutos veremos Lucas fazendo assim, enquanto relata a Teófilo este interessantíssimo relato da vida de Jesus. Mas quem é Teófilo? Saiba nos próximos 3 minutos.
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A inspiração divina
A Bíblia não diz quem era Teófilo, mas é fácil imaginar que pode ser qualquer um, inclusive eu e você. O nome grego é composto por duas palavras, “Teo”, que significa “Deus”, e “filo”, que é “Amigo”. Se você é amigo de Deus, então Teófilo é você. No livro de Atos, Lucas continua escrevendo a Teófilo, portanto aquele livro é a continuação deste evangelho.
A Bíblia é um conjunto de livros, cada um trazendo o estilo característico de seu autor humano e da inspiração divina. Deus não suprimiu as características individuais dos instrumentos que inspirou, assim como o músico não suprime as características do instrumento que toca — e todo músico sabe que mesmo dois instrumentos idênticos emitem, cada um, o seu som característico.
Como um jornalista em um trabalho investigativo, Lucas fez uma pesquisa minuciosa, entrevistando pessoas que conviveram com Jesus. Seu evangelho, o mais detalhado dos quatro, foi escrito uns 30 anos após a morte e ressurreição de Jesus, quando muitas testemunhas dos fatos ainda viviam. A hora era perfeita para evitar a distorção causada pela tradição oral. Mas será que isto quer dizer que o texto não é inspirado? Ao contrário, isto mostra que Lucas não escreveu uma lenda, mas baseou-se em fatos.
A prova da inspiração você descobre nos detalhes impossíveis de serem conhecidos por Lucas ou seus entrevistados. É o caso das impressões, sentimentos e eventos reservados. Por exemplo, como Lucas iria saber que Zacarias e Isabel “eram justos aos olhos de Deus”, se o próprio Deus não tivesse lhe revelado esta impressão? Ou como poderia escrever da angústia de Jesus em sua oração no Monte das Oliveiras? Ou de seu suor, como gotas de sangue e do anjo que o confortava, se os discípulos estavam dormindo e ninguém mais viu aquilo?
Veja que interessantes estas duas citações de 1 Timóteo 5:18: “A Escritura diz: ‘Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal’, e ‘o trabalhador merece o seu salário’”. Paulo cita uma passagem do Antigo Testamento e outra de Lucas 10, chamando ambas de “A Escritura”, termo sempre usado para a Palavra de Deus. Paulo, que escreveu pouco depois de Lucas, já atribuía ao seu texto o status de Sagradas Escrituras. E Pedro, no capítulo 3 de sua segunda carta, chama de “escrituras” também as cartas de Paulo.
Crer em Jesus implica crer também na Bíblia como a Palavra de Deus. Afinal, como você teria conhecido Jesus se não fosse pela revelação feita aos quatro evangelistas e confirmada pelas epístolas dos apóstolos? Nos próximos 3 minutos vamos conhecer Zacarias.
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Resposta tardia
Zacarias é um dos sacerdotes que se revezam no serviço do templo de Jerusalém. Sua posição é privilegiada, porém, apesar de sempre ter orado por um filho, sua esposa Isabel é estéril e eles já são velhos. Para um judeu, cujas bênçãos incluíam saúde, filhos e prosperidade, a esterilidade era motivo de tristeza e desonra.
Ao entrar no templo para oferecer incenso, Zacarias não imagina a surpresa que o espera: um anjo em pé à direita do altar de incenso. Zacarias leva o maior susto, mas o anjo o tranquiliza. Apresenta-se como Gabriel e avisa que sua oração foi ouvida: sua esposa dará à luz um filho que será chamado João. Ele será grande diante do Senhor e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus.
Se você entrasse em um lugar que era para estar vazio, e encontrasse alguém dizendo ser um anjo e anunciando que sua mulher idosa e estéril ficaria grávida de uma celebridade, você acreditaria? Nem Zacarias acreditou, e por causa de sua incredulidade ele ficará mudo até o nascimento da criança. Ao sair do templo ele só consegue se comunicar por sinais ou escrevendo. Mas sua incredulidade o impede de falar das grandes coisas que Deus preparou para ele.
A incredulidade nos priva de muitos privilégios. Durante anos Zacarias orou por aquela criança, e agora que Deus avisa que a encomenda está a caminho, ele duvida! Faz lembrar o caso de um grupo de lavradores que decidiram orar pedindo chuva. Enquanto caminhavam sob um céu sem nuvens até o lugar combinado, achavam graça da filhinha de um deles que levava um guarda-chuva debaixo do braço. Foi a única que voltou para casa de roupa seca.
A carta de Tiago, capítulo 5, diz: “A oração de um justo é poderosa e eficaz. Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Orou outra vez, e o céu enviou chuva” (Tg 5:16-18). Elias era alguém igualzinho a você, com defeitos, temores e inquietações. Mesmo assim ele orou e Deus atendeu.
Sabia que você pode contar com Deus em oração? Mas espere! Deus não é um mordomo ao seu comando. Ele sempre responde às nossas orações, mas às vezes a resposta é “Não!”. Outras vezes nós nem oramos e ele segue adiante com seus planos, porque é Deus. E é isso que irá fazer nos próximos 3 minutos, enviando o mesmo anjo Gabriel a uma jovem recém-saída da adolescência, para avisá-la de que ela ganhará um bebê. Porém a jovem Maria é solteira e virgem.
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Uma jovem singular
Zacarias e Isabel oravam por um filho e Deus atendeu suas orações, apesar de serem velhos e terem dúvidas se Deus responderia. Agora a visita do anjo não é a um velho sacerdote no templo de Jerusalém, mas a uma jovem chamada Maria.
Lucas não revela sua idade, mas naquela época e lugar as meninas deviam ter no mínimo 12 anos para se casarem, e os meninos 13. Maria deve ter entre 12 e 14 anos. Ela ainda não é casada com José, apenas desposada, uma espécie de noivado com status de casamento, porém sem relações sexuais. Maria é a virgem.
Mas por que dizer que ela é a virgem e não uma virgem? Porque é assim que Deus a chama na profecia de Isaías: “Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel” (Is 7:14). Setecentos anos antes Deus já tinha escolhido o ventre no qual seu Filho assumiria a forma humana.
Ela já tinha sido mencionada na primeira vez em que o evangelho foi proclamado no jardim do Éden. Em Gênesis lemos que Deus avisou Satanás: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3:15). A mulher seria Maria, e seu descendente, Jesus.
Por isso o anjo a chama de agraciada, isto é, beneficiada com graça. Ele não a chama de “cheia de graça”, como alguns costumam dizer, pois isto faria dela a fonte de graça, o que obviamente ela não é.
Imagine se você fosse uma jovem de treze anos e um homem aparecesse dentro de sua casa dizendo ser um anjo. Como você reagiria? Ficaria perturbada, como Maria fica aqui. Gabriel a tranquiliza explicando que ela tinha sido agraciada por Deus. Talvez ela ficasse mais tranquila se ele não continuasse a mensagem:
“Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim” (Lucas 1:31-33).
Como se a presença de um anjo já não fosse demais para ela, o que ele diz é de tirar o fôlego: ela irá engravidar, o filho terá um nome que significa “Jeová é o Salvador”, será um grande homem e ao mesmo tempo divino, o Filho do Altíssimo. Ele assumirá o trono de Davi e seu reino não terá fim.
Que Deus preparou Maria para isso não há dúvida. Que garota teria recebido tal informação sem desmaiar ou se desesperar? Maria não duvida do anjo, mas ela tem apenas uma pergunta, que faz nos próximos 3 minutos.
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Um Deus próximo e acessível
Maria não se desespera e nem duvida, ao ouvir da boca do anjo a notícia de que ela será mãe do Filho de Deus e futuro Rei de um reino sem fim. Deus a escolheu e a preparou para este momento. Ela teria o privilégio de ser a mãe de Jesus, mas antes Deus achou por bem avisá-la de seus planos. Este é o modo de Deus.
Embora nem sempre possamos conhecer todos os seus desígnios, ou compreender os que conhecemos, Deus gosta de se comunicar conosco e contar aquilo que acha importante sabermos. Ele fez assim quando o próprio Jesus, muito tempo antes de nascer aqui em um corpo de carne, apareceu em forma humana a Abraão acompanhado de dois anjos.
O objetivo da visita era avisar Abraão e Sara, já nos seus cem e noventa anos de idade respectivamente, que eles teriam um filho apesar de Sara ter sido estéril até ali. Ela não pôde deixar de rir da notícia, sendo repreendida pelo Senhor: “Existe alguma coisa impossível para o Senhor?” (Gn 18:14). Mas a visita ainda não tinha terminado. Abraão teria uma prova de quão perto e acessível é o Senhor daqueles que são seus e têm comunhão com ele.
“Então o Senhor disse: ‘Esconderei de Abraão o que estou para fazer?’”. O que ele estava para fazer era destruir Sodoma e Gomorra por causa do nível de iniquidade que seus habitantes tinham atingido. O Senhor não só dá a Abraão uma informação privilegiada, como permite que ele interceda pela população.
“Abraão aproximou-se dele e disse: ‘Exterminarás o justo com o ímpio? E se houver cinquenta justos na cidade? Ainda a destruirás e não pouparás o lugar por amor aos cinquenta justos que nele estão? Longe de ti fazer tal coisa: matar o justo com o ímpio, tratando o justo e o ímpio da mesma maneira. Longe de ti! Não agirá com justiça o Juiz de toda a terra?’. Respondeu o Senhor: ‘Se eu encontrar cinquenta justos em Sodoma, pouparei a cidade toda por amor a eles’” (Gn 18:22-33).
Abraão foi reduzindo o número de beneficiados por sua intercessão — 45, 40, 30, 20 e 10 —, sempre recebendo do Senhor a garantia de que não destruiria a cidade se encontrasse aquele número de justos. Infelizmente para os habitantes de Sodoma a intercessão de Abraão parou nos dez e Deus encontrou apenas quatro pessoas em condições de serem salvas da destruição: Ló, sobrinho de Abraão, sua esposa e duas filhas.
Por confiar no anjo Gabriel e no Deus acessível que o enviara para avisá-la que ela será a mãe do Filho de Deus, Maria sente-se à vontade para fazer a pergunta que não quer calar: “Como acontecerá isso, se sou virgem?” (Lucas 1:34). Nos próximos 3 minutos o anjo responde.
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Verdadeiro Deus
Gabriel não deixa Maria em suspense. Afinal, ela quer saber como poderá ser uma virgem mãe, e ainda mais de alguém tão extraordinário. Ele explica a Maria o inexplicável: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, o Santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lucas 1:35).
Tente imaginar a cena: Maria, uma jovem comum, morando em Nazaré, cidade da qual os judeus costumavam dizer que nenhuma coisa boa podia vir dali (Jo 1:46), e noiva do jovem José, que logo ficará sabendo que ela está grávida de outro. A coisa toda já seria estranha sem a informação de que tal concepção será virginal.
Mas o assunto de Deus em sua Palavra não é Maria, e sim Jesus. Tudo, de Gênesis a Apocalipse, gira em torno dele e felizes aqueles que são figurantes nos eventos estrelados pelo Filho de Deus. Maria é uma privilegiada, porém não foi por meio dela e para ela que Deus criou todas as coisas. Foi por Jesus e para Jesus.
“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens” — diz João na abertura de seu evangelho. Maria é mencionada pela última vez no início do livro de Atos. Ela não é mencionada nas epístolas ou cartas dos apóstolos.
A concepção virginal é uma verdade fundamental do cristianismo e qualquer pessoa ou religião que não a confesse não é de Deus. Trata-se de um evento sobrenatural, uma concepção do Espírito Santo. Outro ponto importante é que Jesus já existia antes. A concepção é o início apenas de sua história humana. João, em seu evangelho, explica que Jesus existia desde o princípio, ou seja, na eternidade, e em sua primeira epístola o chama de “Verdadeiro Deus”. Em Isaías 9:6, o mesmo versículo que anuncia sua vinda como um menino, ele é chamado de “Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz”.
Entenda também que Jesus já era Filho de Deus antes mesmo de vir em um corpo de carne, por ser uma das três Pessoas divinas da Trindade, juntamente com o Pai e o Espírito Santo. Ele era Filho de Deus antes, foi Filho de Deus durante sua vida aqui, e é Filho de Deus para sempre como Homem ressuscitado e glorificado. Ao nascer como um ser humano ele assumiu também títulos de Filho do Homem e Filho de Davi, ascendência garantida por sua linhagem humana.
Nos próximos 3 minutos veja qual foi a reação de Maria a tudo isso.
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Crendo sem razão
Ao contrário de Zacarias, que duvidou que sua esposa teria um filho, Maria não duvida. Apesar daquela estranha visita, ela crê no que o anjo diz: “nada é impossível para Deus” (Lucas 1:37). Maria reage como eu e você deveríamos reagir quando encontrássemos na Bíblia algo extraordinário demais para a razão. “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra”, diz Maria em uma atitude de total confiança e resignação.
O que tinha Maria para encarar a situação com tamanha tranquilidade? A fé que vem de um trabalho do Espírito Santo na alma. A fé e a disposição de crer no invisível. A mesma fé necessária para entender que “o universo foi formado pela Palavra de Deus, de modo que o que se vê não foi feito do que é visível” (Hb 11:3); a mesma fé da qual Paulo diz: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9).
O apóstolo Paulo escreveu que “quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente”, e também que “olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam” (1 Co 2:6-14).
Portanto, nem perca seu tempo tentando entender como Deus pode ser Um e ao mesmo tempo Pai, Filho e Espírito Santo. Ou como Jesus pôde vir ao mundo sem a participação de um pai humano; ou como a infinitude de Deus podia caber em um minúsculo embrião. E nem gaste fosfato usando a razão para compreender como aquele bebê indefeso viveu da infância à idade adulta, e terminou no céu como um Homem de carne e ossos.
Você pode crer em Jesus, pode amá-lo e conhecê-lo como seu Salvador, mas não poderá entender o mistério de sua humanidade. “Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai”, disse Mateus em seu evangelho (Mt 11:27). A fé cristã se baseia no fato de que Deus esteve no mundo em um corpo de carne, Jesus, e que este foi feito pecado por nós e entregou sua vida numa cruz. É impossível Deus morrer, mas Jesus morreu e ele nunca deixou de ser Deus. Entendeu? Nem eu. Mas eu creio mesmo assim.
Nos próximos 3 minutos acompanharemos Maria em sua visita à casa de Isabel para ouvi-las cantar.
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As grávidas se encontram
Maria, grávida de Jesus, faz uma visita a Isabel, grávida de João Batista. O encontro faz com que o bebê no ventre de Isabel fique agitado. Esta, cheia do Espírito Santo, começa a salmodiar e a bendizer Maria e o bebê em seu ventre. Aqueles mais familiarizados com a Palavra de Deus sabem que uma das consequências de se estar cheio do Espírito é falar “com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor” (Ef 5:19).
Duas coisas chamam a atenção nas palavras de Isabel. A primeira é que ela chama Maria de “mãe de meu Senhor”. Isabel reconhece que Jesus, ainda no ventre de Maria, é o Messias prometido a Israel. Maria passou a ser a mãe de Jesus quando ele foi concebido em carne no seu ventre. Apesar de Jesus ser Deus, em nenhum lugar na Bíblia você verá Maria sendo chamada de “mãe de Deus”. Chamar Maria de “mãe de Deus” é o mesmo que dizer que Deus não existia antes de Maria.
“Feliz é aquela que creu que se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse” (Lucas 1:45) — diz Isabel. Talvez ela esteja apontando o contraste entre a fé de Maria e a incredulidade de seu marido Zacarias, que ficou mudo por não acreditar no que o anjo lhe havia dito. Maria, ao contrário, creu e isto faz com que nos próximos versículos a sua boca se abra em louvor e adoração a Deus.
Uma das consequências da fé é a boca se abrir em testemunho, louvor e adoração. Você não se torna cristão por falar de Cristo, mas fala de Cristo por ser cristão. O apóstolo Paulo diz em sua segunda carta aos coríntios: “Cri, por isso falei. Com esse mesmo espírito de fé nós também cremos e, por isso, falamos, porque sabemos que aquele que ressuscitou ao Senhor Jesus dentre os mortos, também nos ressuscitará com Jesus” (2 Co 4:13-14).
O primeiro passo que você deve dar para ser salvo é falar com Deus, confessando sua condição de pecador e pedindo por salvação. Não por seus próprios méritos, sua caridade ou boas obras, mas confiando que Jesus pagou na cruz por todos os pecados que você cometeu e cometerá até o fim de sua vida aqui. Você deve reconhecer que Jesus é Senhor, dono absoluto do seu ser. Paulo expressa isso assim: “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação” (Rm 10:9-10).
Não deixe de fazer isso já, ou você não irá entender por que nos próximos 3 minutos Maria dirá que é pecadora e necessitada de um Salvador.
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O Salvador de Maria
Quando Isabel termina seu cântico bendizendo a Maria e ao fruto de seu ventre, é a vez de Maria dar início ao seu belíssimo cântico, que lembra em muitos aspectos o cântico de Ana, mãe do profeta Samuel, no Antigo Testamento. O cântico de Maria não é de exaltação própria, mas de reconhecimento de sua origem humilde e da graça que sobre ela foi derramada por Deus, dando a ela o privilégio de abrigar em seu ventre Jesus, o Salvador.
Suas primeiras palavras apontam o caminho para qualquer um que queira se aproximar de Deus: Primeiro, reconhecer e engrandecer o Senhor e, segundo, confessar sua condição de pecador e necessitado de um Salvador. É o que Maria faz ao dizer “a minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lucas 1:46). Maria não teria chamado a Deus de “meu Salvador” se não necessitasse de salvação como qualquer pecador. Eu acredito no que Maria disse, e espero que você não esteja entre os que duvidam dela.
No Antigo Testamento você encontra pelo menos três vezes a frase “não há quem não peque” (1 Rs 8:46; 2 Cr 6:36; Ec 7:20). Paulo cita uma dessas passagens na carta aos romanos ao dizer: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3:10-12). Ele está falando de mim, de você, de Maria e de todos os seres humanos, com exceção de Jesus, que não teve pai humano. Todos igualmente pecadores e necessitados de chamar ao Senhor de “meu Salvador”.
Ao reconhecer-se necessitada de um Salvador, Maria não incorre no pecado da mentira, do qual João fala em sua primeira epístola: “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1:8-10).
A pior coisa que alguém pode afirmar é que não é pecador. Os fariseus eram assim, e mais tarde Jesus diria a eles que “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento” (Lucas 5:31-32). Os que dizem que Maria era sem pecado podem ter boa intenção, mas não têm base bíblica. Jesus é o único que nasceu sem pecado e nem poderia pecar, por ser Deus e Homem.
Nos próximos 3 minutos Isabel tem um filho.
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O louvor de Zacarias
Isabel dá à luz um filho e os parentes acreditam que ele será chamado de Zacarias, o nome de seu pai. Mas ao oitavo dia Isabel revela que seu nome será João. Os parentes então “fizeram sinais ao pai do menino, para saber como queria que a criança se chamasse” (Lucas 1:62).
Zacarias havia ficado mudo por causa de sua incredulidade, quando o anjo anunciou que Isabel lhe daria um filho em sua velhice. Seus parentes precisam fazer sinais para perguntar o nome do bebê, o que sugere que ele também tenha ficado surdo. A incredulidade não apenas impede que você fale de Deus; a incredulidade também impede que você escute o que Deus quer falar a você.
Zacarias escreve numa tabuinha que o nome do menino será João, pondo fim à sua incredulidade e acatando o que Deus lhe havia preparado. Agora, cheio do Espírito Santo, ele passa a falar do que Deus fez. O normal seria que suas palavras fossem de agradecimento a Deus apenas por aquela criança, mas é de outra criança que Zacarias mais fala: de Jesus, o Cristo, o Messias prometido a Israel.
Embora Jesus ainda estivesse no ventre de Maria,
Zacarias coloca os verbos no passado, como se tudo já tivesse acontecido. Somente o Espírito Santo pode nos dar esta perspectiva, olhando para as promessas futuras de Deus como tão reais, que é como se já tivessem se concretizado.
Zacarias louva a Deus “porque visitou e redimiu o seu povo... promoveu poderosa salvação... na linhagem de seu servo Davi como falara pelos seus santos profetas, na antiguidade, salvando-nos dos nossos inimigos... para mostrar sua misericórdia aos nossos antepassados e lembrar sua santa aliança, o juramento que fez ao nosso pai Abraão...” (Lucas 1:68-75).
Mas espere um pouco! O que eu tenho a ver com o povo de Israel, do qual Zacarias faz parte? De que me interessa o que disseram os antigos profetas de um povo do Oriente Médio? De que inimigos ele está falando? Se o nome de Zacarias fosse Ching Ling, e no lugar de “Israel” estivesse escrito “China”, será que suas palavras fariam sentido para você. A menos que sejamos israelitas, o que não é o meu caso, nada disso faz sentido para quem pertence a outro povo, com outra história, outras tradições e outros antepassados.
Certamente o que Zacarias está falando não é para mim, e você vai entender melhor o que estou dizendo quando dissecarmos a Bíblia nos próximos 3 minutos.
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Dissecando a Palavra
O louvor de Zacarias, pai de João Batista, não faz sentido para quem não é judeu, descendente de israelitas e vivendo na expectativa do estabelecimento do Reino prometido ao rei Davi, com a destruição de seus inimigos. Para quem nasceu no Brasil, é descendente de europeus, africanos, asiáticos, Etc. e não tem sangue judeu, as palavras de Zacarias parecem uma carta enviada ao endereço errado.
Quando o apóstolo Paulo escreveu ao jovem Timóteo, ele disse algo muito importante: “Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja corretamente a palavra da verdade” (2Tm 2:15). O verbo traduzido em nossas versões por “manejar” tem no original grego o sentido de “dissecar”. Isto mesmo, como faz um médico legista com seu bisturi, separando e identificando cada órgão e sua função no corpo.
Devemos fazer o mesmo com a Palavra de Deus, dividindo, separando e identificando cada passagem para aplicá-la da maneira correta. Isto se faz perguntando: O que Deus disse? A quem falou? Quando? Onde? Em que circunstâncias? Com que objetivo? Visando qual povo, época e lugar?
Por exemplo, muita gente tenta encaixar no cristianismo coisas que foram ditas explicitamente no contexto do judaísmo. O resultado é a confusão de doutrinas e igrejas que você encontra na cristandade, além de uma multidão de pessoas decepcionadas porque as promessas que viram no Antigo Testamento ou mesmo nos Evangelhos não funcionaram para elas. Não funcionaram porque não eram para elas.
O cristão precisa aprender a dissecar a Palavra da Verdade e entender como dividir a história da humanidade a fim de entender como as coisas se encaixam nas diferentes dispensações. Por exemplo, em Efésios 3:2 você encontra mencionada a “dispensação da graça de Deus”. O verbo “dispensar” significa conceder algo dentro de certas condições. E foi o que Deus fez com os homens: em diferentes momentos da história ele concedeu condições, responsabilidades e promessas distintas aos homens, tratando-os de um modo distinto em cada dispensação.
Nos próximos 3 minutos vamos fazer algumas incisões na Palavra de Deus para identificar as principais dispensações ou maneiras de Deus tratar com os seres humanos.
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Dispensações
A palavra grega usada para dispensação significa literalmente “administração de uma casa” ou “Economia”. Na Bíblia tem o sentido de o modo de Deus tratar com o homem de diferentes maneiras nas diferentes épocas. No jardim do Éden Deus tratou com o homem em um estado de inocência. De Adão e Eva exigia-se apenas obediência a uma única ordem, havendo uma pena para o caso de falharem. E eles falharam ao duvidarem de Deus e darem crédito a Satanás.
Com a queda o homem deixou de ser inocente e se tornou responsável. Deus passou a tratá-lo com base na consciência que o homem passou a ter do bem e do mal, muito embora fosse incapaz de evitar o mal e não tivesse poder para praticar o bem. Do mesmo modo como ocorreu com dispensação da inocência, a dispensação da consciência terminou em ruína. A degradação do ser humano chegou a tal ponto que Deus precisou destruir o mundo com um dilúvio.
A única família salva foi a de Noé, que inaugurou a dispensação do governo, por ter sido ele a primeira pessoa a ser revestida por Deus de autoridade para julgar seus semelhantes e aplicar a pena de morte quando necessário. Essa dispensação terminou igualmente em ruína. A torre que os homens construíram em Babel atraiu o juízo de Deus, que confundiu suas línguas e os dispersou.
Veio então a dispensação da promessa, quando Deus ordenou que Abraão saísse da terra dos caldeus e fosse para uma terra que lhe seria dada por herança. Abraão saiu tão somente por fé, sem saber qual seria o seu destino. Aquela dispensação da promessa terminou em ruína, com seus descendentes escravizados no Egito.
Após libertos da escravidão os israelitas receberam a dispensação da Lei, que era na base da causa e efeito: faça isso e viverá; faça aquilo e morrerá; obedeça e será abençoado; desobedeça e será amaldiçoado. Mais uma vez o homem fracassou e Deus inaugurou a dispensação da graça enviando o seu Filho. Com a vinda de Jesus “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões” (2 Co 5:19).
A história do homem na terra termina com a dispensação do Reino de Cristo durante o milênio. Ela é também chamada de “dispensação da plenitude dos tempos” (Ef 1:10). Se os profetas do Antigo Testamento olhassem para a história da humanidade como uma linha numa folha de papel, eles não conseguiriam ver uma parte que estaria escondida deles. Seria como se a folha tivesse sido dobrada na dispensação da graça de Deus. O que ficou escondido dos profetas do Antigo Testamento é o que veremos nos próximos 3 minutos.
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O Parêntese
O apóstolo João diz no primeiro capítulo de seu evangelho que “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17). Ele revela assim um novo modo de Deus tratar com o homem, e dentro desse período vemos algo que não existia no Antigo Testamento e nem nos evangelhos: a igreja.
Jesus revelou em Mateus 16 que iria edificar a igreja em um tempo ainda futuro. Portanto a igreja não existia no tempo dos evangelhos, quando ainda vigorava o judaísmo. Se você fosse um discípulo de Jesus iria participar de todas as atividades, festas e costumes do judaísmo. Se fosse homem seria circuncidado, iria ao templo de Jerusalém, ofereceria sacrifícios de animais, daria o dízimo, não comeria carne de porco, não trabalharia no sábado, Etc. Você não seria cristão; você seria judeu.
Porém no capítulo 2 de Atos tudo muda: o Espírito Santo vem habitar na terra — na igreja, coletivamente, e em cada crente individualmente. Se o Filho de Deus nunca tinha habitado na terra antes, o mesmo aconteceu com o Espírito Santo. Com a morte, ressurreição e ascensão de Jesus, o Consolador pôde descer conforme havia sido prometido para habitar na terra, algo inédito até então. Deus colocava de lado a nação de Israel para tratar com um povo novo: a igreja, formada por judeus e gentios convertidos a Cristo. No passado Deus reconhecia a existência de dois tipos de pessoas: judeus e gentios. Agora ele reconhece três: judeus, gentios e igreja de Deus (1 Co 10:32).
O apóstolo Paulo, a quem foi confiado esse segredo que nenhum dos profetas do Antigo Testamento tinha previsto, também recebeu de Deus a revelação de que Israel seria deixado de lado por um tempo. É o parêntese, o período em que o relógio profético parou de bater até que termine o tempo da igreja na terra. Paulo fala disso aos romanos: “Irmãos, não quero que ignorem este mistério, para que não se tornem presunçosos: Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegasse a plenitude dos gentios” (Rm 11:25).
Quando o último membro for acrescentado ao corpo, que é a igreja, terá sido atingido a “plenitude dos gentios” e Cristo levará sua igreja para o céu. “Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre” (1Ts 4:16-17).
Mas o que acontecerá aos que forem deixados para trás nesse arrebatamento? É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Deixados para trás
Nos últimos 3 minutos falei do fechamento da janela de oportunidade que é o tempo da igreja na terra. Assim que o último membro do corpo de Cristo for acrescentado, Jesus voltará para buscar os que lhe pertencem. No arrebatamento da igreja Jesus desce entre nuvens para se encontrar com os seus nos ares, a meio caminho do céu. Sete anos mais tarde, na sua vinda gloriosa para estabelecer o Reino, ele colocará os pés no chão, no Monte das Oliveiras.
O arrebatamento é o sinal para que o relógio profético volte a bater. As profecias do Antigo Testamento param na morte do Messias e destruição do templo e da cidade de Jerusalém. No capítulo 9 do livro do profeta Daniel faltavam apenas 7 anos para o Messias voltar para reinar, mas já se passaram mais de dois mil. É por isso que chamei o período da igreja de um parêntese na profecia; uma lacuna que os antigos profetas não sabiam que iria existir. Mas agora você sabe.
Nos sete anos após o arrebatamento ocorre o que você encontra em Daniel 9:27 e a partir do capítulo 4 de Apocalipse. O templo é reconstruído, o anticristo manifestado, o remanescente judeu fiel perseguido e martirizado, enquanto outros são preservados para entrarem no reino de mil anos de Cristo na terra.
É nessa época que o evangelho do Reino será pregado até os confins da terra, antes que venha o fim. É disso que fala Mateus 24, quando o remanescente judeu que perseverar até o fim ficará a salvo para entrar no reino. É quando Cristo vem para julgar as nações, como descreve o capítulo 25 de Mateus. As “ovelhas”, ou os que acolheram e protegeram o remanescente de judeus fiéis, terão o privilégio de participar do reino na terra. Os “bodes”, que perseguiram esses “pequeninos irmãos” de Jesus, serão mortos. Mas em que grupo estará quem escutou o evangelho e foi deixado para trás no arrebatamento? No grupo dos “bodes”.
O capítulo 2 de 2 Tessalonicenses explica que esses “rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar. Por essa razão Deus lhes envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira, e sejam condenados todos os que não creram na verdade” (2Ts 2:10-12). Para quem hoje escuta o evangelho e não crê, o arrebatamento será como a morte: encerrará a chance de ser salvo. Apenas os que nunca ouviram o evangelho poderão crer nesse período; os demais crerão na mentira do anticristo. Portanto, se você planeja tomar uma decisão depois do arrebatamento, não se iluda. Deus irá obrigá-lo a crer na mentira, por ter rejeitado a verdade.
Nos próximos 3 minutos voltaremos ao evangelho de Lucas para descobrir como Deus irá resolver o problema de Jesus, que deve nascer em Belém.
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Belém
Maria creu nas palavras do anjo, de que de seu ventre sairia o Emanuel, ou “Deus conosco”. Afinal, mesmo sem ter uma relação sexual ela tinha ficado grávida após o Espírito Santo vir sobre ela e o poder do Altíssimo a cobrir com sua sombra. O bebê, chamado pelo anjo de “Filho de Deus”, foi chamado por Isabel de “Senhor”.
Maria e Isabel sabem da promessa feita pelo profeta Isaías: “Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel” ou “Deus conosco” (Is 7:14). O mesmo profeta previu: “Um menino nos nasceu... E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão, desde agora e para sempre” (Is 9:6-7).
Mas onde nasceria o menino? Maria sabe, pois o profeta Miquéias avisou: “E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5:2). Portanto Maria ficaria grávida virgem, seu filho seria o “Deus conosco”, ele assumiria o trono de Davi e estabeleceria um reino de paz sem fim. Por ser Deus, ele existiria “desde os dias da eternidade”.
Mas espere! O profeta Miquéias disse que o Messias nasceria em “Belém”? Maria mora em Nazaré, a 150 quilômetros de distância ou um mês de caminhada. Ou o bebê não é o Messias prometido a Israel, ou algo precisa acontecer para colocar aquela jovem grávida na hora e lugar previstos para o parto. É o que acontece no primeiro versículo do capítulo 2 de Lucas:
“Naqueles dias César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano... E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se. Assim, José também foi da cidade de Nazaré da Galileia para a Judéia, para Belém, cidade de Davi, porque pertencia à casa e à linhagem de Davi. Ele foi a fim de alistar-se, com Maria” (Lucas 2:1-5).
O livro de Provérbios diz que “o coração do rei é como um rio controlado pelo Senhor; ele o dirige para onde quer” (Pv 21:1). Nem o imperador romano sabe que está sendo uma marionete nas mãos de Deus. Assim é com todos os governantes, por mais que eles acreditem que sejam eles que estão no controle.
Nos próximos 3 minutos José e Maria descobrem que no mundo não há vaga para Jesus.
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Não havia lugar
Vimos Deus movendo ao seu bel prazer o governante mais poderoso da terra para que Maria estivesse no lugar previsto pelo profeta para o nascimento de Jesus. Se, por um lado, Deus manipula os reis para cumprir seus propósitos, por outro ele chama os desprezíveis para fazerem parte de sua família. Por isso Tiago escreve: “Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tg 2:5).
Quem é verdadeiramente pobre não tem em que se agarrar no dia da necessidade; não se apoia em seus bens, na sua justiça, nas boas obras ou qualquer capacidade que possa usar como moeda de troca para sua salvação. Deus não quer os abastados, mas os necessitados; não busca os sãos, mas os enfermos; não se impressiona com os sábios, pois quer os loucos. Ao dirigir-se aos cristãos congregados na cidade de Corinto, o apóstolo Paulo escreveu:
“Pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele” (1 Co 1:26-29).
José e Maria são pobres, por isso não conseguem vaga em Belém. Sem dinheiro, poder ou influência, só lhes resta colocar o recém-nascido Jesus num caixote usado para alimentar o gado. Lucas explica a razão: “Porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2:7). Há dois mil anos Deus veio ao mundo na forma humana e não encontrou lugar.
Nada mudou desde então. Não se iluda com tantas religiões, catedrais e monumentos criados pelo homem: o mundo continua não tendo lugar para Jesus. Ao criticar os fariseus, que adoravam e serviam a Mamom, o “deus dinheiro”, Jesus afirmou: “Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus” (Lucas 16:15).
Se você tem procurado por Jesus entre os que vivem falando em dinheiro e buscando prosperidade, você está no lugar errado. “Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” (Tg 2:5). Ali não tem lugar para Jesus, nesses lugares onde você busca prosperidade.
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Numa manjedoura
Neste capítulo 2 do evangelho de Lucas fomos transportados dos ricos aposentos reais de César Augusto em Roma para um sujo estábulo em Belém, onde um casal pobre acomoda numa manjedoura o recém-nascido Jesus. “Porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2:7). Agora somos levados à zona rural, a alguns pastores de ovelhas do turno da noite, os menos qualificados daquela profissão.
“Um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles”, e o anjo lhes diz: “Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura”. Então “uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor’” (Lucas 2:9-14).
O anúncio do Filho de Deus vindo ao planeta Terra na forma humana não é dado ao clero, mas a homens simples que trazem no peito um coração de criança para crer nas coisas de Deus. Por quê? Porque o clero judeu espera o Messias vindo em poder e glória e não acreditaria que o Salvador do mundo pudesse entrar em cena na forma de um “bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
Se você busca a verdade, saiba que ela não está com os líderes religiosos. Estes estão muito ocupados com seus dogmas, cargos e posições para crerem na simplicidade da Palavra de Deus ou reconhecerem que a verdade é dada aos simples. O conhecimento de Deus não vem das faculdades de teologia, mas do que o Espírito Santo ensina por intermédio dos diferentes dons dados à igreja.
Em 1 Coríntios 14:26-40 há instruções claras de como os cristãos devem se reunir. “Quando vocês se reúnem... falem dois ou três, e os outros julguem cuidadosamente o que foi dito. Se vier uma revelação a alguém que está sentado, cale-se o primeiro. Pois vocês todos podem profetizar, cada um por sua vez, de forma que todos sejam instruídos e encorajados”. Repare que ali não há um líder à frente da congregação, pois é o Espírito Santo quem dirige a reunião e distribui os dons conforme ele quer. Acaso é assim no lugar onde você congrega? Se não for, prefira a ordem de Deus ao invés da organização do homem.
Nos próximos 3 minutos saiba o que acontece quando Jesus entra no mundo e na vida das pessoas.
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O impacto de Deus conosco
O mundo não será o mesmo a partir deste momento e três coisas marcam a chegada de Jesus ao planeta Terra. Primeiro, os céus se enchem de regozijo por Deus ter vindo ao mundo em forma humana. Os humildes pastores são envoltos pelo resplendor da glória de Deus e uma multidão dos exércitos celestiais irrompe em louvores dizendo: “Glória a Deus nas alturas”.
O apóstolo João mais tarde iria dizer: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. A vida se manifestou; nós a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada” (1 Jo 1:1-2).
O segundo efeito é que o mal e o pecado, que arruinaram a Criação de Deus, estão com os dias contados. Deus não vem ao mundo em glória vingativa contra o pecador, mas como um indefeso bebê, nascido pobre e trazendo salvação, misericórdia e graça para um mundo perdidamente culpado. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados” (2 Co 5:19). Os anjos continuam com seu clamor, que diz: “...paz na terra”.
A terceira consequência da presença do Filho de Deus no mundo é a revelação da afeição de Deus por suas criaturas: “paz... aos homens, a quem ele quer bem”. Deus ama a humanidade, e o livro de Provérbios expressa isso: “Regozijando-me no seu mundo habitável e enchendo-me de prazer com os filhos dos homens” (Pv 8:31). O Salmo 85 resume o resultado dessa visita tão ilustre: “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram. A verdade brotará da terra, e a justiça olhará desde os céus. Também o Senhor dará o que é bom, e a nossa terra dará o seu fruto. A justiça irá adiante dele, e nos porá no caminho das suas pisadas” (Sl 85:10-13).
Tudo isso está representado nessa criança, despercebida pelos que são do mundo, porém aclamada pelos habitantes do céu. É preciso ter a fé dos pobres pastores para enxergar a grandiosidade deste evento. “Vamos a Belém”, dizem eles, “e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos deu a conhecer”. “Então correram para lá e encontraram Maria e José, e o bebê deitado na manjedoura. Depois de o verem, contaram a todos o que lhes fora dito a respeito daquele menino e todos os que ouviram o que os pastores diziam ficaram admirados” (Lucas 2:15-18).
Nos próximos 3 minutos, conheça Simeão.
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Simeão
Na carta aos Gálatas, Paulo escreve que “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gl 4:4-5). Ao anunciar o nascimento de Jesus aos pastores o anjo disse que as boas novas eram “para todo o povo”, isto é, o povo de Israel, e não “para todos os povos”.
O evangelho de João diz que Jesus veio “para o que era seu” [o povo de Israel], mas quando “Os seus não o receberam” Deus ampliou o alcance da sua graça, e “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (Jo 1:11-12). É por isso que vemos Maria e José cumprindo os preceitos da Lei. Eles circuncidam Jesus ao oitavo dia e fazem o ritual da purificação de Maria quarenta dias após o parto. A oferta pela purificação revela que eles eram pobres. O casal oferece dois pombinhos, e não um cordeiro de um ano, que era a oferta que a Lei determinava para quem tivesse recursos.
Ainda seguindo o ritual judaico, Maria e José apresentam o menino no templo de Jerusalém, mas não sabem que já são esperados ali. Simeão, um dos poucos que esperavam pela vinda do Messias, tinha sido avisado pelo Espírito Santo que “não morreria antes de ver o Cristo do Senhor” (Lucas 2:25-26). E o mesmo Espírito faz com que ele vá ao templo na hora exata em que Maria e José chegavam com o menino. Tomando a criança em seus braços, Simeão profetiza:
“Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua palavra; pois já os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste perante a face de todos os povos; luz para iluminar as nações”. Ele profetiza da época atual, quando Jesus traz salvação a todos os que crerem, e os levará quando vier arrebatar sua igreja. Então Simeão continua dizendo, “e para glória de teu povo Israel”, referindo-se à volta de Jesus para libertar o povo de Israel e reinar sobre eles (Lucas 2:27-32).
A vinda de Cristo ocorre em etapas: Jesus veio para os judeus, e estes não o receberam. Então Deus reuniu um povo formado por judeus e gentios ao qual chamou de igreja, cujo período pode terminar a qualquer momento com a volta secreta de Jesus no arrebatamento. A partir daí Deus voltará a tratar com o povo de Israel em grande tribulação, para salvar um remanescente e cumprir todas as promessas que fez a esse povo no Antigo Testamento, introduzindo-o em seu reino de mil anos de justiça e paz na terra. Enquanto isso a igreja estará habitando no céu.
Nos próximos 3 minutos Maria descobre que uma espada traspassará sua alma.
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A espada
José e Maria ficam maravilhados com as promessas que Deus tem para gentios e judeus envolvendo aquela criança. Mas as palavras que agora fluem da boca de Simeão, inspirado pelo Espírito Santo, são graves e tristes. O mesmo menino estaria destinado a ser motivo de queda e elevação de muitos em Israel.
A presença de Jesus iria testar a humanidade. Aqueles que orgulhosamente resistissem a ele seriam punidos por sua incredulidade. Essa fila seria puxada principalmente pelo clero. Enquanto isso, os humildes, arrependidos de seus pecados e reconhecendo em Jesus o Salvador, seriam abençoados. Nesse grupo estariam os ladrões, prostitutas e coletores de impostos convertidos.
Jesus seria ainda um sinal de contradição ou pedra de tropeço para muitos, pois sua presença santa e sem mácula causaria, por si só, um contraste com o pecado e a impiedade do homem. Os homens não poderiam suportar tamanha luz denunciando a imundície de seus corações, por isso se voltariam contra Jesus.
Maria não passaria incólume a tudo isso e uma espada traspassaria sua alma quando visse o seu filho querido pregado numa cruz como um criminoso qualquer. Naquele momento todas as suas esperanças, de ser ele o Messias e libertador, seriam abaladas, como aconteceria também com os outros discípulos.
A presença de Jesus, o próprio Verbo divino, seria uma espada afiada para cada um que tivesse contato com ele. “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e intenções do coração. Nada, em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus. Tudo está descoberto e exposto diante dos olhos daquele a quem havemos de prestar contas” (Hb 4:12-13).
Desde a época em que Simeão disse estas coisas nada mudou em relação às pessoas. Não há posição neutra quando o assunto é Jesus. Ou você crê nele como um Salvador amoroso e misericordioso, e desfruta agora mesmo do perdão de seus pecados, ou terá de se encontrar com ele como um juiz justo e implacável. A decisão é tomada aqui e agora, pois ninguém sabe o que reserva a próxima batida de seu coração. Ou a falta dela.
Nos próximos 3 minutos, saiba o que Ana estava fazendo no templo de Jerusalém.
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Crer, esperar e servir
Assim como foi na primeira vinda de Jesus, hoje são poucos os que realmente o aguardam. A maioria dos cristãos espera por eventos que precederão a vinda de Cristo para reinar neste mundo, como a pregação do evangelho do Reino em toda a terra, a tribulação e o anticristo. Poucos aguardam pelo Senhor que descerá a qualquer momento para encontrar-se com sua igreja nos ares. O apóstolo Paulo já vivia nesta expectativa em seus dias, incluindo-se entre os vivos que seriam transformados para subir ao céu junto com os ressuscitados.
Neste capítulo 2 de Lucas vemos que não é o rei de Israel, no conforto de seu palácio, que espera pelo Messias, mas os humildes pastores que dormem ao relento. No templo em Jerusalém, não é o clero que aguarda o Sumo Pastor, mas os idosos Simeão e Ana em constante vigília. E não é em um lar próspero que o Salvador vem ao mundo, mas entre dois jovens pobres que sequer têm condições de comprar um cordeiro para o sacrifício.
Aqui cada um representa uma característica dos que hoje esperam pela volta Senhor. Temos José e Maria, que buscam obedecer as Escrituras. Sendo judeus, a responsabilidade deles está em cumprir a Lei do Antigo Testamento. Hoje o cristão não tem uma Lei para seguir, mas a completa Palavra de Deus, que inclui a doutrina dos apóstolos. Ele tem o Espírito Santo habitando em si, para aplicar a Palavra na forma de edificação, exortação e consolação. Para o cristão, o Antigo Testamento não é uma lista de regras como era para o judeu, mas traz princípios, tipos e figuras que o ajudam a entender o Novo Testamento.
Enquanto José e Maria obedecem as Escrituras, os pastores creem no que o anjo diz. É preciso fé para enxergar em um bebê pobre dormindo numa manjedoura o Messias e Rei libertador de Israel. Simeão é um exemplo para nós da paciência daquele que espera sem nunca desistir e tem sua perseverança recompensada. A viúva Ana também espera, e há mais de oitenta anos é presença constante no templo de Jerusalém servindo a Deus noite e dia. Obedecer as Escrituras, crer, esperar e servir — são estas as características daqueles que aguardam o Senhor.
Mas há um fato curioso aqui: Por que Lucas, inspirado pelo Espírito Santo, teria se dado ao trabalho de especificar que Ana era “da tribo de Aser”? A resposta está nos próximos 3 minutos.
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O lugar escolhido por Deus
No Antigo Testamento Deus estabeleceu um lugar onde o povo de Israel deveria adorar e oferecer sacrifícios. Os israelitas não deviam adorar a Deus no lugar que bem entendessem ou do modo como os pagãos adoravam seus ídolos. O capítulo 12 do livro de Deuteronômio continha instruções específicas:
“[Vocês] procurarão o local que o Senhor, o seu Deus, escolher dentre todas as tribos para ali pôr o seu nome... Então, para o lugar que o Senhor, o seu Deus, escolher como habitação do seu nome, vocês levarão tudo o que eu lhes ordenar: holocaustos e sacrifícios, dízimos e dádivas especiais... Tenham o cuidado de não sacrificar os seus holocaustos em qualquer lugar que lhes agrade. Ofereçam-nos somente no local que o Senhor escolher numa das suas tribos” (Dt 12:4-14).
Esse lugar seria Jerusalém e o Templo construído por Salomão. Após a morte de Salomão o reino se dividiu em dois: Judá e Israel. Roboão, filho de Salomão, reinou sobre Judá, o reino formado pelas tribos de Judá e Benjamim com sede em Jerusalém. O outro reino, formado pelas outras dez tribos, era chamado de Israel e tinha como rei Jeroboão e sua capital era Samaria.
Para evitar que as dez tribos fossem a Jerusalém adorar no único lugar genuíno, Jeroboão construiu dois santuários “piratas”: um em Dã, ao norte de Israel, e outro em Betel, ao sul. Nos anos que se seguiram tanto Judá como Israel abandonaram as Escrituras e voltaram as costas a Deus. Até surgir Ezequias, o piedoso rei de Judá que reabriu o Templo e restaurou o culto ao Senhor.
Ele sabia que aos olhos de Deus Israel era um só povo. Por isso ao restaurar a celebração da páscoa enviou mensageiros também às dez tribos de Israel, convidando-as para virem ao lugar onde Deus colocou o seu nome. “Os mensageiros foram de cidade em cidade, em Efraim e em Manassés, e até em Zebulom, mas o povo zombou deles e os expôs ao ridículo” (2 Cr 30).
Anos depois os assírios invadiram Samaria e levaram cativas as dez tribos, que desapareceram ao se misturarem com outros povos. O povo que vemos nos tempos dos evangelhos, e que hoje conhecemos como Israel, é formado apenas pelas tribos de Judá e Benjamim. Então o que Ana, que era da tribo de Aser, estava fazendo no Templo neste capítulo 2 do evangelho de Lucas?
Quando os mensageiros de Ezequias convidaram as dez tribos para celebrarem a páscoa, “alguns homens de Aser, de Manassés e de Zebulom humilharam-se e foram para Jerusalém”, diz o capítulo 30 de 2 Crônicas. Ana devia ser descendente desses de Aser, que podem ter permanecido no lugar escolhido por Deus e assim escapado do cativeiro assírio e da perda de identidade como povo de Deus. Ana tinha boas razões para considerar o Templo um lugar seguro, e é lá que vamos encontrar Jesus aos doze anos de idade nos próximos 3 minutos.
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Procurando por Jesus
Quando Jesus completa doze anos, ele viaja com sua família a Jerusalém, como costumavam fazer todos os anos. Ali era o único lugar autorizado pelas Escrituras para os judeus celebrarem a Páscoa. O evangelho de Lucas é o que traz mais detalhes dos primeiros anos de Jesus, e esta parte em especial é de grande instrução.
Depois da celebração, José e Maria viajam com um grupo de amigos e familiares de volta para casa, sem perceber que Jesus ficou para trás. Eles seguem despreocupados, achando que o menino estivesse com os parentes e amigos da caravana, mas ao perceberem sua falta, decidem voltar a Jerusalém. São necessários três dias até encontrarem o menino no Templo.
Existe uma lição para aqueles que já creem em Jesus e pensam que o fato de estarem com seus irmãos em Cristo seja o mesmo que estar em comunhão com Jesus. Não é bem assim que funciona. Por mais importante que seja a comunhão com os irmãos, nada substitui uma comunhão individual na presença de Jesus, ocupando-se com ele e com sua Palavra, em meditação, oração e ações de graças.
José e Maria levaram apenas um dia para perder o contato com Jesus, mas foram necessários três dias para restabelecer esse contato. Assim é conosco. É fácil perdermos a comunhão com Jesus, porém é mais difícil restaurá-la. Felizmente nisto também podemos contar com a graça e a compaixão de Deus.
“Depois de três dias o encontraram no templo, sentado entre os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. Todos os que o ouviam ficavam maravilhados com o seu entendimento e com as suas respostas” (Lucas 2:46-47). Alguns citam esta passagem dizendo que Jesus estaria ensinando os mestres de Israel, mas isto estaria fora de ordem, pois são os mais jovens que devem ser ensinados pelos mais velhos. Ali apenas diz que ele os ouvia, fazia perguntas e respondia quando lhe perguntavam, maravilhando a todos com suas respostas e seu entendimento.
Os últimos versículos deste capítulo demonstram que, apesar de ser Deus, Jesus é visto aqui também como um perfeito ser humano, sujeito a seus pais e às autoridades de sua época. Em sua humanidade ele crescia em “sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lucas 2:51-52). Porém o modo como responde à sua mãe quando é repreendido por ela nos revela algo mais. Este será o assunto dos próximos 3 minutos.
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Um espírito de enfermidade
José e Maria ficam perplexos quando encontram Jesus, aos doze anos de idade, conversando com os mestres da religião judaica no Templo de Jerusalém. Maria o repreende: “Filho, por que você nos fez isto? Seu pai e eu estávamos aflitos, à sua procura” (Lucas 2:48). A resposta de Jesus é cheia de significado:
“Por que vocês estavam me procurando? Não sabiam que eu devia estar na casa de meu Pai?”. Outras versões dizem: “Não sabiam que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” (Lucas 2:49). Estas palavras adquirem um significado ainda maior quando entendemos que judeu algum jamais ousaria chamar a Deus de Pai.
Esta passagem joga por terra as teorias que falam de Jesus como se fosse uma pessoa qualquer, que dos 12 aos 30 anos teria morado com os essênios ou viajado à Índia para aprender tudo o que sabia. Nós o vemos aqui aos doze anos, não só maravilhando os sábios de Israel com suas respostas e entendimento das Escrituras, como também consciente de ser o Filho de Deus vindo ao mundo para cuidar dos interesses do Pai.
Ao lermos que José e Maria “não compreenderam o que lhes dizia” (Lucas 2:50), percebemos que eles ainda não sabiam quem realmente era Jesus e qual o lugar que ele teria no futuro de Israel. Aqui Maria pode ser vista como uma figura de Israel em sua incredulidade. Assim como aconteceria depois também com os sacerdotes e fariseus, ela rejeita a ideia de que o templo seja o lugar onde Jesus deveria estar. Essa incredulidade dos judeus como nação os levaria a não reconhecer seu Rei e Messias e nem dar a ele o lugar a que tinha direito.
Em algum lugar perto dali uma mulher será tomada por um espírito que a deixará enferma e encurvada por doze anos. E por dezoito anos Jesus desaparece das páginas deste evangelho, para só retornar após trinta anos de idade e curar essa mesma mulher no capítulo 13. A mulher e sua enfermidade são uma figura da condição de Israel no tempo de sua atual rejeição contra o Messias. Paulo expressa isso no capítulo 11 de sua carta aos Romanos ao falar dos judeus:
“Deus lhes deu um espírito de atordoamento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até o dia de hoje... Escureçam-se os seus olhos, para que não consigam ver, e suas costas fiquem encurvadas para sempre” (Rm 11:8-10). Israel só será curado no futuro, quando Cristo voltar e for recebido por um remanescente fraco e desprezado, como aquele formado como Simeão e Ana.
Nos próximos 3 minutos uma voz clama no deserto.
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Uma voz no deserto
Depois dos reis Davi e Salomão, o declínio da nação de Israel teve diferentes fases. O reino dividiu-se em dois, mergulhou na idolatria e perdeu dez de suas doze tribos. Mesmo assim Deus preservou um remanescente fiel que não se deixou levar pela ruína generalizada, como vimos na história de Simeão e Ana.
Agora, no capítulo 3 do evangelho de Lucas, entra em cena João Batista, a “voz que clama no deserto”, e é assim que Israel é visto aqui: um deserto moral e dominado pelo inimigo. O versículo 1 explica que o povo está sob o domínio do imperador romano Tibério Cesar, e governado localmente por Pôncio Pilatos, Herodes, Filipe, Traconites e Lisânias, um time de escórias humanas.
Alguém poderia argumentar que as coisas melhoraram se comparadas com os anos de idolatria, já que o Templo foi reconstruído, a ordem sacerdotal restabelecida e os ídolos banidos do culto judaico. Mas é só aparência. O templo foi reconstruído pelo iníquo Herodes, o Grande, há dois sumo sacerdotes, Anás e Caifás, ao invés de um como seria o correto, e a idolatria continua. O ídolo da hora não é de pedra, pau ou barro; é a cobiça, travestida de religiosidade.
No capítulo 1 do livro do profeta Isaías, quando Deus descreve o estado deplorável do povo, ele os chama de “governantes de Sodoma... povo de Gomorra... raça de malfeitores, filhos dados à corrupção”. Depois de detalhar a iniquidade em que mergulharam e a aparência de piedade de seus rituais, Deus conclui: “Não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene” (Is 1:13).
Deus não mudou e o homem também não. Hoje vemos a cristandade em um estado semelhante a Israel. Ela está dividida e vendida ao dominador estrangeiro, o príncipe deste mundo. Em sua volúpia por prosperidade e poder, constrói luxuosos templos e catedrais na vã tentativa de dar uma aparência de santidade à cobiça. A cristandade é chamada em Apocalipse de Babilônia, a meretriz, por se prostituir com os governantes e comerciantes do mundo em troca de favores.
Mas Deus continua alertando: “Não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene” (Is 1:13), e mais: “Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados” (Ap 18:4).
Nos próximos 3 minutos alguns escutam o clamor de João Batista e são levados ao arrependimento.
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João, o batedor
Você deve saber identificar na Bíblia, não apenas o que é falado, mas também quando foi falado, por quem, para quem e por que razão. Assim você evitará aplicar a si mesmo coisas que foram ditas ao povo judeu em um determinado momento e com um objetivo específico. É o caso da pregação de João Batista.
Ele é um profeta judeu, o último e maior de todos os profetas de Israel. Sua missão é avisar que o Rei anunciado pelos outros profetas acaba de chegar. João é como esses batedores, que vão com suas motocicletas à frente do carro oficial que transporta um soberano. Apesar do alarde que fazem com suas luzes e sirenes, não é para si mesmos que querem chamar a atenção, mas para aquele cuja chegada eles anunciam. Tão logo o rei chegue ao destino, a missão dos batedores foi cumprida e eles saem de cena.
Assim é João Batista. Ele abre caminho para o Messias. O seu clamor tem por objetivo eliminar os obstáculos: aterrar os buracos, nivelar as lombadas, deixar a estrada reta e aplainar seu leito. Lucas escreve que “Todo o vale se encherá, e se abaixará todo o monte e outeiro; e o que é tortuoso se endireitará, e os caminhos escabrosos se aplanarão”. Veja que apesar de a mensagem de João Batista ser dirigida aos judeus, a Pessoa que ele anuncia é o Salvador de toda a humanidade. Lucas completa dizendo: “Toda a carne verá a salvação de Deus” (Lucas 3:5-6).
Todos deviam estar preparados. Os que eram rebaixados como o vale seriam preenchidos de gozo. Os exaltados como os montes seriam rebaixados de seu orgulho. Os tortuosos, que agiam de má fé, seriam endireitados, e os escabrosos em sua maneira de agir, seriam aplainados. Se você ler o capítulo encontrará nesta ordem uma mensagem tanto para o povo oprimido, como para líderes opressores, publicanos corruptos e soldados truculentos.
Se você não soubesse que a história termina com a rejeição e morte do Messias, poderia pensar que a mensagem de João é para os dias de hoje. Mas não, apesar de “arrepender-se” e “dar bom fruto” serem princípios válidos para todas as épocas, João prega o evangelho do Reino a fim de preparar o mundo para a vinda do Rei, uma mensagem que já foi pregada e rejeitada. Exceto por um remanescente, os judeus não se arrependeram e ainda condenaram seu Messias à morte, desperdiçando a chance de se prepararem para a vinda do Rei Jesus. Agora ele virá, porém não manso e humilde, mas trazendo uma pá e uma tocha.
Como assim? Descubra nos próximos 3 minutos.
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Espírito e fogo, trigo e palha
João Batista prega o evangelho do Reino para que as pessoas se preparem para a chegada do Rei. Os princípios do reino continuam válidos, como ajudar os necessitados, agir com honestidade e tratar a todos com bondade. São os mesmos princípios do Sermão da Montanha e servem para a vida em um reino na terra, não no céu, pois no céu não há necessitados.
Sabendo que o Rei veio, foi rejeitado, e voltou ao céu, entendemos que hoje fazemos parte de um reino cujo Rei está no exílio. O evangelho do Reino pregado por João é o mesmo que Jesus pregou, e é basicamente uma mensagem de arrependimento e mudança de atitude. Jesus dizia: “O tempo é chegado... o Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!” (Mc 1:15).
Este, porém, não é o evangelho pregado pelos cristãos. Hoje não dizemos às pessoas para mudarem de vida e se prepararem para a chegada do Rei, como se a salvação fosse algo futuro. A mensagem que pregamos é para uma salvação imediata; “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16). Ela está fundamentada na morte e ressurreição de Cristo, que ainda não tinham ocorrido na época de João Batista.
Hoje pregamos o que Paulo pregou ao carcereiro: “Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa” (At 16:31). Paulo diz: “Por meio deste evangelho vocês são salvos... Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. Crer em qualquer coisa que não inclua a morte e ressurreição de Jesus é crer em vão (1 Co 15:1-4)
Os judeus pensam que João Batista é o Cristo, mas ele explica que os batiza com água, enquanto o Cristo “Os batizará com o Espírito Santo e com fogo”. Ele fala de outra vinda, quando Cristo “traz a pá em sua mão, a fim de limpar sua eira e juntar o trigo em seu celeiro; mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga”. O Espírito Santo é para os salvos; o fogo para os perdidos. Os primeiros são recolhidos no celeiro, os outros queimados “com fogo que nunca se apaga” (Lucas 3:17).
Curiosamente alguns cristãos pensam que aqui esteja falando das “línguas como de fogo” que desceram no dia de Pentecostes quando a igreja foi formada. Aí começam a pedir que caia fogo do céu sobre eles, um pedido que felizmente Deus não atende pois não quer vê-los no inferno.
Nos próximos 3 minutos conheça dois filhos de Deus.
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Dois filhos de Deus
O salvo por Cristo continua no mundo na condição de estrangeiro. Ele vive aqui como um missionário viveria em outro país, levando as boas novas, alimentando os necessitados e curando os doentes, porém sem nunca se intrometer nos assuntos internos e na política do país. Não é sua função melhorar o país, mas salvar as pessoas. “A nossa cidadania está nos céus”, diz em Filipenses 3:20.
João Batista, porém, tem uma relação diferente com a nação onde vive. Ele é judeu, vivendo em Israel e obedecendo aos preceitos da lei mosaica. Por isso sua pregação inclui advertir os governantes de Israel de seus pecados. Sua mensagem visa preparar a população e seus líderes para a chegada do Messias e Rei. O cristão pertence a uma outra dispensação; Jesus não é seu Rei, mas seu Senhor.
Por isso João repreende Herodes, o tetrarca, por seu adultério com a cunhada, mulher de seu próprio irmão. Herodes mandará prendê-lo, mas nada acontecerá sem que antes João cumpra sua missão, que inclui batizar nas águas o próprio Jesus. Os judeus arrependidos eram batizados, mas Jesus, sem pecado, não tinha de que se arrepender. Ele quis ser batizado para se identificar com seu povo.
Ao sair da água, “o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba. Então veio do céu uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado; em ti me agrado’” (Lucas 3:21-22). Deus o chama de Filho, e neste capítulo há mais um que é chamado de filho de Deus: Adão. Você encontra a expressão “Adão, filho de Deus” (Lucas 3:28) no final do capítulo, quando a genealogia da humanidade de Jesus chega à sua origem.
A rigor existem apenas dois filhos de Deus no sentido de seres humanos vindos diretamente de Deus: O primeiro Adão e o último Adão, Jesus. “O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1 Co 15:45-49).
Na cruz Jesus se identificou com o homem no seu pior aspecto. Ali ele foi feito pecado por nós, e morreu. Com sua morte Deus deu por encerrada a velha criação, aquela de Adão, e na ressurreição inaugura uma nova criação em Jesus. Ao crer em Jesus você passa a fazer parte dessa nova criação e recebe de Deus a vida eterna. Não é só uma vida que não tem fim, mas uma vida que também não tem começo, pois é eterna. “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação” (2 Co 5:17). Em quem você está, em Adão, a criação da qual Deus desistiu e pôs um fim na cruz, ou em Cristo, a nova criação?
Nos próximos 3 minutos as credenciais de Jesus são colocadas à prova.
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Tentado
“Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, ao fim deles, teve fome” (Lucas 4:1-2). Em Gênesis Deus viu que tudo era muito bom após criar o primeiro homem. Porém logo veio Satanás para tentá-lo e Adão caiu. Quando o segundo homem entra em cena Deus declara ter nele o seu prazer e mais uma vez Satanás vem tentá-lo. Mas agora ele encontra um homem cheio do Espírito Santo, impermeável ao pecado e incapaz de pecar.
Jesus não passa apenas pelas três tentações detalhadas neste capítulo 4 de Lucas. Ele é tentado durante quarenta dias. O primeiro homem foi tentado no conforto do Éden, onde não havia fome, sede ou calor. Quando o segundo homem é tentado, ele está em um deserto, o mesmo deserto em que nós vivemos. Por isso em Hebreus diz que “naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados... porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 2:18; 4:15).
Neste versículo, onde diz “sem pecado” não quer dizer “sem pecar”, mas “Exceto o pecado” ou “pecado à parte”. Jesus não tinha o pecado como nós temos, que gera uma resposta à tentação. Ele só podia ser tentado de fora para dentro, e não de dentro para fora como ocorre conosco. Tiago explica que cada um “é tentado pela própria cobiça, sendo por esta, arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte” (Tg 1:13-15).
Embora o crente em Cristo traga em si a possibilidade de responder à tentação, a Palavra de Deus afirma que ele está equipado para suportá-la. Em 1 Coríntios diz que “não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (1 Co 10:13).
Há quem alegue que se Jesus não podia pecar, então ele não podia ser tentado como nós. A Bíblia diz que “como nós, em tudo foi tentado”; não diz que “como nós sucumbiu à tentação”. Por ser Deus e Homem, seria impossível Jesus pecar. Alguns dizem que o Homem Jesus poderia cair em pecado, mas o Deus Jesus não, o que é um absurdo. Após a sua encarnação, além de ser perfeito Deus, ele se tornou perfeito Homem, e assim igualmente sem pecado. Se Jesus tivesse em si o pecado ou fosse capaz de pecar, ele não seria o “cordeiro sem mancha e sem defeito” exigido para o sacrifício pelo pecador (1 Pe 1:19).
Nos próximos 3 minutos Satanás atacará em três frentes.
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Uma tríplice tentação
A tentação de Jesus tem por objetivo confirmar suas credenciais. É o Espírito Santo quem o leva ao deserto para ser tentado pelo diabo, ou seja, para deixar clara a sua divindade. Em duas de suas provocações o diabo coloca isso em dúvida, pois começa dizendo “Se você é o Filho de Deus...”. Os judeus o acusavam de blasfêmia, pois ao declarar-se Filho de Deus ele se fazia igual a Deus.
Portanto temos aqui um teste para provar se Jesus é quem ele diz ser. Pecar está fora de cogitação, por ele ser Deus. Ao contrário do primeiro homem, Adão, este segundo homem é sem pecado e cada tentação só confirma isso. Numa delas Satanás nem questiona se ele é o Filho de Deus, mas vai direto ao assunto: Jesus poderia antecipar a posse de todos os reinos do mundo sem passar pelo dissabor da cruz, bastando para isso adorar a criatura, Satanás, em lugar do Criador.
As três tentações revelam três coisas que nos são oferecidas todos os dias: obedecer ao diabo, adorar a criatura e colocar Deus à prova. Quando não somos guiados pela Palavra de Deus, seguimos “a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência”. Ou seja, obedecemos ao diabo, “satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos” (Ef 2:1-3).
Para adorar a criatura não precisa ir longe. Basta escutar a voz do orgulho em nosso coração, que diz: “Primeiro eu”. A filosofia humana ensina que para amar ao próximo como a si mesmo você precisa primeiro amar a si mesmo. Ora, isso você já faz por natureza, e se essa for a sua prioridade o próximo terá de esperar sentado. O diabo atinge sua meta quando você se acha o máximo.
Provar a Deus é a terceira coisa que Satanás propõe, ao sugerir que Jesus pule do alto do Templo, confiando que Deus o guardará. Jesus responde: “Dito está: ‘Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus’” (Lucas 4:12). Os adoradores de Mamom e da prosperidade adotam como lema o versículo de Malaquias 3, que diz: “Ponham-me à prova... e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las” (Ml 3:13).
O que não percebem é que o contexto começa no capítulo 2 e é uma bronca dada aos desobedientes sacerdotes de Israel, concluindo com o “Ponham-me à prova”, no sentido de “Experimentem me obedecer”. Se você não for um sacerdote judeu vivendo nos tempos de Malaquias, a passagem não é para você. Veja que a continuação, no capítulo 4, até mesmo já se cumpriu, ou seja, a vinda de João Batista. Lá diz: “Eu enviarei o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim... diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 4:1). Acabamos de ver isso em Lucas 3.
Nos próximos 3 minutos o diabo aperta os três botões do desejo.
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Os três botões do desejo
Que mal havia em Jesus transformar pedras em pães e assim aplacar uma fome de quarenta dias? Receber o poder e glória de todos os reinos do mundo sem precisar passar pela cruz também simplificaria as coisas para ele. E uma demonstração do poder de Deus enviando seus anjos para ampará-lo na queda, caso ele se jogasse do pináculo do templo, seria uma publicidade e tanto para a sua causa! Será que os fins não justificariam os meios?
O raciocínio humano diria que sim, mas qualquer pessoa que realmente conheça a Deus e sua Palavra imediatamente rejeitaria tal ideia. Jesus jamais iria fazer algo em obediência ao diabo, ainda que fosse para aplacar a fome. Também não iria evitar a cruz, se isso dependesse de adorar Satanás. No momento certo todos os reinos do mundo seriam de Jesus. E ele não precisava da publicidade sugerida pelo diabo, principalmente se isto envolvia tentar a Deus.
Existem ainda três outros aspectos na tentação de Jesus no deserto. São como três botões que, quando acionados, tentam obter uma reação do corpo, da alma e do espírito. Ao apelar para a fome, Satanás tenta despertar em Jesus um desejo ardente para a satisfação corpo, algo impossível no Filho de Deus. Ao expor numa vitrine o poder e glória de todos os reinos do mundo, o diabo quer despertar em Jesus uma inexistente cobiça dos olhos. E ao sugerir que ele salte do templo para ser amparado por anjos e obter publicidade e prestígio, o diabo apela para a soberba da vida, algo que jamais seria encontrado em Jesus, Deus e Homem.
Porém nós, que não somos o Filho de Deus, mas seres humanos comuns, temos estes três botões em nós prontos para responderem quando acionados. Eles vieram no pacote da natureza pecaminosa que herdamos de Adão. Na tentação no Jardim do Éden “a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento” (Gn 3:6). O apóstolo João, em sua primeira epístola, chama a isso de “concupiscência — ou cobiça — da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida” (1 Jo 2:16).
Por causa do pecado nosso corpo, alma e espírito ficaram vulneráveis às tentações que prometem satisfação física, glória mundana, e reconhecimento público. Ser tentado não é pecar — Jesus foi tentado e sabe se compadecer dos que são tentados. Porém cair em tentação, isto sim é pecado, e nós estamos sujeitos às quedas. Felizmente Deus é fiel e não permite que os que pertencem a ele sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando são tentados, Deus lhes dá um meio de escapar dela (1 Co 10:13). Isto você obtém também de três maneiras: dependência de Deus, devoção a Deus e confiança em Deus.
Mas isto é apenas para quem já não é mais pobre, cativo e cego. Se você continua assim, o remédio está nos próximos 3 minutos.
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Pobres, cativos e cegos
Vemos agora Jesus na sinagoga em Nazaré. As sinagogas não eram templos, pois só havia um templo autorizado por Deus, o de Jerusalém. Sinagogas eram lugares onde os judeus se encontravam para ler as Escrituras e fazer orações. Tinham também o caráter de escolas para o aprendizado das Escrituras.
Jesus recebe o rolo do livro de Isaías para ler, e o abre no que hoje conhecemos como o capítulo 61: “‘O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor’. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir’” (Lucas 4:18-21).
Tão importante quanto o que Jesus leu de Isaías é o que ele não leu pois, após a frase “proclamar o ano da graça do Senhor” vem “...e o dia da vingança do nosso Deus” (Is 6:2). O mesmo Jesus que um dia virá como Juiz, para derramar sua ira sobre os que se opõem a ele, veio antes como Salvador. Ele anuncia o período da graça e não da ira de Deus. Mas existem condições para ser beneficiado. As boas novas são pregadas aos pobres, a liberdade proclamada aos cativos, e a cura anunciada aos cegos. Para ser salvo você deve se reconhecer pobre, preso e cego.
A salvação é oferecida por graça somente, portanto se você acredita ter algo para pagar por ela é porque se acha rico. O preço pago pela redenção do pecador foi o sangue do próprio Filho de Deus. O que você acha que possui que poderia se equiparar ao valor do sangue de Cristo? Ricos confiam no que têm; pobres dependem do que não têm e precisam receber. É assim que se recebe a salvação.
Além disso, Jesus veio oferecer libertação aos cativos. Em Hebreus capítulo 2 diz que Jesus se fez homem “para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo, e libertasse aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte” (Hb 2:14-15). Se você não se considerar preso e escravo da morte e do diabo não dará valor à libertação que Jesus oferece. Passarinho que nasce em gaiola não se considera preso, do mesmo modo como o pior cego é aquele que não quer ver.
E é a cura para essa cegueira espiritual que Jesus anuncia, porém de que adianta isso se você acha que pode ver? O apóstolo Pedro diz que os salvos por Cristo “são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9). É preciso reconhecer-se em trevas para desejar a luz de Cristo. Se você se considera pobre, cativo e cego, peça agora mesmo para Jesus lhe salvar.
Nos próximos 3 minutos Jesus bate à porta.
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O baú
As palavras de Jesus caem como uma bomba nos ouvidos dos que estão na sinagoga. Todos esperam pelo Messias prometido pelos profetas, mas uma coisa é esperar, outra é ter o próprio bem ali na frente. Eles sabem que o Messias vem para colocar a casa em ordem, mas será que eles querem que a casa fique em ordem? Eles questionam ele ser quem diz ser: “Não é este o filho de José?”.
Isso me faz lembrar a história de um homem que sonhou que Jesus veio visitá-lo. Ao abrir a porta, lá estava o Senhor querendo entrar. O homem pediu alguns minutos para dar uma ajeitada na casa e correu tirar da sala tudo o que podia ofender o Senhor. Jogou tudo na cozinha, e só depois abriu a porta e recepcionou Jesus, mas este lhe disse que gostaria de conhecer a cozinha.
Mais uma vez o homem pediu um tempo e foi jogar tudo o que era ofensivo a Deus no quarto. O Senhor entrou na cozinha, fez um olhar de aprovação e disse que gostaria de conhecer o quarto. Outra vez o homem correu livrar-se daquelas coisas, colocando-as em um grande baú. Sim, você já deve ter adivinhado que Jesus entrou no quarto e quis ver baú. Qual não foi a surpresa daquele homem ao abrir o baú para Jesus examinar e descobrir que estava vazio!
Os judeus não percebiam “que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens” (2 Co 5:19). Em seu primeiro advento, Jesus vinha para salvar, não para condenar. Somente no segundo advento é que ele virá para “o dia da vingança do nosso Deus” (Is 6:2), quando já não haverá escape para quem se recusou a recebê-lo.
Hoje Deus convida você a crer em Jesus, pois ainda estamos na dispensação da graça de Deus. Será que você é desses que correm de um lado para o outro tentando esconder de Deus os seus pecados no baú de religião, boas obras e penitências? Nos evangelhos as pessoas que receberam de Jesus o perdão foram aquelas cujos pecados eram tão notórios que era impossível escondê-los. Pessoas como a mulher adúltera, a prostituta samaritana, o coletor de impostos...
Naquela mesma sinagoga os judeus certamente liam o profeta Isaías, que escreveu: “‘Venham, vamos refletir juntos’, diz o Senhor. ‘Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão” (Is 1:18). E também o profeta Jeremias, por meio do qual Deus afirmou: “Eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados” (Jr 31:34).
E você? Já abriu seu baú de pecados na presença de Deus? Sabe o que acontecerá quando fizer isso? Ficará vazio.
Nos próximos 3 minutos os judeus apreciam a graça, porém a rejeitam. Por que?
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Orgulho nacional
Um dia Deus escolheu um povo, como se fizesse uma amostragem da raça humana. Ele deu a esse povo privilégios e responsabilidades que nenhum outro recebeu, e chegou a dividir a humanidade e estabelecer fronteiras de acordo com esse mesmo povo. Em Deuteronômio, capítulo 32, diz:
“Quando o Altíssimo deu às nações a sua herança, quando dividiu toda a humanidade, estabeleceu fronteiras para os povos de acordo com o número dos filhos de Israel. Pois o povo preferido do Senhor é este povo... Ele o protegeu e dele cuidou; guardou-o como a menina dos seus olhos” (Dt 32:8-12).
Até ali Israel tinha sido a menina dos olhos do Senhor, mas isso iria mudar. Os judeus não percebem que carregam um histórico de rejeição que em breve culminaria com a condenação e morte de seu próprio Messias. Mais tarde Jesus revelaria o quanto eles tinham sido rebeldes, ao dizer:
“Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedrejas os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! Eis que a vossa casa se vos deixará deserta. E em verdade vos digo que não me vereis até que venha o tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor” (Lucas 13:34-35).
Ao inaugurar o “ano da graça”, Deus deixava Israel de lado por um tempo. O Espírito Santo desceria à terra para inaugurar a Igreja, um segredo que nem os profetas do Antigo Testamento sabiam. Israel deixaria de ser o testemunho de Deus na terra, privilégio que seria da Igreja. Ela seria formada por pessoas tiradas de entre judeus e gentios, uma ideia humilhante demais para Israel, tão orgulhoso de ter sido a menina dos olhos de Deus.
As profecias do Antigo Testamento paravam com a chegada da graça e continuavam com o dia da vingança e o estabelecimento do Reino de Cristo. Entre uma coisa e outra haveria um parêntese, o atual período da Igreja, ignorado pelos profetas. Os judeus, que a princípio podem ter gostado de ouvir Jesus falar em graça, logo ficam irados ao saber que essa graça iria privilegiar pessoas de povos inimigos, como a viúva de Sarepta e o leproso Naamã citados por Jesus.
Paulo fala dessa ira e ciúme ao escrever aos romanos: “Moisés foi o primeiro que disse: ‘Farei que tenham ciúmes de quem não é meu povo; eu os provocarei à ira por meio de um povo sem entendimento’. E Isaías diz ousadamente: ‘Fui achado por aqueles que não me procuravam; revelei-me àqueles que não perguntavam por mim’. Mas a respeito de Israel, ele diz: ‘O tempo todo estendi as mãos a um povo desobediente e rebelde’” (Rm 10:19-21).
E é da viúva de Sarepta que iremos falar nos próximos 3 minutos.
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A viúva de Sarepta
Jesus é desprezado por seu povo ao declarar ser ele o cumprimento da profecia de Isaías que falava da vinda do Messias. E os judeus ficam ainda mais irados quando ele fala da viúva de Sarepta e de Naamã, o leproso, dois exemplos de estrangeiros que Deus tratou em graça e misericórdia.
No capítulo 17 do primeiro livro dos Reis você encontra a história dessa viúva, visitada pelo profeta Elias em um período de grande seca e fome em toda a região. Elias a encontra apanhando lenha à porta a cidade e pede a ela água e um pedaço de pão. A mulher responde: “Juro pelo nome do Senhor, o teu Deus... não tenho nenhum pedaço de pão; só um punhado de farinha num jarro e um pouco de azeite numa botija. Estou colhendo uns dois gravetos para levar para casa e preparar uma refeição para mim e para o meu filho, para que a comamos e depois morramos”.
“Não tenha medo”, diz Elias. “Faça um pequeno bolo com o que você tem e traga para mim, e depois faça algo para você e para o seu filho. Pois assim diz o Senhor, o Deus de Israel: ‘A farinha na vasilha não se acabará e o azeite na botija não se secará até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a terra’”. A viúva creu na palavra de Deus e fez o que Elias disse. Por todos os dias que se seguiram Elias, a viúva e seu filho comeram pão. “A farinha na vasilha não se acabou e o azeite na botija não se secou, conforme a palavra do Senhor proferida por Elias” (1 Rs 17:12-16).
Ao mencionar este episódio, Jesus não deixa os judeus irados apenas por Deus ter privilegiado uma viúva estrangeira, quando havia tantas viúvas israelitas passando fome. Eles também não gostam de admitir que foi o israelita Elias quem precisou da viúva estrangeira para sustentá-lo, e não o contrário. No versículo 9 do capítulo 17 de 1 Reis, Deus ordena a Elias: “Levanta-te, e vai para Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente”. Acrescente-se a isso o fato de Elias ter sido até ali sustentado por corvos que lhe traziam pão e carne, aves impuras segundo a Lei dos judeus.
Mas o mais belo nesta cena é que a mulher confia totalmente na Palavra de Deus. Ela corre o risco de morrer de fome usando o que lhe resta de farinha e azeite para alimentar primeiro o profeta de Deus. Era esta a fé e confiança que faltavam aos judeus. Eles tinham diante de si o próprio Filho de Deus, o Messias de Israel, e ainda assim não criam nele e o desprezavam e conspiravam para matá-lo.
A viúva de Sarepta é um exemplo de como podemos confiar em Deus para o sustento nesta vida, quando confiamos em sua Palavra e colocamos Deus em primeiro lugar. Mas o que fazer quando a morte vem? Deus também cuida disso, como cuidará do filho da mesma viúva nos próximos 3 minutos.
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Quando a morte vem
No episódio anterior vimos como Deus proveu o sustento a uma viúva estrangeira, enquanto na incrédula nação de Israel muitas viúvas passavam fome. Mas a história não termina ali. Aquela viúva passaria por mais uma prova, desta vez bem mais amarga, para aprender a confiar no Deus que não apenas dá o sustento cotidiano, mas também vida aos mortos.
Não há nada de errado em se buscar a Deus para nossas necessidades básicas, mas tudo está errado quando nós nos limitamos a isso. Deus não é um talismã para nos dar sorte nesta vida, e nem uma cornucópia para garantir nossa prosperidade material. Paulo escreveu que “se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15:19).
Mas tudo muda diante da morte, o fim do homem em seu estado natural. Terminam todos os seus planos, esperanças, poder e vanglória. Não existe experiência mais triste e deplorável do que a partida de alguém sem Deus. A viúva, que já havia experimentado a provisão de Deus para esta vida, é agora surpreendida pela morte de seu único filho.
Ela reclama a Elias: “Que foi que eu te fiz, ó homem de Deus? Vieste para lembrar-me do meu pecado e matar o meu filho?”. Diante da realidade da morte, o milagre que conservou a ela e a seu filho vivos até ali é imediatamente esquecido. Até o profeta está surpreso com a morte do garoto, pois clama: “Ó Senhor, meu Deus, trouxeste também desgraça sobre esta viúva, com quem estou hospedado, fazendo morrer o seu filho?”.
Porém Deus ainda não tinha escrito o último capítulo desta história e é bom aprendermos que para aquele que crê em Jesus também resta o capítulo da ressurreição, que ainda não se realizou.
Elias carrega o garoto para o quarto onde o profeta estava hospedado, no andar de cima, e o deita em sua cama. Então ele próprio se deita sobre o menino três vezes e clama: “Ó Senhor, meu Deus, faze voltar a vida a este menino!”. O Senhor ouve o clamor de Elias e ressuscita o menino, que é entregue à sua mãe. “Agora sei que tu és um homem de Deus e que a palavra do Senhor, vinda da tua boca, é a verdade”, diz a mãe (1 Rs 17:24).
Ao se deitar sobre o corpo morto do menino Elias se identifica com ele em sua morte. Foi o que Jesus fez por nós. Na cruz ele identificou-se plenamente com o homem ao assumir a culpa pelo pecado e entregar sua vida. Em sua vida aqui Jesus podia se compadecer de você, mas foi na morte que ele realmente se identificou com você. Se você espera em Cristo apenas para suprir as necessidades desta vida, considere-se a pessoa mais miserável que existe. A real riqueza está na vida em ressurreição, porque é a vida eterna e sem pecado. E é da lepra do pecado que nos fala a história de Naamã, nos próximos 3 minutos.
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Naamã, o leproso
Depois de mencionar aos judeus o caso da viúva de Sarepta, sustentada por Deus em vida e ressurreição, Jesus fala de outro estrangeiro, Naamã. Mas este não é pobre e faminto como a viúva. Naamã é comandante do exército do rei da Síria, nação inimiga de Israel, que em uma de suas invasões havia escravizado uma menina israelita. A menina agora trabalha para a esposa de Naamã.
A viúva de Sarepta não tinha nada, e precisou de Deus para suprir suas necessidades e resgatar seu filho da morte. Naamã tem tudo, porém é leproso. Na Bíblia a lepra aparece como figura do pecado: a doença que nos torna insensíveis ao mal, nos corrompe e nos faz impuros aos olhos de Deus. O grande Naamã depende agora da menina escrava para encontrar a cura para o seu mal. A jovem avisa: “Se o meu senhor procurasse o profeta que está em Samaria, ele o curaria da lepra” (2 Rs 5:3).
Havia muitas jovens israelitas escravizadas pelo inimigo, mas quantas conheciam a Deus, amavam seu semelhante e estavam dispostas a salvar seus inimigos? Ninguém a censuraria se ela pensasse consigo: “Deus castigou Naamã por ter me roubado e me escravizado! Bem feito para ele!”. Mas esta menina não é assim. Ela realmente se importa e indica a solução para o mal que aflige seu senhor.
O rei dá a Naamã licença para viajar em busca da cura, e ele parte para Samaria levando uma carta do rei da Síria ao rei de Israel. Este, ao ler a carta, se desespera. “Por acaso sou Deus, capaz de conceder vida ou morte? Por que este homem me envia alguém para que eu o cure da lepra? Vejam como ele procura um motivo para se desentender comigo!” (2 Rs 5:7).
No raciocínio do rei da Síria, se havia alguém em Israel capaz de curar seu oficial, esse alguém devia ser o homem mais poderoso, o rei de Israel. Hoje as pessoas procuram a cura de suas doenças e a prosperidade material em homens que conseguiram resolver seus próprios problemas de saúde e finanças. É este o raciocínio por trás do crescente movimento evangélico da prosperidade: “Quanto mais rico e próspero o pregador, mais rico ele me fará”. Por isso esses pregadores não têm qualquer escrúpulo em ostentar riqueza. Na cabeça de seus seguidores isso é garantia de sucesso. Esses são os que rejeitariam o filho do carpinteiro.
Mas não é no rei de Israel que Naamã irá encontrar a cura e nem é dele que a menina falou. Ela se referiu ao profeta Elizeu, que fica sabendo do caso e envia uma mensagem ao rei pedindo que envie Naamã para conversar com ele. Nos próximos 3 minutos veremos Naamã e toda a sua escolta parando à porta da humilde casa do profeta Eliseu em busca da cura de sua lepra.
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O profeta Eliseu
Tente imaginar a cena: a carruagem do poderoso comandante do exército do rei da Síria, com seus servos e uma escolta de soldados parados em frente à casa do profeta Eliseu. Agora pense na frustração de Naamã ao perceber que não é Eliseu quem sai da casa, mas apenas um mensageiro com a receita para sua doença!
O garoto de recados transmite a mensagem do profeta: “Vá e lave-se sete vezes no rio Jordão; sua pele será restaurada e você ficará purificado” (2 Rs 5:10). Naamã fica indignado. Ele estava certo de que o próprio profeta viria ao seu encontro e invocaria o nome de Deus, imporia a mão sobre o lugar de suas feridas e o curaria da lepra. Além disso, que benefício havia em banhar-se no Jordão quando em Damasco havia os rios Abana e Farfar, bem maiores e importantes!
Hoje muitos cristãos são como Naamã. Acreditam que Deus só pode agir se existir algum tipo de pirotecnia, como música alta, pregadores berrando ao microfone e rios de dinheiro fluindo. Não se contentam com a Palavra de Deus e ficam impressionados quando um pregador se diz capaz de fazer descer fogo dos céus, de tão poderoso que se considera.
Pregadores que se gabam de tal proeza não percebem que esta será uma das habilidades do anticristo, o qual realizará “grandes sinais, chegando a fazer descer fogo do céu à terra, à vista dos homens” (Ap 13:13). E se esquecem de que o Senhor Jesus repreendeu seus discípulos pela mesma exibição de prepotência, ao lhes dizer: “Vocês não sabem de que espécie de espírito são pois, o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los” (Lucas 9:55).
Mas esses mesmos pregadores sabem que seus seguidores não se contentam com a simplicidade do evangelho; ficam frustrados se não virem dramatização, testemunhos forjados e demonstração de poder medida em decibéis. Então eles procuram apresentar aquilo que seus seguidores querem enxergar neles: um bufão arrogante, prepotente e mestre em exibicionismo.
Naamã queria encontrar alguém assim, daí sua frustração. Mas seus servos são mais sábios que ele e lhe dizem: “Se o profeta lhe tivesse pedido alguma coisa difícil, o senhor não faria? Quanto mais, quando ele apenas lhe diz para que se lave e seja purificado!” (2 Rs 5:13). Naamã se rende ao conselho dos servos, mergulha sete vezes no Jordão e sai curado de sua lepra.
Sua reação é de gratidão: ele quer dar ao profeta Eliseu um presente, mas este lhe dá a resposta que deveria estar na ponta da língua de qualquer verdadeiro servo de Deus: “Juro pelo nome do Senhor, a quem sirvo, que nada aceitarei”. Aí está uma boa forma de você identificar se aquele pregador da TV é ou não um homem de Deus. Se ele pedir ou aceitar dinheiro em troca da cura, bênção ou salvação, então não é.
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O servo corrupto
Na Bíblia o rio Jordão significa a morte. Basta lembrar que era o Jordão que separava os israelitas da terra prometida, ao terminarem sua peregrinação no deserto. Moisés havia prometido: “Vocês atravessarão o Jordão e se estabelecerão na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá como herança, e ele lhes concederá descanso de todos os inimigos que os cercam “ (Dt 12:10).
Se você ler o capítulo 3 do livro de Josué verá que os sacerdotes foram na frente do povo carregando a Arca da Aliança e, ao chegarem às águas do Jordão, estas pararam de correr, formando uma muralha líquida a uma grande distância dali. Enquanto a Arca da Aliança permanecia no meio do leito do rio, carregada pelos sacerdotes, o povo atravessou em segurança e entrou na terra prometida.
Para o crente em Jesus, o mundo é um deserto, a terra prometida é o céu e o rio Jordão, que para qualquer outro significaria meramente morte seguida de juízo, se transforma em porta de acesso para o céu. Isto porque Jesus, representado pela Arca da Aliança, foi na frente e passou pela morte em nosso lugar, detendo as águas do juízo de Deus. “Quando você atravessar as águas, eu estarei com você; e, quando você atravessar os rios, eles não o encobrirão”, escreveu Isaías (Is 43:2).
Por isso, ao banhar-se no Jordão, Naamã estava em figura crendo na Palavra de Deus e assumindo o lugar de morte; o lugar que Cristo tomou por nós. E a sua cura se deu por pura graça, pois ele nem mesmo merecia ser curado, por ser um inimigo de Israel e estranho às promessas de Deus para o seu povo.
A princípio Naamã não queria aceitar lavar-se no Jordão, pois achava muito banal, e é esta a reação de muitos hoje. São os que ouvem falar que a salvação é por fé em Jesus e indagam: “Como assim? Basta eu crer em Jesus? Não é possível que a salvação seja fácil assim! Eu preciso fazer algo, dar esmolas, esforçar-me, perseverar até o fim, fazer penitência, etc...”. O que essas pessoas não percebem é que a salvação é realmente difícil. Mas o sacrifício que ela exigia era maior do que qualquer pecador poderia fazer; ela custou a vida do Filho de Deus.
Assim que Eliseu despede Naamã em paz, a cobiça toma conta de Geazi, servo do profeta. Ele sai atrás de Naamã para pedir um pagamento. Talvez tenha sido ele quem levou a Naamã a mensagem de salvação. Não é por levar a mensagem de salvação que alguém se torna um homem de Deus. Jesus avisou que muitos diriam “Senhor, Senhor”, pregariam e fariam maravilhas em seu nome, sem que o próprio Jesus os reconhecesse. Geazi representa esses que pregam a Palavra em troca de benefícios materiais. Ao voltar para casa, Eliseu já sabe que seu servo se corrompeu, e diz: “Este não era o momento de aceitar prata nem roupas, nem de cobiçar olivais, vinhas, ovelhas, bois, servos e servas. Por isso a lepra de Naamã atingirá você e os seus descendentes para sempre” (2 Rs 5:26-27).
Este é o fim que Deus reserva aos mercenários da fé.
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Milagres por encomenda
Como já vimos nos episódios anteriores, a ira dos judeus nestes versículos do capítulo 4 de Lucas tem vários motivos. O primeiro é por Jesus ter se declarado o Messias, conforme anunciado pelo profeta Isaías. Eles duvidam. Como pode o filho de José, um humilde carpinteiro, ser o rei prometido a Israel? O outro motivo do desgosto é o ciúme que vem à tona ao Jesus falar de como a graça de Deus beneficiou a viúva de Sarepta e o leproso Naamã, dois estrangeiros, quando em Israel havia tantas viúvas passando fome e leprosos precisando ser curados.
Os orgulhosos judeus jamais poderiam admitir que Deus agisse em graça para com aqueles desprezíveis exemplares de povos inimigos, enquanto o seu próprio povo se esforçava para merecer o favor de Deus. Se você for alguém que procura levar uma vida honesta e piedosa, o que é bom, porém na ilusão de que assim irá merecer a salvação, e fica indignado por Deus perdoar e salvar um pecador convicto, você é igual àqueles judeus. Se você acha injusto um criminoso arrependido ser salvo apenas pela fé em Jesus, você ainda não entendeu o que é graça.
Enquanto você se achar melhor que um ladrão, homicida ou estuprador não haverá salvação para você, pois você se sente justo ao comparar-se com eles. Mas não é com o bandido que você deve se comparar, e sim com Jesus, o Homem perfeito. Ele é o gabarito com qual somos comparados por Deus. Você é perfeito como Jesus? Você é sem pecado como Jesus? É claro que não! Então entre na fila dos que só podem ser salvos por graça, e não por obras, pois nenhum esforço ou mérito seu tem o poder de limpar pecados. Só o sangue de Cristo pode fazer isso.
Imagine Deus traçando um risco no chão e de um lado está Jesus. Aí ele diz para todos os que forem perfeitos como o Filho de Deus para que passem para o lado de Jesus. Quantos passariam? Você passaria? Nem eu. No fim descobriríamos que eu, você, o homicida, o traficante, a prostituta... todos, estaríamos do mesmo lado do risco e somente pela graça de Deus poderíamos ser transportados para o outro lado. Isso você obtém pela fé em Cristo e no seu sacrifício na cruz, a única obra que poderia satisfazer as justas e santas exigências de Deus.
Jesus revela o que está no coração dos judeus: “É claro que vocês me citarão este provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo! ‘ Faze aqui em tua terra o que ouvimos que fizeste em Cafarnaum”. Não, ele não irá atender as exigências dos ímpios. Deus é soberano, não obedece ao homem e seus milagres não são feitos por encomenda. Se você já viu em algum lugar uma placa do tipo “Às 19 horas grande noite de milagres” sabe do que estou falando. Que audácia marcar a hora de Deus agir, como se ele estivesse sob o comando de suas criaturas!
Nos próximos 3 minutos o Senhor tem uma recepção bem diferente em Cafarnaum.
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O poder de Deus para salvação
Jesus sai de Nazaré sem operar milagres ali, depois de tentarem matá-lo jogando-o de um penhasco. Agora ele está em Cafarnaum, cidade da Galileia que viu a maior parte de seus milagres. É interessante comparar as visitas que ele faz às sinagogas de Nazaré e Cafarnaum. Nas duas ele ministrou a Palavra de Deus, porém as reações foram opostas. Em Nazaré os ouvintes duvidavam do que ele dizia. Em Cafarnaum “ficavam maravilhados com o seu ensino, porque falava com autoridade” (Lucas 4:32). Em Nazaré queriam que ele fizesse milagres para crerem em sua Palavra. Em Cafarnaum eles creram na sua Palavra e isto foi seguido da libertação de um homem possesso de demônio.
Esta ordem revela o modo de Deus agir. Primeiro vem a Palavra de Deus, e é esta o poder que leva você a crer em Jesus. Não são os sinais e milagres que conquistam o coração para Deus. O apóstolo Paulo explica que “o evangelho de Cristo... é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16), porém “a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Co 1:18). Vamos deixar que o próprio Paulo explique, como fez em sua carta aos Coríntios:
“Eu mesmo, irmãos, quando estive entre vocês, não fui com discurso eloquente nem com muita sabedoria para lhes proclamar o mistério de Deus. Pois decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. E foi com fraqueza, temor e com muito tremor que estive entre vocês. Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé de vocês não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (1 Co 2:1-5).
Então anote aí: a convicção do pecador não vem pela eloquência do pregador, nem por sabedoria, força e coragem humanas, nem tampouco por palavras persuasivas. O que leva alguém à conversão é a mensagem de Jesus Cristo, e este crucificado. A Palavra de Deus insemina vida no ouvinte, levando-o à fé e ao arrependimento. E os sinais e milagres? Bem, eles são uma resposta de Deus à incredulidade de pessoas que querem ver, mas não necessariamente crer.
Os habitantes de Nazaré queriam chegar a Cristo pelo caminho errado, queriam ver para crer. Os de Cafarnaum creram e depois viram, mas se nada tivessem visto teriam ficado satisfeitos mesmo assim. Deus não se agrada de pessoas que buscam milagres. Quando Jesus esteve em Jerusalém, “muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. Mas o mesmo Jesus não confiava neles “ (Jo 2:23-25). Quem está em busca de milagres anda por vista, e não por fé. Mas este não é um problema só de incrédulos. Pessoas convertidas também caem no erro de buscar sinais, quando Deus quer lhes dar sabedoria. É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Sinais ou sabedoria?
Se você já viu um ou mais cristãos falando em voz alta e não entendeu o que diziam, vou tentar explicar o que foi aquilo. Se perguntasse, eles diriam que estavam falando em línguas estranhas ou estrangeiras, e realmente no Novo Testamento encontramos tal prática. Mas o que é isso? Paulo explica em sua primeira carta aos Coríntios que foi um sinal dado por Deus por causa da incredulidade dos judeus. Nos versículos 21 e 22 do capítulo 14 ele diz:
“Está escrito na Lei: ‘Por meio de homens de outras línguas e por meio de lábios de estrangeiros falarei a este povo” — os judeus — “mas, mesmo assim, eles não me ouvirão’, diz o Senhor. Portanto, as línguas são um sinal para os descrentes, e não para os que creem; a profecia, porém” — e entenda como “profecia” o falar da Palavra de Deus — “é para os que creem, e não para os descrentes”. Portanto, se no lugar onde você ouviu tal coisa não havia judeus incrédulos, aquele sinal não tinha qualquer utilidade, principalmente se ficou sem tradução. A menos que as pessoas que estavam falando quisessem apenas se exibir.
Alguém poderia contestar dizendo que elas falavam em línguas estrangeiras para a própria edificação, mas Paulo condena tal ideia. Se você ler o capítulo inteiro verá que o apóstolo está falando de como o uso de um dom para a edificação da igreja ou assembleia é melhor do que um sinal usado egoisticamente para a própria edificação. Mas vamos deixar que o próprio Paulo explique por que ele achava que profetizar, ou seja, proferir a Palavra de Deus, seria muito superior ao falar em línguas estrangeiras sem tradução. Ali ele diz:
“Quem fala em língua não fala aos homens, mas a Deus. De fato, ninguém o entende; em espírito fala mistérios. Mas quem profetiza o faz para a edificação, encorajamento e consolação dos homens. Quem fala em língua a si mesmo se edifica, mas quem profetiza edifica a igreja. Gostaria que todos vocês falassem em línguas, mas prefiro que profetizem. Quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que as interprete, para que a igreja seja edificada. Agora, irmãos, se eu for visitá-los e falar em línguas, em que lhes serei útil, se não levar alguma revelação, ou conhecimento, ou profecia, ou doutrina?... Se vocês não proferirem palavras compreensíveis com a língua, como alguém saberá o que está sendo dito? Vocês estarão simplesmente falando ao ar... Todavia, na igreja prefiro falar cinco palavras compreensíveis para instruir os outros a falar dez mil palavras em língua. Irmãos, deixem de pensar como crianças... sejam adultos” (1 Co 14:1-20).
Acho que nem preciso dizer mais de como é uma tremenda prova de incredulidade e infantilidade correr atrás de sinais quando podemos nos ocupar com Cristo e sua Palavra, e toda a sabedoria que ela contém. Nos próximos 3 minutos voltaremos a Cafarnaum para encontrar Jesus libertando um homem endemoninhado.
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Jesus cura e liberta
Apesar da recepção calorosa na sinagoga de Cafarnaum, Jesus encontra ali “um homem possesso de um demônio”, que ao vê-lo, gritou: “‘Ah! Que queres conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o Santo de Deus!’ Jesus o repreendeu, e disse: ‘Cale-se e saia dele!’ Então o demônio jogou o homem no chão diante de todos, e saiu dele sem o ferir. Todos ficaram admirados, e diziam uns aos outros: ‘Que palavra é esta? Até aos espíritos imundos ele dá ordens com autoridade e poder, e eles saem!’” (Lucas 4:33-36).
Não sabemos há quanto tempo aquele homem possuído por um demônio frequentava a sinagoga dos judeus sem ser notado. Mas basta a presença de Jesus para o demônio se manifestar e também revelar quem realmente é Jesus. Se os judeus ainda duvidavam de suas credenciais, os poderes das trevas seguem de perto a trajetória do Santo de Deus na terra. Porém Jesus não precisa do testemunho de demônios. Ele diz duas palavras, “cale-se” — para impedir que o demônio continue a falar de Jesus — e “saia dele”, para libertar o homem.
Se você leu este capítulo 4 de Lucas com atenção, terá reparado que no versículo 22 as pessoas ficam admiradas porque dos lábios de Jesus saem palavras de graça. Então, no versículo 32 as pessoas se maravilham por ele falar com autoridade. Agora, no versículo 36, elas testificam que suas palavras não têm só autoridade, mas poder. Não é à toa que perguntam admirados: “Que palavra é esta?” É a mesma Palavra de Deus à qual eu e você temos acesso; a mesma que traz vida a alguém morto em seus delitos e pecados e o transforma, pelo poder do Espírito Santo, em um filho de Deus.
Na sequência Jesus irá curar a todos os que são trazidos a ele. Você ouviu? Todos! “O povo trouxe a Jesus todos os que tinham vários tipos de doenças; e ele os curou, impondo as mãos sobre cada um deles” (Lucas 4:40). ‘Todos’ significa que ninguém saía da presença dele meio curado. Alguns homens se gabam de fazer as curas que Jesus fazia, mas se fosse assim eles curariam a todos os que viessem a eles. É isso o que você vê por aí? Certamente não.
As curas que Jesus fazia tinham o propósito de cumprir uma profecia de Isaías, que dizia: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças”. Isso não ocorreu na morte de Jesus, mas em sua vida. E é o que ele faz também com a sogra de Pedro: inclina-se sobre ela, repreende a febre e ela imediatamente se levanta e passa a servir a Jesus e aos discípulos. Hoje você também pode ser curado do maior mal que aflige a humanidade, o pecado. E depois de curado do pecado e de posse da salvação pela fé em Jesus, qual é sua reação? Servir a Deus e aos seus irmãos em Cristo. Foi o que fez a sogra de Pedro; é o que eu e você devemos fazer, e é o que Jesus irá ensinar seus discípulos a fazerem nos próximos 3 minutos.
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A pescaria
O evangelho de Lucas tem duas particularidades. A primeira é que nele você encontra a graça de Deus da forma mais ampla alcançando estrangeiros como a viúva de Sarepta e Naamã, o leproso. A segunda é que os eventos não estão necessariamente em ordem cronológica, mas em uma espécie de ordem moral para revelar detalhes de Jesus que faltam aos outros evangelhos.
No capítulo anterior a Palavra de Jesus foi reconhecida como sendo uma palavra de graça, autoridade e poder sobre enfermidades e demônios. Depois de curada a sogra de Pedro passou a servir a Jesus e aos discípulos. Isto mostra que as boas obras são consequência da salvação, e não o contrário. A mesma ordem você encontra agora neste capítulo 5 de Lucas: Pedro crê na Palavra de Jesus, vê o resultado de sua fé, e tem a vida transformada de pescador de peixes a pescador de homens.
A cena diante de nós é de um cardume de pessoas ávidas pela Palavra de Deus, diante de pescadores frustrados lavando suas redes vazias. O barco de Simão Pedro, que nenhuma utilidade teve durante uma noite de pesca infrutífera, é requisitado por Jesus para servir de palco flutuante em sua pregação para a multidão na praia. Mas Jesus não sai dali sem antes recompensar Simão pelo empréstimo do barco:
“Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar. E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede. Quando o fizeram, pegaram tal quantidade de peixe que as redes começaram a rasgar-se. Então fizeram sinais a seus companheiros no outro barco, para que viessem ajudá-lo; e eles vieram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase começarem a afundar” (Lucas 5:4-5).
Lições para nós? São muitas. Primeiro, devemos colocar nossos bens à disposição do Senhor, com fez Pedro com seu barco. Segundo, buscar no Senhor a direção para cada passo. Pedro não sabia onde estavam os peixes, mas Jesus sabia onde jogar a rede. Terceiro, não devemos confiar em nossa inteligência e experiência, mas na Palavra de Deus. Pedro, o experiente pescador, acata as instruções de Jesus na hora de pescar. Quarto, não podemos servir ao Senhor sozinhos: Pedro e os que estavam em seu barco chamam outros para ajudá-los.
Diante de tudo isso, Pedro se lança aos pés de Jesus e diz: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador!” (Lucas 5:8). Ao mesmo tempo em que Pedro se coloca o mais próximo possível de Jesus, ele se reconhece indigno de ter Jesus próximo de si. Só que ele não sai dali e nem Jesus se afasta. Ao se reconhecer pecador você pode fugir de Jesus ou se agarrar a ele. Pedro escolhe a segunda opção e o resultado você vê nos próximos 3 minutos.
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Chamados a servir
Pedro e seus amigos estão perplexos com o resultado da pesca feita de acordo com a Palavra de Jesus. Sempre nos surpreendemos com as consequências de colocarmos nossas vontades e ações sob a direção de Deus. Ele “é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós” (Ef 3:20).
A submissão de Pedro e de seus sócios Tiago e João lhes rende muito mais do que uma pesca extraordinária. Jesus chama Pedro para uma nova missão: “Não tenha medo; de agora em diante você será pescador de homens” (Lucas 5:10). Os outros dois se consideraram incluídos no convite, pois “arrastaram seus barcos para a praia, deixaram tudo e o seguiram”.
Jesus não chama desocupados para a sua obra. Há quem passe a vida de papo para o ar esperando por uma oportunidade de servir ao Senhor, quando poderia estar a serviço dele em qualquer lugar ou profissão. Se você prestar atenção, verá que Jesus usou Pedro antes mesmo de chamá-lo para uma missão específica. Pedro o serviu com seu barco e se deixou usar como um testemunho de fé que certamente impressionou a multidão que assistia a tudo da praia.
Na Bíblia encontramos pessoas servindo a Deus onde estavam, como a menina serva de Naamã, ou o menino dono dos pães e peixes que Jesus multiplicou. Outros são citados pelo nome, como Lázaro, Marta e Maria, que hospedavam Jesus em sua casa em Betânia. Zaqueu não mudou de profissão após o encontro com Jesus, mas passou a servi-lo onde estava. Várias Marias, como a mãe de Jesus, a de Magdala e a mãe de Tiago, além de outras mulheres, como Joana e Suzana, serviram a Jesus na esfera onde Deus as colocou.
Alguns cristãos acham que você só pode servir a Deus pregando o evangelho. A frase “ganhar almas para Jesus” é usada como um chicote, deixando frustrados aqueles que não têm um dom de pregar. Pedro, em sua primeira epístola fala de maridos incrédulos e sugere às mulheres cristãs que eles sejam “ganhos sem palavras, pelo procedimento de sua mulher” (1 Pe 3:1). Uma vez escutei alguém dizer: “Pregue o evangelho, e se for preciso use palavras”.
Há também quem acredite que o cristão só pode servir a Deus numa profissão que o faça rico para contribuir com a obra do evangelho. Gente assim nunca ouviu falar da viúva que só tinha duas moedas. Ouvi um pregador de rua que prometia uma vida melhor para quem cresse no evangelho de prosperidade que ele pregava. Ele afirmava que por sua pregação Deus já tinha tirado muitos da enxada, transformando-os em advogados, médicos e empresários. Então um dos ouvintes o questionou em voz alta: “Se Deus continuar tirando pessoas da enxada, quem vai plantar a comida para você comer?”.
Nos próximos 3 minutos Jesus toca um intocável.
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O intocável
Há duas coisas que você pode experimentar ao aproximar-se de Jesus: seu poder e sua graça. Pedro experimentou primeiro o poder, ao lançar suas redes crendo na Palavra de Jesus. Depois experimentou a graça. Prostrado aos pés de Jesus e reconhecendo-se tão pecador ao ponto de pedir que Jesus se afastasse, este o trouxe para mais perto ainda, convocando Pedro para o seu serviço.
Agora vemos outro homem que igualmente crê no poder de Jesus, mas tem dúvidas quanto à sua graça. “Estando Jesus numa das cidades, passou um homem coberto de lepra. Quando viu a Jesus, prostrou-se com o rosto em terra e rogou-lhe: ‘Se quiseres, podes purificar-me’” (Lucas 5:12). Na Bíblia a lepra era incurável como o pecado, que nos faz insensíveis, nos enfraquece e corrói, até nos levar à morte. Este homem tem certeza de que Jesus tem poder para curá-lo. Mas será que Jesus irá querer curá-lo? Na dúvida, o homem diz: “Se quiseres”.
A questão é que Jesus quer curar este homem, tanto quanto quer salvar você de seus pecados. A prova disso ele deu na cruz, ao receber o juízo de Deus contra o pecado e morrer no lugar do pecador. Você só saberá se estava sendo substituído por Jesus no juízo divino se crer nele como seu Salvador. Caso contrário, os seus pecados não foram pagos por Jesus na cruz e você irá encontrar-se com Deus na condição de réu. A sentença é uma só: “o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos” (Mt 25:41). Isto mesmo, o “fogo eterno” não foi inicialmente preparado para os homens, pois Deus quer que todos sejam salvos. Mas será que todos querem ser salvos? Infelizmente não.
Jesus poderia curar este homem apenas com uma palavra, como fez das outras vezes. Mas ele faz algo mais para demonstrar que não é só o seu poder que está disponível, mas também a sua graça. Na Lei do Antigo Testamento quem tocasse um leproso era contaminado e considerado impuro. Jesus, o Homem perfeito, não era só sem pecado em sua natureza santa, como também totalmente incapaz de pecar ou ser contaminado pelo pecado. Ele era o único que podia tocar um leproso sem ficar impuro.
E é o que faz. Antes mesmo de dizer “Seja purificado!”, Jesus toca o homem leproso, demonstrando até que ponto ele estava disposto a ir para salvar o pecador. E na cruz, aquele Ser puro e incontaminado não apenas tocou o pecador, mas recebeu sobre o seu corpo santo os pecados de todos os que irão habitar para sempre na presença dele. “Àquele que não conheceu pecado, [Deus] o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21). Ao longo dos evangelhos Jesus sempre chamou a Deus de “meu Pai”. Na cruz foi obrigado a chamá-lo de “meu Deus” por estar na condição de réu, substituindo o pecador.
Nos próximos 3 minutos descubra por que os evangelhos são para os judeus.
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Sacerdotes, sacrifícios e Lei
Jesus ordena ao leproso que acabara de curar: “Não conte isso a ninguém”. Por que pedir que ele não divulgue a cura? Para não atrair multidões interessadas em milagres. As curas e sinais que Jesus faz nos evangelhos servem para revelar suas credenciais de Messias, mas não são elas a razão de sua vinda ao mundo. O mundo não precisava de um curandeiro, o mundo precisava de um Salvador.
A Lei dada por Moisés não podia curar o leproso, mas Deus sim. Por isso neste capítulo 5 do Evangelho de Lucas nós veremos Jesus, não apenas curando, mas também perdoando os pecados de um paralítico. É de Jesus que o Salmo 103 diz: “É ele que perdoa todos os seus pecados e cura todas as suas doenças, que resgata a sua vida da sepultura e o coroa de bondade e compaixão, que enche de bens a sua existência” (Sl 103:3-5). A promessa era primeiramente para Israel.
Jesus aconselha o homem curado de lepra: “Vá mostrar-se ao sacerdote e ofereça pela sua purificação os sacrifícios que Moisés ordenou, para que sirva de testemunho”. A Lei não podia curar, mas instruía como proceder em caso de lepra, e Jesus, Deus e Homem, cura e também respeita a Lei. Por isso ordena que o homem curado apresente-se ao sacerdote e ofereça sacrifícios segundo a Lei.
Nada disso faria sentido hoje. Não temos um Templo, não temos sacerdotes descendentes de Aarão, e não viajamos a Jerusalém para sacrificar animais. Já deu para perceber que o que vemos nos evangelhos ainda está num contexto de judaísmo? Porém, Paulo, em sua carta aos Romanos, apresenta o evangelho da graça de Deus: “Vocês não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Rm 6:14).
Jesus foi rejeitado por Israel e entregou sua vida como sacrifício pelo pecado, nos resgatando da maldição da Lei e inaugurando uma nova maneira de Deus se relacionar com o homem. Nos Evangelhos ainda temos os rituais e ordenanças, porém a ordem agora é: “Saiamos até ele [Jesus], fora do acampamento [ou sistema judaico], suportando a desonra que ele suportou. Pois não temos aqui nenhuma cidade permanente, mas buscamos a que há de vir. Por meio de Jesus, portanto, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb 13:13-15).
Os sacrifícios que o cristão oferece a Deus não tem qualquer ligação com a adoração exterior encontrada no Antigo Testamento. Infelizmente muitos cristãos não entendem isso e tentam emprestar do judaísmo elementos que nada têm a ver com cristianismo. Quais? Templos, altares, cleros, sacerdotes, ordenação de líderes, vestes cerimoniais, corais, instrumentos musicais, levitas, dízimos, sábados, orações decoradas, adorações ensaiadas, feriados religiosos... a lista é imensa. Será que você adora a Deus em um lugar com todas essas coisas?
Nos próximos 3 minutos Jesus faz algo que só Deus é capaz de fazer.
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Perdão de pecados
Até que ponto você chegaria para salvar um amigo? Estou falando com você, que já tem a salvação assegurada pela fé em Jesus e em sua obra na cruz. O que você estaria disposto a fazer para seu amigo não ser condenado a uma eternidade de sofrimento, trevas e isolamento? Esqueça a imagem de um inferno lotado, com o diabo espetando todos com um garfo. Sofrimento, trevas e solidão; sem amigos, parentes e, principalmente, sem Deus. Este é o destino dos perdidos.
Mas o paralítico que encontramos no capítulo 5 de Lucas tem amigos em número suficiente para levá-lo até Jesus. A dificuldade surge quando percebem que há tantos curiosos que é impossível chegar à porta da casa carregando o paralítico na maca. A solução é subir ao telhado, remover umas telhas e baixar a maca por meio de cordas. Que visão aquela: um paralítico sendo baixado bem no meio do cômodo onde Jesus está!
Lucas descreve a reação de Jesus: “Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse: ‘Homem, os seus pecados estão perdoados’” (Lucas 5:20). Percebe que o texto não diz que Jesus viu a fé do paralítico, mas daqueles homens? Sem excluir a fé do paralítico, que se deixou levar até ali, a fé dos amigos teve um papel importante na salvação e cura daquele homem. Isto é um consolo se você tem amigos e parentes que ainda não estão salvos. Deus está atento à sua oração e intercessão por aqueles que você ama. Jesus sabe até que ponto você é capaz de chegar para levá-los à presença dele para receberem palavras de perdão e cura.
Primeiro Jesus diz ao paralítico: “Homem, os seus pecados estão perdoados”. Muita gente vai atrás de Jesus em busca de cura, sem se dar conta de que a cura mais necessária é a da alma, arruinada pelo pecado. Achamos que o doente, ou quem não tem sorte no amor, ou o que passa por dificuldades financeiras é quem está numa pior. E que uma pessoa saudável, que encontrou sua cara metade e está nadando em dinheiro vive sem problemas. Mas ninguém está com a vida resolvida enquanto viver em um corpo arruinado pelo pecado, sem um relacionamento com Jesus e devendo mundos e fundos para Deus.
Os membros do clero ficam chocados com a audácia de Jesus, que afirma que os pecados do paralítico estão perdoados. Eles exclamam: “Quem é esse que blasfema? Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?” (Lucas 5:21). Antes que aqueles homens digam que é fácil falar sem dar provas concretas de que tem poder para isso, Jesus ordena ao paralítico: “Levante-se, pegue sua maca e vá para casa” (Lucas 5:24). E é o que o homem faz. Para a surpresa de todos, ele sai dali andando e louvando a Deus por sua salvação.
Nos próximos 3 minutos Jesus convida um pecador e é convidado por ele.
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De rejeitado a rejeitado
O que você faria se tivesse um bom emprego público para garantir uma vida próspera e uma aposentadoria tranquila? Levi é assim. O problema dele está justamente em sua profissão. Coletar impostos numa nação invadida significa tirar dinheiro de seu próprio povo para entregá-lo ao inimigo romano. Aos olhos dos judeus a profissão de Levi é tão respeitada quando a de uma prostituta.
Mas isso está para mudar. Se Levi pensa que seu emprego é desprezível espere até ele descobrir o que é seguir a Jesus. Ele promove um banquete em sua casa e convida a Jesus, além de outros publicanos, a escória da sociedade aos olhos dos religiosos judeus. Não sabemos quantos deles acabariam seguindo o Salvador, mas é fácil entender que tenham sido até mais desprezados por se associarem a Jesus. E hoje, o que acontece com aqueles que creem em Cristo?
Depois que o imperador Constantino transformou o império romano em um império cristão por decreto, ser cristão ganhou status. As pessoas se tornavam cristãs, ou porque eram obrigadas, ou por outros interesses. Mas, com o tempo os cristãos genuínos passaram a ser vistos como um estorvo, e é por isso que a história está repleta de casos de cristãos perseguindo cristãos. E hoje? Bem, é bom você entender que ser cristão pode implicar perder amigos e ser mal visto.
Veja Jesus, o Homem perfeito. Ele não tinha onde repousar a cabeça e seu espólio, quando morreu, não passava da roupa do corpo. E Paulo, o apóstolo? Se você ler o capítulo 11 de 2 Coríntios verá que muitas vezes ele foi preso, açoitado, apedrejado, assaltado e perseguido; passou noites acordado com fome, frio e falta de roupas. Além de tudo ainda sofria com um “espinho na carne”, algo que Deus permitiu que o afligisse para ele não se gloriar das revelações que recebeu.
Em sua oração Jesus já havia previsto como seria a vida do cristão em um ambiente hostil como é este mundo. Ele intercedeu pelos seus com estas palavras: “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou. Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou” (Jo 17:14-16).
Portanto não espere tapinhas nas costas por ser cristão. Jesus foi rejeitado e o mundo ainda odeia a Cristo e aos cristãos, e a maior aversão pode vir do mundo religioso. Foram os religiosos judeus que rejeitaram Jesus e o entregaram à morte. Foram os religiosos cristãos que por séculos derramaram o sangue de cristãos genuínos. E são os religiosos neste capítulo que irão criticar Jesus por ter entrado na casa de Levi, um homem agora duplamente rejeitado em sua sociedade.
A resposta que Jesus dá aos religiosos judeus revela um antigo caso de infidelidade. Veja nos próximos 3 minutos.
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Adultério e divórcio
A primeira crítica dos judeus religiosos contra Jesus é por ele ter aceitado o convite de Levi, o odiado coletor de impostos, para comer com publicanos e pecadores. Jesus explica que foi para isso que veio ao mundo: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Lucas 5:31-32). Se os fariseus não se consideram doentes então não há cura para eles.
Se você se considera justo aos olhos de Deus, você é da turma dos fariseus. Você se reconhece pecador? Então você é da turma de Levi e tem o privilégio de poder crer em Jesus e ser salvo de seus pecados. A única condição para alguém ser salvo é ser pecador e reconhecer-se assim. “Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento”, diz Jesus àqueles religiosos judeus.
Eles continuam criticando Jesus ao compararem seus discípulos, que comem e bebem alegremente, com os discípulos de João Batista, que jejuam muitas vezes e fazem orações. A resposta de Jesus deixa claro que eles ainda não percebem que ele é Jeová, o esposo de Israel anunciado pelo profeta Isaías, que disse: “O seu Criador é o seu marido” (Is 54:5).
A atitude dos discípulos de Jesus, que esperavam pelo Messias, é a mesma da mulher do livro de Cantares, apaixonada pelo Rei e alegre por estar perto dele. Ela diz: “Leve-me o Rei para os seus aposentos! Estamos alegres e felizes por sua causa; celebraremos o seu amor mais do que o vinho” (Ct 1:4). Era nesse espírito que todos os judeus deveriam ter recebido Jesus, o Messias. No entanto Israel rejeitou seu esposo e Rei, e adulterou com os ídolos e povos da terra.
É por isso que os profetas anunciaram o divórcio entre Deus e seu povo. Chamando de Israel as dez tribos levadas em cativeiro, e de Judá as duas remanescentes, Deus deu a sentença, através do profeta Jeremias: “Dei à infiel Israel uma certidão de divórcio e a mandei embora, por causa de todos os seus adultérios. Entretanto, a sua irmã Judá, a traidora, também se prostituiu” (Jr 3:8). E Oséias acrescentou: “Vocês não são meu povo, e eu não sou seu Deus... Repreendam-na, pois ela não é minha mulher, e eu não sou seu marido” (Os 2:2).
No capítulo 11 da carta de Paulo aos romanos o apóstolo explica essa rejeição temporária de Israel como sendo a janela de oportunidade para a salvação dos gentios. Ele diz: “Por causa da transgressão deles, veio salvação para os gentios, para provocar ciúme em Israel” (Rm 11:11). E Jesus agora avisa que, apesar de seus discípulos estarem alegres, “o noivo lhes será tirado” e eles se entristecerão. Ele anuncia assim a sua morte.
Mas nos próximos 3 minutos Jesus irá explicar melhor por que é impossível conciliar a graça com o velho sistema da Lei do Antigo Testamento.
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Velho x Novo
Jesus diz a eles uma parábola: “Ninguém tira um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova e o remendo não condiz com a velha. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão” (Lucas 5:36-39).
Esta parábola explica a impossibilidade de se misturar Lei e graça. O contexto aqui é a comparação que os fariseus fazem entre os discípulos de João Batista, que pertencem à velha ordem de coisas, e os discípulos de Jesus, que o recebem com a alegria de uma noiva na companhia de seu noivo.
É impossível fazer os princípios da graça se encaixarem no velho sistema da Lei. Não se tira um pedaço do novo para costurar no velho; a graça e a Lei nunca poderão andar juntas. De igual modo ninguém colocaria vinho novo, ainda em fermentação, em um velho saco de couro que guardou vinho velho e já não tem a elasticidade necessária para o novo. O vinho novo precisa ser colocado em um odre novo para que ambos se conservem.
O que é novo tem uma energia que é destrutiva quando em contato com a velha ordem de coisas. Sempre que alguém tenta juntar Lei e graça acaba ficando sem nenhuma delas: a Lei deixa de ser Lei e a graça deixa de ser graça. O cristianismo é algo completamente novo que vem de uma revelação direta de Deus. Não é um conjunto de regras, ordenanças, cerimonias, objetos sagrados, clero, templo, altares e tantas coisas que faziam parte da antiga dispensação dada a Israel.
Mas será que o homem quer a “roupa nova”? Será que ele aprecia o “vinho novo”? Não, e a prova disso é que a maioria das religiões cristãs não passa de adaptações do judaísmo, com maior ou menor grau de elementos judaicos costurados em sua adoração, ofícios e instalações. Jesus complementa seu discurso dizendo: “E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho” (Lucas 5:39).
Sem dúvida, a velha ordem de coisas do legalismo judaico é mais adequada ao homem no seu estado natural. Mas a graça é sobrenatural. É apenas pela fé que alguém consegue enxergar que a graça é tão adequada a Deus quanto ao novo homem. Mas o homem, em sua carne, irá perguntar: “O que posso fazer? O que não posso fazer?”. Por ainda não ter em si a nova vida, ele irá se apegar ao velho sistema da Lei, do tipo “Faça isso!”, “Não faça aquilo!”, que é mais condizente com sua velha natureza. Por isso ele dirá: “Melhor é o velho”.
Nos próximos 3 minutos os religiosos fariseus querem o sábado, mas sem o Criador do sábado.
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O Senhor do sábado
Como das outras vezes, Jesus é perseguido e criticado, não por criminosos ou prostitutas, mas pelo clero religioso. Os mesmos que conheciam as Escrituras as manipulavam ao seu bel prazer. Eles simplesmente passavam por alto a Palavra de Deus sem dar importância a ela sempre que isso fosse conveniente. Porém, quando seu poder e domínio sobre as pessoas eram ameaçados, eles empunhavam o bordão da Lei para trazer suas ovelhas de volta ao curral. Mas aqui eles estão falando com ninguém menos que o próprio Autor das Escrituras.
A razão das críticas que os fariseus agora fazem é que os discípulos de Jesus atravessavam um campo de trigo e, enquanto caminhavam, iam arrancando as espigas para comer os grãos, separados da palha pelo esfregar das mãos. Os fariseus não questionam o fato de colherem as espigas, pois a Lei permitia a um transeunte se alimentar da plantação alheia desde que o fizesse com as mãos, e não com uma foice. O que os religiosos questionam é eles estarem fazendo aquilo no sábado, o dia determinado por Deus para o descanso dos judeus.
Os fariseus conhecem a letra da Lei, mas não o Deus que lhes deu a Lei. Ao dar um dia de descanso Deus estava preocupado com o bem-estar de suas criaturas. Jesus responde: “Vocês nunca leram o que fez Davi, quando ele e seus companheiros estavam com fome? Ele entrou na casa de Deus e, tomando os pães da proposição, comeu o que apenas aos sacerdotes era permitido comer, e os deu também aos seus companheiros” (Lucas 6:3-4). Jesus coloca a sobrevivência do homem acima das minúcias da Lei. Afinal, tudo — o campo, o trigo e o sábado — haviam sido criados para o homem, e não o contrário.
A sobrevivência de Davi, o rei rechaçado por Saul, era mais importante do que as formalidades do templo. E na Bíblia Davi é uma figura de Cristo, o mesmo Messias que vem sendo repetidamente atacado pelo clero. “O Filho do homem é Senhor do sábado”, explica Jesus. Os fariseus deviam saber que Deus havia colocado o homem como cabeça de toda a Criação, porque isso estava mais do que explicado no livro de Gênesis. Agora eles têm ali o “Filho do homem”, título que revela a humanidade de Jesus, o Homem perfeito, que no seu devido tempo terá tudo sob seus pés. Ele é indiscutivelmente Senhor do sábado e de tudo mais.
Quem já trabalhou numa empresa onde existe um gerente que detesta ter em sua equipe alguém mais inteligente ou capaz do que ele, sabe como se sentem esses líderes religiosos. A liderança deles está sendo ameaçada por um intruso que tem a audácia de contestar a interpretação que eles dão das Escrituras. Eles não se importam com a saúde e o bem-estar de seus liderados, desde que não percam a posição que ocupam de pastores do povo de Deus e sua autoridade não seja contestada. Mas são pastores que se apascentam a si mesmos, como Jesus lhes mostrará nos próximos 3 minutos.
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Os transgressores da Lei
Mais um sábado, e mais uma vez os religiosos tentam acusar Jesus de transgredir a Lei, mas agora são eles os transgressores. No sábado anterior Jesus havia revelado sua Pessoa, o verdadeiro Davi e Messias de Israel, e sua posição de Senhor do sábado. Agora ele irá demonstrar seu poder de curar um homem com a mão direita atrofiada. Tal é o estado de Israel, com a mão tão mirrada que já não é capaz de fazer o bem ou exercer misericórdia.
Os membros do clero estão curiosos para ver se Jesus irá curar o enfermo no sábado, e Lucas revela aqui mais um atributo divino de Jesus: ele é capaz de ler os pensamentos dos fariseus e atende a curiosidade deles. Ele pede ao enfermo que se levante e venha para o meio da sinagoga onde todos possam vê-lo. Então Jesus pergunta aos fariseus e mestres da Lei: “O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar a vida ou destruí-la?” (Lucas 6:9).
Ninguém se arrisca a responder. Se disserem que é permitido fazer o bem no sábado, então nada impede que o homem seja curado. Se disserem que fazer o mal ou tirar a vida de alguém seria transgredir o mandamento, estarão condenando a si mesmos, pois estão tramando como entregarão Jesus à morte.
“Estenda a mão”, ordena Jesus, e a mão do homem é restaurada. Mas, ao invés de palavras de louvor e gratidão, os religiosos ficam ainda mais furiosos e passam a conspirar contra Jesus, transgredindo assim eles próprios o sábado.
É significativo Lucas dizer que Jesus subiu ao monte para orar e passou a noite em oração. Ele convida seus discípulos a estarem naquele lugar elevado, e é ali que escolhe os que serão seus apóstolos, homens que o seguirão e depois serão responsáveis pelo alicerce da igreja. Judas Iscariotes, o traidor, seria mais tarde substituído por Matias, que igualmente viu a Jesus e sua ressurreição. Paulo é o décimo terceiro apóstolo, nascido fora de época e chamado por Jesus já ressuscitado no céu.
Para ser um apóstolo era necessário ter visto o Senhor, ter sido escolhido por ele, e ser testemunha de sua ressurreição. Qualquer um que adote o título de “Apóstolo” hoje é um impostor. Não viu o Senhor, não foi escolhido por ele e nem testemunhou sua ressurreição. Mas os apóstolos não eram os únicos discípulos, pois vemos que eles descem do monte em direção à planície, onde estão muitos de seus discípulos e uma grande multidão em busca de seus ensinamentos e cura para suas doenças. A prova de que Jesus é Deus está em seu poder ilimitado. Lucas escreve que “dele saía poder que curava a todos” (Lucas 6:19).
Nos próximos 3 minutos Jesus irá proferir quatro bênçãos e quatro maldições.
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Bem-aventurados os discípulos
Jesus começa dirigindo-se especificamente aos discípulos, ao proferir quatro bênçãos, antes de lançar quatro maldições aos ricos, fartos, amantes dos prazeres e da bajulação. A distinção que ele faz também serve para colocar uma linha divisória entre aqueles que seguem a Jesus e os que seguem os falsos profetas.
Primeiro ele diz: “Bem-aventurados vocês os pobres, pois a vocês pertence o Reino de Deus”. Embora exista ali uma multidão que certamente inclui muitos pobres, ele não abençoa a pobreza. Ele diz “vocês os pobres”, aos discípulos que deixaram tudo para segui-lo. Eles seguem a Jesus pelo que ele é, não pelas vantagens que possam obter. Prosperidade material, felicidade no amor e cura das enfermidades são os atrativos oferecidos pelos falsos profetas.
“Bem-aventurados vocês, que agora têm fome, pois serão satisfeitos”. Mais uma vez ele diz “vocês”, aos discípulos que haviam deixado o sustento garantido em um negócio pesqueiro ou num emprego público na coletoria, para dependerem 100% de Jesus. Comer grãos de trigo colhidos e debulhados à mão nos campos enquanto caminhavam com Jesus não é o que você chamaria de uma mesa farta.
“Bem-aventurados vocês, que agora choram, pois haverão de rir”. Por causa do nome de Jesus aqueles discípulos e os que viriam depois sofreriam rejeição, dor e sofrimento num mundo hostil. E ainda chorariam pelo estado arruinado da Criação e por tantos que rejeitam a salvação e se perdem eternamente.
“Bem-aventurados serão vocês, quando os odiarem, expulsarem e insultarem, e rejeitarem o nome de vocês, como sendo mau, por causa do Filho do homem. Regozijem-se nesse dia e saltem de alegria, porque grande é a recompensa de vocês no céu. Pois assim os antepassados deles trataram os profetas”. Odiados, expulsos, insultados, difamados, tudo isso por causa de Jesus. Se você busca a Cristo para ser alguém rico e famoso, me desculpe, mas você está buscando o Cristo errado.
Embora Deus se preocupe com os pobres, famintos, sofredores e perseguidos, não é este o assunto aqui. Jesus não chama de bem-aventurados a todos os pobres, inclusive os que não gostam de trabalhar ou que gastaram tudo o que tinham. Nem os que padecem de fome ou sofrem em consequência de estiagens, pragas, epidemias, enchentes ou guerras. Também não está falando de perseguidos políticos. Ele está falando dos discípulos que sofrem tudo isso por causa do nome de Jesus. Eles terão por recompensa um Reino, serão saciados, saltarão e rirão de alegria, não na terra, mas no céu.
Nos próximos 3 minutos Jesus lança quatro maldições, agora sim falando ao público em geral.
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Ai de vocês
Após pronunciar quatro bênçãos sobre seus discípulos, que sofreriam a perda dos bens, fome, dor e rejeição pelo nome de Cristo, o Senhor lança quatro maldições ou “ais” sobre quatro classes de pessoas: os ricos, bem alimentados, felizes e invejados neste mundo.
“Ai de vocês, os ricos, pois já receberam sua consolação. Ai de vocês, que agora têm fartura, porque passarão fome. Ai de vocês, que agora riem, pois haverão de se lamentar e chorar. Ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas” (Lucas 6:24-26).
Não é difícil perceber que esta é exatamente a descrição dos ídolos deste mundo, os artistas e milionários invejados por todos. Não lhes faltam dinheiro, comida, entretenimento e a bajulação dos fãs. Mas como Jesus menciona os falsos profetas que pregavam o que o povo de Israel gostava de ouvir, as quatro maldições podem muito bem ser aplicadas aos falsos profetas milionários de nossos dias.
Dinheiro, sustento, prazer e prestígio são os apelos mais fortes deste mundo. Se a sua razão de viver for estas coisas, estas maldições também são para você. Se a sua meta na vida for ficar rico, você poderá até conseguir o que deseja. Mas Jesus deixa claro que se a sua meta puder ser atingida nesta vida, então nada mais restará para você alcançar depois. Já terá recebido a sua recompensa.
Na eternidade, aqueles que aqui só se preocuparam com a fartura passarão por privações. Jesus disse que nem só de pão viveria o homem, indicando que só existiria um alimento capaz de realmente nos satisfazer: a Palavra de Deus. Mas você não irá desejá-la, a menos que caia em si e reconheça-se pecador e necessitado do Pão da vida que desceu do céu: Jesus.
Se você leva a vida como se estivesse vivendo numa grande Disneylândia, acabará chorando e se lamentando quando nada mais tiver para mantê-lo fora da realidade. O mundo é cheio de entretenimentos para desviar seus pensamentos da realidade que é inevitável. A qualquer momento Deus poderá encerrar sua oportunidade de ser salvo e você perderá o próximo capítulo da novela na TV.
Porém terá início a sua novela eterna, de um episódio só, em um lugar onde não existirão passatempos, pois não haverá tempo para passar. Só uma eternidade de solidão e dor, que não é em cores ou preto e branco. Apenas “trevas exteriores”.
Nos próximos 3 minutos Jesus revela o que é amar na prática.
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Amor na prática
“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4:10). O apóstolo João escreve isto em sua primeira epístola, e em seu evangelho assinala que “a Lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1:17). Portanto, a vinda de Jesus ao mundo foi a real manifestação do amor de Deus, um tempo de graça e misericórdia no modo de Deus tratar com o homem.
Em sua segunda carta aos Coríntios, Paulo mostra que, em sua primeira vinda, Jesus não veio julgar ou condenar os homens, mas salvá-los. Ele escreve: “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens... Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele fossemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5:19-21).
Se Cristo tivesse vindo no mesmo caráter em que voltará, estaríamos perdidos. Em Apocalipse, João o descreve como Juiz: “Seus olhos eram como chama de fogo. Seus pés como o bronze numa fornalha ardente e sua voz como o som de muitas águas... e da sua boca saía uma espada afiada de dois gumes. Sua face era como o sol quando brilha em todo o seu fulgor” (Ap 1:14-16).
Quando Cristo voltar, não virá manso e humilde, como um Cordeiro disposto a morrer por pecadores. Ele virá como o inflexível Juiz para condenar seus inimigos. Em Apocalipse ele se declara “o Alfa e o Ômega... o que é, o que era e o que há de vir, o Todo-Poderoso” (Ap 1:8), a mesma expressão usada para Jeová no Antigo Testamento. Ele é o Criador, o “princípio da Criação de Deus” e o “Amém”, ou seja, em quem convergem todas as coisas. E para mostrar a unidade entre o Antigo e o Novo Testamento, e sua relação permanente com o povo de Israel, ele é chamado de “o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi” (Ap 3:14; 5:5).
Todo-Poderoso, o rosto como o sol, uma espada saindo da boca, a voz como de um estrondo, pés como o bronze numa fornalha, e olhos como chama de fogo. É este Juiz que você irá encontrar se não crer no Cordeiro que foi morto em seu lugar. Para quem tem a Jesus como Salvador, o acesso à presença de Deus está garantido. Para os demais resta “tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus. Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!” (Hb 10:27).
Nos próximos 3 minutos Jesus mostra como devem viver os que foram beneficiados pelo amor, graça e misericórdia de Deus.
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Vivendo em amor
Depois de ter sido poupado da condenação eterna por crer em Jesus, você irá querer viver de modo a agradá-lo. É disso que ele fala nos versículos 27 ao 36 do capítulo 6 de Lucas. Mas será que você consegue amar seus inimigos, ajudar quem o odeia e responder com bênçãos aos que o amaldiçoam? Suas orações incluem seus caluniadores, e quando alguém o agride você oferece a outra face? E no assalto, você entrega ao ladrão o que ele se esqueceu de levar?
Jesus fala dos princípios que devem reger a vida dos que são seus discípulos, princípios contrários aos instintos e à natureza que herdamos de Adão. Ele fala de um amor que é sobrenatural, pois emana de Deus. Não é o amor dos filmes de Hollywood e nem a afeição natural de um pai. Um assassino em série pode amar seus próprios filhos enquanto mata os filhos dos outros. Você não diria que ele sabe o que é amor, não é mesmo?
Alguns chamam o versículo 31 de “Regra Áurea”, e acham que quem agir assim terá a vida eterna. Ali diz: “Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles”. Ora, o homem em seu estado natural é incapaz de agir assim por ser guiado pelo instinto de sobrevivência. Quantas vezes você convidou um morador de rua para dormir em sua cama, tomar banho em seu banheiro e sentar-se à sua mesa para três refeições diárias? E não é exatamente isso que você gostaria que fizessem com você se estivesse no lugar dele?
A chamada “Regra Áurea” não é a causa de salvação, é o efeito. Ainda que não cumpra a lista de boas ações que Jesus apresenta aqui, se você nasceu de novo, creu nele como seu Salvador e teve os seus pecados perdoados graças ao seu sacrifício consumado na cruz, você está capacitado para isto. A nova vida que agora existe em você é capaz de amar como Deus ama, sem medo e sem reservas.
O amor das comédias românticas, das amizades e laços de família se expressa em emoções naturais, e não é diferente do abanar do rabo de seu cão. Qualquer ser vivo é capaz de expressá-lo à sua própria maneira, da formiga ao elefante. Mas o amor de Deus é sobrenatural, é um amor capaz de amar inimigos. Como Deus fez conosco entregando Seu próprio Filho para salvar esses pobres exemplares da escória humana, que somos eu e você. É o amor cheio de misericórdia e graça: misericórdia por não nos dar o que merecemos: o castigo eterno no lago de fogo; graça por nos dar o que não merecemos, um lugar na glória pela fé em Jesus.
Nos próximos 3 minutos Jesus mostra em que direção você deve apontar o dedo.
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Apontando o dedo
Jesus deixou uma coisa muito clara: “Se alguém ouve as minhas palavras, e não as guarda, eu não o julgo. Pois não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo” (Jo 12:47). Isto está no Evangelho de João, e não contradiz nem um pouco o capítulo 5 do mesmo evangelho, onde diz que o Pai “deu-lhe autoridade para julgar” (Jo 5:27). Como assim? Jesus tem autoridade para julgar, mas não julga? Por quê?
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus. Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3:17-19).
Resumindo, todo ser humano já nasce condenado pelo pecado que existe em si, que é essa índole de viver sem controle ou submissão a uma autoridade superior, no caso, Deus. Rebelião, autossuficiência, insubmissão, descontrole — dê a isso o nome que desejar, você sabe do que estou falando. Um dia Jesus virá como Juiz para julgar e lavrar a sentença daqueles que já nasceram condenados ao castigo eterno por serem pecadores: tinham em si o pecado e por isso pecavam.
Mas antes Jesus veio em amor, e há duas coisas que o amor não faz: julgar e condenar. Esta disposição de Deus para com os homens ainda está valendo, como uma espécie de “oferta relâmpago”, mas que pode se encerrar a qualquer momento, ou por seu relógio biológico parar de bater, ou pela volta de Jesus. Vale o que acontecer primeiro. Ou seja, é pegar ou largar. Ou melhor, crer ou continuar do jeito que está.
Então, se o próprio Jesus, que tem poder e autoridade para julgar, não está julgando por agir em amor, como devem fazer os seus discípulos? Andar também em amor. Ouvi alguém dizer que quando apontamos o indicador ficamos com outros três dedos apontados para nós e o polegar voltado para baixo, em sinal de desaprovação. E é disso que Jesus fala aqui, ao dizer: “Não julguem, e vocês não serão julgados. Não condenem, e não serão condenados” (Lucas 6:37).
Mas como fazer diante do erro ou má doutrina? Não devo julgar? E como diz aqui que minha condenação depende de eu não condenar os outros? Acaso não ficamos livres de condenação ao crermos em Jesus? Bem, acho que vamos precisar de mais 3 minutos para explicar estas coisas.
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Julgar ou não julgar?
Muitos tentam aplicar a passagem que diz “Não julguem, e vocês não serão julgados” em qualquer situação. Mas isto seria contrariar o ensino das Escrituras que nos manda julgar o pecado e a má doutrina. Aqui Jesus fala de não julgar as pessoas, seus motivos e modo de ver as coisas. O contexto inclui a indagação: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco?” (Lucas 6:39).
Um cego não pode guiar outro cego, mas também não há utilidade, espiritualmente falando, em alguém que vê guiar um cego. O primeiro acabará se exaltando de sua capacidade de visão e o segundo irá sempre depender do outro para achar o caminho. Os fariseus, sim, eram cegos guiando outros cegos, e só no evangelho de Mateus eles são chamados assim por cinco vezes.
Os sacerdotes do Antigo Testamento só podiam julgar as coisas pelas aparências, mas o cristão está aparelhado para julgar do ponto de vista espiritual. Todo aquele que creu em Cristo foi selado com o Espírito Santo da promessa, pois “se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo” (Rm 8:9). Assim, o cristão genuíno tem vista e percepção espiritual. O que foi tocado por Jesus pode dizer: “Eu era cego e agora vejo” (Jo 9:25).
Obviamente alguns teólogos e líderes religiosos odeiam ouvir isso. Tal ideia os coloca no mesmo nível de um analfabeto salvo por Cristo, já que ambos desfrutam de uma mesma percepção espiritual, qualidade que não depende de capacidade intelectual, mas do Espírito de Deus. Porém os crentes não têm todos os mesmos dons, a mesma comunhão e um idêntico crescimento no conhecimento de Deus. Por isso aquele que recebeu de Deus um dom poderá ajudar seu irmão em um momento, e ser ajudado por ele em outro. Mas nenhum dos dois é cego: ambos têm a vista e o senso de orientação que vêm da nova vida em Cristo.
Mas, voltando à questão do julgar, não devemos julgar as pessoas e seus motivos, mas devemos julgar os pecados ou as doutrinas que as contaminam, tendo como padrão a Palavra de Deus. Julgar a coisa que contamina sem julgar a pessoa contaminada é mais ou menos como falar mal do cigarro por amor ao fumante. Alguém que tenha o Espírito de Deus, e está assim dotado de visão espiritual, certamente se deixará guiar por um irmão que enxergue nele alguma falta apontada na Palavra de Deus, e entenderá que o outro faz isso por amor.
Mas, para explicar o perdão condicional que aparece neste versículo 37 de Lucas 6 vamos precisar de mais 3 minutos.
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Perdão condicional
Jesus diz: “Não julguem, e vocês não serão julgados. Não condenem, e não serão condenados. Perdoem, e serão perdoados” (Lucas 6:37). Aqui ele não fala do perdão judicial, absoluto e eterno, que já foi garantido na cruz a todo aquele que crê nele, quando Jesus assumiu a culpa e pagou a pena do pecador. Se Jesus tomou seu lugar e pagou sua pena, não há de que Deus o acusar, não é mesmo?
Porém sempre que você julga ou se nega a perdoar seu semelhante, estraga sua comunhão com o Pai e ele é obrigado a julgar e aplicar uma disciplina em você. Mas isso é cancelado quando você, arrependido, confessa sua falta e perdoa seu próximo. É deste julgamento, condenação e perdão que Jesus fala aqui. Por ter sido completamente perdoado e salvo, você pode agora chamar a Deus de Pai e ser chamado por ele de filho.
Vivendo nesta nova esfera de responsabilidade, você jamais perderá sua posição de filho, mas pode perder sua comunhão com o Pai, e esta não será restabelecida enquanto não se retratar. Sua responsabilidade, portanto, é de não julgar o seu próximo para não ser julgado por seu Pai; de perdoar, para receber o perdão paternal, e não judicial, e assim viver feliz na família de Deus. Enquanto você não acerta o passo, o Pai o deixa de castigo e o priva do prazer de sua companhia. Agora você entende por que tantas vezes vive abatido, triste e deprimido. Olhe para trás e veja se não tem alguma pendência a ser resolvida com alguém.
Veja que aqui também o ato de receber está condicionado ao ato de dar. No sentido absoluto, podemos exclamar como Paulo no capítulo 8 de Romanos: “Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?” (Rm 8:31-32). Afinal, nosso “Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1:3). Este é o lado absoluto e eterno do que recebemos.
Mas, ao dizer “deem, e lhes será dado: uma boa medida, calcada, sacudida e transbordante será dada a vocês”, Jesus está se referindo à nossa disposição diária de compartilhar com outros o que Deus já nos deu, seja em termos materiais ou espirituais. Pense em um semeador: quanto maior a quantidade de sementes que ele lançar, e mais espalhadas elas forem lançadas, maior e mais extensa será sua colheita. Portanto, abra a mão, pois como pode o semeador esperar algum resultado, se semear de punho fechado?
Nos próximos 3 minutos Jesus mostra a quem realmente devemos julgar.
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O cisco no olho
Ao resumirmos o que Jesus disse até aqui vemos que ele instrui seus discípulos do modo como devem ser e agir como representantes dele neste mundo. Eles não são guias cegos, mas pessoas com visão para guiarem outros que igualmente têm visão, não para serem seguidores dos próprios discípulos, mas de Cristo.
Porém, se alguém deseja guiar, precisa saber o que é ser guiado, aprendendo daquele que é o único que pode ser chamado de Mestre, o próprio Jesus. “O discípulo não está acima do seu mestre, mas todo aquele que for bem preparado será como o seu mestre” (Lucas 6:40). Jesus, e só ele, deve ser a meta do discípulo, o que equivale dizer que estaremos sempre a alguma distância de atingirmos a meta.
Um discípulo não pode estar acima de seu Mestre, mas aos seus pés como um humilde aprendiz. Jesus está sempre acima de nós e devemos tê-lo como o exemplo de perfeição. “Agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1 Jo 3:2).
Se você quiser viver isto na prática precisará julgar-se a si mesmo o tempo todo. Somos propensos a julgar os outros, a apontar o indicador sem nos darmos conta dos três dedos que ficam apontados contra nós, e do polegar para baixo em sinal de desaprovação. Quando nos julgamos a nós mesmos descobrirmos nossas falhas, e quando ficamos cientes delas podemos buscar em Deus um modo de corrigi-las e assim aprender no processo, a fim de ajudarmos os outros.
Jesus diz: “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Irmão, deixe-me tirar o cisco do seu olho’, se você mesmo não consegue ver a viga que está em seu próprio olho? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão” (Lucas 6:41-42).
Enquanto você tiver algo em seu olho, não estará qualificado para ajudar alguém com um cisco no olho. Sua própria capacidade de enxergar estará comprometida, por conviver com um problema igual ou maior. Quer ensinar? Então aprenda primeiro. Quer ser guia? Então se deixe guiar por Deus e sua Palavra. Quer falar do perdão de Deus? Então exercite o perdão todos os dias. Quer anunciar a graça de Deus? Então seja você também gracioso em seu modo de tratar as pessoas. É disso que o evangelho fala aqui.
Nos próximos 3 minutos Jesus fala de árvores e frutos.
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Árvores e frutos
“Nenhuma árvore boa dá fruto ruim, nenhuma árvore ruim dá fruto bom. Toda árvore é reconhecida por seus frutos. Ninguém colhe figos de espinheiros, nem uvas de ervas daninhas. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:43-45).
O assunto aqui são as duas naturezas no crente. Um pé de laranja não se torna pé de laranja quando começa a dar laranjas; ele dá laranjas por ser um pé de laranja. Então, o que esperar da natureza caída que herdamos de Adão? Nada que preste. Nós a recebemos arruinada e nada podemos fazer para ela dar bons frutos. É espinheiro que nunca dará figos; erva daninha que nunca dará uvas.
Aqui o velho homem é chamado de “homem mau” e o novo de “homem bom”. Qualquer demão de tinta religiosa que você aplicar na velha natureza só fará de você um sepulcro caiado. Aquele que crê em Jesus tem uma nova natureza, que também não pode ser melhorada por ser perfeita. A natureza de Adão era terrena e capacitava o homem a viver na terra, mas depois do pecado nem para isso ela servia mais. Deus não quis remendá-la, mas criou tudo novo em Cristo. A nova natureza que o crente agora tem é celestial e o capacita a viver no céu.
Dependendo da árvore em você que dá fruto, a colheita será boa ou ruim. Dependendo da natureza que controla sua boca, dela sairá louvor ou maldição. Percebe que ser cristão não significa evoluir ou melhorar, mas viver em novidade de vida? O apóstolo Paulo deu um puxão de orelha nos cristãos da Galácia por tentarem viver segundo a Lei e os mandamentos do Antigo Testamento, na tentativa de melhorar a velha natureza, a carne. Paulo escreveu:
“Se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei. Ora, as obras da carne [ou velha natureza] são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne [ou velho homem], com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito” (Gl 5:18-25).
Nos próximos 3 minutos Jesus fala de obediência com alicerce.
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Vida com alicerce
Jesus pergunta: “Por que vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?” (Lucas 6:46). Encontramos a expressão “Senhor, Senhor” mais quatro vezes nos evangelhos, duas em Mateus 7 falando dos que profetizam, expulsam demônios e fazem maravilhas em nome de Jesus. Desses Jesus diz: “Nunca os conheci”. As virgens insensatas também clamam “Senhor, Senhor”, ao descobrirem que ficaram do lado de fora e não podem seguir o Noivo. São os falsos crentes, sem o azeite que representa o Espírito Santo. E no capítulo 13 de Lucas um pai de família fecha a porta sem dar ouvidos aos que do lado de fora clamam: “Senhor, Senhor”.
Em 2 Tessalonicenses 2:10 ao 12 vemos os “que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar. Por essa razão Deus lhes envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira, e sejam condenados todos os que não creram na verdade, mas tiveram prazer na injustiça” (2Ts 2:10-12). Estes são os deixados para trás após o arrebatamento da Igreja, por professarem ser cristãos sem nunca o terem sido. É a cristandade apóstata, a “Grande Meretriz” de Apocalipse, que crerá na mentira do anticristo. São os que escutam o evangelho, porém rejeitam “o amor à verdade”.
Ter amor à verdade é amar aquilo que Jesus falou, mas isto não se restringe às palavras de Jesus nos evangelhos. A rigor, a Bíblia toda é a Palavra de Deus, e as cartas dos apóstolos são as instruções diretas dadas à Igreja. Paulo afirmou: “O que lhes estou escrevendo é mandamento do Senhor” (1 Co 14:37). Muitos cristãos hoje sentem aversão ao que Paulo escreveu. Eles leem os fundamentos deixados pelos apóstolos como se fossem opiniões pessoais ou velhos costumes orientais. Não percebem que eles são o alicerce do cristianismo, e Cristo a “pedra angular”.
Jesus avisa: “Aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica, é como um homem que construiu uma casa sobre o chão, sem alicerces. No momento em que a torrente deu contra aquela casa, ela caiu, e a sua destruição foi completa” (Lucas 6:49). Mas os que creem em Cristo são “membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Nele vocês também estão sendo juntamente edificados, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito” (Ef 2:19-22). É este o seu alicerce?
Nos próximos 3 minutos conheça um homem que crê na Palavra de Jesus.
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Sem merecer
O capítulo 7 de Lucas começa falando de um centurião, um oficial romano convertido ao judaísmo e temente a Deus. Além de ter construído uma sinagoga, o lugar onde os judeus fazem suas leituras e orações, sua preocupação com um servo doente é notável. Ele pede a alguns religiosos judeus para irem chamar Jesus para curar seu servo. Eles vão ao encontro de Jesus e suplicam: “Este homem merece que lhe faças isso, porque ama a nossa nação e construiu a nossa sinagoga” (Lucas 7:4-5). Jesus os acompanha e ao chegar perto da casa recebe outro recado do centurião, que diz:
“Senhor, não te incomodes, pois não mereço receber-te debaixo do meu teto. Por isso, nem me considerei digno de ir ao teu encontro. Mas dize uma palavra, e o meu servo será curado. Pois eu também sou homem sujeito a autoridade, e com soldados sob o meu comando. Digo a um: ‘Vá’, e ele vai; e a outro: ‘Venha’, e ele vem. Digo a meu servo: ‘Faça isto’, e ele faz”. Ao ouvir estas palavras, Jesus volta-se para a multidão e comenta: “Eu lhes digo que nem em Israel encontrei tamanha fé” (Lucas 7:6-8).
O estado de incredulidade em Israel é tão grande, que um gentio é apresentado como exemplo das qualidades que Jesus busca naqueles que creem nele. Que qualidades? Primeiro, a humildade. Os judeus acham importante dizer a Jesus que o homem merece ter seu pedido atendido por ter construído a sinagoga, mas o próprio homem diz de si mesmo: “Não mereço receber-te debaixo do meu teto”.
Se você deseja obter de Deus um favor, seja a salvação eterna ou o atendimento a alguma necessidade de sustento ou saúde, precisa reconhecer que não merece coisa alguma. A única coisa que merecemos por nossa desobediência e rebelião é o lago de fogo. Mas Deus, em misericórdia e graça, quer salvar e abençoar quem crê em Jesus e vai a ele contrito, quebrantado e arrependido.
A outra qualidade do centurião está no quanto ele confia na Palavra de Jesus. Ainda que o próprio Jesus não esteja presente, ele sabe que a sua Palavra é suficiente. Quão diferente é essa atitude de muitos que questionam a Palavra de Deus e correm atrás de suas próprias filosofias. Não, eu não estou falando de ateus e incrédulos; estou falando de crentes que preferem dar ouvidos às suas sensações, ideias e experiências ao invés de conferirem tudo pela Palavra de Deus. Esta tem o poder de trazer um morto de volta à vida. Como Jesus faz nos próximos 3 minutos.
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Jesus fala ao morto
Jesus caminha em direção à cidade de Naim, acompanhado dos discípulos e de uma grande multidão. No sentido contrário vem outro cortejo. É o cadáver do filho único de uma viúva sendo levado para ser sepultado. Além de sua mãe, uma grande multidão acompanha o defunto. Que triste figura deste mundo. Enquanto alguns seguem a Jesus, outros seguem um morto. Uns caminham para a vida, outros caminham em sentido contrário, para a morte.
E você? Segue a Jesus em direção a Naim, cidade cujo nome em hebraico significa “verdes pastos”, ou segue a opinião pública rumo aos sepulcros? Você anda na companhia do único que é capaz de lhe dar vida em abundância, ou segue o filho morto da viúva, que perdeu seu único filho e a esperança de sustento na velhice?
A compaixão de Jesus por aquela mãe o faz parar. “Não chore”, diz ele à pobre mulher. Qualquer um de nós poderia dizer o mesmo, mas o que ele faz em seguida só Deus pode fazer. Depois de demonstrar o poder de sua Palavra, recebida com humildade e fé pelo centurião romano, Jesus revela que ela tem poder, independente de nossa fé ou humildade. Quem acha que a frase “Ajuda-te que eu te ajudarei” é um versículo bíblico, está enganado. Deus não precisa de nossa ajuda e você não pode ajudar-se a si mesmo sem Deus.
Romanos 10:17 diz que “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. A passagem não diz que ouvir a Palavra de Deus nos dá fé, por mais que seja verdade que nossa fé é alimentada pelas Escrituras. Mas este versículo em particular diz que é a Palavra de Deus que nos dá a capacidade de ouvir. O ouvir é pela Palavra de Deus. Por exemplo, você perderia seu tempo falando com um morto? Não, ele está morto, é incapaz de ouvir. Então porque Jesus fala com este?
Após interromper o cortejo e tocar no caixão, Jesus fala ao morto: “‘Jovem, eu lhe digo, levante-se!’ Ele se levantou, sentou-se e começou a conversar” (Lucas 7:15). É a Palavra de Deus que infunde vida em um morto em seus delitos e pecados; é ela que dá ao homem até mesmo a capacidade de crer na própria Palavra! É depois de preenchidos pela Palavra de Deus que recebemos vida de Deus. Portanto, se algum dia você escutou o evangelho, isso veio de Deus. Se você sentiu o peso de seus pecados, foi porque Deus implantou vida em você. E se você creu em Cristo, de onde você acha que veio sua fé? Afinal, você estava morto, não estava?
Nos próximos 3 minutos vamos aprender algo sobre o elogio.
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O poder destrutivo do elogio
João Batista ouve falar dos feitos de Jesus e envia dois de seus discípulos para perguntarem: “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro?”. A missão de João era anunciar a chegada do Messias, e ele quer se certificar de que Jesus é o prometido. Depois de curar e libertar muitos de doenças e demônios, Jesus diz aos discípulos de João: “Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos veem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa” (Lucas 7:22).
O detalhe é que só depois que os mensageiros vão embora que Jesus começa a elogiar João Batista para a multidão. Ele diz: “Entre os que nasceram de mulher não há ninguém maior do que João” (Lucas 7:24-28). Por que não elogiar João na presença dos discípulos dele? Porque esses elogios iriam parar nos ouvidos de João e não lhe fariam bem. O elogio é importante, porém quando ocorre nas coisas de Deus devemos ser cuidadosos.
Uma versão moderna de João 12:43 diz que os fariseus “gostavam mais de ser elogiados pelas pessoas do que de ser elogiados por Deus”. Quando somos elogiados por fazermos a obra de Deus, somos tentados a pensar que temos algum mérito nisso. Mas deveríamos falar como Paulo, em 1 Tessalonicenses 2:6: “Não buscamos reconhecimento humano, quer de vocês quer de outros”. É bom nos lembrarmos de que ao elogiarmos um irmão em Cristo por seu trabalho nas coisas de Deus podemos causar mais mal do que bem ao coração dele.
Quem faz algo no Senhor, é no Senhor que faz... “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10). Você daria os parabéns à caixa de ferramentas pela mesa ou cadeira que o marceneiro fez com elas? Não, seu elogio seria para o marceneiro, pois as ferramentas sozinhas nada podem fazer.
No meio religioso a bajulação é uma instituição, e muitos cristãos se sentem na obrigação exaltar um irmão por sua fidelidade, seu empenho, sua pregação, Etc. Porém o livro de Provérbios ensina que “o homem que lisonjeia o seu próximo arma uma rede aos seus passos” (Pv 29:5). Gosto da história do pregador, que ao terminar de falar, foi abordado por uma senhora que teceu elogios à sua mensagem, seu desempenho, sua oratória... até ser interrompida por ele, que disse: “Irmã, Satanás sussurrou tudo isso ao meu coração enquanto eu pregava”.
Nos próximos 3 minutos a quem você justificaria, a Deus ou a si mesmo?
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A quem você justifica?
É preciso entender que o ministério de João Batista era transitório. Os judeus aguardavam o Messias para reinar, e João fora enviado para anunciar a chegada do Messias e de seu Reino. Mas o próprio João não fazia parte desse Reino, como Jesus informa: “Entre os que nasceram de mulher não há ninguém maior do que João; todavia, o menor no Reino de Deus é maior do que ele” (Lucas 7:28).
O Reino de Deus não é a mesma coisa que o céu. O Reino é a manifestação de Cristo para os que pertencem a ele. Mais adiante Jesus diria: “O Reino de Deus não vem de modo visível... porque o Reino de Deus está entre vocês” (Lucas 17:20-21). Isto era um fato, pois o próprio Rei estava aqui andando entre os homens, ainda que não fosse reconhecido por eles. Um dia, quando Cristo voltar, esse Reino será visível e estabelecido em poder e glória, mas não agora.
Ao ser rejeitado pelos judeus, o Rei voltaria para o céu e seu Reino permaneceria aqui no caráter de Reino dos Céus, que identifica sua origem. No presente momento o Reino inclui todos os que professam ser cristãos, sejam falsos ou verdadeiros, joio ou trigo. João Batista prega um batismo de arrependimento, uma espécie de curso preparatório para o Reino. Mais tarde, no livro de Atos, os discípulos que haviam sido batizados a João seriam novamente batizados a Jesus, ou seja, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A pregação de João Batista foi recebida pelos desprezados dentre o povo e até pelas pessoas de má reputação, como os publicanos que coletavam impostos para os romanos. Eles ouviram, creram e se arrependeram, deixando-se batizar pelo batismo de João. Porém os religiosos judeus não quiseram crer que eram pecadores e necessitavam se arrepender.
Os que criam na pregação de João Batista justificavam a Deus, ou seja, consideravam que Deus era justo em acusá-los de pecado e exigir que se arrependessem. Aceitar o batismo de arrependimento era o ato exterior dessa disposição do coração. Já os religiosos confiavam demais em sua justiça própria para poderem justificar a Deus. Quem acredita em sua própria justiça se acha merecedor da salvação e ofende a Deus. Se você adota o seu modo de ser como padrão de justiça, Deus será injusto, pois o padrão dele é diferente do seu. Você precisa se arrepender, você precisa crer se quiser ser salvo.
Mas para crer e se arrepender é preciso que a consciência seja despertada para o pecado, e é este o assunto dos próximos 3 minutos.
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Você é um filho da Sabedoria?
Se a sua consciência não o acusa de pecado, você está com um sério problema. O mesmo problema dos fariseus que recusavam o batismo de João. Eles não gostavam do testemunho austero de João e o acusavam de estar possesso de um demônio. Para eles João era legalista demais. Mas diante do testemunho cheio de graça dado por Jesus, eles o acusavam falsamente de “comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores” (Lucas 7:34). Para eles, Jesus era um libertino.
Não há como contentar uma consciência em rebelião contra Deus e insensível ao pecado. Não falo aqui de atitudes contrárias aos bons costumes. Do ponto de vista da conduta exterior, os religiosos fariseus eram um exemplo de cidadania. A questão está em se ter consciência do que existe no coração. Uma consciência incomodada se envergonha de si mesma e reconhece que “do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias” (Mt 15:19).
Mas aqueles que não têm a consciência despertada para o arrependimento “são como crianças que ficam sentadas na praça e gritam umas às outras: ‘Nós lhes tocamos flauta, mas vocês não dançaram; cantamos um lamento, mas vocês não choraram’” (Lucas 7:32). Nunca estão satisfeitas. Se Deus exige delas uma tomada de decisão, como fez João Batista, acham que assim é difícil demais. Se Jesus vem a elas em graça e misericórdia, prometendo a vida eterna apenas crendo nele, alegam que assim é fácil demais. E chamam de libertinagem a liberdade que Cristo oferece.
Diante disso Jesus afirma que a Sabedoria é justificada, ou comprovada, por seus filhos. Um filho da Sabedoria se reconhece pecador e merecedor da condenação, aceitando de bom grado o perdão oferecido de graça ao que crê em Jesus. Quem não está entre os filhos da Sabedoria irá sempre encontrar defeitos nos outros e em Deus, justificando-se a si mesmo. E não terá temor do Senhor quanto ao pecado que habita em seu próprio coração.
O capítulo 8 do livro de Provérbios descreve, de forma poética, Jesus como a personificação da Sabedoria de Deus. A essência do que diz ali é: “O temor do Senhor é odiar o mal”, e também “Todo aquele que me encontra, encontra a vida e recebe o favor do Senhor. Mas aquele que de mim se afasta, a si mesmo se agride; todos os que me odeiam amam a morte”. (Pv 8:13; 35-36). E é de duas pessoas assim, uma filha da Sabedoria e um religioso de consciência cauterizada, que Jesus fala nos próximos 3 minutos.
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A prostituta e o clérigo
Um fariseu convida Jesus para uma refeição. Enquanto ele está à mesa, uma prostituta entra na casa com um frasco cheio de perfume e, prostrada aos pés de Jesus, começa a chorar. Suas lágrimas molham seus pés e ela os seca com seus cabelos, beijando-os e derramando perfume sobre eles. O fariseu, indignado, pensa consigo: “Se este homem fosse profeta, saberia quem nele está tocando e que tipo de mulher ela é; uma pecadora” (Lucas 7:39).
Jesus conhece os pensamentos do fariseu e decide levar a questão à sua consciência, contando uma parábola. “Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta. Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais?”. O fariseu responde: “Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior”. A resposta está correta, mas será que sua consciência foi alcançada?
Aos olhos de Deus, o fariseu e a prostituta estão igualmente falidos. Ele podia até dever pouco, ela muito, mas Deus oferece a ambos o perdão independente da dívida. Aparentemente apenas a prostituta tem a convicção de sua dívida ter sido quitada. O fariseu nem sequer se deu conta do quanto deve para Deus.
Dirigindo-se a ele, Jesus diz: “Vê esta mulher? Entrei em sua casa, mas você não me deu água para lavar os pés; ela, porém, molhou os meus pés com as suas lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Você não me saudou com um beijo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar os meus pés. Você não ungiu a minha cabeça com óleo, mas ela derramou perfume nos meus pés. Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama” (Lucas 7:44-47).
Ela não está ali em busca de cura física ou prosperidade material. Ela veio agradecer. Se ela ama tanto assim é porque sua fé lhe dá a certeza de um grande perdão. Jesus declara aquilo que ela por fé sabe ter obtido: “Seus pecados estão perdoados”. E para que ninguém venha a pensar que o perdão seja para recompensar a boa ação da mulher, Jesus diz a ela: “Sua fé a salvou; vá em paz”.
O capítulo 11 do livro de Hebreus diz que “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. Você consegue entender por que a salvação é pela fé e não pelas boas obras? Nos próximos 3 minutos encontraremos outras mulheres que foram igualmente perdoadas de seus pecados e agora seguem a Jesus. E não apenas o seguem, mas o servem com seus bens.
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Pela fé
“Depois disso Jesus ia passando pelas cidades e povoados proclamando as boas novas do Reino de Deus. Os doze estavam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, chamada Madalena, de quem haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de Herodes; Susana e muitas outras. Essas mulheres ajudavam a sustentá-los com os seus bens” (Lucas 8:1-3).
No capítulo anterior uma mulher amou muito por ter sido muito perdoada. Aqui estas mulheres ajudam Jesus com seus bens porque foram libertadas de doenças e espíritos malignos. Percebe a ordem das coisas? Foi depois de terem sido perdoadas, curadas e libertadas que estas mulheres passaram a adorar e a servir a Jesus, não o contrário. É um ato de gratidão, não de barganha.
A religião do homem é uma religião de barganha: as pessoas fazem coisas para obterem o “favor” de Deus ou, como costumam dizer, alcançar uma “graça”. Mas de onde tiraram a ideia de que “graça” se obtém pagando? E que “favor” é esse que exige antes dar algo em troca? Aproximar-se de Deus tentando barganhar com ele é querer colocar Deus ao nosso serviço e fazer dele nosso devedor. É como dizer: “Senhor, já fiz a minha parte, agora faça a sua”.
O capítulo 11 da carta aos Hebreus diz que “sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam”. E continua mencionando os nomes das pessoas de fé que alcançaram a salvação, não por terem feito algo, mas por terem crido. Todas as citações começam com a frase “pela fé”: “Pela fé Abel...”, “Pela fé Enoque...”, “Pela fé Noé...”, “Pela fé Abraão...”, “Pela fé Isaque...”, “Pela fé Jacó...”, “Pela fé José...”, “Pela fé Moisés...”, “Pela fé a prostituta Raab...”; e segue falando de Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel, os profetas, etc.
A fé veio antes das obras e lhes garantiu a salvação, ainda que nesta vida alguns sofressem horrivelmente. “Enfrentaram zombaria e açoites... foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada; andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados... vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas e grutas...” Ali diz ainda que “todos estes receberam bom testemunho por meio da fé” (Hb 11:1-40).
E você? Ainda está nessa de encostar Deus na parede, fazendo ofertas e sacrifícios para obrigá-lo a retribuir com bênçãos, curas e prosperidade? Que tal ser como as mulheres que serviam a Jesus por terem sido já abençoadas com a maior riqueza de todas: a salvação eterna? Então creia em Jesus.
Nos próximos 3 minutos um semeador sai a semear.
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O semeador
Jesus continua viajando e pregando as boas novas do Reino. Ao contrário dos reinos humanos, cuja expansão é garantida pela espada, a expansão do Reino de Deus se dá pela semeadura, e aqui é o próprio Rei que sai a semear. Este não é o trabalho de um rei, mas Jesus veio ao mundo em humilhação e não em exaltação. Ele veio antes para plantar, não para colher. Um dia ele voltará para recolher o trigo no celeiro e queimar a palha.
Jesus é um pregador itinerante, ele sai a semear. É comum encontrarmos “igrejas” que são apenas pontos de pregação esperando por incrédulos. Porém a igreja, palavra que significa “reunião” ou “assembleia”, não é para incrédulos, mas pessoas salvas pela fé em Jesus e congregadas pelo Espírito ao seu nome. Em Atos 2:42 os primeiros cristãos estavam congregados para perseverar “na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações”.
A atividade da igreja não incluía o evangelismo, pois a igreja não evangeliza — a igreja se reúne para aprender, orar e adorar. Quem evangeliza é o crente individualmente, em especial os que têm o dom de evangelista. Estes saem como Jesus saiu levando a preciosa semente. Os convertidos são reunidos pelo Espírito, e os que têm o dom de pastor os exortam a permanecerem no Senhor, e os que têm o dom de mestre ou doutor entram em cena para ensiná-los e edificá-los.
Uma belíssima representação disso você encontra no capítulo 11 de Atos. Ali os que foram dispersos pela perseguição chegaram até Antioquia evangelizando os gregos. Muitos creram e se converteram ao Senhor. Barnabé foi visitá-los e, fazendo uso de seu dom de pastor, os exortou a permanecerem no Senhor. Então convidou Paulo para ensiná-los, o que ele e Barnabé fizeram usando seu dom de mestre ou doutor. Em Antioquia eles foram chamados de “cristãos”.
Isto nos leva a uma questão de suma importância: Como aqueles que creem em Jesus devem ser chamados? O termo “cristão” aparece mais duas vezes no Novo Testamento. Em Atos 26 o Rei Agripa argumenta que Paulo quer fazer dele um “cristão”, e na primeira epístola de Pedro o apóstolo diz que se alguém “sofre como cristão, não se envergonhe, mas glorifique a Deus por meio desse nome” (1 Pe 4:16). Cristão significa simplesmente um seguidor do Cristo.
No Novo Testamento os salvos por Jesus são também chamados de “irmãos” ou “santos”, que significa “separados”. Qualquer outra denominação não tem fundamento bíblico e nega, na prática, o testemunho de que há um só corpo de Cristo, a igreja, da qual fazem parte todos os salvos, sem exceção. Você acha que Deus aprovaria que os salvos por Cristo se identificassem por diferentes denominações?
Nos próximos 3 minutos saiba por que Jesus falava por parábolas.
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Parábolas
Parábola é um estilo de comunicação que faz uso simbólico de pessoas, coisas e situações para transmitir um ensinamento. Jesus fala por parábolas, porém o leitor desatento poderá achar que isso seja para facilitar o entendimento. Muito pelo contrário. Ele fala por parábolas, não para simplificar, mas para ver até onde vai o interesse dos ouvintes. Pessoas indiferentes não estão interessadas em entender, portanto para elas as parábolas não trazem qualquer benefício.
Em Mateus 13 os discípulos perguntam por que Jesus fala por parábolas, e ele responde: “A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles não... Por essa razão eu lhes falo por parábolas: ‘Porque vendo, eles não veem e, ouvindo, não ouvem nem entendem’. Neles se cumpre a profecia de Isaías: ‘Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos’” (Mt 13:10-17).
As parábolas servem para testar os ouvintes e ver até onde vai o interesse de cada um. Os indiferentes ouvem e não entendem. Os interessados pedem uma explicação. Ao comentar esta mesma Parábola do Semeador, o evangelista Marcos diz que “quando ele ficou sozinho, os doze e os outros que estavam ao seu redor lhe fizeram perguntas acerca das parábolas” (Mc 4:10).
O Semeador é Jesus e a semente é a Palavra de Deus. O campo é o mundo, e se ele precisa ser semeado é porque ainda não dá fruto para Deus. A terra pode estar arada, mas de nada serve sem a preciosa semente. O dono do campo já não tem ilusão de colher algo ali, a menos que seja semeado. Deus tentou encontrar no homem algum fruto e não achou, nem mesmo em Israel, um povo privilegiado por Deus. Aqui o Senhor começa algo novo no mundo, a partir da terra virgem.
Apesar desta parábola, que aparece em três evangelhos, ser muito usada para o evangelismo, repare que existem diferenças sutis em sua aplicação. Em Mateus a semente é “a palavra do Reino” (Mt 13:19); em Lucas é a “palavra de Deus” (Lucas 8:11), portanto em Mateus ela é dirigida aos que estão no Reino, que dão frutos em proporções diferentes. Em Lucas os frutos são de um só tipo, a conversão. Em Mateus o que entende a Palavra dá fruto; em Lucas é o que crê na Palavra. Porém em todos os casos é a qualidade do solo e as circunstâncias que fazem a diferença, tanto para o crente no modo como recebe a Palavra no dia-a-dia, como para o incrédulo que a recebe pela primeira vez. A questão é de responsabilidade do homem, já que a semente é perfeita.
Nos próximos 3 minutos saiba o que pode interferir no resultado da semeadura.
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A semeadura
“O semeador saiu a semear. Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram” (Lucas 8:5). Enquanto o caminho nos fala da influência humana, pois é o lugar onde as pessoas pisam, Jesus explica que as aves representam Satanás. Aqueles que ouvem a Palavra de Deus e se deixam influenciar pela opinião pública, ou de amigos e parentes, acabam estéreis e a semente lhes é tirada por Satanás.
O diabo está mais ativo na cristandade do que podemos imaginar. Ao ler a parábola do grão de mostarda no evangelho de Mateus, você encontra as mesmas aves fazendo seus ninhos nos ramos da grande árvore de mostarda que representa a cristandade. As aves ou agentes de Satanás estão confortavelmente instalados nos ramos da cristandade, visando atrapalhar a obra de Deus. O diabo não age só nas coisas ilícitas e imorais; o diabo atua principalmente na religião.
“As que caíram à beira do caminho são os que ouvem, e então vem o diabo e tira a palavra dos seus corações, para que não creiam e não sejam salvos” (Lucas 8:12). Infelizmente muitos são como a beira do caminho. Querem estar onde a maioria está, e pensam que fazendo isso de uma maneira religiosa ou evangélica estão seguros. Isso é um engano. Os agentes do diabo estão fortes e ativos nas igrejas do mundo cristianizado.
“Parte dela caiu sobre pedras e, quando germinou, as plantas secaram, porque não havia umidade... As que caíram sobre as pedras são os que recebem a palavra com alegria quando a ouvem, mas não têm raiz. Creem durante algum tempo, mas desistem na hora da provação” (Lucas 8:6, 13). O coração humano é duro como pedra, pois esta é a natureza da carne, sempre resistente ao Espírito de Deus. Mas a carne é também dada a emoções passageiras, e é por isso que muitos recebem a Palavra com alegria, mas não têm profundidade para fixar suas raízes.
O evangelho certamente traz alegria, mas é preciso encontrar o solo quebrantado de uma consciência arrependida. O profeta Jeremias descreve como foi sentir o peso do seu pecado: “Eu me arrependi; depois que entendi, bati no meu peito. Estou envergonhado e humilhado porque trago sobre mim a desgraça da minha juventude” (Jr 31:19). Se você acha que crer em Jesus é só alegria, certifique-se de não estar entre os que “desistem na hora da provação”. A convicção de pecado e o arrependimento são partes integrantes da conversão.
Até aqui vimos Satanás agindo, inclusive por meio de seus agentes no mundo religioso, impedindo que a semente germine e dê fruto. Vimos também que receber a boa semente sem uma consciência de pecado não passa de um oba-oba passageiro. Nos próximos 3 minutos Jesus fala de espinhos que agarram.
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Espinhos
Jesus continua com a Parábola do Semeador. “Outra parte caiu entre espinhos, que cresceram com ela e sufocaram as plantas... E a que caiu entre espinhos, esses são os que ouviram e, indo por diante, são sufocados com os cuidados e riquezas e deleites da vida, e não dão fruto com perfeição” (Lucas 8:7, 14). Se você já tentou atravessar um arbusto de espinhos, sabe o que significa. Eles agarram suas roupas e o fazem parar. Não há como seguir adiante; é impossível avançar.
Repare que os espinhos já estavam lá quando a semente caiu. Talvez ainda fossem pequenos e tenros, mas certamente iriam crescer vigorosos ao ponto de sufocar a planta. Os espinhos são as preocupações, riquezas e prazeres desta vida. Coisas que podem até ser lícitas, mas mesmo assim servem de obstáculo à salvação do incrédulo e à comunhão do crente com Deus.
Até aqui as três tentativas de semear foram frustradas por falta de um solo adequado à boa semente. Que tipo de solo a Palavra de Deus encontra em você? Será do tipo que não quer perder as amizades dos que passam pelo caminho? Ou do tipo que diz “Já tenho minha religião”, sem nunca ter verificado se ela está de acordo com a Palavra de Deus? Pessoas assim são presa fácil de Satanás e seus agentes. Talvez você receba as coisas de Deus com alegria, mas sem profundidade por não existir um arrependimento sincero de seus pecados. Ou quem sabe os espinhos das preocupações, riquezas e prazeres o estejam prendendo?
Independente se a aplicação da Parábola é para o crente ou incrédulo, há três coisas que impedem a semente de germinar: Satanás, a carne e o mundo. Estas aparecem na forma das aves, das pedras e dos espinhos. Felizmente existe ainda uma quarta situação, a da semente que cai em solo propício. “Outra ainda caiu em boa terra. Cresceu e deu boa colheita, a cem por um... as que caíram em boa terra são os que, com coração bom e generoso, ouvem a palavra, a retêm e dão fruto, com perseverança” (Lucas 8:8, 15).
Espero que este seja o solo que a Palavra de Deus encontrará em você: longe das opiniões dos homens e dos agentes religiosos de Satanás; com uma consciência quebrantada pelo arrependimento, e livre dos espinhos que tentam agarrá-lo e prendê-lo a esta vida. Quando comparamos a mesma parábola em Mateus, Marcos e Lucas, descobrimos que em todos os casos todos ouvem a Palavra. Porém em Mateus a boa terra é identificada como aquele que ouve e entende a Palavra; em Marcos, como quem ouve e aceita; e em Lucas, ouve e retém. Entender, aceitar e reter a Palavra são os requisitos para você dar fruto para Deus.
Nos próximos 3 minutos Jesus fala de luz.
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Luz
Aqueles judeus incrédulos devem ter ficado indignados por Jesus falar dos ninivitas e da rainha de Sabá. Como Deus poderia ter privilegiado aqueles gentios impuros? Eles não eram israelitas, não pertenciam ao povo de Deus, não eram os guardiões dos oráculos divinos e nem tinham sido escolhidos como testemunho para todas as nações! No entanto eles receberam e creram no testemunho que Deus havia dado por intermédio de Jonas e Salomão. E agora a radiante luz da Sabedoria de Deus em carne e ossos está bem diante deles. Não existe desculpa para ficarem indiferentes.
Jesus diz a eles: “Ninguém acende uma candeia e a coloca em lugar onde fique escondida ou debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, para que os que entram possam ver a luz” (Lucas 11:33). Em seu evangelho, João diz que “ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu [isto é, os judeus], e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (Jo 1:5-12). Deus não escondeu sua luz, mas colocou-a onde todos pudessem vê-la e até hoje Cristo brilha, porém nem todos percebem isto.
O mesmo trecho do Evangelho diz que João Batista foi enviado por Deus “como testemunha, para testificar acerca da luz, a fim de que por meio dele todos os homens cressem” (Jo 1:7). O sol, nossa fonte de luz natural, não precisa de testemunha. Ninguém chega a você em um dia ensolarado e diz: “Veja, o sol brilha!”. Mas não é de luz natural que Jesus fala aqui, mas da verdadeira luz que faz parte da própria essência de Deus, como João disse em sua carta: “Deus é luz; nele não há treva alguma” (1 Jo 1:5).
Por causa das trevas espirituais em que os homens estão mergulhados, Deus precisa enviar pessoas para testemunharem da luz que é Jesus. Milhões estão testemunhando o tempo todo em conversas, pregações, textos, letras de músicas ou em vídeos como este. Você já deve ter sido iluminado, mas reagiu como os insetos peçonhentos — aranhas, lacraias e escorpiões — quando alguém ergue a pedra debaixo da qual se escondem. Sua reação natural é correrem para debaixo de outra pedra, pois não gostam da luz. Esta é também a reação de um pecador ao ouvir falar de Jesus: ele foge. Será que este fujão é você?
Se for, saiba que a razão de seu receio é por ter sido concebido em um mundo de trevas. Mas Jesus continua falando de luz, agora daquela que você traz em seu próprio corpo: os seus olhos. Ele diz que eles podem ser bons ou maus, e não está falando em termos médicos. De que ele está falando então? Você saberá nos próximos 3 minutos, se estiver de olhos bem abertos.
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Nada oculto
“Não há nada oculto que não venha a ser revelado, e nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz. Portanto, considerem atentamente como vocês estão ouvindo. A quem tiver, mais lhe será dado; de quem não tiver, até o que pensa que tem lhe será tirado” (Lucas 8:17-18). O Senhor Jesus conclui assim a parábola do Semeador. Aos olhos de Deus a nossa vida é um livro aberto. Você pode guardar um segredo aqui e ali, mas cedo ou tarde ele virá à tona. Deus traz tudo à luz, tanto para nossa bênção, como para nossa disciplina e correção.
Nas cartas às sete igrejas de Apocalipse, aquele cujos olhos são como “chama de fogo” (Ap 1:14) declara a cada igreja: “Conheço as suas obras... Conheço as suas aflições... Sei onde você vive... Conheço... o seu amor, a sua fé, o seu serviço, a sua perseverança...” (Ap 2-3). O mesmo princípio pode ser aplicado a cada indivíduo, tanto aos que já creem em Cristo, como àqueles que fingem interesse na Palavra de Deus. “Não há nada oculto que não venha a ser revelado, e nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz”.
Por isso Jesus exorta cada ouvinte da Parábola do Semeador a considerar, não apenas o que está ouvindo, mas como está ouvindo. O simples ouvir já coloca você numa posição de responsabilidade diante de Deus. Mas como você ouve? Alguns ouvem por curiosidade e outros por educação, mas há quem ouça para colocar em prática. Deus irá cobrar de você o como ouviu a sua Palavra.
Na Parábola do Semeador todos ouviram a Palavra. Apesar de ter sido comida pelas aves, a semente que caiu à beira do caminho ficou ali por algum tempo. A que caiu em solo rochoso chegou a germinar e a deixar uma aparência de vida, ainda que fosse uma plantinha morta e esturricada pelo sol. A que caiu entre os espinhos cresceu o suficiente para parecer que aquela pessoa tinha algum cristianismo em si. Em todas as situações, quem ouviu será tido por responsável diante de Deus. “A quem tiver, mais lhe será dado; de quem não tiver, até o que pensa que tem lhe será tirado” (Lucas 8:18).
Quando o rei Davi pecou, adulterando com a mulher de Urias e levando o marido traído à morte para esconder seu pecado, Deus o advertiu por intermédio do profeta Natã: “De sua própria família trarei desgraça sobre você... você fez isso às escondidas, mas eu o farei diante de todo o Israel, em plena luz do dia” (2 Sm 12:11-12). Se você ainda não confessou o seu pecado a Deus; se ainda não resolveu sua questão eterna, faça isso agora. “Não há nada oculto que não venha a ser revelado”. E se você apenas finge ser cristão para agradar aos homens, à família, lembre-se de que “quem não tiver, até o que pensa que tem lhe será tirado”.
Nos próximos 3 minutos Maria e os irmãos de Jesus querem tirá-lo de circulação.
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O fim dos vínculos naturais
A mãe e os irmãos de Jesus vão ao encontro dele, mas não conseguem entrar na casa por causa da multidão. O que será que Maria e seus outros filhos querem com Jesus? No evangelho de Marcos temos mais detalhes deste episódio: “Quando seus familiares ouviram falar disso, saíram para apoderar-se dele, pois diziam: ‘Ele está fora de si’... Então chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficando do lado de fora, mandaram alguém chamá-lo” (Mc 3:21, 31).
O recado de Jesus aos que o chamam revela uma guinada em seu ministério: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam” (Lucas 8:21). Aqui ele rompe os vínculos naturais da carne e passa a considerar como família os que ouvem e obedecem a Palavra. Trata-se de uma família que não é formada pelos que nasceram da carne, mas de Deus. “O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3:6).
Nossos vínculos naturais podem comprometer a obediência à verdade. Um médico não deve operar um parente próximo, como cônjuge, pais ou filhos, pois suas emoções naturais podem interferir e causar um dano maior. Nosso discernimento espiritual é prejudicado quando julgamos as coisas pelos vínculos naturais. A família de Jesus ainda o trata segundo a carne. Seus irmãos ainda não creem nele e acham que ele esteja sofrendo de alguma insanidade. No evangelho de João lemos que “Nem mesmo seus irmãos criam nele” (Jo 7:5).
Em sua segunda carta aos cristãos em Corinto, Paulo escreve que “de agora em diante a ninguém mais conhecemos do ponto de vista humano” — ou segundo a carne. “Ainda que antes tenhamos conhecido a Cristo dessa forma, agora já não o conhecemos assim” (2 Co 5:16). Apesar da importância que Deus dá aos laços de família, não devemos nos esquecer de que a queda do homem também envolveu um vínculo familiar: o amor natural que Adão tinha por Eva, sua esposa.
A história você conhece: A serpente argumentou com Eva que Deus não era bom ao proibi-la de comer daquela árvore. Então Eva “tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também” (Gn 3:6). O apóstolo Paulo explica que “Adão não foi enganado, mas sim a mulher” (1Tm 2:14). Adão amava tanto sua esposa que quis ser tão culpado quanto ela. Por amor ele comprometeu a verdade.
O apóstolo João endereça sua terceira epístola “ao amado Gaio, a quem amo na verdade” (2 Jo 1:1; 3 Jo 1:1). Verdade e amor se complementam. É “seguindo a verdade em amor” que crescemos “naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4:15). É pela “Obediência à verdade, visando ao amor fraternal e sincero” que purificamos nossa vida (1 Pe 1:22). Jesus andou aqui “cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14). A verdade sem amor oprime porém, o amor sem verdade engana.
Nos próximos 3 minutos um barco corre o risco de naufragar.
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Um barco em perigo
O rompimento de Jesus com seus laços familiares é seguido de uma tempestade. Aqueles que foram os primeiros ou únicos a se converterem em uma família de incrédulos sabem muito bem o que isto significa. A tempestade realmente vem, e aqui ela precede um embate direto com uma legião de demônios na terra dos gadarenos. É para lá que Jesus quer ir, e convida os discípulos a entrarem com ele no barco e partirem naquela direção.
“Enquanto navegavam, ele adormeceu. Abateu-se sobre o lago um forte vendaval, de modo que o barco estava sendo inundado, e eles corriam grande perigo” (Lucas 8:22-23). Se você se surpreende por enfrentar tempestades em sua vida depois de convertido, não se espante: o fato de Jesus estar no barco não significa que você terá uma vida calma e tranquila. Lembre-se de que, assim como os discípulos, você navega agora em um ambiente hostil, que é o mundo.
“Os discípulos foram acordá-lo, clamando: ‘Mestre, Mestre, vamos morrer!’”. Enfrentar dificuldades com Cristo no barco é normal; temer a morte e o juízo eterno não é normal se você já creu em Jesus. Quem já foi salvo jamais se perderá eternamente; a salvação é irrevogável. Embora muitos líderes religiosos ensinem o contrário, principalmente pelo receio de perderem seus seguidores, a salvação eterna daquele que verdadeiramente crê em Jesus é um fato consumado.
Se você duvida do que estou dizendo, então acredite no que Jesus diz: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai”. Quer mais? “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida” (Jo 5:24).
Duvidar disso é fazer o que os discípulos fazem aqui ao acharem que vão morrer no mesmo barco em que está o autor da vida. Jesus acorda, repreende o vento e a violência das águas e tudo fica calmo e tranquilo. Então ele pergunta aos discípulos: “Onde está a sua fé?”. Atemorizados, os discípulos perguntam: “Quem é este que até aos ventos e às águas dá ordens, e eles lhe obedecem?”. Eles andavam com Jesus, mas não o conheciam. E você, conhece a Jesus? Já creu nele como seu Salvador? Confia que seus pecados foram todos pagos por ele lá na cruz e agora pode desfrutar de paz com Deus? Ou ainda está tentando negociar com Deus uma salvação baseada em suas obras e perseverança? Se for assim, você não confia em Cristo, você confia em si próprio.
Nos próximos 3 minutos Jesus enfrenta uma legião de demônios. Quantos eram numa legião? Segundo os padrões romanos, entre mil e oito mil soldados.
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Milhares de demônios
“Quando Jesus pisou em terra, foi ao encontro dele um endemoninhado daquela cidade. Fazia muito tempo que aquele homem não usava roupas, nem vivia em casa alguma, mas nos sepulcros. Quando viu Jesus, gritou, prostrou-se aos seus pés e disse em alta voz: ‘Que queres comigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?’”. Um pouco antes, os discípulos ainda não sabiam realmente quem era Jesus, e perguntavam entre si, “Quem é este?”. Agora a legião de demônios que possui este homem sabe quem ele é e o chama pelo nome. Na Bíblia os únicos que se dirigem a Jesus sem chamá-lo de Senhor são os demônios.
Satanás tinha causado o vendaval no lago, que Jesus aplacou com uma palavra. Em Efésios Satanás é chamado de “príncipe do poder do ar” (Ef 2:2) e no primeiro capítulo do livro de Jó descobrimos que seus dez filhos foram mortos pelo diabo quando a casa caiu sobre eles. O que derrubou a casa? “Um vento muito forte veio do deserto e atingiu os quatro cantos da casa, que desabou” (Jó 1:19).
No evangelho de Mateus estes mesmos demônios suplicam: “Que queres conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do devido tempo?” (Mt 8:29). Eles sabem que um dia serão lançados no abismo, a prisão que antecede o lago de fogo. Por isso Satanás quis impedir Jesus de chegar ali com seus discípulos. Os demônios rogam a Jesus uma alternativa momentânea para o abismo, e Jesus lhes permite que saiam do homem e entrem numa manada de porcos perto dali. Os demônios fazem com os porcos aquilo que queriam fazer com Jesus e seus discípulos quando atravessavam o lago. Afogá-los.
Para quem crê em Jesus e tem sua salvação assegurada pelo sangue derramado na cruz, não há razão para temer os demônios. Eles não podem possuir quem já é propriedade do Espírito Santo, e se porventura Satanás causar qualquer dano a um crente, primeiro ele precisou obter uma autorização de Deus, como aconteceu com Jó. E se Deus autorizou é por saber que esse mal resultará em bem.
E quem não crê? Bem, o incrédulo está na condição descrita por Paulo, ao falar de como viviam os cristãos de Éfeso antes da conversão: “Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência”. O incrédulo pode não estar incorporado por uma legião de demônios, mas, usando o jargão popular, ele “vive do jeito que o diabo gosta”. O incrédulo segue “a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar... satisfazendo as vontades da carne, seguindo os seus desejos e pensamentos” (Ef 2:1-3).
A libertação está em Jesus, e ela é bem real, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Liberto!
O povo da cidade é avisado do que aconteceu com os porcos e vai conferir. “O homem de quem haviam saído os demônios estava assentado aos pés de Jesus, vestido e em perfeito juízo” (Lucas 8:35). Antes ele vivia nu entre os sepulcros, e nem as correntes podiam deter sua força descomunal. Que triste figura do pecador sem Deus e sem esperança: nu, controlado por demônios e vivendo nos lugares de morte e solidão. Agora ele tem prazer em ficar aos pés de Jesus.
Sempre que Cristo liberta um pecador há alegria no céu diante dos anjos de Deus. Mas aqui a libertação deste homem é motivo de tristeza para as pessoas da região. Eles amam mais seus porcos, e devem ter feito as contas de quanto perderiam se Jesus continuasse ali libertando pessoas do poder das trevas. O mesmo acontece hoje, quando os incrédulos lamentam por um parente ou amigo que se converte a Cristo. Acham um desperdício, preferiam vê-lo perdido.
O povo suplica que Jesus saia dali, e ele atende seu pedido. Se o homem endemoninhado representa aqueles que a sociedade rejeita, por estarem dominados pelo mal, os cidadãos de Gadara não são diferentes dele. Assim como acontece com os demônios, todos têm igualmente aversão a Jesus. Se você é desses que odeiam ouvir falar de Jesus, apesar de levar uma vida correta e normal aos olhos da sociedade você também quer ver Jesus pelas costas. Não se preocupe; por enquanto ele vai atender seu desejo. Mas isto apenas adiará seu encontro com ele, como os demônios quiseram adiar serem lançados no abismo.
“O homem de quem haviam saído os demônios suplicava-lhe que o deixasse ir com ele; mas Jesus o mandou embora, dizendo: ‘Volte para casa e conte o quanto Deus lhe fez’. Assim, o homem se foi e anunciou a toda a cidade o quanto Jesus tinha feito por ele” (Lucas 8:38-39). É assim que o reino de Deus se expande: por meio daqueles que experimentaram a graça de Deus e foram salvos. Estes não são tirados do convívio com os incrédulos para irem morar em um mosteiro no alto de uma montanha. Eles são deixados no mesmo lugar onde viviam escravizados pelo pecado para testemunharem do que Jesus fez com eles.
Essa obra, que traria tanta glória para Deus, começou com um ataque direto de Satanás contra Jesus e seus discípulos enquanto atravessavam o lago. Não foi diferente em Éfeso, cujos cristãos eram dirigidos pelo “príncipe do poder do ar” antes de se converterem. Paulo faz menção disso em sua primeira carta aos Coríntios, quando diz: “Permanecerei em Éfeso até o Pentecoste, porque se abriu para mim uma porta ampla e promissora; e há muitos adversários” (1 Co 16:8). Enquanto Cristo estava no mundo, era ele o alvo da oposição dos adversários. Agora são os cristãos. Mas nada, absolutamente nada, pode impedir Deus de agir. Nem Satanás manipulando o ar, nem uma legião de demônios.
Nos próximos 3 minutos uma mulher não pede a Jesus para ser curada.
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A fé que salva
Após Jesus ter expulsado a legião de demônios do homem gadareno, duas personagens cruzam seu caminho. Uma é a filha única de Jairo, um dos principais judeus da sinagoga, o qual se prostra aos pés de Jesus suplicando que vá à sua casa curar a menina. Ela tem quase doze anos e está à morte. A outra é uma mulher desconhecida que há doze anos sofre de hemorragia. Segundo a Lei de Moisés uma mulher assim é impura e intocável.
A menina é uma legítima representante de Israel, e acabará morrendo. A mulher, anônima e impura, representa os gentios ou não judeus, que sempre estiveram à margem do povo escolhido por Deus, mas que aproveitam para tocar em Jesus enquanto ele vai cumprir sua missão de trazer Israel de volta à vida. A carta aos Romanos ensina que Israel foi deixado de lado por um tempo para que os gentios fossem introduzidos na esfera de privilégio e bênção. A igreja, formada por judeus e gentios, tem sido o foco de Deus nos últimos dois mil anos.
Assim como ocorre hoje com quem se aproxima de Jesus de qualquer maneira, ignorante da Lei de Moisés e dos rituais do judaísmo, a mulher se mistura com a multidão em busca de cura para o seu mal. E é assim, escondida e anônima, que ela se aproxima de Jesus. “Ela chegou por trás dele, tocou na borda de seu manto, e imediatamente cessou sua hemorragia” (Lucas 8:44). Ela não pediu para ser curada e nem se prostrou aos seus pés, como fez Jairo implorando pela cura da filha. Também não esperou que Jesus lhe impusesse as mãos ou orasse por ela. Sua fé lhe dizia que bastaria tocar na borda de seu manto, e foi o que fez. E foi curada.
Mas aquele de quem fluem todas as bênçãos imediatamente percebe que alguém tocou nele, ao que os discípulos retrucam que dezenas de pessoas se comprimem ao seu redor. Mas nenhuma delas obteve a cura, apenas a que se aproximou com fé. Aquele que é verdadeiramente salvo por Jesus não passa despercebido. A mulher se vê constrangida a confessar na presença de todos que havia tocado em Jesus e fora curada. Jesus diz a ela: “Filha, a sua fé a curou. Vá em paz” (Lucas 8:48).
E você, já tocou em Jesus com fé, ou é apenas mais um da multidão de curiosos que se aglomera em redor dele? E se tocou e recebeu o perdão de seus pecados e a salvação eterna, por que insiste em passar despercebido? A carta de Paulo aos Romanos diz: “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação. Como diz a Escritura: ‘Todo o que nele crer jamais será envergonhado’” (Rm 10:9-11).
Nos próximos 3 minutos uma casa se enche de choro antes de se encher de alegria.
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A menina morta vive
Quando um médico é chamado para socorrer alguém que pode morrer, ele não para no caminho para atender outra pessoa com uma doença não mortal. Mas Jesus não é médico. Ele é o Filho de Deus que veio ao mundo para resolver, na cruz, a questão do pecado. Se ele tivesse vindo para curar doenças, a população do planeta teria sido toda curada. As curas que encontramos nos evangelhos servem apenas para provar que ele é o Messias aguardado por Israel.
Pense na filha de Jairo como a nação de Israel, morta aos olhos de Deus como testemunho neste mundo. E pense na mulher hemorrágica como uma figura dos gentios, alcançados pela graça salvadora de Deus por meio da fé em Jesus, enquanto Israel jaz imobilizado por seu orgulho e pretensão de ser capaz de cumprir a Lei de Moisés. Ao se deter para conversar com a mulher Jesus não interrompe sua missão. Ele apenas adia a ressurreição da menina para curar a pobre mulher que, de outra forma, não teria sido alcançada.
Este é o período atual, em que Jesus está ocupado acrescentando gentios e judeus convertidos à Igreja, o seu povo celestial. A qualquer momento ele voltará para tirar a Igreja deste mundo e então tratar com aqueles que pertencem ao seu povo terreno, Israel. Estes irão usufruir das bênçãos há muito prometidas para eles na terra, quando Cristo estabelecer seu reino de mil anos. Mas neste exato momento Israel não tem qualquer indício de vida para servir como um testemunho para Deus. Toda a nação está igual à menina: morta!
Alguém traz a notícia a Jairo: “Sua filha morreu. Não incomode mais o Mestre”. Ouvindo isso, Jesus diz a Jairo: “Não tenha medo; tão somente creia, e ela será curada” (Lucas 8:49-50). E é assim, diante da incredulidade de todos, que Jesus chega à casa de Jairo, permitindo que entrem consigo apenas Pedro, João e Tiago, além do pai e da mãe da menina. Por quê? Porque a crença geral ali é de que nada mais pode ser feito. “Não chorem”, diz Jesus. “Ela não está morta, mas dorme”. Todos riem dele, pois sabem que a menina está morta.
Assim é hoje com a maioria dos cristãos: acreditam que Israel perdeu sua chance e que não haverá uma restauração desse povo. Acham que a Igreja é a sucessora de Israel neste mundo e a atual detentora das promessas terrenas feitas àquele povo no Antigo Testamento. Não é de surpreender que muitos cristãos corram atrás da prosperidade prometida a Israel, ou tentem conquistar territórios para garantir a cristianização do mundo e a instalação do reino. Este é um equívoco tanto do catolicismo quanto do protestantismo fundamentalista.
Jesus toma a menina pela mão e diz: “Menina, levante-se!”. Eu nem preciso dizer o que aconteceu, não é mesmo? Nos próximos 3 minutos os discípulos recebem um poder que só Deus pode dar.
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Jesus chama e envia
Um dos erros da cristandade é acreditar que tudo o que está na Bíblia vale para qualquer época e lugar. Não é bem assim. Existem passagens que são específicas para o momento em que ocorreram, e é o que vemos neste capítulo 9 do evangelho de Lucas. Aqui Jesus dá aos discípulos a ordem expressa de saírem para pregar o reino de Deus sem levar quaisquer recursos. Ele diz: “Não levem nada pelo caminho: nem bordão, nem saco de viagem, nem pão, nem dinheiro, nem túnica extra. Na casa em que vocês entrarem, fiquem ali até partirem. Se não os receberem, sacudam a poeira dos seus pés quando saírem daquela cidade, como testemunho contra eles” (Lucas 9:3-5).
Muitos cristãos pensam ser este o modo correto de se viver e testemunhar de Cristo. Porém mais tarde o mesmo Jesus diria aos discípulos: “‘Quando eu os enviei sem bolsa, saco de viagem ou sandálias, faltou-lhes alguma coisa?’. ‘Nada’, responderam eles. Ele lhes disse: ‘Mas agora, se vocês têm bolsa, levem-na, e também o saco de viagem; e se não têm espada, vendam a sua capa e comprem uma’” (Lucas 22:35-36).
O mesmo equívoco, cometem aqueles que tentam aplicar para a Igreja as promessas feitas a Israel no Antigo Testamento. Por isso o apóstolo Paulo exorta: “Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar, que maneja corretamente a palavra da verdade” (2Tm 2:15). O verbo “manejar” aqui tem o sentido de “dissecar” ou dividir criteriosamente a Palavra de Deus. Esta é a chave para o entendimento de toda a Bíblia.
O poder e autoridade que Jesus dá aos discípulos aqui são específicos para esta missão. Poder para eles executarem a obra de Deus e autoridade para usarem desse poder em nome de Jesus. A mesma autoridade sobre os demônios, que Jesus demonstrou ter no capítulo 8, ele agora dá aos discípulos. É uma autoridade divina e isso ficou claro quando vimos que os demônios precisaram aguardar a autorização do Senhor para entrar nos porcos.
Quatro coisas importantes aqui: A primeira é que Jesus convoca ou reúne os doze discípulos; a segunda, ele dá a eles poder e autoridade; terceira, os envia a pregar e a curar; e quarta, dá a eles instruções claras de como devem proceder. Apesar das particularidades desta comissão, a ordem ainda vale para hoje: Primeiro o Senhor chama, depois capacita, depois envia e, finalmente, instrui como proceder. É claro que hoje não pregamos o reino de Deus como estes discípulos pregavam — afinal, naquele momento o Rei estava na terra —, mas pregamos a “Jesus Cristo, e este, crucificado”, como ensina Paulo em 1 Coríntios 2:2.
Nos próximos três minutos um homem tem sua consciência atribulada.
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Consciência atribulada
Herodes Antipas é filho de Herodes, o Grande, o rei que mandou matar os meninos de até dois anos quando Jesus nasceu. Satanás tentava eliminar aquele que viria a pisar a cabeça da serpente e reinar sobre Israel. O que Satanás não conseguiu por meio do pai, iria conseguir por seu filho. Herodes Antipas, com Pilatos e os sacerdotes judeus, participaria da condenação e execução de Jesus. Mas aí o tiro de Satanás sairia pela culatra. Conforme Deus prometera no jardim do Éden, o descendente da mulher pisaria a cabeça da antiga serpente, que é o diabo, Satanás. Hoje sabemos que isso ocorreu na cruz.
Mas aqui é de duas outras cabeças que Lucas nos fala: da cabeça de João Batista e da cabeça de Herodes Antipas. Este havia mandado decapitar a João, porém o profeta não saiu da cabeça de Herodes. Ele se preocupa ao ouvir falar dos grandes feitos de Jesus. Alguns afirmam que é Elias que voltou, outros que um profeta ressuscitou. No evangelho de Mateus Herodes dá sua opinião: “Este é João, que mandei degolar; ressuscitou dentre os mortos” (Mt 6:16).
A má consciência transforma o valente em covarde. A possibilidade de Jesus ser João ressuscitado de entre os mortos faz Herodes tremer. A ressurreição da vítima é a última coisa que um homicida deseja, pois demonstra que Deus, o único que pode dar vida, decidiu ficar do lado do assassinado. E quando Deus fica do lado do inocente, que lado resta para o culpado?
O livro de Apocalipse diz que Jesus “vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram” (Ap 1:7). Quando isso acontecer, de que lado você estará? Da vítima ou dos algozes? O mesmo Apocalipse diz que “os reis da terra, os príncipes, os generais, os ricos, os poderosos — todos os homens, quer escravos, quer livres, esconderam-se em cavernas e entre as rochas das montanhas. Eles gritavam às montanhas e às rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia da ira deles; e quem poderá suportar?’” (Ap 6:15-17).
Enquanto a consciência de Herodes o incomoda acerca de João Batista, um morto que ainda não ressuscitou, Jesus morreu, ressuscitou e está agora glorificado à destra do Pai. Ele voltará, não mais como um humilde carpinteiro, mas como um severo Juiz para julgar e condenar a todos os que o rejeitaram. Deus “Agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17:31). Volto a perguntar: De que lado você estará nesse dia?
Nos próximos 3 minutos Jesus faz um milagre que é o único registrado nos quatro evangelhos.
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Um Senhor amoroso
Ao voltarem da missão à qual foram enviados, os apóstolos estão ansiosos para contar tudo o que fizeram com o poder e autoridade do Senhor. Sabendo que eles precisam descansar, Jesus os leva a um lugar deserto próximo a Betsaida, mas é seguido por uma multidão e acaba ministrando a ela, falando-lhes do Reino e curando seus enfermos.
“Ao fim da tarde os doze aproximaram-se dele e disseram: ‘Manda embora a multidão para que eles possam ir aos campos vizinhos e aos povoados, e encontrem comida e pousada, porque aqui estamos em lugar deserto’. Ele, porém, respondeu: ‘Deem-lhes vocês algo para comer’. Eles disseram: ‘Temos apenas cinco pães e dois peixes — a menos que compremos alimento para toda esta multidão’. E estavam ali cerca de cinco mil homens” (Lucas 9:12-14).
Não somos diferentes dos apóstolos. Quando o assunto é sair em missões para terras distantes, nenhuma dificuldade é grande demais. Mas, quando é questão de atender aqueles que estão próximos de nós, procuramos nos livrar do problema. Somos mais propensos a contribuir para uma obra missionária na África, do que a falar de Cristo ao mendigo que dorme ali na calçada. “Manda embora a multidão”, dizem os discípulos a Jesus.
Mas o Senhor não faz o que eles pedem e ainda os envolve no trabalho de alimentar a multidão. Os poucos recursos disponíveis — cinco pães e dois peixes — são milagrosamente multiplicados por Jesus. Ao invés de fazer os pães e peixes chegarem também milagrosamente às mãos das pessoas, ele prefere entregá-los aos discípulos para que estes entreguem à multidão. Jesus quer nos envolver na sua obra e um coração agradecido pela salvação que recebeu de graça irá voluntariamente colocar-se à disposição dele.
O trabalho de distribuir os pães e peixes não deve ter sido fácil para os discípulos, mas que agradável surpresa descobrir no final que sobraram doze cestos — um para cada apóstolo que trabalhou naquela obra. Jesus não só tem prazer em nos envolver em sua obra, como nos recompensa por isso. “O lavrador que trabalha arduamente deve ser o primeiro a participar dos frutos da colheita” (2Tm 2:6).
A Palavra de Deus nos encoraja, dizendo: “Deus não é injusto; ele não se esquecerá do trabalho de vocês e do amor que demonstraram por ele, pois ajudaram os santos e continuam a ajudá-los... Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil” (Hb 6:10; 1 Co 15:58).
Agora uma pergunta que faz toda diferença: Quem é Jesus? A resposta está nos próximos 3 minutos.
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Quem é Jesus? I
“Certa vez Jesus estava orando em particular, e com ele estavam os seus discípulos; então lhes perguntou: ‘Quem as multidões dizem que eu sou?’. Eles responderam: ‘Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, que és um dos profetas do passado que ressuscitou’. ‘E vocês, o que dizem?’, perguntou. ‘Quem vocês dizem que eu sou?’”.
Hoje Jesus faz a mesma pergunta a cada coração: “Quem você diz que eu sou?”. As respostas são as mais diversas. Alguns dirão que é Elias reencarnado, sem nunca terem reparado que o profeta Elias não passou pela morte, mas foi arrebatado ao céu. Mais adiante neste evangelho veremos que Jesus conversa com Elias e Moisés, quando se transfigura diante dos olhos de seus discípulos. Se ele fosse a reencarnação de Elias não poderia ter conversado consigo mesmo.
Alguns piedosamente afirmam ter sido ele um grande homem, um mestre que veio trazer mensagens valiosas para nossa evolução espiritual. Será? Achar que com uma opinião assim você está elogiando Jesus é como querer elogiar Einstein por saber a tabuada. Considerar Jesus menos que divino é uma ofensa a Deus.
Os muçulmanos dizem que Jesus é apenas mais um dos profetas de Deus e os judeus negam que ele seja o Messias prometido. Existe ainda uma miríade de seitas e religiões cujos fundadores afirmam ser a mais recente manifestação de Jesus. Na Internet é possível encontrar mais de trinta deles, sem contar os que estão em instituições para doentes mentais, o que poderia ser considerado o maior caso de roubo de identidade da história.
Por que tanta gente quer se passar por Jesus? Por outro lado, por que tantos têm tamanha aversão por este nome? E por que milhares amaram tanto este mesmo nome ao ponto de morrerem por ele? Deve existir algo de muito especial nessa pessoa. Então quem é realmente Jesus? Um bom lugar para começarmos a pesquisar é a própria Bíblia, iniciando pelo Antigo Testamento que terminou de ser escrito 450 anos antes de Jesus nascer.
Ali encontramos profecias que falam dele, e se você tiver um conhecimento mínimo dos evangelhos verá que seria humanamente impossível alguém preencher todas as expectativas dos profetas por mera coincidência. A probabilidade de uma mesma pessoa se encaixar em apenas 8 das mais de 300 profecias do Antigo Testamento que falavam do Messias é de uma em cem quatrilhões. E quais seriam as chances de alguém cumprir 48 dessas profecias? Pense no número dez seguido de 157 zeros. E Jesus não se encaixa em apenas 48 profecias, mas em mais de trezentas!
Por isso vamos precisar de mais 3 minutos para continuar perguntando: Quem é Jesus?
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Que é Jesus? II
Antes de dar sua opinião sobre quem é Jesus, é bom verificar se ele preenche as credenciais previstas pelos profetas. Nos primeiros livros que compõem a Bíblia Moisés anunciava que o Messias prometido a Israel seria descendente de Abraão, Isaque e Jacó, e pertenceria à tribo de Judá. Miquéias previu que ele nasceria em Belém da Judeia, e Isaías avisou que isso seria pela concepção de uma virgem.
O profeta Jeremias escreveu que crianças seriam mortas por ocasião de seu nascimento, e foi o que o Rei Herodes mandou fazer quando soube que o rei prometido a Israel havia nascido. A perseguição fez com que José e Maria fugissem com o menino Jesus para o Egito, o que também havia sido previsto pelo profeta Oséias. Segundo o profeta Isaías, a região de seu ministério seria a Galileia ao longo do Rio Jordão, e ele seria rejeitado pelo povo judeu, como foi.
Zacarias anunciou com séculos de antecedência a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e o profeta Daniel especificou até mesmo a época em que isso aconteceria, uma semana antes de ser crucificado. Com mil anos de antecedência Davi previu que o Messias seria traído por um de seus amigos e Zacarias confirmou, indicando que o traidor receberia trinta moedas de prata que seriam depois lançadas no Templo e usadas para comprar o campo de um oleiro.
Isaías escreveu, com setecentos anos de antecedência, que o Messias permaneceria mudo diante de seus acusadores e que seu sofrimento e morte seriam para pagar pela culpa de outros. O mesmo profeta indicou que ele morreria entre malfeitores e Davi, no Salmo 22, previu que ele seria crucificado, com as mãos e os pés atravessados por grandes pregos. Os Salmos acrescentavam que o crucificado seria insultado e que em sua sede lhe dariam vinagre.
Segundo o profeta Zacarias, o corpo morto seria furado por uma lança e Davi acrescentou que suas vestes seriam sorteadas entre seus carrascos. Porém nenhum osso seria quebrado, ao contrário do que era comum na crucificação, quando as pernas dos condenados eram quebradas para acelerar a morte. Os profetas previram, além da morte, a ressurreição e ascensão de Jesus ao céu, mas isso só foi visto por um pequeno grupo de pessoas, os discípulos de Jesus. Sim, existem coisas que você só conseguirá enxergar se for discípulo de Cristo, um círculo no qual se entra pela fé, não pela razão.
Assim foi que, quando Jesus perguntou aos seus discípulos “Quem vocês dizem que eu sou?”, o evangelho de Mateus mostra que a resposta de Pedro, de que Jesus era o Cristo, o Messias prometido, não veio dele próprio, mas de uma revelação direta de Deus: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus” (Mt 16:17).
E para você, quem é Jesus?
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O que você fará com Jesus?
Quem é Jesus para você? Para os discípulos nós já vimos quem ele é: Aquele que nos amou tanto ao ponto de morrer por mim e por você. Então agora o que você fará com Jesus? Como irá corresponder a esse amor? Eu sei que você anseia por amor, por alguém que se interesse por seus problemas e não o decepcione. Jesus é assim — Ele ama você! Então o que você vai fazer com este amor? Rejeitá-lo? Você não gostou quando alguém fez o mesmo com o amor que você tentou demonstrar. Não seria melhor você ir agora a Jesus que ama tanto você? Ele morreu para salvá-lo de seus pecados e ter você junto a ele na glória. E então?
O amor de Jesus é a coisa mais preciosa que você pode ter. Ele ama você. Ele se aproxima de você agora em misericórdia e graça, e o chama para estar com ele, para desfrutar de bênçãos eternas, para receber a sua dádiva de amor, a salvação. Por que não confiar nele como seu Salvador, seu Senhor, seu Libertador do pecado? Você não quer ser liberto da escravidão do pecado? É o pecado que faz com que você seja infeliz. Faz de você uma pessoa invejosa, orgulhosa, cheia de ódio. O pecado acabará destruindo você para sempre se não for salvo dele. Só Jesus pode salvá-lo, “pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:23).
Então o que você fará com o amor de Jesus? Lembre-se do que você sentiu quando alguém recusou a afeição que você tentou demonstrar. Por que não pede a Jesus agora mesmo para que ele salve você? Ele ama você e quer que você vá a ele, que confie nele, o único capaz de tirar os seus pecados e dar a você um lar eterno na glória. Basta conversar com ele bem aí onde você está; basta ir a ele do jeito que estiver agora. Conte a ele suas tristezas, seus medos, seus problemas. Depois você poderia falar dele como falou o apóstolo Paulo: “O Filho de Deus me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2:20).
Quando Jesus estava na Terra, Ele disse: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso... e quem vier a mim eu jamais rejeitarei” (Mt 11:28; Jo 6:37). Jesus, o Salvador ressuscitado, está hoje tão ansioso em receber pecadores com todos os seus pecados e suas necessidades, quanto quando Ele esteve aqui há dois mil anos e aceitou morrer na cruz para pagar pelos pecados que não eram dele.
Se, como pecador, você for a Jesus e crer nele como seu Salvador, seus pecados serão perdoados e você irá estar com ele quando vier buscar os que lhe pertencem. Depois ele voltará para julgar os que o rejeitaram. Desejo sinceramente que você esteja entre os salvos, “porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).
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Onde está o Messias?
Agora que os discípulos sabem quem é aquele que eles seguem — o Cristo de Deus — Jesus ordena que eles não digam isso a ninguém e acrescenta: “É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas e seja rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, seja morto e ressuscite no terceiro dia” (Lucas 9:22).
Quando Pedro respondeu, no versículo 20, que Jesus era o Cristo, ele estava falando do Messias prometido para reinar sobre Israel e as nações gentias. Mas no versículo 22 Jesus fala de si como o “Filho do Homem”, um título que tem a ver com sua humanidade e com a nova criação, em contraste com aquela que foi arruinada pelo pecado no Éden. É como Filho do Homem que ele assumirá a posição em que Adão falhou: ser Senhor de toda a criação. O Salmo 8 fala disso:
“Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, as aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares” (Sl 8).
Mas para que isto aconteça — para que Jesus tenha a preeminência sobre todas as coisas — é necessário que primeiro ele seja rejeitado, morto e ressuscitado. Deus coloca assim um ponto final na velha criação e passa uma borracha em tudo o que diz respeito ao primeiro homem, Adão. Os judeus, que aguardam seu Messias apenas no caráter de um Rei, ainda não perceberam que ele também terá este caráter de Cabeça de toda a criação. Mas antes ele precisaria morrer e ressuscitar.
A profecia feita por Daniel no capítulo 9 de seu livro, a partir do versículo 24, dizia que depois que fosse dada a ordem para reedificar Jerusalém, o Messias seria manifestado. Porém, após o surgimento do Messias a profecia deixava claro que ele seria “tirado” ou “cortado”, isto é, morto, e que a isto se seguiria a destruição de Jerusalém e do Templo. A profecia é tão detalhada que até o tempo entre os eventos é indicado por períodos chamados de “semanas” de anos.
Todo judeu sabe que Jerusalém foi reconstruída na época de Esdras e Neemias e novamente destruída pelos romanos no ano 70 da era cristã. O que os judeus não percebem é que entre uma coisa e outra o Messias deveria ter vindo e sido “tirado”, isto é, morto e ressuscitado. Só assim Jesus poderia cumprir tudo o que havia sido profetizado a seu respeito e chamar para si um povo distinto e separado, que é o que vamos ver nos próximos 3 minutos. Mas antes disso, se você for judeu, leia Daniel 9, versículo 24 em diante, e tente achar o Messias.
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Tomar sobre si a cruz
Depois da revelação de que Jesus é o Messias esperado por Israel, os discípulos são exortados a não divulgarem essa informação, pois ainda não era a hora de ele ser manifestado como o Messias vitorioso. Antes de vir como o Rei de reis e Senhor de senhores Jesus precisa passar pela morte de cruz, e é da cruz que ele fala no versículo 23, porém agora se referindo aos seus seguidores: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23).
As pessoas costumam dizer que têm uma cruz para carregar, referindo-se a uma doença, sofrimento ou problema. A expressão tem sua origem nesta passagem, mas a rigor não é o que Jesus está querendo dizer aqui. Ele não está falando de cruz no sentido de algum problema que nos aflige e ao qual devemos nos conformar. Ele está falando de morte. Tomar a cruz é considerar-se morto, por dentro e por fora. Na época, quem visse alguém carregando uma cruz minutos antes da execução podia dizer sem medo de errar: “Esse aí já está morto”.
É assim que o cristão deveria se apresentar: como alguém que diariamente expõe sua condição de morto para este mundo, e é este o significado de tomar diariamente a sua cruz. Há, porém, outro aspecto além dessa expressão exterior de morte. A mesma passagem diz “Negue-se a si mesmo”, e isto nos fala da negação interior, do reconhecimento de que o meu “eu” está morto e já não dou ouvidos para ele. O assunto é tratado com mais detalhes em cinco passagens que falam da cruz na carta aos Gálatas.
Em Gálatas 3:1 é dito que “Jesus Cristo foi exposto como crucificado”, e é este o ponto de partida da nova vida do cristão. Na cruz Jesus levou sobre si os meus pecados e foi julgado por Deus em meu lugar para que eu não venha a passar pelo juízo e ser condenado no final. Se você não tem a certeza de que na cruz Jesus levou os seus pecados é porque ainda não creu nele como seu Salvador. Você continua achando que não é tão pecador quanto fulano ou sicrano, e acredita que no dia do juízo Deus irá ponderar o bem e o mal que você praticou para decidir seu destino eterno. Você ainda não entendeu para quê Cristo morreu.
A morte de Jesus nos remete aos sacrifícios do Antigo Testamento, quando uma vítima inocente, como uma ovelha, era morta em lugar do pecador. O inocente substituía o culpado no juízo de morte. Por que você acha que a Bíblia chama Jesus de “Cordeiro de Deus”? Ele é a vítima definitiva. Enquanto os sacrifícios do Antigo Testamento só relembravam o pecado, o sacrifício de Cristo efetivamente anulou os pecados daqueles que creem nele. Nos próximos 3 minutos continuaremos com o apóstolo Paulo falando de outros aspectos da cruz.
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Morto, cinco vezes morto!
Quando você entende que, na cruz, Jesus não morreu como um mártir injustiçado ou um exemplo de abnegação, mas efetivamente cumpriu uma sentença judicial sofrendo a pena no lugar do culpado, a primeira coisa que você deve fazer é considerar-se culpado para se beneficiar desse sacrifício substitutivo.
A salvação não começa com você justificando-se e dizendo que leva uma vida honesta, ama o próximo e socorre os necessitados. A salvação começa com você prostrando-se diante de Deus como quem merece e aguarda a sentença e o golpe mortal, para então reconhecer que esse golpe já foi dado em Jesus depois de seus pecados terem sido transferidos para o prontuário dele. Um condenado à morte não pode ser executado mais de uma vez, e é assim que Deus considera aquele que crê em Jesus: morreu por procuração, quando Jesus, na cruz, assumiu suas culpas e foi executado em seu lugar.
A carta de Paulo aos Gálatas apresenta as consequências práticas de se posicionar nesse lugar de morte com Cristo. Em Gálatas 2:20 Paulo afirma acerca de si mesmo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. Isto é verdadeiro também a respeito de todo aquele que se reconhece pecador e crê em Jesus como Salvador.
“Crucificado com Cristo” significa que já recebeu a sentença que Deus reserva ao velho homem, aquela natureza que nós herdamos de Adão. Na cruz Deus pôs um ponto final no homem em seu estado original, também chamado de “carne” em algumas passagens da Bíblia. Se Deus já desistiu de encontrar algo de bom nessa natureza caída e arruinada pelo pecado, como é que você ainda tem a pretensão de tentar melhorar a si mesmo para ser aceito por Deus no final?
Gálatas 5:24 fala dessa mesma carne: “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos”. Se Cristo foi crucificado por mim, e eu sou visto por Deus como crucificado com Cristo, devo agora abandonar minha carne numa condição de morte. E não apenas a carne, que é minha natureza caída, mas o próprio mundo deve ser abandonado nesse necrotério da velha natureza. Gálatas 6:14 diz que, pela cruz do Senhor Jesus Cristo, “o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo”.
A cruz e seus efeitos aparecem cinco vezes nessa série de versículos em Gálatas, para eu não me esquecer de que Cristo morreu, eu morri com ele, minha carne, com suas paixões e desejos, foi morta com ele, o mundo morreu para mim e eu morri para o mundo. Diante de uma sentença de morte tão completa que Deus aplicou sobre o homem em seu estado natural, por que alguém em sã consciência iria querer procurar em si mesmo algo de bom para oferecer a Deus?
Nos próximos 3 minutos Jesus fala de salvar a vida ou perdê-la.
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Salvar ou perder a vida
Jesus diz: “Quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a vida por minha causa, este a salvará” (Lucas 9:24). Existe uma vida que é desejável e compatível com a natureza que herdamos de Adão. Paulo explica que “o primeiro homem, Adão, tornou-se um ser vivente; o último Adão [que é Jesus], espírito vivificante... O primeiro homem era do pó da terra; o segundo homem, do céu. Os que são da terra são semelhantes ao homem terreno; os que são do céu, ao homem celestial” (1 Co 15:45-49).
Se você crê em Jesus possui agora uma nova vida cuja origem está no céu, e não na terra. A vida que você herdou de Adão nunca desejou as coisas do céu, e a vida que você agora possui em Cristo nunca ficará satisfeita com a vida que o mundo tem a oferecer. Sim, o mundo oferece uma vida, mas é a mesma vida que a humanidade tem escolhido desde os tempos de Caim. “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se ou destruir a si mesmo?” (Lucas 9:25).
O assassino de Abel não só inaugurou a religião de boas obras, ao tentar agradar a Deus com o fruto do seu trabalho, como também construiu a primeira cidade e deu origem à civilização tal qual a conhecemos. No capítulo 4 de Gênesis você encontra os descendentes de Caim inventando a agropecuária, a cultura e a indústria. O homem terreno agarra-se a estas coisas — muitas delas perfeitamente lícitas — porque é tudo o que tem para satisfazer a vida que herdou de Adão. Mas no final ele terá perdido sua vida aqui e eternamente.
O cristão não caminha como uma besta quadrúpede, que olha para o chão, mas com seus olhos fitos no céu. Não vive preocupado com o desprezo aqui, pois suas expectativas estão na glória. Ele olha para “Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus” (Hb 12:2). Jesus literalmente perdeu a vida aqui por ter em vista a glória celestial.
Em todas as épocas os que foram da fé aguardaram “a cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus... reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra... esperavam eles uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Por esta razão Deus não se envergonha de ser chamado o Deus deles, pois preparou-lhes uma cidade” (Hb 11:10-40). Jesus conclui dizendo: “Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier em sua glória e na glória do Pai e dos santos anjos” (Lucas 9:26).
Se Deus não se envergonha de ser chamado o seu Deus, por que você se envergonharia de Jesus, não é mesmo? Nos próximos 3 minutos Jesus permitirá que três de seus discípulos espiem por uma fresta no tempo e espaço. O que eles veem os marcará profundamente para o resto de suas vidas.
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Uma fresta para o futuro
Jesus diz: “Alguns que aqui se acham de modo nenhum experimentarão a morte antes de verem o Reino de Deus” (Lucas 9:27). Ele não quis dizer que alguns dos discípulos seriam imortais, mas que veriam o Reino antes de morrer. E agora Jesus permite que Pedro, Tiago e João espiem por uma espécie de fresta no tempo e espaço e vejam Jesus em glória, ao lado de Moisés e Elias.
Você deve estar lembrado de que neste capítulo Jesus tinha acabado de falar de sua vinda “na sua glória, e na do Pai e dos santos anjos” (Lucas 9:26). O livro de Judas cita Enoque ao acrescentar que outros o acompanharão nessa vinda: “Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos” (Jd 1:14). E o profeta Zacarias também inclui esses “santos” na vinda do Senhor, ao dizer: “Então o Senhor, o meu Deus, virá com todos os seus santos” (Zc 14:5).
A qualquer momento o Senhor virá sozinho para ressuscitar a todos os que morreram na fé. Nessa ocasião os vivos que crerem nele serão transformados e subirão para encontrá-lo “nos ares”. Mas nessa vinda ele não chega a colocar os seus pés sobre a terra, como fará quando vier para julgar as nações e estabelecer o seu Reino. Na primeira ele chega apenas até as nuvens, o ponto de encontro dele com os ressuscitados e transformados. Dali Jesus e os seus seguem para o céu, e isto é o que costumamos chamar de “arrebatamento da igreja”.
Depois virá um período de sete anos, na metade do qual o anticristo se manifestará e passará a perseguir um remanescente de judeus que se converterão nessa época. No final desse período Cristo virá de forma visível e magnífica, colocando seus pés no monte das Oliveiras conforme os anjos prometeram no livro de Atos: “Galileus, por que vocês estão olhando para o céu? Este mesmo Jesus, que dentre vocês foi elevado ao céu, voltará da mesma forma como o viram subir” (At 1:11). E o profeta Zacarias confirma: “Naquele dia os seus pés estarão sobre o monte das Oliveiras, a leste de Jerusalém, e o monte se dividirá ao meio” (Zc 14:4).
Agora você já sabe como é possível Jesus voltar com os “milhares de seus santos” ou “todos os seus santos” mencionados por Judas e Zacarias. Para que venham com Cristo é preciso que antes estejam com Cristo no céu. Você também já pode entender a razão de os anjos, em Atos, anunciarem que ele colocará seus pés sobre o Monte das Oliveiras, enquanto em 1 Tessalonicenses 4 fala de um encontro com os seus nos ares e entre nuvens. Tudo fica claro quando entendemos que há dois momentos distintos da vinda de Cristo, separados por um período de sete anos. Mas vamos voltar a nos ocupar agora com o que acontece neste capítulo que fala da transfiguração de Jesus. É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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O assunto dos céus
A cena da transfiguração é significativa. Nela temos uma visão do reino futuro de Cristo, com o Rei no centro das atenções, acompanhado dos santos que estarão com o Rei em sua vinda. Os que passaram pela morte são representados por Moisés, e os que foram arrebatados ao céu, sem passar pela morte, são representados por Elias. Enquanto isso, Pedro, Tiago e João representam os santos que serão abençoados na terra durante o reino milenial de Cristo.
O comportamento destes três discípulos nos ensina como não agir na presença do Senhor. O versículo 32 de Lucas 9 diz que “Pedro e os seus companheiros estavam dominados pelo sono; acordando subitamente, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele”. Infelizmente este sono de indiferença pelas coisas celestiais é comum entre os cristãos e muitos serão surpreendidos pela vinda do Senhor, algo que nem esperavam. Há tantas atrações nesta vida que muitos acabam perdendo o interesse pelos assuntos do céu.
Moisés e Elias “falavam sobre a partida de Jesus, que estava para se cumprir em Jerusalém” (Lucas 9:31). A morte e ressurreição de Jesus é ali o assunto do céu, mas não da terra. Quando abrimos no capítulo 5 de Apocalipse temos uma visão futura do céu e lá o assunto será eternamente o mesmo: o Cordeiro que foi morto e com o seu sangue comprou para Deus homens de toda tribo, língua e nação.
Paulo coloca a morte e ressurreição de Cristo como o centro de sua mensagem. No capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios ele diz: “Irmãos, quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei... Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15:1-4).
Acaso é este o evangelho que hoje é pregado por aí? Nem sempre. A mensagem foi diluída ao ponto de se transformar em uma mensagem motivacional. O bem-estar do ser humano nesta vida passou a ser o centro da mensagem e não o perdão de pecados e a salvação eterna. Os pregadores dão às pessoas o que elas querem: promessas de prosperidade material, saúde perene e felicidade nos relacionamentos. E isso costuma vir acompanhado de muitos decibéis de música e pirotecnia, não muito diferente de um show qualquer. Um evangelho sem o sangue do Cordeiro sacrificado e sem a ressurreição não é evangelho.
Mas quando o tema da morte e ressurreição de Cristo não é substituído por prosperidade, saúde e felicidade, outra coisa muito mais antiga e perniciosa toma o seu lugar: a superstição e o culto à personalidade. Estes são os assuntos dos próximos 3 minutos.
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Só Jesus
Depois de serem acordados de seu sono pela aparição de Jesus transfigurado e acompanhado de Moisés e Elias, os três discípulos — Pedro, Tiago e João — reagem conforme o instinto religioso inerente ao homem. Adão e Eva tiveram uma reação semelhante no jardim do Éden, quando se viram nus: fizeram um cinturão de folhas para tentar cobrir sua nudez. Caim também tentou fazer algo: ofereceu a Deus o trabalho de suas mãos.
No caso de Adão e Eva, foi preciso que Deus sacrificasse um animal inocente para, com sua pele, cobrir a nudez deles. A oferta de Caim, do trabalho de suas mãos, foi recusada em detrimento da oferta de fé de Abel: o sacrifício cruento de um animal inocente. Desde então assim tem sido a história da humanidade: o homem sempre tentando fazer e dar algo para Deus, sem perceber que é Deus quem faz e Deus quem dá. Ao homem resta apenas a humilde posição de beneficiário da graça divina — e que bendita posição!
O versículo mais famoso da Bíblia fala justamente destas duas coisas: Deus é o dador e sua dádiva foi o sacrifício de seu próprio filho: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).
Mas o que tudo isso tem a ver com a reação dos discípulos diante de Cristo transfigurado? Veja o que Pedro diz: “Façamos três tendas...”. Ele se sente na obrigação de fazer algo para Deus. “Mestre, é bom estarmos aqui”, diz ele. “Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias” (Lucas 9:33). Pedro não é capaz de apenas desfrutar da presença de Jesus em contemplação. Ele quer fazer algo e, o que é pior, colocar Moisés e Elias, meros servos de Deus, no mesmo nível de Jesus, o Filho eterno de Deus.
Quantas vezes você já viu capelas e altares edificados em homenagem a homens e mulheres por alguém que achou que fazendo assim agradaria a Deus? “Façamos três tendas”, diz Pedro e isto não é diferente de dizer “Façamos três capelas” ou qualquer outra coisa que sirva para abrigar o Filho de Deus ou perpetuar nomes de meros servos de Deus.
Pessoas de boas intenções gostam de homenagear os servos de Deus, mas é errado. Moisés e Elias são ocultos dos olhos dos discípulos por uma nuvem e os discípulos ficam só com Jesus. Uma voz do céu diz: “Este é o meu amado Filho; a ele ouvi” (Lucas 9:35). A exaltação de homens não tem lugar nas coisas de Deus. Exaltar servos de Deus é um costume humano e nada tem a ver com as coisas de Deus. O correto é dizer como disse João Batista, quando viu a Jesus: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3:30).
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Incrédulos e perversos
Chega ao fim aquela atmosfera celestial que os discípulos respiravam durante a transfiguração de Jesus no monte. Agora eles descem para o nível deste mundo e se veem diante da multidão carregada das terríveis marcas que o pecado deixou na Criação. Um homem se aproxima de Jesus e descreve a triste condição de seu filho único: ele é possuído por um espírito maligno que está destruindo sua vida.
O pai aflito explica a Jesus que havia pedido aos discípulos que expulsassem o espírito maligno de seu filho, mas nenhum deles foi capaz de fazê-lo. “Ó geração incrédula e perversa”, diz Jesus, “Até quando estarei com vocês e terei de suportá-los?” (Lucas 9:41). Ele não diz “Ó demônios, até quando terei de suportá-los?”, mas provavelmente esteja falando dos discípulos ou mesmo de toda a humanidade.
Primeiro, porque todo ser humano é, por natureza, incrédulo. Segundo, porque os homens pervertem as coisas de Deus ao seu bel prazer. Assim somos todos “geração incrédula e perversa”. Quando você não crê no poder de Deus, passa a confiar em seus próprios recursos. Isto é incredulidade. E se você perverte ou distorce as coisas de Deus para atender seus próprios interesses você é perverso.
O evangelho de Mateus 17:21 acrescenta que “esta espécie [de demônio] só sai pela oração e pelo jejum”. Estes são os antídotos contra a incredulidade e a perversão. É pela oração que você demonstra sua dependência de Deus, e não de si mesmo, e o jejum significa abrir mão de seus apetites e interesses pessoais. Deus nos quer cem por cento dependentes dele e famintos de nossa vontade própria, para sermos saciados da vontade dele.
“Quando o menino vinha vindo, o demônio o lançou por terra, em convulsão. Mas Jesus repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou de volta a seu pai” (Lucas 9:42). O Evangelho de Marcos acrescenta que o menino caiu no chão e começou a rolar, espumando pela boca. Diz ainda que “quando Jesus viu que a multidão estava se ajuntando, repreendeu o espírito imundo, dizendo: ‘Espírito mudo e surdo, eu ordeno que o deixe e nunca mais entre nele’. O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu” (Mc 9:20-26).
Como a multidão se ajuntava e havia o risco de o demônio se transformar na atração principal ali, Jesus rapidamente resolve o problema. Hoje é comum encontrar grupos de cristãos mais ocupados com demônios do que com a adoração a Deus. E o modo do demônio agir denota muito bem que o seu desejo era o de chamar atenção, fazendo o menino rolar pelo chão e espumar pela boca. Não é muito diferente do modo como às vezes deixamos nossos filhos agirem, ou nós mesmos agimos, e nem é preciso estarmos possessos de demônios para isso: basta deixarmos nossa carne tomar as rédeas de nossa vida.
E se você quer ver do que a carne é capaz, espere até os próximos 3 minutos.
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A carne revelada
Os discípulos ainda estão admirados com a libertação do menino possesso por um demônio, quando Jesus lhes diz: “Ouçam atentamente o que vou lhes dizer: o Filho do homem será traído e entregue nas mãos dos homens” (Lucas 9:44). Eles não entendem este aviso de que Jesus seria preso e condenado à morte por seu próprio povo.
A razão é explicada no versículo seguinte: “Eles não entendiam o que isso significava; era-lhes encoberto, para que não o entendessem” (Lucas 9:45). Deus quis que o significado destas palavras ficasse temporariamente oculto a eles. As palavras “traído e entregue” deixaram claro tratar-se de algo muito grave, pois a passagem continua dizendo que “tinham receio de perguntar-lhe a respeito dessa palavra” (Lucas 9:45). Porém o porquê, quando, como ou por quem eles ainda não podiam compreender.
A julgar pelo tempo que andavam juntos e pelo carinho e atenção que Jesus lhes dedicava era de se esperar que os discípulos já tivessem um certo grau de intimidade com o Senhor. Mas não. Tudo indica que, apesar do acesso franqueado por aquele que disse “Venham a mim” (Mt 11:28), o problema da falta de uma comunhão maior com o Senhor vinha dos próprios discípulos.
Assim é hoje. Jesus é extremamente solícito em nos deixar à vontade para nos aproximarmos dele, mas nós nem sempre queremos tê-lo por perto. Por quê? Porque a carne nos controla em muitas situações e nos afasta dele, apesar desse desejo permanente que ele tem de estar perto de nós. Não correspondemos ao seu amor porque temos nossa própria agenda, nossos próprios interesses. Não queremos uma proximidade com Cristo que possa atrapalhar nossos planos.
Como eu sei? Basta ler o versículo seguinte para descobrir com que os discípulos estavam preocupados. Certamente não era com a traição e prisão de Jesus, mas com eles próprios e com o lugar que cada um ocuparia no reino de Cristo. “Começou uma discussão entre os discípulos, acerca de qual deles seria o maior” (Lucas 9:44).
Aqui não diz que Jesus tenha escutado a conversa deles, mesmo assim ele ouve seus pensamentos. Por isso responde a eles e a resposta é dada na forma de uma criança: “Quem recebe esta criança em meu nome, está me recebendo; e quem me recebe, está recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que entre vocês for o menor, este será o maior” (Lucas 9:48).
Resolvida a questão? Não. O sentimento carnal voltará a se manifestar nos próximos 3 minutos, e bem ao estilo do caráter encontrado no homem religioso.
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Orgulho individual e coletivo
Eu sempre tive a imagem do apóstolo João como de um jovem dócil, afetuoso e amigo. Mas a Palavra de Deus é certeira em revelar que por baixo da aparência existe aquela odiosa natureza que Deus precisou condenar na cruz: a carne. E aqui a carne aparece em um de seus aspectos mais perniciosos, a aparência de piedade, mesmo que com a melhor das intenções.
Um pouco antes os discípulos discutiam qual deles seria o maior, numa clara manifestação de egoísmo individual. Jesus lhes dá uma lição tomando um menino e dizendo: “Aquele que entre vocês for o menor, este será o maior” (Lucas 9:48). Agora João vem contar que eles proibiram um homem de expulsar demônios em nome de Jesus por não andar com eles. Este é o egoísmo coletivo.
Estes mesmos discípulos não conseguiram expulsar o demônio que afligia um menino, por lhes faltar duas coisas: a oração, que demonstra dependência de Deus, e o jejum, que é abrir mão de satisfazer os próprios desejos, apetites e necessidades. Mas ao encontrarem alguém que parece ter estas qualidades, o ciúme e o orgulho espiritual os levam a proibir o homem de usar o nome de Jesus. A desculpa de João é: “porque não te segue conosco” (Mt 9:44).
Estariam eles preocupados com Jesus? Não, eles estavam preocupados consigo mesmos. A ênfase está no “conosco” e a resposta de Jesus revela seus corações: “Não o impeçam, pois quem não é contra vocês, é a favor de vocês” (Lucas 9:49). As versões da Bíblia que neste evangelho trazem “quem não é contra nós, é por nós” diminuem a força que a resposta de Jesus tem aqui.
O orgulho os deixou tão míopes que não se alegram com o fato de alguém seguir a Jesus, mas exigem que siga “com eles”. Eles se acham o meio pelo qual as pessoas devem seguir a Jesus, o que não é diferente de qualquer religião cristã que se considere a única forma de um cristão ter comunhão com Deus. Porém o nome de Jesus não é exclusividade de algum grupo de cristãos. A Bíblia não diz quem era aquele homem, e nem Jesus os encoraja a juntarem-se a ele, mas também não lhes dá autoridade para se intrometerem no que outros fazem em seu nome.
Então o que fazer quando vejo o nome de Jesus usado de maneira errada por tantas igrejas e religiões? Posso alertar as pessoas contra o erro, como os apóstolos fazem em suas epístolas. Mas não devo ir a lugares onde o nome de Jesus é usado de maneira errada para impedir as pessoas ali de continuarem com suas práticas. Veja o que o apóstolo Paulo diz dos que pregavam a Cristo indevidamente: “O importante é que de qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por isso me alegro” (Fp 1:18).
Nos próximos 3 minutos os samaritanos se recusam a receber Jesus.
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Destinado a morrer
Quando chega a época de o salmão desovar, este peixe de água salgada volta à nascente do rio onde nasceu. Para subir o rio, o salmão passa por uma transformação radical: seu crânio tem o perfil alterado para enfrentar a forte correnteza contrária e seu sistema respiratório muda completamente, para poder extrair o oxigênio da água doce, e não da água do mar onde vivia. Nada consegue fazer um salmão mudar de ideia e voltar para o mar. Você pode virá-lo que ele imediatamente dará meia-volta e continuará a subir o rio para desovar e morrer. Nenhum deles escapa desta última viagem.
Que exemplo magnífico da disposição de Jesus neste momento do evangelho! “Aproximando-se o tempo em que seria elevado ao céu, Jesus partiu resolutamente em direção a Jerusalém” (Lucas 9:51). Outra tradução diz que ele “manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém”. Para quê? Para morrer.
Talvez você esteja entre os que pensam que Jesus foi um grande homem que deixou o exemplo de como você deve viver para receber a salvação eterna e o perdão dos pecados. É ótimo que queira imitar a Jesus, mas não se esqueça de que ele é o Filho de Deus, uma Pessoa divina, eterna, sem começo e nem fim, que viveu aqui absolutamente sem pecado e sem a possibilidade de pecar. Como imitar o próprio Deus sendo você um ser humano cheio de falhas? Não tem como. Você e eu fazemos parte de uma velha criação que foi arruinada pelo pecado.
O que faz um oleiro, quando seu vaso sai defeituoso? Destrói aquele e faz outro. Não é diferente com Deus. Sua criação original foi corrompida pelo pecado ao ponto de não ter conserto, por isso Deus a condenou à destruição. O problema é que ele quer poupar os seres humanos, e é aí que entra o Filho de Deus. Ao vir a este mundo em semelhança de homem, Jesus tornou-se o exemplar perfeito da criação original de Deus; o homem obediente e submisso que Adão deveria ter sido, mas não foi. Porém, por mais perfeito que Jesus tenha sido como exemplo de homem perfeito, não foi para isto que ele veio ao mundo.
Na cruz ele morreu como o único sacrifício pelos pecados, substituindo você no juízo divino. “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21). Ele morreu também para Deus colocar um fim no homem em seu estado original, o da velha criação. É por isso que neste ponto do evangelho vemos Jesus com o firme propósito de ir a Jerusalém, tal qual o salmão, que instintivamente sabe que se não morrer não deixará descendência. Jesus sabe que é como o grão de trigo: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:24). Nada o deterá em sua jornada até a cruz.
No caminho, porém, a prepotência de seus discípulos será revelada nos próximos 3 minutos.
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A prepotência dos discípulos
Decidido a subir a Jerusalém para morrer, Jesus pede aos discípulos que sigam na frente. “Indo estes, entraram num povoado samaritano para lhe fazer os preparativos; mas o povo dali não o recebeu porque se notava em seu semblante que ele ia para Jerusalém. Ao verem isso, os discípulos Tiago e João perguntaram: ‘Senhor, queres que façamos cair fogo do céu para destruí-los?’. Mas Jesus, voltando-se, os repreendeu, dizendo: ‘Vocês não sabem de que espécie de espírito são pois, o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los’; e foram para outro povoado” (Lucas 9:51-56).
Veja a sequência de falhas no comportamento dos discípulos. Primeiro, no monte da transfiguração, Pedro sugeriu igualar Jesus com Moisés e Elias, fazendo uma tenda para cada um. Enquanto isso, os discípulos que ficaram ao pé do monte não conseguiam libertar um menino possesso, por lhes faltar a oração e o jejum. Em seguida eles passaram a discutir qual seria o maior no reino e queriam proibir um homem de expulsar demônios em nome de Jesus, por não andar com eles. Agora Tiago e João querem matar os samaritanos que se recusam a receber Jesus.
As circunstâncias servem para expor o que existe no fundo do coração, mesmo daqueles que seguem a Jesus. Você já deve ter visto cristãos que exaltam os servos de Deus, ao invés de se ocuparem apenas com Jesus. Outros fazem longas orações, achando que o poder está na sua oração, sem perceber que orar é depender de Deus. Também jejuam literalmente, sem perceber que o sentido do jejum é abster-se de tudo o que satisfaz a carne, e pode estar certo de que nem sempre é comida.
A competição para ser o maior no reino não terminou nos dias dos discípulos. Hoje você encontra campanhas religiosas alardeando homens como “O maior pregador do mundo”, “O mais versado nas Escrituras” ou “O mais poderoso servo de Deus”. Na cristandade homens arrogantes disputam esses títulos numa guerra de vaidades sem paralelo até entre os incrédulos. E quantas vezes você viu cristãos querendo interferir no trabalho que outros fazem para Cristo, só por não fazerem parte de seu grupo ou denominação? O desejo de destruir os que se opõem a Cristo também não é difícil de ser encontrado. A resposta de Cristo a tudo isso é: “Vocês não sabem de que espécie de espírito são”.
Se você encontrar alguém, que se diz servo de Deus, mas confia no poder de sua própria oração ou disputa para ser o maior, ou faz ameaças contra todos os que se opõem a ele, pode estar certo de estar diante de uma prepotente caricatura de cristão, e não de algo real. Jesus, “quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pe 2:23).
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Raposas e aves
Você já se deu conta do quanto está perdendo por não ler a Bíblia toda? Quando a lemos nossa mente é abastecida de expressões, princípios e significados que serão usados pelo Espírito Santo no momento oportuno para entendermos o que Deus quer nos falar. Veja, por exemplo, a passagem de Lucas 9:57 a 58. Uma leitura rápida nos faria passar rapidamente pelas raposas e aves mencionadas aqui, mas se nossa mente tiver sido abastecida de outras passagens que falam desses animais nosso entendimento será ampliado.
No capítulo 15 do livro de Juízes, Sansão usou trezentas raposas com suas caudas transformadas em tochas para destruir os campos de trigo, as vinhas e os olivais dos filisteus. Em Cantares 2:15 diz que as raposas “fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor”. Se as raposas têm esse caráter destrutivo, as aves também nem sempre aparecem como coisas positivas. No capítulo 13 do Evangelho de Mateus elas são os agentes de Satanás que arrebatam a semente à beira do caminho e depois aparecem confortavelmente aninhadas na grande e corrupta árvore da cristandade, que nasceu da pequenina semente de mostarda.
Voltando ao Evangelho de Lucas, lemos: “Quando andavam pelo caminho, um homem lhe disse: ‘Eu te seguirei por onde quer que fores’. Jesus respondeu: ‘As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça’”. Sempre que você ler um diálogo preste atenção na resposta que Jesus dá, pois ela revela o coração de quem fala com ele.
O homem parece ter a melhor das intenções, mas na verdade ele nem sequer foi chamado para seguir a Jesus. Sua decisão nasceu da vontade própria. Suas intenções são comparadas às das raposas e aves, ou seja, covis e ninhos. A lição é clara: ninguém pode seguir a Jesus de vontade própria e sem ter sido chamado, e se fizer isso visando ganho material e estabilidade nesta vida seu ministério acabará mais arruinando do que edificando. Aves aninhadas nos falam de conforto e acomodação e raposas são destrutivas.
O capítulo 13 de Ezequiel compara os falsos profetas de Israel a “raposas nos desertos... Suas visões são falsas e suas adivinhações, mentira. Dizem ‘Palavra do Senhor’, quando o Senhor não os enviou; contudo, esperam que as suas palavras se cumpram”. Qualquer semelhança com a atual volúpia por conforto e bens materiais prometidos pelos falsos profetas da cristandade não é coincidência. Os que decidem seguir a Cristo de olho no ganho financeiro e no conforto que isso trará, forjando visões e mentindo em suas adivinhações, são “raposas nos desertos”. Um dia terão de dar contas a Deus do mal e desonra que trouxeram ao testemunho cristão.
Nos próximos 3 minutos alguém está mais ocupado com a morte do que com a vida.
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Mortos sepultam mortos
Ao contrário do primeiro homem, que decidiu de si mesmo seguir o Senhor, mas aparentemente de olho no conforto de um ninho de ave ou covil de raposa, agora o Senhor chama. “‘Siga-me’. Mas o homem respondeu: ‘Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai’. Jesus lhe disse: ‘Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o Reino de Deus’ (Lucas 9:59-60). Mais uma vez o assunto aqui é o serviço para Deus e não a salvação da alma.
Ao querer primeiro sepultar seu pai, ele revela um coração dividido. Além de priorizar a morte, seus laços familiares o impedem de seguir prontamente a Jesus. O Senhor não teria respondido da mesma forma se o homem precisasse sustentar a esposa ou cuidar de um filho enfermo. Alguém que esteja empenhado na obra de Deus, e com isso acabe negligenciando os seus, está errando, pois “se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um descrente” (1Tm 5:8). Por isso se você receber um chamado específico para a obra de Deus precisará saber escolher suas prioridades. E aqui cabe uma palavra àqueles que buscam por uma companhia.
O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, escreveu: “Gostaria de vê-los livres de preocupações. O homem que não é casado preocupa-se com as coisas do Senhor, em como agradar ao Senhor. Mas o homem casado preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar sua mulher, e está dividido. Tanto a mulher não casada como a virgem preocupam-se com as coisas do Senhor, para serem santas no corpo e no espírito. Mas a casada preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar seu marido. Estou dizendo isso para o próprio bem de vocês; não para lhes impor restrições, mas para que vocês possam viver de maneira correta, em plena consagração ao Senhor” (1 Co 7:32-35).
Ele não está condenando o casamento, mas alertando para que nossas escolhas sejam feitas tendo em vista o quanto pretendemos nos dedicar ao Senhor. Os casados assumem a responsabilidade de cuidar de seus cônjuges e não podem negligenciar isso. Deus pode abençoar muito um casal cristão em sua obra, mas o mesmo não se pode dizer de um crente que busca por um cônjuge descrente. Ao colocar-se em jugo desigual com um incrédulo estará acrescentando tristezas e frustrações à sua vida, e ocupando-se com coisas que são ocupações de mortos.
A resposta de Jesus àquele que queria sepultar seu pai traz também outra lição: “Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o Reino de Deus”. Existem atividades que somente um salvo por Cristo pode fazer, enquanto outras podem muito bem ser executadas por incrédulos. Pense nisto quando for escolher as prioridades para sua vida.
Nos próximos 3 minutos o perigo do sentimentalismo.
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Sentimentalismo
Como aconteceu com o primeiro, o terceiro homem, além de não ter sido chamado por Jesus, está igualmente errado em suas prioridades. Ele diz: “Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e me despedir da minha família” (Lucas 9:61). Jesus não quer que desprezemos nossa família, mas deseja nos ensinar que não podemos perder o foco. Se você tomou a decisão de servir a Jesus todas as pendências já deveriam ter sido resolvidas de antemão para não precisar voltar atrás. Lembre-se de que o assunto aqui não é a salvação eterna, mas o serviço.
“Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus”, diz Jesus ao homem ocupado com despedidas. Sentimentos são importantes, mas o sentimentalismo não tem lugar entre aqueles que sabem que estão de passagem por aqui. Quando no final de sua provação Deus deu em dobro a Jó tudo o que havia perdido, não deu o dobro de filhos, mas um número igual ao que Jó tivera no princípio. Jó podia ter perdido gado e bens materiais, mas seus filhos que morreram não estavam perdidos. Ele iria encontrar-se com eles e aí efetivamente terminaria também com o dobro de filhos.
As despedidas nesta vida entre os que creem em Cristo não têm o peso de tristeza e aflição das despedidas entre incrédulos, que nunca sabem se voltarão a se encontrar. Enquanto o céu é um lugar de paz, alegria e regozijo coletivo, com milhares de milhares juntos louvando a Cristo, o lago de fogo é um lugar escuro e solitário. Esqueça a ideia de uma grande caverna iluminada pelas chamas e chefiada por Satanás com milhões de pessoas interagindo entre si. Satanás será apenas mais um dos condenados. Se você ainda não creu em Cristo ficará ali só; não enxergará ninguém, não falará com ninguém, não reconhecerá ninguém. Você, e só você, com sua consciência e a escuridão eterna. Será este o seu destino?
Voltando agora aos três homens, que de um modo ou de outro tiveram a possibilidade de seguir e servir a Jesus, três coisas os impediam: O desejo de conforto material, a ocupação com tarefas que os espiritualmente mortos poderiam executar e o sentimentalismo para com familiares e amigos. O serviço dedicado a Deus deve ter foco e a figura do arado é bastante clara. Se você já arou a terra usando um arado puxado por animal de tração sabe que é impossível manter-se na linha se não tiver foco. Basta uma pequena olhada para trás para você sair da trilha e desviar o sulco.
Apesar dos três homens terem sido reprovados, pelo menos setenta são escolhidos e enviados para levar as boas novas do Reino nos próximos 3 minutos.
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O nó da questão
O capítulo 10 do evangelho de Lucas começa com o Senhor escolhendo e enviando setenta discípulos, de dois em dois, “a todas as cidades e lugares para onde ele estava prestes a ir. E lhes disse: ‘A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Portanto, peçam ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para a sua colheita’” (Lucas 10:1-2). Em Mateus 10 vimos algo semelhante com os doze discípulos e vale lembrar que as duas missões estavam relacionadas ao evangelho do Reino, e não ao evangelho da graça.
É importante saber fazer a distinção. Evangelho do Reino era o que João Batista, os discípulos e o próprio Jesus pregavam, e tinha a ver com a chegada do Messias. Para Israel, Jesus é o Rei. O evangelho da graça é o que os discípulos passaram a pregar após o advento da igreja. Para a Igreja, Jesus é o Noivo e também sua Cabeça, e não seu Rei. Ele tampouco é Rei para o cristão individualmente. Para este, Jesus é Senhor. Já reparou que do livro de Atos em diante nenhum cristão chama Jesus de Rei, exceto em seu caráter universal e em conexão com Israel?
O evangelho do Reino dizia: “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo” (Mt 1:15), preparando assim um povo terreno para participar, na terra, do reinado do Rei vindo dos céus. O evangelho da graça anuncia “Creia no Senhor Jesus e será salvo” (At 16:31), preparando um povo celestial, a igreja, para deixar a terra e ir ao encontro de seu Noivo. O evangelho do Reino falava de um reino a ser estabelecido na terra com Israel e as nações sujeitas ao Rei Jesus, que já estava entre eles. Os judeus esperavam o Messias? Ele estava bem ali. Queriam um Rei? Esse Rei era Jesus. Buscavam uma era de prosperidade e saúde? Jesus multiplicava pães e curava enfermos para provar suas credenciais. O ungido de Deus havia chegado para reinar.
Para entender a Bíblia na sua totalidade, imagine a linha do tempo como uma gravata. Só duas partes são visíveis: uma grande e outra pequena. A grande representa a história da humanidade até Jesus e a pequena os sete anos de tribulação e os mil anos de reinado de Cristo. Era assim que os profetas do Antigo Testamento enxergavam. Não viam a parte escondida sob o colarinho, que é o atual período da igreja que teve início após a morte e ressurreição de Jesus. Pense no nó da gravata como a parada e reinício do relógio profético. Este só voltará a bater após a igreja ser tirada da terra no arrebatamento, dando início ao reino de mil anos de Cristo na terra, a parte menor da gravata. Portanto, nos evangelhos Jesus não está tratando com a igreja, mas com Israel.
Agora nunca mais você irá se esquecer de como dividir ou manejar bem a Palavra da verdade. Basta olhar para alguém de gravata. As religiões, porém, oferecem uma verdadeira salada mista de ingredientes do Antigo e do Novo Testamento, por não entenderem a distinção clara entre o evangelho do Reino e da graça, entre Israel e igreja. Nos próximos 3 minutos uma campanha pelo Rei.
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Uma campanha pelo Rei
Se você fosse candidato à presidência, como seria a sua campanha? Primeiro você organizaria um partido ou grupo de simpatizantes que o apoiassem. Então passaria a viajar pelo país apresentando suas credenciais para provar ser você a pessoa certa para o cargo. Mas antes, como fazem todos os candidatos, você enviaria seus correligionários adiante de você para apresentarem seu plano de governo, distribuírem benefícios e testarem sua popularidade.
Eles iriam de casa em casa, conquistando simpatizantes e até angariando donativos para a campanha. Os índices de aprovação ou rejeição seriam medidos pelo número de pessoas que recebessem bem seus representantes ou os expulsassem de suas casas e cidades. Os que o rejeitassem seriam vistos como tendo rejeitado o próprio presidente, e você encontraria uma forma de puni-los quando fosse eleito, ou os privaria dos benefícios dados aos outros.
O exemplo é bastante tosco comparado à sublimidade do que vemos no capítulo 10 de Lucas, mas é didático o suficiente para entendermos o que acontece aqui. Jesus é o único candidato legítimo a Rei de Israel e Rei de reis. Os setenta são seus representantes que saem adiante dele para testar sua popularidade entre o povo sobre o qual ele irá reinar. Eles são instruídos a aceitarem a hospitalidade dos que os receberem bem e a alertarem publicamente os que os rejeitarem, dizendo: “Fiquem certos disto: o Reino de Deus está próximo!” (Lucas 10:11). Haveria consequências graves para aqueles que não recebessem o Rei, o próprio Filho de Deus vindo ao mundo, como é alertado por Deus no Salmo 2:
“‘Eu mesmo estabeleci o meu rei em Sião, no meu santo monte’. Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse: ‘Tu és meu filho; eu hoje te gerei. Pede-me, e te darei as nações como herança e os confins da terra como tua propriedade. Tu as quebrarás com vara de ferro e as despedaçarás como a um vaso de barro’. Por isso, ó reis, sejam prudentes; aceitem a advertência, autoridades da terra. Adorem ao Senhor com temor; exultem com tremor. Beijem o filho, para que ele não se ire e vocês não sejam destruídos de repente” (Sl 1:6-12).
Os Salmos complementam a narrativa dos evangelhos e apresentam os sentimentos de Cristo, como quando ele é rejeitado e morto por seu povo no Salmo 22. Os fiéis, tanto nos Salmos como nos evangelhos, não fazem parte da igreja, mas formam um remanescente de judeus fiéis que aguardam o estabelecimento do reino do Messias na terra. Enquanto isso o Espírito de Cristo é visto nos Salmos identificando-se, sofrendo e se alegrando com eles, além de prover sustento e proteção, como no Salmo 23. Então, no Salmo 24 e outros, o Rei da glória vem para reinar.
Que tal fazermos um resumo de 3 minutos do caráter profético do livro dos Salmos? Então não perca o próximo episódio de O Evangelho em 3 Minutos.
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Os salmos
Livro de Salmos
Embora os Salmos sejam de grande edificação, exortação e consolo para o cristão, sua natureza é profética e contêm muito mais do que apenas mensagens devocionais. Ali vemos os sentimentos de Cristo, o Rei e Messias de Israel, identificado com um pequeno remanescente que o aguarda como Rei. Os Salmos, em sua maioria, também foram escritos por um Rei, Davi.
Os Salmos são divididos em cinco livros. O primeiro livro dos Salmos vai do capítulo 1 ao 41. Esta porção mostra o Messias se identificando com o remanescente judeu fiel em seus sofrimentos passados e futuros até serem expulsos de Jerusalém. Essa expulsão é profeticamente vista em Mateus 24:16, que diz: “Os que estiverem na Judéia fujam para os montes”. O primeiro Livro dos Salmos começa com “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores” (Sl 1:1).
O segundo livro dos Salmos vai do capítulo 42 ao 72 e mostra apenas as tribos de Judá e Benjamim, que hoje chamamos de “judeus”, expulsas de Jerusalém e esperando em Deus, enquanto o anticristo exerce o seu domínio. Esta segunda parte dos Salmos começa com Cristo se identificando com os sentimentos de seu povo, ao dizer: “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!” (Sl 42:1).
O terceiro livro vai do capítulo 73 ao 89 e apresenta a história de todo o Israel, desde o Egito até o reino do Messias. Nesta porção o santuário de Deus é visto mais em sua conexão com a casa de Davi do que com a Pessoa de Cristo. Este terceiro livro dos Salmos começa declarando: “Verdadeiramente bom é Deus para com Israel, para com os limpos de coração” (Sl 73:1).
Os capítulos 90 ao 106 compõem o quarto livro dos Salmos e mostram o remanescente judeu expressando a certeza da vinda do Messias e de seu reino em justiça. Ali vemos Jerusalém como o centro de adoração na terra. Nesta porção é possível identificar todas as doze tribos e também as nações gentias introduzidas nas bênçãos do reino de mil anos de Cristo na terra. O quarto livro começa com “Senhor, tu és o nosso refúgio, sempre, de geração em geração” (Sl 90:1).
Finalmente vemos o quinto livro dos Salmos, do capítulo 107 ao 150, que fala da restauração de Israel em meio a muita tribulação, e do Messias exaltado, que vem para destruir os inimigos e inaugurar um louvor universal. Esta parte começa com “Deem graças ao Senhor porque ele é bom; o seu amor dura para sempre” (Sl 107:1). Volto a lembrar que a igreja não aparece nos Salmos.
Nos próximos 3 minutos voltaremos ao capítulo 10 do Evangelho de Lucas e ao orgulho dos discípulos.
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O orgulho dos discípulos
Os setenta discípulos voltam alegres da missão de levar as boas novas do Reino, porém o que fez seus olhos brilharem e seus corações palpitarem foi o poder que tinham em mãos. “Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome”, dizem eles a Jesus. Mais uma vez a resposta de Jesus revela o que há em seus corações: “Eu vi Satanás caindo do céu como um relâmpago” (Lucas 10:17).
Jesus traz à tona o orgulho dos discípulos, o mesmo orgulho responsável pela queda do diabo. Não há nada pior do que você orgulhar-se do trabalho que Deus colocou em suas mãos, como se isso dependesse de sua força, talento ou inteligência, “Pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele”, escreveu Paulo aos Filipenses (Fp 2:13).
Deus não precisa de nós, mas nos dá o privilégio de participar de sua obra. Se falharmos, ele escolherá outros para a tarefa, pois a obra é dele, por ele e para ele. É uma insensatez louvarmos aqueles que Deus usa. Deveríamos louvar a Deus por usá-los, não o contrário. E se você busca reconhecimento por seu trabalho no evangelho deveria se envergonhar por querer ficar sob o mesmo holofote com Deus. Ele diz: “Não darei a outro a minha glória” (Is 42:8).
Deus está atento para nossa vanglória e não raro providencia um freio para nosso orgulho. Foi o que fez com o apóstolo Paulo. Tamanhas eram as revelações que Deus lhe deu que, sem freio, a carne de Paulo teria se descambado a gloriar-se de seus feitos. O próprio Paulo conta em sua primeira carta aos Coríntios como Deus colocou um freio nessa sua tendência:
“Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar. Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim. Mas ele me disse: ‘Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza’. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas... Pois, quando sou fraco é que sou forte” (1 Co 12:7-10).
Jesus também revela a insensatez dos discípulos, deslumbrados com o poder que tiveram sobre os demônios. Como crianças facilmente impressionáveis, muitos hoje correm atrás de espetáculos de cura e libertação, coisas tipicamente terrenas, ao invés de se ocuparem com as coisas eternas. Por isso Jesus os adverte que, apesar de lhes ter dado “autoridade... sobre todo o poder do inimigo” eles deviam alegrar-se “não porque os espíritos” se submetiam a eles, mas “porque seus nomes” estavam “escritos nos céus” (Lucas 10:19-20).
Nos próximos 3 minutos a resposta de Jesus revela muito mais de Satanás.
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Expulso do céu
A resposta de Jesus aos discípulos tem dupla aplicação. Uma, como já vimos, foi alertá-los do perigo de se deixarem dominar pelo orgulho, o mesmo sentimento que foi fatal para o diabo. Em Ezequiel 28 há um texto que mescla informações sobre o rei de Tiro e a origem de Satanás. Trata-se de um estilo literário encontrado algumas vezes na Bíblia, como quando Jesus repreende Pedro dizendo: “Para trás de mim, Satanás! Você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens” (Mc 8:33). Obviamente Pedro não era Satanás, mas os seus pensamentos estavam sendo forjados pelo diabo.
Do versículo 12 à metade do 17 de Ezequiel 28 você descobre o que levou Satanás a pecar. Deus diz: “Você era o modelo de perfeição, cheio de sabedoria e de perfeita beleza... ungido como um querubim guardião... no monte de Deus... inculpável em seus caminhos desde o dia em que foi criado até que se achou maldade em você... Por isso eu o lancei em desgraça para longe do monte de Deus, e eu o expulsei, ó querubim guardião... Seu coração tornou-se orgulhoso por causa da sua beleza, e você corrompeu a sua sabedoria por causa do seu esplendor” (Ez 28:12-17).
Em tempos imemoráveis, muito antes de Adão e Eva, Satanás caiu em pecado. Apesar disso, Satanás e seus anjos continuaram no céu, como é possível ver lendo os dois primeiros capítulos do livro de Jó. A partir da metade do versículo 17 de Ezequiel 28 o sentido é profético e fala da queda literal do diabo, quando ele será expulso do céu e lançado na terra. “Por isso eu o atirei a terra; fiz de você um espetáculo para os reis”. Esta é também a aplicação profética do que Jesus diz aos discípulos em Lucas 10:18: “Eu vi Satanás caindo do céu como um relâmpago”.
Esta queda ainda irá acontecer e é prevista também pelo capítulo 12 de Apocalipse: “Houve uma guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar no céu. O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados a terra” (Ap 12:7-9).
Após o Espírito Santo e a Igreja serem retirados da terra no arrebatamento, o anticristo será revelado e começará a agir. Por enquanto a presença do Espírito Santo no mundo o detém, mas quando for “afastado aquele que agora o detém, então será revelado o perverso” (2Ts 2:7) ou iníquo anticristo. Nessa época Satanás será expulso do céu para energizá-lo e exercer seu poder na terra, enganando a humanidade e perseguindo os eleitos de Deus. Ao revelar que via Satanás caindo do céu, Jesus só podia enxergar a cena por ser Deus. Afinal, onde ele poderia estar para ter uma visão tão privilegiada assim?
Nos próximos 3 minutos Jesus mostra a vantagem da falta de inteligência.
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Os mais inteligentes
Após ter revelado a completa expulsão de Satanás do céu, o que ainda está para acontecer, Jesus exulta no Espírito Santo por algo que dificilmente alguém exultaria: a vantagem da falta de inteligência. Ele diz: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado” (Lucas 10:21).
As pessoas gostam de colocar Jesus no pódio lado a lado com grandes filósofos e cientistas. Porém a filosofia se ocupa da sabedoria humana e a ciência do conhecimento humano, coisas que não são eternas, portanto seu valor é relativo. Para entender isto é preciso levar em consideração as dispensações ou maneiras como Deus trata a humanidade.
Em um determinado momento da história Deus tomou de uma amostra para testar a raça humana. Quando você quer verificar se a água de uma represa é boa, você não testa toda a represa, mas apenas uma amostra. Foi o que Deus fez e esta amostra é o povo de Israel. Durante o período do judaísmo o homem ainda estava sendo testado em seu estado natural para viver na terra para sempre. Para isso, além da direção divina, ele precisaria também de inteligência e conhecimento, e esta é uma das razões de os judeus darem tanto valor às conquistas intelectuais.
Até hoje, 25% dos ganhadores do Prêmio Nobel foram judeus. Se considerar que em um planeta de sete bilhões de habitantes existem menos de vinte milhões de judeus, você irá concordar que este é o povo mais inteligente do planeta. Os cientistas relutam reconhecer isto por medo de serem taxados de racistas, mas o fato de certas doenças neurológicas afetarem principalmente judeus demonstra que eles possuem um cérebro diferenciado.
Se você for palestino deve estar me odiando por eu dizer isto, mas espere até eu concluir. Se, por um lado, os judeus são os seres humanos com maior capacidade intelectual do mundo, por outro, esta amostragem que Deus tomou para testar a raça humana é também uma prova de que não é pela inteligência e pelo conhecimento intelectual que se chega a Deus.
Os judeus não apenas rejeitaram seu Messias e Rei, como também o pregaram numa cruz e até hoje persistem em odiá-lo. Pergunto: Isto é inteligência? Sim, isto é inteligência humana, e é por esta razão que Jesus, exclama, exultante: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos e as revelaste aos pequeninos” (Lucas 10:21).
Nos próximos 3 minutos saiba o porquê de a inteligência humana não ser uma vantagem na nova criação.
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A mente celestial
Ao escrever aos cristãos da Galácia, que insistiam em guardar a Lei de Moisés para serem salvos, Paulo diz: “De nada vale ser circuncidado ou não. O que importa é ser uma nova criação” (Gl 6:15). Em sua carta aos Coríntios ele acrescenta: “Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas!” (2 Co 5:17). Percebe que isto implica uma mudança no modo de Deus tratar o homem antes e depois de Cristo?
Na cruz Deus pôs um ponto final no homem em seu estado natural e na velha criação. Em Jesus ressuscitado temos o primeiro exemplar de uma nova criação. O homem da primeira criação possuía um cérebro de matéria vinda da terra e limitado a entender as coisas em um espaço-tempo tridimensional. O homem da nova criação terá seu cérebro transformado para compreender as coisas nos novos céus e na nova terra — a eternidade — quando o tempo deixar de existir.
Quando você recebe a nova vida que está em Jesus, e crê nele como seu Salvador, seu cérebro físico ainda permanece o mesmo, bem como o seu corpo material. Mas você já recebe a nova natureza que pertence à nova criação, e o Espírito Santo vem habitar em você. Seu corpo ainda aguarda a ressurreição para ser transformado à semelhança do corpo glorioso de Jesus, mas sua mente já está capacitada a entender as coisas celestiais, ainda que “como em espelho”. É como se você vivesse no velho hardware rodando um software de última geração.
O apóstolo Paulo explica: “Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente” (1 Co 13:12). Naquele tempo espelhos eram chapas de bronze polido que davam uma vaga ideia do que era refletido neles, nunca a imagem perfeita. Portanto, enquanto você estiver neste corpo de matéria terrena será capaz de entender as coisas eternas, mas como um “reflexo obscuro”. E quem não é de Cristo, não tem a nova natureza e não pertence à “nova criação”?
O incrédulo “...não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente. Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois ‘quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo?’ Nós, porém, temos a mente de Cristo”. Isto Paulo escreveu em 1 Coríntios 2:14-16. O cérebro humano natural, independente de quão inteligente seja, não consegue entender a Palavra de Deus. É mais fácil ensinar física quântica a uma lesma do que fazer o homem natural entender as coisas eternas.
Mas como obter essa mente celestial para poder conhecer a Deus? Isto é o que veremos nos próximos 3 minutos.
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O Pai revelado
Depois de agradecer ao Pai por revelar as coisas celestiais aos “pequeninos” ou ignorantes deste mundo e não aos “sábios e cultos”, Jesus diz: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém sabe quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém sabe quem é o Pai, a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar” (Lucas 10:21-22). A chave para se conhecer a Deus está no verbo “revelar”.
É impossível ao homem compreender as coisas eternas pela razão, pois nossa mente natural foi criada para viver no espaço-tempo material. Deus se faz conhecer apenas por revelação. E como se obtém tal revelação? Pela fé, crendo que Deus enviou o seu Filho ao mundo para morrer numa cruz e receber ali o juízo pelo pecado.
Quando você tira uma foto com uma câmera de filme, você sabe que a foto está ali, mas não consegue vê-la até que ela seja revelada. Ao crer em Jesus você sabe que ele morreu por você e seus pecados foram pagos na cruz, ainda que nada disso lhe seja visível. Mas Deus revela esse filme em seu coração e você pode dizer sem hesitar: “Jesus morreu por mim, ele levou sobre si os meus pecados na cruz e agora eu conheço o Pai”.
Quando ele diz “todas as coisas me foram entregues” está se referindo a tudo o que foi criado. Jesus é Deus e Criador de todas as coisas, e o Evangelho de João diz que “todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3). Aqueles que negam sua divindade e acham que Jesus foi criado, não saberão explicar como o Criador poderia ter criado a si mesmo. Mas aqui ele fala no sentido da autoridade que lhe foi conferida pelo Pai em sua condição de Homem e herdeiro universal. Hebreus 2 fala destes dois aspectos, que Jesus é aquele “para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe” (Hb 2:10).
Repare que Jesus diz que ninguém conhece o Filho, mas que o Pai pode ser conhecido daqueles a quem o Filho quiser revelar. O conhecimento do Pai não é no sentido de se dissecar a divindade. Eu conheci meu pai humano durante todo o tempo de sua vida e nunca vi suas entranhas. É o mesmo que Jesus promete àqueles a quem revela o Pai, um relacionamento de pai e filho.
Muito bem, agora você sabe que pode conhecer o Pai pela fé e através da revelação de Jesus, mas por que o Pai não pode fazer o mesmo, isto é, revelar o Filho para nós o conhecermos como tal? Porque a humanidade do Filho sempre será um mistério e a encarnação jamais será compreendida pela mente humana, nem aqui, nem na eternidade. Olhe para a imensidão do Universo. Você consegue entender como tudo foi criado pelo mesmo Ser que viveu aqui em um frágil corpo humano? Eu também não. É por isso que eu simplesmente creio e “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hb 11:1).
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Que vida é essa?
Em Lucas 10 Jesus é abordado por um doutor da Lei e o versículo 25 revela que sua intenção era “por Jesus à prova”. Ele pergunta: “Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna?”. Para entendermos a pergunta precisamos entrar na mente daquele judeu e raciocinar como ele. De que vida ele está falando? Não é da mesma “vida eterna” que hoje um crente em Cristo possui.
O doutor da Lei pergunta “o que preciso fazer” porque a Lei exigia do homem obediência para ser recompensado em sua vida aqui, porém homem algum jamais foi capaz de guardar toda a Lei, exceto Jesus. A Lei, portanto, não pode salvar, mas apenas mostrar que o homem é incapaz de alcançar os padrões divinos. A esperança de um judeu era de vida neste mundo, uma vida longa, próspera e sem fim no reino terrenal do Messias. A Lei dizia: “Obedeçam aos meus decretos e ordenanças, pois o homem que os praticar viverá por eles... Os mansos comerão e se fartarão... o vosso coração viverá eternamente...” (Lv 18:5; Sl 22:25-31).
Na doutrina dada à igreja pelos apóstolos aprendemos que, para o cristão, a vida eterna está em Cristo. Ela nada tem a ver com a vida de abundância de alimento e prosperidade sem fim prometida aos israelitas. É uma vida sem começo nem fim, como Cristo é eterno, sem começo nem fim. Escrevendo aos crentes, João diz: “Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho. Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida. Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que creem no nome do Filho de Deus, para que vocês saibam que têm a vida eterna... Este [Jesus] é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:11-13).
Em João 3:36 lemos que “quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”. O doutor da Lei, que quer por Jesus à prova, está numa posição de antagonismo e rebeldia contra o Filho de Deus. Por mais que ele fizesse, por mais que obedecesse aos preceitos da Lei, ainda assim ele não teria vida eterna e estaria destinado ao fogo do juízo eterno. A vida eterna é recebida por graça e pela fé em Jesus, não por nossa obediência à Lei.
Então é a vez de Jesus colocá-lo à prova, pedindo que ele responda o que está escrito na Lei. Ele responde: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento, e ame o seu próximo como a si mesmo”. Jesus responde, mas sem falar em vida eterna, dizendo apenas que se ele obedecesse aos mandamentos continuaria vivendo, como era a promessa da Lei. Ele diz: “Faça isso, e viverá” (Lucas 10:28). Mas em seguida o homem, “querendo justificar-se, perguntou a Jesus: ‘E quem é o meu próximo?’” (Lucas 10:27-28).
A resposta de Jesus está nos próximos 3 minutos.
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O verdadeiro samaritano
Os versículos 30 a 37 de Lucas 10 trazem a parábola conhecida como “O Bom Samaritano”. A parábola é a resposta de Jesus a um mestre da Lei que tem a intenção de colocá-lo à prova. Após mencionar que a Lei se resumia em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, o homem pergunta a Jesus: “Quem é o meu próximo?”. A resposta é a parábola.
“Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto. Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado. E assim também um levita... Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele. Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’” (Lucas 10:30-35).
A vítima do assalto é o ser humano, que saiu da presença de Deus, aqui representada por Jerusalém. Ele segue para Jericó, palavra hebraica que significa “perfume” e é um lugar amaldiçoado por Deus no livro de Josué. O pecado de Adão foi afastar-se de Deus para obedecer aos sentidos e isso resultou em maldição. Os assaltantes são uma figura de Satanás, que deixa o pecador vazio e quase morto em sua jornada afastando-se de Deus. O sacerdote e o levita representam, respectivamente, a religião e a lei, incapazes de ajudar o pecador. Somente o samaritano pode salvá-lo. Os judeus odiavam os samaritanos e o termo é usado pelos fariseus em João 8:48 como uma ofensa contra Jesus: “Não estamos certos em dizer que você é samaritano e está endemoninhado?”.
Quando Jesus pergunta ao mestre da lei, “Qual destes três você acha que foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?”, ele responde corretamente: “Aquele que teve misericórdia dele” (Lucas 10:36-37). O próximo é, portanto, o samaritano, o único que poderia salvar o homem ferido. Atos 2:36 diz: “Portanto, que todo Israel fique certo disto: Este Jesus, a quem vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo”. Percebe agora o peso que tem a expressão amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo? Aquele que ama a Deus sobre todas as coisas ama o verdadeiro Samaritano da parábola, Jesus, e somente um amor assim pode transbordar e se derramar sobre aqueles que entram em contato com um verdadeiro cristão.
Jesus conclui dizendo ao mestre da Lei: “Vá e faça o mesmo”. Mas antes de fazer como fez o samaritano ele precisava confiar totalmente nele e se deixar curar, reconhecendo-se perdido e ferido pelo pecado. E é dessa cura que a parábola fala nos próximos 3 minutos.
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A hospedaria
Vimos que a parábola do “Bom Samaritano” é cheia de figuras. O homem que se afasta de Jerusalém, o lugar da presença de Deus, é o pecador. Enganado por seus sentidos ele segue para Jericó, que significa “perfume” e é sinônimo de maldição. Vítima de assaltantes, figura de Satanás, termina vazio e quase morto à beira do caminho. A religião, representada pelo sacerdote, passa indiferente. O levita, uma figura da lei, nada pode fazer por ele. Mas o samaritano, desprezado e odiado pelos judeus, se compadece dele e o salva. Jesus é o verdadeiro Samaritano.
A parábola traz ainda outras figuras que nos ajudam a compreender a sequência de eventos na salvação de um pecador. O homem ferido nada pode fazer por si mesmo, portanto é o samaritano quem “aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’” (Lucas 10:34-35).
Somente aquele que foi extremamente ferido pelo juízo de Deus pode tratar as feridas do pecador. O profeta Isaías escreveu que Jesus foi “castigado por Deus, por ele atingido e afligido... transpassado por causa das nossas transgressões, esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados” (Is 53:4-5). Portanto só Jesus pode curar as horríveis feridas causadas pelo pecado.
O vinho e o óleo nos falam, respectivamente, do sangue de Cristo e do Espírito Santo. O sangue de Jesus nos limpa de todo pecado e infunde uma nova alegria. O Salmo 104:15 fala do “vinho, que alegra o coração do homem”, e também do “azeite, que faz brilhar o rosto”. Repare que, depois de cuidar das feridas o samaritano coloca o homem “sobre o seu próprio animal”, o que é uma bela figura da posição em que somos colocados quando salvos por Cristo: o lugar que é dele. Efésios 1:6 diz que Deus nos fez “Agradáveis a si no Amado”; ele nos enxerga em Cristo, o que não deixa qualquer dúvida quanto à aceitação do crente em Jesus.
Mas o cuidado do verdadeiro Samaritano não termina aí. Ele leva o homem a uma hospedaria e continua a cuidar dele. Precisando se ausentar, ele deixa com o hospedeiro “dois denários” para duas diárias, garantindo a continuidade do tratamento e o sustento do homem até a sua volta. A hospedaria é uma bela figura da assembleia, o lugar onde o Senhor nos mantém e cuida de nós até sua vinda. Ali, congregados ao seu nome, somos alimentados da Palavra de Deus e cuidados por meio dos diferentes dons que Cristo deu à igreja. Ali adoramos a Deus, recordamos o Senhor em sua morte nos símbolos do pão e do vinho e apresentamos nossas orações. Ali também desfrutamos da comunhão dos irmãos e da presença de Jesus, tão real quanto a que Maria irá desfrutar nos próximos 3 minutos.
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Marta e Maria
Em meio à rejeição dos religiosos judeus, Jesus encontra um oásis de refrigério na casa de Lázaro, Marta e Maria. Os três irmãos moram no povoado de Betânia, a poucos quilômetros de Jerusalém, e é ali que Jesus costuma repousar em suas viagens. A parábola do samaritano nos ensinou o que é realmente amar e servir segundo o padrão de Deus, mostrando no verdadeiro Samaritano o exemplo perfeito do amor que não se omite em salvar e cuidar.
Mas antes que você arregace as mangas e saia por aí resgatando os perdidos caídos à beira do caminho, conheça Marta e sua disposição para o trabalho. Tentando servir o hóspede Jesus da melhor maneira, Marta “estava ocupada com muito serviço” enquanto “Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra”. Indignada com a aparente inatividade da irmã, Marta se queixa: “Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!” (Lucas 10:38-40).
Você às vezes se sente assim? Corre de um lado para outro e se indigna de alguns que parecem não fazer coisa alguma, pois só ficam ocupados com a leitura da Palavra e a oração? Talvez você pense: “Só eu trabalho!” Cuidado, você está tão ocupado em servir ao Senhor que pode cair no erro de se queixar e dar ordens a ele, como Marta faz aqui: “Senhor... dize-lhe que me ajude!”. Sempre que nos queixamos estamos nos queixando ao Senhor, pois afinal é ele quem cuida de nós e não estamos satisfeitos com seu cuidado. E quando nos achamos mais úteis e responsáveis do que outros, por não fazerem exatamente o que fazemos, nosso coração acaba ficando cheio de orgulho e soberba.
Marta se deixou levar pelo trabalho sem perceber que perdeu o foco em Jesus e na sua Palavra. O Senhor a repreende: “Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lucas 10:41-42). O trabalho de Marta faz com que ela deixe de se ocupar com Cristo e sua Palavra. Repare que Jesus não diz que Maria escolheu “a melhor parte”, mas “a boa parte”. Ele não está fazendo comparações e dizendo a Marta que seu serviço não é importante, mas apenas dizendo que ela perdeu o foco. Quando estamos muito ocupados com a obra do Senhor acabamos perdendo de vista o Senhor da obra.
Existe uma ordem na vida do cristão. Primeiro ele deve sentar-se aos pés de Jesus para aprender dele, lendo e meditando em sua Palavra. É assim também que você aprende qual é a vontade de Deus para a sua vida. Então as tarefas que Deus colocar em suas mãos para cumprir, virão naturalmente. Quando aprendemos dele, ficamos prontos “para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2:10).
Nos próximos 3 minutos Jesus nos ensina a orar.
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Como orar
Na visita a Marta e Maria, no capítulo 10 de Lucas, vimos a importância de estar sempre próximo de Jesus ouvindo sua Palavra. O capítulo 11 começa mostrando como devemos imitá-lo. Um discípulo vê Jesus orando e sente que deve fazer o mesmo. “Senhor, ensina-nos a orar” (Lucas 11:1), pede ele a Jesus. Ele talvez ainda não esteja ciente de estar diante do próprio Filho de Deus, o Criador do Universo, e que o seu pedido é o mesmo que uma oração. Ele é logo atendido.
Antes de entrarmos nos detalhes de como orar, é preciso entender algumas coisas. Você encontra na Bíblia pessoas orando a Deus, em um sentido geral, ao Pai, em um sentido particular como Jesus irá ensinar aqui, e a Jesus, o Filho. Mas você nunca encontra alguém orando ao Espírito Santo. Portanto dirigir-se ao Espírito Santo para orar, louvar ou adorar não tem fundamento bíblico, mesmo sabendo que ele é uma das três Pessoas da Trindade.
Outro ponto importante é o que Jesus ensina em Mateus 6:7: “E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos”. As repetições, também conhecidas como rezas podem ser encontradas nas religiões pagãs orientais, mas não têm fundamento bíblico. Alguém poderia alegar que no Jardim do Getsemani Jesus usou de repetições, quando “orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras” (Mt 26:44). A diferença é clara.
Numa reza repetitiva são usadas frases pré-definidas que não têm relação direta com a necessidade daquele momento. As frases são usadas como palavras mágicas e não como pedidos de ajuda. Já a oração é uma conversa com Deus apresentando um pedido específico. Não há nada de errado em se apresentar um pedido mais de uma vez com as mesmas palavras. Até uma criança, quando quer um brinquedo, fica repetindo seu desejo até ser atendida. Ela não pega uma frase genérica para repetir, pois seus pais não saberiam que presente lhe dar.
Outro argumento é que muitas rezas são passagens bíblicas e trazem muito proveito quando repetidas. Porém repetir a Palavra de Deus não é falar com Deus; é ouvir o que ele diz. Uma oração é falar com ele, recordar sua benignidade, misericórdia e graça, e também apresentar nossas dificuldades, fraquezas e necessidades. Como estas coisas diferem de pessoa para pessoa, não existem duas orações completamente idênticas.
Mas se assim for, por que Jesus ensina aqui o “Pai Nosso” que é repetido por milhões de pessoas? Não estaria ele ensinando uma reza para ser repetida? Não, e basta comparar esta passagem com a do capítulo 6 de Mateus para notar que são diferentes. O Espírito Santo mostrou assim que Jesus estava ensinando os discípulos a orar, e não dando a eles um script para ser repetido. Os detalhes das instruções dadas por Jesus nós veremos nos próximos 3 minutos.
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A oração
Ao ensinar aos discípulos como orar, Jesus mostra a eles os principais pontos que compõem uma oração, e não um texto para ser decorado e repetido como fazem os pagãos com seus mantras e fórmulas mágicas. O conhecido “Pai Nosso” que é rezado por milhões de católicos e protestantes foi tirado do capítulo 6 do Evangelho de Mateus, onde a palavra “Amém” do final não existe nos melhores manuscritos. Em Lucas 11 está assim:
“Pai! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano. Perdoa-nos os nossos pecados, pois também perdoamos a todos os que nos devem. E não nos deixes cair em tentação” (Lucas 11:2-4). Como se fosse uma lista de tópicos a serem lembrados, Jesus ensina que devemos nos dirigir ao Pai que é santo; que nossa expectativa deve estar na vinda do Reino; que devemos buscar em Deus a fonte de nosso sustento; que devemos ter consciência de nossa condição de pecadores, e dependermos continuamente dele para proteção.
Tudo começa reconhecendo a Deus como Pai, um relacionamento pessoal e familiar que nenhum judeu ousaria desfrutar. No mundo ocidental estamos tão acostumados a chamar a Deus de Pai que nem percebemos o quão radical foi o ensino de Jesus. Um judeu no Antigo Testamento chamaria a Deus de Pai no sentido de Criador, mas nunca com a ideia de um relacionamento familiar como encontramos nos evangelhos e epístolas. Para um muçulmano, então, nem pensar. No islamismo Deus tem 99 nomes e nenhum deles é Pai.
Antes que alguém pense que chamar a Deus de Pai seja diminuir sua Pessoa, a expressão “Santificado seja o teu nome” deixa clara a distinção que é devida a Deus. Ele é santo, isto é, separado de tudo e de todos, assim como a luz está separada das trevas. Ao nos dirigirmos a Deus podemos desfrutar de familiaridade, mas com reverência. Deus deve ser reverenciado, adorado e exaltado acima de todas as coisas.
Chamar a Deus de “Amigão lá de cima” ou de “O Cara”, como fazem alguns, é não compreender quem Deus realmente é. A Bíblia diz que “Deus é amor” (1 Jo 4:8), mas também que ele é “fogo consumidor” (Hb 12:29). Na Lei dada a Moisés o segundo mandamento era: “Não tomarás em vão o nome do Senhor teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão” (Ex 20:7). Um cristão jamais deveria falar de Deus em anedotas, brincadeiras ou de qualquer outra maneira desrespeitosa.
Os três primeiros tópicos da oração — “Pai”, “santificado” e “teu Reino” — dizem respeito a Deus e os três restantes falam de nós. Mas que “Reino” é este que Jesus menciona na oração? A resposta está nos próximos 3 minutos.
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Venha o teu reino
Qualquer oração deve começar de cima para baixo, de Deus para o homem. Portanto é bom você iniciar exaltando ao Pai pelo que ele é e ao Filho que consumou a obra que nos trouxe salvação. Se você se encontrasse com alguma grande personalidade da história, como iniciaria a conversa? Provavelmente mencionando algum feito admirável daquela pessoa. Faça o mesmo quando falar com o Pai. Diga a ele o quanto significou para você o fato de ter enviado seu Filho ao mundo para morrer.
Muitos acreditam que a expressão “venha o teu reino” esteja se referindo ao reino milenar de Cristo neste mundo, mas não é assim. O que costumamos chamar de milênio, ou reino de mil anos de Jesus, é um estado intermediário e não o final da história. É o reino do Filho do Homem, não o reino do Pai do qual Jesus fala na oração ao dizer “o teu reino”. No milênio ainda haverá mortes e no fim uma guerra de grandes proporções. Veja esta passagem de 1 Coríntios 15:
“Então virá o fim, quando ele [Jesus] entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder. Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. Porque ele ‘tudo sujeitou debaixo de seus pés’. Ora, quando se diz que ‘tudo’ lhe foi sujeito, fica claro que isso não inclui o próprio Deus, que tudo submeteu a Cristo. Quando, porém, tudo lhe estiver sujeito, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos” (1 Co 15:24-28).
Portanto, ao dizer “venha o teu reino” ele está se referindo ao reino do Pai, o epílogo desta fantástica história, quando Jesus entregar o reino ao Pai. Haverá novos céus e nova terra e o próprio tempo deixará de existir. Estaremos então no estado eterno, onde só é possível estar em um corpo ressuscitado ou transformado à semelhança do corpo de Jesus. É por isso que em João 5:29 diz que “Os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”. Todos estarão ressuscitados no final.
A expressão “fizeram o bem” não significa que a salvação seja por obras, mas que as obras são os resultados. Como numa contabilidade, o que é mencionado são os resultados, não a operação que levou a eles. Os salvos que viverem na terra durante o milênio ressuscitarão e habitarão na nova terra; os salvos pertencentes à igreja e muitos outros já terão sido ressuscitados ou transformados para habitarem nos céus. Só então será feita a vontade do Pai “assim na terra como no céu”, uma aspiração que você encontra na versão desta mesma oração em Mateus 6:10.
Nos próximos 3 minutos saiba de onde vem o poder e a capacidade para a oração.
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Capacitados a orar
Como já aprendemos, a oração deve começar com expressões de exaltação e gratidão a Deus, para só depois falar de nossas necessidades. É preciso também lembrar o caráter dispensacional da oração ensinada por Jesus. Ela foi dada numa época quando a igreja ainda não existia e o Espírito Santo estava com os discípulos, mas não habitava neles. No Evangelho de João Jesus lhes disse: “o Espírito da verdade... vive com vocês e estará em vocês” (Jo 14:17).
Estas coisas só aconteceriam no dia de Pentecostes, no capítulo 2 de Atos. A partir daí todo aquele que é salvo por Jesus desfruta da presença do Espírito Santo habitando em si, individualmente, e na igreja, coletivamente. Enquanto Jesus estava no mundo o Espírito Santo agia nos discípulos de fora para dentro. Hoje o Espírito Santo Consolador age no crente de dentro para fora.
Daí a diferença entre a oração que Jesus ensinou aos discípulos e a que o cristão hoje tem o privilégio de colocar em prática. Paulo escreve em Romanos 8:26: “O Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus” (Rm 8:26-27).
Antes da descida do Espírito Santo os discípulos ainda não contavam com este privilégio, e mais uma vez vemos o absurdo das orações decoradas e repetitivas. Hoje o cristão é ajudado pelo Espírito Santo a orar, e por mais importante que seja intercedermos uns pelos outros, não devemos nos esquecer de que todo crente tem o privilégio de um acesso direto a Deus, sem intermediários. Algumas religiões ensinam seus seguidores que este acesso só é possível com a intermediação de algum líder ou sacerdote. Porém, o cristão esclarecido sabe que desde Satanás as coisas neste mundo funcionam na base da manipulação, dominação e controle.
Paulo se preocupava para isto não acontecer. Aos Coríntios ele disse: “Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (1 Co 2:4-5). E aos Filipenses escreveu: “Assim, meus amados, como sempre vocês obedeceram, não apenas em minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor, pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar” (Fp 2:12-13).
Portanto, se você já creu em Jesus, desfrute do acesso direto que tem ao Pai, sabendo que ele “é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós” (Ef 3:20). Nos próximos 3 minutos falaremos de como apresentar a Deus nossas necessidades.
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Nossas necessidades
No início do capítulo 11 de Lucas encontramos Jesus ensinando seus discípulos a orar, não com uma reza para ser repetida, mas apresentando a eles os principais pontos de uma oração. Os três primeiros nos falam do privilégio de chamarmos a Deus de Pai, do reconhecimento de sua santidade e da expectativa do dia em que a sua vontade será feita “assim na terra como no céu”, quando o Filho entregar o reino ao Pai. Os três pontos seguintes falam do crente e de suas necessidades físicas e espirituais, começando com: “Dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano” (Lucas 11:3).
O cristão reconhece que seu sustento vem de Deus, que nos considera mais valiosos que “as aves do céu [que] não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros”. Ele promete nos alimentar e vestir melhor do que faz com as aves e os lírios que “não trabalham nem tecem”. O Senhor diz: “Não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer?’ ou ‘que vamos beber?’ ou ‘que vamos vestir?’ Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas” (Mt 6:28-34).
Mas é importante entender que, na questão do sustento, Deus trata Israel e Igreja de maneiras distintas. A Israel Deus prometeu prosperidade material na terra, pois é o povo terreno de Deus. O Antigo Testamento não fala de bênçãos celestiais, e sim materiais, com muito leite e mel, filhos e rebanhos, ouro e prata. Agora, porém, Deus está tratando com a igreja, um povo ao qual ele não prometeu a terra, mas o céu. Israel e os que habitarão na terra receberão “como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo” (Mt 25:34). À Igreja, “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo... nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo” para habitarmos no céu (Ef 1:3-4).
Aos cristãos a Palavra de Deus não promete prosperidade material, porém diz: “Nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males” (1Tm 6:7-9). Portanto não vá na conversa desses pregadores que prometem riqueza e prosperidade. Paulo alertou que eles seriam “egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes... mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus” (2 Tm 3:1-6).
Nos próximos 3 minutos Jesus nos ensina a pedir: “Perdoa-nos os nossos pecados” (Lucas 11:4). Como assim? Já não fomos perdoados quando cremos em Jesus?
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Perdoa-nos os nossos pecados
Em seu modelo de oração Jesus ensina os discípulos a dizerem: “Perdoa-nos os nossos pecados” (Lucas 11:4). Deus trata o perdão em duas esferas: a judicial e a administrativa. Do ponto de vista judicial, ao crer em Jesus como seu Salvador você está de uma vez para sempre perdoado de todos os seus pecados; todos eles foram pagos na cruz. O sacrifício de Cristo não valeu apenas para os pecados passados, de antes de você crer, pois todos eles eram futuros quando Jesus morreu. Na cruz os seus pecados foram pagos; na sua conversão eles foram perdoados.
Se o sangue de Jesus só valesse para os pecados cometidos até o dia de sua conversão você já teria perdido sua salvação, pois se disser que nunca pecou desde então você é um grande mentiroso. A primeira carta de João diz que “se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1:9-10).
Funciona assim: o perdão judicial você recebeu ao crer em Jesus porque ele morreu por você e a provisão para o perdão administrativo — para os pecados cometidos após sua conversão — é garantida pelo mesmo sacrifício. Neste caso Deus quer que você os confesse para restaurar sua comunhão com o Pai, mas veja se fez antes a lição de casa, pois a passagem não diz apenas “Perdoa-nos os nossos pecados”, mas continua dizendo “pois também perdoamos a todos os que nos devem” (Lucas 11:4). Isto demonstra que o perdão buscado aqui é um perdão para a restauração de um relacionamento, como também acontece na esfera humana.
Quando viajo a trabalho recebo de meu cliente um “voucher”, uma espécie de vale, para eu usar para as despesas de alimentação, táxi e hotel. Tendo o “voucher” não preciso me preocupar em levar dinheiro para estas despesas, pois o pagamento está garantido. Mas a cada despesa eu preciso apresentar o “voucher” para provar que os recursos já foram supridos. O sangue de Jesus é o “voucher” que garante, não apenas o perdão judicial no momento de sua conversão, mas também o perdão administrativo no dia a dia, se eventualmente você pecar. A primeira carta de João diz: “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado... Escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 2:1-2).
Nos próximos 3 minutos a oração ensinada por Jesus fala de nossa necessidade de pedir ao pai por proteção na tentação.
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Não nos deixes cair em tentação
O último pedido da oração ensinada por Jesus é: “Não nos deixes cair em tentação” (Lucas 11:4). A palavra “tentação” aqui é no sentido de teste ou prova, como quando testamos os freios do carro antes de uma descida ou participamos de uma prova na escola. Repare que o pedido não é para não sermos tentados, mas para não cairmos ou falharmos no teste. Jó e Pedro foram testados assim e falharam, por confiarem em si mesmos. Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto para ser testado pelo diabo e provou ser quem ele era: o Filho de Deus sem pecado e incapaz de pecar.
Para o cristão é um privilégio passar por este tipo de tentação ou provação, pois quando Deus a permite o objetivo é produzir algum resultado em nós. Veja o que diz Tiago no primeiro capítulo de sua carta: “Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança” (Tg 1:2-4).
Pedro, o mesmo que foi reprovado, escreveu mais tarde exortando os cristãos a se alegrarem naquilo que receberam em Cristo, ainda que no momento presente, e por um pouco de tempo, fossem “entristecidos por todo tipo de provação”. Ele explica a razão desses testes ou provas que Deus permite: “Para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado” (1 Pe 1:6-7).
Mesmo assim devemos rogar ao Pai que não nos deixe tirar zero nas provas, e que ele possa transformar essas experiências amargas em benefício para nossas almas e em louvor para a glória de Deus. O Senhor Jesus podia muito bem ficar no deserto quarenta dias sem comer e beber sendo testado pelo diabo por ser o Filho de Deus, ao mesmo tempo Deus e Homem. Se ele, que nunca falhou e nem poderia falhar em razão de sua natureza divina, andou aqui em total dependência do Pai, quanto mais nós devemos imitá-lo, buscando em Deus a capacidade para tirarmos boas notas nas provas pelas quais devemos passar.
Este é um modelo perfeito de oração, pois cobre tudo. Primeiro vimos os pontos relacionados a Deus, como o privilégio de chamá-lo de Pai, o reconhecimento de sua glória e santidade por ele ser quem é, e a expectativa dos novos céus e nova terra no final da história. Depois falamos de nossas necessidades físicas e espirituais, ao pedirmos pelo pão cotidiano — e não mensal ou anual —, reconhecermos quem é a fonte de nosso perdão e, finalmente, buscarmos em Deus a capacidade para não falharmos nos testes ou provações. Mas volto a lembrar que este modelo de oração foi dado antes que os discípulos tivessem recebido o Espírito Santo e desfrutassem da certeza do perdão de pecados.
Nos próximos 3 minutos daremos uma olhada por sobre o ombro de um servo de Deus para ver o que estava anotado em sua Bíblia.
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“Fui eu que fiz isso”
John Nelson Darby viveu na Grã-Bretanha no século 19 e ficou conhecido pela autoria de dezenas de livros e hinos e de uma excelente tradução da Bíblia a partir do grego e hebraico. Curiosamente um dos textos que ele mais ajudou a divulgar nem era de sua autoria, mas de autor desconhecido. Foi descoberto após sua morte anotado em sua Bíblia, como se fosse uma carta recebida de Deus, e nos ajuda a entender que Deus sempre responde nossas orações. Porém a resposta pode ser “Sim”, “Não” ou “Espere”. O texto diz assim: “Os desapontamentos da vida são, na realidade, apenas determinações do meu amor. Hoje tenho uma mensagem para você, meu filho. Vou segredá-la suavemente ao seu ouvido, para que quando surgirem as nuvens, que são um prenúncio tempestade, elas sejam douradas de glória, e para que os espinhos nos quais você talvez tenha que pisar se quebrem. A mensagem é curta — uma simples frase — mas deixe que ela penetre no fundo do seu coração e sirva para você como um travesseiro onde possa descansar a sua cabeça fatigada: ‘Fui eu que fiz isso’ (1 Rs 12:24).
Você já parou para pensar que tudo o que lhe diz respeito também diz respeito a mim? Porque aquele que tocar em você toca na menina dos meus olhos (Zc 2:8). Você é precioso para mim e é por isso que eu me interesso especialmente por seu crescimento espiritual. Quando a tentação o assalta e o inimigo chega como uma inundação (Ap 12:15), quero que saiba que ‘fui eu que fiz isso’.
Eu sou o Deus das circunstâncias. Você não foi colocado onde está por acaso, mas porque é o lugar que escolhi para você. Você não orou pedindo para ser humilde? Pois fique sabendo que o lugar onde está é o único onde poderá aprender bem esta lição. É por meio de tudo e de todos ao seu redor que a minha vontade se cumprirá em você.
Você tem dificuldades financeiras? Está difícil viver com o que ganha? ‘Fui eu que fiz isso’, pois eu sou o dono de todas as coisas. Quero que receba tudo de mim e dependa exclusivamente de mim. Minhas riquezas são ilimitadas. (Fp 4:19). Prove-me, para que não se diga a seu respeito que não creu no Senhor seu Deus.
Você está passando pela noite escura da aflição? ‘Fui eu que fiz isso’. Eu sou o Homem de dores e experimentado em trabalhos (Is 53:3). Deixei que você ficasse sem qualquer auxílio humano para que se voltasse para mim para encontrar consolação eterna (2Ts 2:16, 17).
Você está desiludido com algum amigo a quem talvez tenha aberto seu coração? ‘Fui eu que fiz isso’. Permiti esse desapontamento para você aprender que seu melhor amigo é Jesus, que o livra de cair e combate as suas batalhas. Sim, Jesus é o seu melhor Amigo. Eu anseio por ser seu confidente.
Alguém disse coisas falsas a seu respeito? Não fique irado; chegue mais perto de mim, debaixo das minhas asas, longe de qualquer discussão, porque eu deixarei claro como a alvorada que você é justo, e como o sol do meio-dia que é inocente (Sl 37:6).
Seus planos foram frustrados? Você se sente esmagado e abatido? ‘Fui eu que fiz isso’. Acaso não foi você quem fez os planos e depois pediu que eu os abençoasse? Sou eu quem deseja fazer os seus planos. Eu assumirei essa responsabilidade, porque ela é pesada demais para você. Você não seria capaz de carregá-la sozinho, pois não passa de um instrumento. (Ex 18:18).
Alguma vez você desejou fervorosamente fazer alguma grande obra para mim? E, em vez disso, você foi deixado de lado, num leito de dor e sofrimento? ‘Fui eu que fiz isso’. Eu não poderia prender sua atenção de outra forma, enquanto você estava tão ativo. Quero ensinar-lhe algumas das minhas lições mais profundas. Somente aqueles que aprendem a esperar pacientemente é que podem me servir. Às vezes os meus melhores obreiros são aqueles que foram colocados fora do serviço ativo a fim de poderem aprender a manejar melhor a arma que se chama oração.
Você foi chamado de repente a ocupar uma posição difícil, cheia de responsabilidades? Vai em frente, conte comigo. Estou colocando você nessa posição cheia de dificuldades simplesmente porque abençoarei você em tudo o que fizer (Dt 15:18).
Ponho hoje em suas mãos o vaso de santo azeite. Tira o quanto você quiser, meu filho, para que toda circunstância que surgir em seu caminho — cada palavra que o magoe, cada obstáculo que prove a sua paciência, cada manifestação de sua fraqueza — possa ser ungida com este óleo. Lembre-se de que os obstáculos são instruções divinas. A dor que você sofrer será na medida certa para você me enxergar em todas as coisas. Portanto, aplique o seu coração a todas as palavras que hoje digo a você, pois elas são a sua vida (Dt 32:46, 47).”
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Levanto os meus olhos
Já que o nosso assunto tem sido a oração que Jesus ensinou aos discípulos, seria bom nos ocuparmos por alguns minutos com o Salmo 121, que diz: “Levanto os meus olhos para os montes e pergunto: De onde me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra. Ele não permitirá que você tropece; o seu protetor se manterá alerta, sim, o protetor de Israel não dormirá, ele está sempre alerta! O Senhor é o seu protetor; como sombra que o protege, ele está à sua direita. De dia o sol não o ferirá, nem a lua, de noite. O Senhor o protegerá de todo o mal, protegerá a sua vida. O Senhor protegerá a sua saída e a sua chegada, desde agora e para sempre” (Sl 121:1-8).
Primeiro, é levantando os olhos para Deus que você encontra socorro nas dificuldades. O mundo irá dizer “Confie em si mesmo”, “Siga o seu coração”, mas isso não passa de uma grande bobagem sussurrada pelo diabo. Por que você iria confiar nessa ruína que vive no vale da sombra da morte, quando pode confiar naquele que está acima dos montes? É do Senhor que vem o seu socorro; daquele que fez os céus e a terra.
O Salmo 121 traz várias vezes a palavra “guarda” ou “protetor” e o verbo “guardar” ou “proteger”, sempre se referindo a Deus. Se você é daqueles que buscam por proteção em religião, crucifixo, terço, talismã, santo, imagem, pastor, azeite, vela, guru ou em qualquer coisa que não seja o próprio Deus é porque ainda não tem a Jesus como seu Salvador; você ainda não creu nele para receber o perdão de seus pecados e a vida eterna. Se já tivesse confiado nele para receber o mais difícil, que é a Salvação, você iria também confiar para receber o seu cuidado.
Deus promete ao salvo por Cristo que não permitirá que tropece ou caia em pecado. Precisamos desta proteção por estarmos cercados de armadilhas e enganos. O inimigo de nossas almas, Satanás, odeia o fato de termos sido tirados de suas garras quando cremos em Cristo, e não se cansa de procurar a nossa queda para manchar a reputação de Deus. Quando Jesus diz a você para segui-lo está dizendo que você só estará seguro pisando em suas pegadas.
Qualquer vigia humano pode se distrair ou cair no sono, mas o Salmo diz que Deus “não dormirá, ele está sempre alerta”, de dia e de noite. No tempo de Noé o mal estava em toda parte, mas Deus manteve a ele e à sua família impermeáveis ao mal. E quando caiu sobre o mundo o juízo divino na forma do dilúvio, eles ficaram literalmente impermeáveis a esse juízo. “O Senhor o protegerá de todo o mal”, diz o Salmo. Em todas as circunstâncias você será guardado, em sua “entrada” e em sua “saída”, agora e na eternidade. Mas, volto a dizer, estas promessas são apenas para aqueles que se tornaram filhos de Deus pela fé em Jesus, e podem, por assim dizer, importunar a Deus em oração. Como veremos nos próximos 3 minutos.
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Perseverar em oração
Jesus continua sua aula sobre oração com o exemplo de um homem que recebe uma visita inesperada e bate à porta de seu amigo à meia-noite pedindo três pães emprestados para alimentar o visitante. O amigo, que não quer ser importunado, responde que não pode levantar-se para ir buscar os pães. A lição ensinada por Jesus é que “embora ele não se levante para dar-lhe o pão por ser seu amigo, por causa da importunação se levantará e lhe dará tudo o que precisar” (Lucas 11:8).
O objetivo do exemplo não é dizer que Deus se sente importunado com nossas orações, mas que devemos ser persistentes. Deus é acessível a qualquer ser humano, e sem intermediários. Você não encontra Jesus dispensando alguém que o tenha procurado, dizendo: “Vá a Pedro” ou “Peça a Maria”. Ele disse “Venham a mim”. Querer colocar alguém para intermediar nossas orações é não conhecer quem é esse Pai amoroso que está pronto a receber nossos pedidos por meio de Jesus. Paulo escreve a Timóteo: “Há um só Deus e um só mediador [ou intermediário] entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus” (1Tm 2:5).
Mas apesar de não precisarmos de intermediários para falar com Deus, a história contada por Jesus traz mais uma lição. Você percebeu que o homem não procura seu vizinho para suprir sua própria necessidade, mas sim a do hóspede inesperado? Estamos sempre prontos a pedir por nós, mas quantas vezes nos lembramos de interceder por outros? O homem talvez suportasse a fome até o amanhecer, mas ele não está pensando em si mesmo. Está preocupado com as necessidades do hóspede, e isto nos leva a outra prática importante para o cristão.
Hebreus 13:2 diz: “Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber alguns acolheram anjos”. No mesmo capítulo são indicados dois sacrifícios que agradam a Deus, o louvor e a beneficência. Lá diz: “Por ele [Cristo] ofereçamos a Deus sem cessar sacrifícios de louvor, isto é, o fruto dos lábios que celebram o seu nome. Não negligencieis a beneficência e a liberalidade. Estes são sacrifícios que agradam a Deus” (Hb 13:15-16). Mas repare que a ajuda ao próximo é algo que devemos fazer, e não esperar ou exigir que outros nos façam.
Em uma cristandade cheia de pregadores que vivem pedindo para si mesmos, que bom seria se seguíssemos o exemplo de Paulo em Atos 20:33-35: “Não cobicei a prata nem o ouro nem as roupas de ninguém. Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram minhas necessidades e as de meus companheiros. Em tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber’”.
Se há maior felicidade em dar do que em receber, quem poderia ser chamado de “o mais feliz” do Universo? A resposta você encontra nos próximos 3 minutos.
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O mais feliz do Universo
Jesus disse que “há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20:35). Portanto a felicidade em dar está diretamente relacionada ao valor daquilo que é dado, e neste sentido ninguém é mais feliz do que o próprio Deus. “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). E o Filho de Deus, por sua vez, “se entregou por nós” (Tt 2:14) e “deu a sua vida por nós” (1 Jo 3:16). Portanto, “Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho” (1 Jo 5:11).
Se a alegria de Deus está em dar, como você ousa querer privá-lo dessa alegria ao tentar fazer algo para merecer a salvação que é de graça? Deus não pediu nada em troca. Será que você já se deu conta de que todas as vezes que na Bíblia aparece a palavra “graça” está falando de algo que só podemos receber... de graça? Esta é a condição! O apóstolo Paulo explica em Romanos 11:6 que “se é pela graça, já não é mais pelas obras; se fosse, a graça já não seria graça”. Alguns cristãos deturpam tanto a palavra “graça” que a transformam em sinônimo de pertencer a uma denominação religiosa ou viver segundo uma lista de regras.
Dificilmente encontraremos um exemplo melhor de graça do que a demonstrada ao ladrão na cruz. No início os dois ladrões zombavam de Jesus, mas quando um deles ouviu Jesus dizer “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”, teve a certeza de estar diante de seu único e último recurso antes de morrer. Se Jesus estava disposto a interceder por seus cruéis algozes, podia muito bem fazer algo por aquele fracassado ladrão. Ele não tentou justificar-se a si mesmo, mas condenou-se e justificou a Cristo, ao dizer ao outro ladrão: “Nós estamos sendo punidos com justiça, porque estamos recebendo o que os nossos Atos merecem. Mas este homem não cometeu nenhum mal”. Em seguida, crendo, pediu: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” (Lucas 23:34-43).
Que resposta ele recebeu de Jesus? “Desça daí e vá remendar todo o mal que fez”? “Sinto muito, mas antes você precisa passar pelo o purgatório”? “É impossível antes que você seja batizado”? “Mostre-me os comprovantes de que está em dia com o dízimo”? Nada disso. Da boca do Salvador o ladrão ouviu: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso”. Um pouco depois aquele vil ladrão tinha saído da cruz para a glória da presença do Filho de Deus. Pregado ali ele nada podia fazer além de pedir e crer que seria atendido, não por causa de algum bem que pudesse fazer, mas daquele a quem pediu. Em nosso capítulo 11 de Lucas Jesus garante: “Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta” (Lucas 11:9-10).
Você já pediu a Deus a salvação crendo que pode recebê-la por graça e tão somente pela fé em Jesus? Mas será que Deus dá mesmo tudo o que pedimos? A resposta está nos próximos 3 minutos.
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Confiar em Deus
Eu já disse que Deus sempre responde nossas orações, mas a resposta pode ser “sim”, “não” ou “espere”. Nas guerras os soldados procuram um terreno alto para usar como ponto de observação. As muralhas de antigamente tinham torres e a guerra moderna adotou satélites para ter uma visão estratégica. Quanto mais alto, mais privilegiada a visão. Com Deus não é diferente; ele enxerga o fim desde o começo. Você jamais terá um ponto de observação tão alto e privilegiado quanto o dele, portanto é melhor confiar nele quando pedir algo e aceitar a resposta que ele der a você. Ele vê o que você não vê.
O problema é que desde a queda do homem nós desconfiamos de Deus e fazemos como fez Adão, que se escondeu entre as árvores do jardim do Éden. Em alguns lugares na Bíblia as árvores são usadas como figura da humanidade, por suas raízes estarem na terra e serem vulneráveis ao fogo. É comum pecarmos e fugirmos de Deus, nos refugiando em recursos humanos. Porém a intenção de Deus a nosso respeito é das melhores. O profeta Miquéias escreveu:
“Quem é comparável a ti, ó Deus, que perdoas o pecado e esqueces a transgressão do remanescente da sua herança? Tu que não permaneces irado para sempre, mas tens prazer em mostrar amor. De novo terás compaixão de nós; pisarás as nossas maldades e atirarás todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Mq 7:18-19). Será que é de um Deus assim, misericordioso e pronto para perdoar, que você está fugindo? É a ele que você está relutante em confessar seus pecados para receber o perdão? O próprio Deus, falando por intermédio do profeta Ezequiel, garantiu: “Não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva” (Ez 33:11).
Isto nos traz de volta ao que Jesus diz no capítulo 11 do Evangelho de Lucas: “Qual pai, entre vocês, se o filho lhe pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está no céu dará o Espírito Santo a quem o pedir!” (Lucas 11:11-13). Davi sabia muito bem o que era cair, confessar o pecado, e ser restaurado. No Salmo 86 ele diz:
“Inclina os teus ouvidos, ó Senhor, e responde-me, pois sou pobre e necessitado... Tu és bondoso e perdoador, Senhor, rico em graça para com todos os que te invocam. Escuta a minha oração, Senhor; atenta para a minha súplica! No dia da minha angústia clamarei a ti, pois tu me responderás... Tu, Senhor, és Deus compassivo e misericordioso, muito paciente, rico em amor e em fidelidade” (Sl 86). E Deus pode ser misericordioso, porque já julgou o pecado com justiça quando derramou todo o castigo sobre o seu Filho na cruz. A provisão para sermos salvos do juízo já foi feita e pode ter certeza de que se você pedir por salvação Deus lhe atenderá.
Mas o que significa pedir pelo Espírito Santo? Veja nos próximos 3 minutos.
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Pedir o Espírito Santo
No versículo 13 de Lucas 11, Jesus diz: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está no céu dará o Espírito Santo a quem o pedir!”. Para entendermos o que significa pedir o Espírito Santo precisamos antes entender um princípio fundamental de interpretação bíblica. O fato de Deus dizer algo em sua Palavra nem sempre significa que esteja dizendo a você. Se você costuma abrir a Bíblia a esmo e acha que o primeiro versículo que vê é uma ordem direta de Deus para você, cuidado para não fazer bobagem quando a passagem disser: “[Judas] foi e enforcou-se” (Mt 27:5).
Existem passagens que são ditas a Israel e existe a doutrina dos apóstolos dada à igreja nas epístolas. Há ordens dadas no Antigo Testamento para determinadas pessoas, que hoje nos servem de alento, mas que não foram dirigidas diretamente a nós. Existem também experiências pessoais de servos de Deus que nada têm a ver conosco. Portanto, quando ler algo, pergunte: A quem Deus disse? Quando Deus disse? Em que circunstâncias? O que veio antes? O que vem depois?
Se aplicarmos este princípio aqui, veremos que Jesus está dizendo isto aos discípulos que ainda não têm o Espírito Santo habitando neles. Em João 7:39 diz que “Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado”. Portanto temos aqui um grupo de pessoas que, apesar de terem o Espírito Santo com eles, ainda não desfrutam do Espírito habitando neles. É normal que Jesus lhes dissesse para pedir o Espírito Santo, o que eles efetivamente passariam a fazer até o dia de Pentecostes, quando o Espírito veio habitar neste mundo — no crente individualmente e na igreja coletivamente.
Logo após a ressurreição Jesus diria aos discípulos em Lucas 24:49: “Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto”, e minutos antes de sua ascensão aos céus, ele prometeria, em Atos 1:8: “[Vocês] receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês”. Então, no capítulo 2 de Atos, lemos que “chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava” (At 2:1-4).
Ao fundar a igreja Deus desfazia a confusão de línguas que começou em Babel, quando os homens quiseram construir uma torre que alcançasse o céu para perpetuarem seu nome na terra. Em Atos 2 Deus estava formando o corpo de Cristo, um povo que, apesar das diferenças linguísticas, deveria se entender como se todos falassem um mesmo idioma. Só então aqueles discípulos receberiam o Espírito Santo para habitar neles. E hoje, quando é que alguém recebe o Espírito Santo? A resposta nós veremos nos próximos 3 minutos.
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Ouvir, crer e ser selado
A passagem em Efésios 1:13 é categórica: “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória”. Hoje uma pessoa convertida a Cristo não precisa pedir pelo Espírito Santo, pois sua vinda para habitar no novo convertido é automática.
Em Efésios Deus enxerga o cristão com tudo resolvido. No capítulo 1 ele foi abençoado “com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo” (v. 3); foi escolhido em Cristo “antes da fundação do mundo” para ser santo e irrepreensível (v. 4); foi predestinado para ser filho por adoção (v. 5); já possui a redenção por meio do sangue e o perdão dos pecados (v. 7); tem revelado para si o mistério da vontade de Deus (v. 9) e foi selado com o Espírito Santo depois de ouvir e crer na palavra da verdade (v. 13).
O capítulo 2 de Efésios continua explicando que o crente tem vida juntamente com Cristo (v. 5); está ressuscitado com Cristo e assentado nas regiões celestiais (v. 6); foi salvo pela graça, por meio da fé (v. 8); tem acesso ao Pai (v. 18); é membro da família de Deus (v. 19) e é morada do Espírito Santo, coletiva e individualmente. Já que o crente em Jesus possui, não só o Espírito Santo, mas todo um pacote de benefícios e privilégios, não faria muito sentido ele orar por algo que já recebeu, não é mesmo? Além disso, em Romanos 8:9 diz que “se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo”.
Isto mostra que, na atual dispensação, uma pessoa é considerada pronta para o céu depois que ouviu o Evangelho, creu em Jesus e foi selada com o Espírito Santo. Mas quando analisamos outras passagens dos Evangelhos e das epístolas percebemos que a divisão no versículo 13 de Efésios não é sem um propósito. Ali diz que ouviram, creram e foram selados, indicando assim três momentos bem definidos da salvação, ainda que possam ocorrer simultaneamente. Esta é uma verdade pouco compreendida na cristandade, principalmente por aqueles que acreditam ser possível ao homem crer em Cristo sem um empurrão de Deus.
Para que alguém creia em Cristo é preciso que antes tenha recebido vida espiritual vinda de Deus. Quem está espiritualmente morto não sente o peso de seus pecados e não tem qualquer motivação para buscar a Deus. É isto que Jesus chama de nascer de novo em sua conversa com Nicodemos no capítulo 3 de João. O novo nascimento se dá quando o Espírito de Deus aplica a água da Palavra de Deus em uma alma gerando vida. Assim que recebe vida, o pecador passa a se interessar pelas coisas de Deus, ao mesmo tempo em que é incomodado por seu pecado e aterrorizado pelo juízo. É este o estado de Cornélio, no capítulo 10 de Atos. Mas quem é Cornélio? É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Cornélio
Em Atos capítulo 10 você encontra Cornélio, um centurião romano convertido ao judaísmo. Mas ele não é um mero religioso e nem recebeu a Palavra de Deus só intelectualmente, como os fariseus de outrora ou alguns teólogos atuais. A água da Palavra de Deus foi aplicada em Cornélio pelo Espírito de Deus, por isso ele possui vida espiritual. Cornélio é nascido de novo, porém não salvo.
Mas como posso afirmar que ele é nascido de novo? Porque a nova vida que traz em si o leva a buscar a Deus e a fazer coisas que agradam a Deus. Veja o que diz Atos 10:1-4: “Ele e toda a sua família eram piedosos e tementes a Deus; dava muitas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus... suas orações e esmolas subiram como oferta memorial diante de Deus”. Agora compare com Romanos 3:10-11: “Não há um justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus... não há ninguém que faça o bem”.
Percebe o contraste? Romanos fala de alguém em sua condição natural de pecador arruinado: não entende, não busca a Deus e não faz o bem. Atos fala de alguém nascido de novo, com a nova vida que o Espírito de Deus injeta numa pessoa ao aplicar nela a Palavra de Deus, mesmo que no caso de Cornélio tenha sido apenas o Antigo Testamento. Ele busca e teme a Deus, e o bem que faz é reconhecido por Deus. Mesmo assim Cornélio ainda não está salvo, pois precisa encontrar-se com Pedro para escutar as boas novas de salvação.
Enquanto um anjo aparece a Cornélio exortando-o a se encontrar com Pedro, o Senhor prepara Pedro para encontrar-se com Cornélio. O livro de Atos descreve um momento de transição e Pedro ainda não sabe o que é o corpo de Cristo, a igreja, formada de judeus e gentios. Esta verdade só seria revelada a Paulo. Pedro é judeu, e para um judeu os gentios são uma classe impura e inferior. Por isso o Senhor diz três vezes a ele: “Não chame impuro ao que Deus purificou” (At 10:15). Agora Pedro está preparado, não só para pregar as boas novas do Evangelho ao gentio Cornélio, como também para reconhecer que Deus irá recebê-lo.
E é o que acontece do versículo 34 ao 43 de Atos 10. No final da mensagem Cornélio e os que o acompanham creem em Jesus, depois de escutarem que ele morreu e ressuscitou, e que “todo aquele que nele crê recebe o perdão dos pecados mediante o seu nome” (At 10:42-43). Pedro ainda está falando quando o Espírito Santo desce sobre os que ouvem a mensagem, demonstrando que não só creram como foram ali selados com o Espírito Santo. Esta é a ordem: nascer de novo, crer em Jesus e ser selado com o Espírito. Mas será que alguém pode parar na metade do processo? Não, porque Deus não faz nada pela metade. “Aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1:6).
Nos próximos 3 minutos voltaremos ao capítulo 11 de Lucas para encontrar Jesus expulsando um demônio.
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Difamando a Palavra de Deus
“Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo falou, e a multidão ficou admirada. Mas alguns deles disseram: ‘É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa demônios’. Outros o punham à prova, pedindo-lhe um sinal do céu” (Lucas 11:14-16). Enquanto alguns dentre o povo são categóricos em afirmar que o poder de Jesus vem do diabo, outros exigem que ele faça um sinal do céu para provar a origem de seu poder.
A resposta para os que o acusam de ser energizado por Satanás vai do versículo 17 ao 26 deste capítulo 11 de Lucas. Jesus demonstra o absurdo que seria o diabo agir contra si mesmo. Aos que pedem que ele faça um sinal do céu Jesus responde no versículo 29: “Esta é uma geração perversa. Ela pede um sinal miraculoso, mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal de Jonas” (Lucas 11:29).
A reação do povo revela um comportamento encontrado também entre cristãos, que é o de difamar aquilo que não conseguem compreender ou não querem aceitar. Quer um exemplo? Você já deve ter ouvido cristãos chamarem Paulo de machista ou solteirão frustrado quando leem, no capítulo 14 de 1 Coríntios, o que o Espírito Santo ensina sobre os limites da atuação das mulheres nas reuniões da igreja. Mas no mesmo capítulo a ordem para as mulheres ficarem caladas nas igrejas termina assim: “Se alguém pensa que é profeta ou espiritual, reconheça que o que lhes estou escrevendo é mandamento do Senhor” (1 Co 14:37).
Alguns também insinuam que não devemos nos prender aos detalhes da Bíblia, alegando que são esses detalhes que causam divisão entre os crentes. Sem perceber difamam o Espírito de Deus que decidiu incluir esses detalhes em sua revelação, refutando as Escrituras por elas terem sido mal utilizadas pelos homens. No interior de São Paulo, onde eu moro, costumamos dizer que pessoas que agem assim “matam a vaca para acabar com o carrapato”.
Com isso a Bíblia vai sendo transformada em um mero acessório da vida cristã, de onde se pode eventualmente extrair um ou dois versículos motivacionais. Ao invés de terem seus pensamentos formados pela Palavra de Deus, as pessoas concebem suas próprias ideias e depois procuram na Bíblia um ou dois versículos para ampará-las. O apóstolo Judas previu um tempo assim, ao mencionar em sua epístola os falsos líderes da cristandade. Ele escreveu:
“Senti que era necessário escrever-lhes insistindo que batalhassem pela fé uma vez por todas confiada aos santos. Pois certos homens, cuja condenação já estava sentenciada há muito tempo, infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês. Estes são ímpios” (Jd 1:3-4). Mas como identificar estes apóstatas, que “difamam tudo o que não entendem” (Jd 1:10)? E como essa influência maligna acabou se misturando com o povo de Deus? É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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As segundas epístolas
Lucas 2co 2 Ts 2 Tm 2 Pe 2 Jo Tt
Para você entender como a Palavra de Deus já previa o abandono da verdade, leia as segundas epístolas. Elas revelam a apostasia que entraria na casa de Deus e nos exorta a nos apartarmos da corrupção. Na Segunda aos Coríntios o antídoto contra o “jugo desigual”, que é a associação e contaminação com judaísmo, paganismo e mundanismo é: “Saiam do meio deles e separem-se, diz o Senhor. Não toquem em coisas impuras, e eu os receberei” (2 Co 6:17).
Na Segunda carta aos Tessalonicenses alguns distorciam o que Paulo havia ensinado na primeira epístola sobre a vinda do Senhor para buscar sua igreja. Estes alarmavam os irmãos dizendo que o período de tribulação já tinha chegado, enquanto outros paravam de trabalhar para viver à custa dos irmãos. A exortação é: “Se afastem de todo irmão que vive ociosamente e não conforme a tradição que receberam de nós” (2Ts 3:6). Entenda como “tradição” os costumes ensinados pelos apóstolos, que alguns consideram detalhes insignificantes da Bíblia.
A Segunda epístola a Timóteo trata dos ensinos e doutrinas errôneas, e nela a exortação é para não ficarmos preocupados com quem é ou não de Cristo, pois “o Senhor conhece quem lhe pertence”. A ordem também não é para tentarmos consertar o que está errado, e sim “afaste-se da iniquidade todo aquele que confessa o nome do Senhor” (2Tm 2:19). Na Segunda Epístola de Pedro você encontra o abandono da piedade na vida prática e o alerta para nos separarmos de pessoas que não andam segundo a verdade. Ali diz: “Guardem-se para que não sejam levados pelo engano dos homens abomináveis, nem percam a sua firmeza e caiam” (2 Pe 3:17).
Finalmente, na Segunda Epístola de João o assunto é o erro doutrinário relacionado à Pessoa de Cristo. O tratamento ali é drástico: “Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus; quem permanece no ensino tem o Pai e também o Filho. Se alguém chegar a vocês e não trouxer esse ensino, não o recebam em casa nem o saúdem. Pois quem o saúda torna-se participante das suas obras malignas” (2 Jo 1:11).
Digno de nota é também o que o apóstolo Paulo escreve em sua última epístola a Timóteo, pouco tempo antes de ser martirizado: “Todos me abandonaram” (2Tm 4:16). Seria isto um indício de que nos últimos dias a doutrina dada pelo Espírito a Paulo — a saber, a doutrina das coisas relativas à igreja — seria a mais atacada? Sim, e não é preciso muito conhecimento da Palavra para perceber que o que hoje é chamado de “igreja” não passa de uma triste caricatura do que Paulo ensinou.
A epístola de Judas não é uma segunda epístola, mas nas edições modernas da Bíblia ela vem antes de Apocalipse, que relata o fim. Ela nos ajuda a entender o caráter dos homens apóstatas que precedem o aparecimento do verdadeiro anticristo, e é desses homens que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Detector de lobos
Quando Paulo se despediu dos irmãos de Éfeso, em Atos 20, ele os deixou avisados do que deviam fazer depois que não pudessem contar com a ajuda pessoal do apóstolo: deveriam recorrer a Deus e à Palavra de sua graça. Ele disse: “Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos. Por isso, vigiem! Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir a cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas. Agora, eu os entrego a Deus e à Palavra da sua graça, que pode edificá-los e dar-lhes herança entre todos os que são santificados” (At 20:29-32).
Hoje não temos mais os apóstolos, portanto é a Deus e à Palavra que devemos recorrer se quisermos identificar essas duas classes de pessoas: os lobos, que vem de fora, e aqueles dentre nós que querem arrebanhar discípulos. A carta de Judas é um excelente detector de lobos e hereges. Os primeiros querem destruir o rebanho alimentando-se das ovelhas, e os outros buscam discípulos para terem a primazia entre os irmãos. Judas diz que eles infiltram-se “dissimuladamente no meio de vocês... são ímpios, e transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor” (Jd 1:4).
Estes também “rejeitam as autoridades e difamam os seres celestiais”. Nos evangelhos o único que vemos repreendendo Satanás e os demônios é Jesus. Apesar dos discípulos expulsarem demônios, eles jamais repreendiam Satanás, e “Nem mesmo o arcanjo Miguel, quando estava disputando com o diabo acerca do corpo de Moisés, ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas disse: ‘O Senhor o repreenda!’” (Jd 1:8-9). Ao crente é dito para resistir ao diabo, não para repreendê-lo. A prepotência e arrogância no tratamento com as potestades celestiais é um indício para você identificar os falsos obreiros, aqueles que “difamam tudo o que não entendem; e as coisas que entendem por instinto, como animais irracionais, nessas mesmas coisas se corrompem” (Jd 1:10).
Mas Judas não para aí: sua carta dá três características desses homens ímpios vestidos em pele de cordeiro: “Seguiram o caminho de Caim... caíram no erro de Balaão e foram destruídos na rebelião de Corá” (Jd 1:11). Mas o que é uma pessoa que segue o caminho de Caim? É aquele que rejeita a salvação com base apenas no sacrifício do Cordeiro. Caim achou que Deus o aceitaria por causa do fruto do seu trabalho. Você já ouviu algum pregador dizer que é preciso ofertar o fruto do seu trabalho para receber a salvação? Então você ouviu Caim pregando.
Nos próximos 3 minutos Judas ensina como detectar Balaão e Corá.
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Balaão e Corá
Se a expressão “o caminho de Caim” nos fala de buscar o favor divino por meio do fruto de nosso trabalho, “o erro de Balaão” está ligado à ganância. Balaão se fazia passar por profeta de Deus para enriquecer. Se você já viu algum pregador assim então já teve um encontro com Balaão. Nos capítulos 22 ao 24 do livro de Números você lê a triste história desse mercenário religioso que se prostituía para profetizar mediante pagamento.
Por cinco vezes o rei Balaque tentou fazer com que Balaão amaldiçoasse Israel, o que o falso profeta estava muito disposto a fazer em troca da riqueza prometida. Mas Deus o impediu. Por fim Deus permitiu que ele seguisse a própria vontade, para ruína do falso profeta e bênção para Israel. De sua própria boca Balaão ouviu sair bênção para o povo de Deus e juízo para si, ao afirmar que veria o Messias de Israel, mas de longe, indicando assim seu destino separado de Deus. Ele disse: “Eu o verei, mas não agora; eu o avistarei, mas não de perto” (Nm 24:17).
Mais tarde, no capítulo 25 de Números, Balaão teria sucesso em corromper o povo de Deus levando os israelitas a caírem em idolatria depois de terem relações sexuais com mulheres pagãs. Idolatria é confiar no poder de pessoas e objetos, ao invés de confiar unicamente em Deus. Se você já viu algum pregador dizer que você só será abençoado por ele próprio ou se frequentar sua igreja e adquirir amuletos como azeite do Jardim das Oliveiras, pétalas da rosa de Saron, água do Rio Jordão ou lenços ungidos, então você já viu Balaão.
Depois do “caminho de Caim” e do “erro de Balaão”, Judas nos dá mais uma dica de como detectarmos os lobos e hereges que querem se alimentar das ovelhas ou fazer discípulos. Ele fala da “rebelião de Corá” (Jd 1:11). Ao ler o capítulo 16 de Números você encontra Corá, com Datã e Abirão, questionando a liderança de Moisés e o sacerdócio de Aarão. Sua intenção parecia ser “democratizar” o culto a Deus, mas ele queria mesmo era usurpar o lugar de autoridade e intercessão sacerdotal instituído por Deus, tornando-se um intermediário não autorizado entre Deus e os homens. Hoje não temos Moisés para nos guiar ou Aarão para interceder por nós. Temos a Cristo, e qualquer homem que se coloque como intermediário entre Deus e os homens está agindo como Corá.
A principal característica da apostasia é a exaltação do homem, e não é difícil encontrarmos líderes cristãos elevados à condição de semideuses, cativando multidões e sendo venerados por elas. Eles estão pavimentando o caminho para o anticristo, “o homem do pecado”, aquele que “se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração” (2Ts 2:3-4).
Mas por que tanta gente se deixa levar por homens assim? A resposta está nos próximos 3 minutos.
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A origem do engano
Por que tanta gente é enganada pelos falsos profetas e mestres da cristandade? Uma razão é a proliferação dos chamados “testemunhos”. Alguns deixam de ler a Palavra de Deus para seguirem testemunhos de homens. Basta alguém contar uma bênção que recebeu, e imediatamente sua experiência é aceita como verdade. Ao mesmo tempo revelações, sonhos e sensações são mais valorizados do que a própria Palavra de Deus. Enquanto alguns parecem ter uma conexão banda larga com o céu, outros vivem frustrados por não sentirem coisa alguma.
Embora Deus possa, através do Espírito, trazer ao coração de uma pessoa a direção de como agir em uma determinada situação, esta é a exceção, não a regra da vida cristã. Muitos que se deixam levar por essas coisas acabam dependentes de falsos profetas e incapazes de ter uma vida normal sem alguma mensagem vinda do além. Hoje o velho horóscopo do jornal ganhou os púlpitos.
A carta aos Hebreus diz que “há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho” (Hb 1:1-2). Jesus ressuscitou, subiu aos céus e deu os dons, designando “alguns para apóstolos, outros para profetas” (Ef 4:11). Deus não mais revela a sua Palavra como fazia a Israel, e nem como a revelou aos apóstolos. Estes lançaram os fundamentos da igreja, tendo Paulo recebido a missão de completar a Palavra de Deus, como ele explica em Colossenses 1:25. Hoje Deus usa os dons de “evangelistas, pastores e mestres” para ministrar aquilo que já está revelado nas escrituras e nas epístolas dos apóstolos.
Apegar-se à Bíblia, a Palavra de Deus, é a salvaguarda para você não ser enganado pelas duas principais tendências que levam os cristãos a se desviarem dela. O apóstolo nos fala delas no capítulo 2 de sua carta aos Colossenses, a saber, o misticismo e o asceticismo, às vezes mesclados com legalismo. Aos mais místicos, que se deixam impressionar por sonhos, visões e revelações, Paulo alerta: “Não permitam que ninguém, que tenha prazer numa falsa humildade e na adoração de anjos, os impeça de alcançar o prêmio. Tal pessoa conta detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhosa” (Cl 2:18).
Aos ascéticos e legalistas ele diz: “Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se ainda pertencessem a ele, se submetem a regras: ‘Não manuseie!’ ‘Não prove!’ ‘Não toque!’? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne” Cl 2:18-23).
Não se iluda: o homem carnal é extremamente religioso. Nos próximos 3 minutos voltaremos ao Evangelho de Lucas.
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Se opondo à graça
Satanás sempre está por detrás de quem se opõe a Jesus. A oposição no capítulo 11 de Lucas surge quando “Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo falou, e a multidão ficou admirada. Mas alguns deles disseram: ‘É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa demônios’. Outros o punham à prova, pedindo-lhe um sinal do céu” (Lucas 11:14-17).
O homem acaba de ser liberto de um demônio que o deixava mudo, e mesmo assim eles duvidam de Jesus, que vinha ensinando a Palavra de Deus e dando provas de ser ele o Salvador do mundo. E ainda pedem um sinal. Estes são dois aspectos do trabalho de Satanás: criar obstáculos à graça, dando pouco valor a Jesus e à sua Palavra, e colocar grande importância nos sinais. A oposição à graça ocorre quando alguém ensina que existe alguma condição para você receber o perdão de seus pecados. O homem possesso nada podia fazer, nem pedir socorro, pois era mudo. Ele dependia totalmente de Jesus para libertá-lo.
Deus pode agora agir em graça porque Jesus morreu recebendo sobre o seu corpo os pecados de todos os que nele creem e o juízo divino que esses pecados mereciam. Ao morrer, ele cumpriu todas as condições para que você tivesse sua dívida completamente quitada. Se você crê em Jesus como seu Salvador, nada ficou para você fazer e nenhum pecado para ser pago. William Fereday, um britânico que viveu no século 19 e buscava ter paz com Deus, conta o que aconteceu ao ser abordado por um homem após uma reunião de estudo bíblico.
“Colocando sua mão em meu ombro, ele perguntou: ‘Você sabe que é um pecador?’ Respondi que sim, e sentia profundamente. Afinal, as Escrituras dizem que ‘todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus’ (Rm 3:23). Sua próxima pergunta foi: ‘Você crê que Cristo morreu pelos pecadores?’. Respondi que não tinha dúvidas quanto a isto. Romanos 5:8 nos assegura que ‘Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores’. Ele disse: ‘Então certamente ele morreu por você’, e depois me perguntou: ‘Onde Cristo está agora?’. Respondi: ‘No céu’. ‘Muito bem’, disse ele, ‘e se Cristo está no céu, onde estão os seus pecados que estavam sobre o corpo dele lá no madeiro?’. Aquele era um pensamento novo para mim, então ele explicou assim: ‘Se Cristo se fez culpado pelos pecados que você cometeu, ele não poderia estar hoje no céu se continuasse levando ainda que fosse apenas um de seus pecados. Porém, já que não há dúvidas de que ele está assentado à destra de Deus, que prova mais clara você espera ter de que ele resolveu de uma vez para sempre a questão de seus pecados na cruz do Calvário?’”
William Fereday conclui sua história dizendo que naquele momento toda dificuldade desapareceu e ele passou a ter a certeza de estar salvo. Daí em diante teve paz com Deus.
Nos próximos 3 minutos saiba por que o diabo dá tanta importância aos sinais.
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Sinais e maravilhas
Em nosso capítulo 11 de Lucas vimos que o pedido dos céticos para que Jesus lhes desse um sinal do céu fazia parte da estratégia de Satanás para confundir os que se admiravam com a libertação operada por Jesus. Eles argumentavam que Jesus expulsava demônios pelo poder de Belzebu, o príncipe dos demônios, quando na verdade era pelo poder do Espírito Santo que o Senhor fazia todas as coisas.
Por dizerem que Jesus estava possesso eles seriam privados da salvação, como ele explica no Evangelho de Marcos: “‘Eu lhes asseguro que todos os pecados e blasfêmias dos homens lhes serão perdoados, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: é culpado de pecado eterno’. Jesus falou isso porque eles estavam dizendo: ‘Ele está com um espírito imundo’” (Mc 3:28-30).
Hoje é impossível alguém blasfemar contra o Espírito Santo da maneira prevista aqui. Somente alguém que vivesse naquela época e lugar poderia afirmar que Jesus estava fazendo seus milagres pelo poder do diabo. Mas hoje é possível alguém privar-se da salvação por rejeitar o Salvador. Afinal, se alguém rejeita Aquele que morreu no lugar do pecador, como espera receber o perdão?
Eles pedem a Jesus um sinal do céu. A Bíblia fala de muitos sinais, milagres e maravilhas, alguns vindos de Deus, outros do diabo. Satanás pode usar pessoas, como os magos de Faraó, para imitarem os sinais de Deus, ou fazer seus sinais diretamente, como fez na tentação no deserto quando levou Jesus “a um lugar alto e mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo” (Lucas 4:5). Portanto o sinal em si não é garantia de que seja Deus agindo. Ao contrário, o diabo quer que as pessoas fiquem viciadas e dependentes de sinais, pois assim estarão preparadas para a vinda do anticristo.
“A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras. Ele fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar” (2 Ts 2:9-10). Em Apocalipse diz que o anticristo fará “grandes sinais, chegando a fazer descer fogo do céu à terra, à vista dos homens” e por causa dos sinais ele enganará os habitantes da terra (Ap 13:13-14).
Mas existe um sinal que o diabo não faz: dar vida eterna a uma alma morta em seus pecados. Este é o maior de todos os milagres, pois seus efeitos são eternos. As pessoas alimentadas, curadas ou ressuscitadas de forma milagrosa por Jesus nos evangelhos depois tiveram fome, adoeceram e morreram. Portanto se você quer se ocupar com sinais e milagres, ocupe-se com o melhor deles: a salvação, sua e das pessoas que o cercam. Alimente-as com o Pão da vida que é Jesus e ajude-as a encontrar nele a cura de seus pecados e a ressurreição para a vida.
Nos próximos 3 minutos Jesus fala de uma casa dividida.
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O forte e o mais forte
Jesus afirma que “todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e uma casa dividida contra si mesma cairá. Se Satanás está dividido contra si mesmo, como o seu reino pode subsistir? Se eu expulso demônios por Belzebu, por quem os expulsam os filhos de vocês? Por isso eles mesmos estarão como juízes sobre vocês” (Lucas 11:18-19). Expulsar demônios não era uma prática desconhecida dos judeus, e havia em Israel exorcistas que bem sabiam que Satanás não podia lutar consigo mesmo, ou seu reino não subsistiria.
A vinda do Filho de Deus causou um reboliço na esfera espiritual, tirando o sossego de Satanás, seus anjos e demônios. O Rei prometido de Israel tinha chegado cumprindo cada profecia feita a respeito dele pelos antigos profetas. Apesar de o povo não o reconhecer, os demônios sabiam quem ele era, só não o esperavam tão cedo. Por isso em Mateus 8:29 a legião de demônios que atormentava os gadarenos possessos exclamou: “Que queres conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do devido tempo?” (Mt 8:29).
Aqui Jesus fala de dois reinos: o reino de Satanás e o Reino de Deus. Ele diz: “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus” (Lucas 11:20). O Reino havia chegado na Pessoa de Jesus e representava o começo do fim para Satanás. A semente da mulher, prometida no Éden para esmagar a cabeça da serpente, vinha reclamar seus domínios. Jesus fala em parábola: “Quando um homem forte, bem armado, guarda sua casa, seus bens estão seguros. Mas quando alguém mais forte o ataca e vence, tira-lhe a armadura em que confiava e divide os despojos” (Lucas 11:21-22).
Até aquele momento Satanás, o “homem forte”, tinha agido com relativa liberdade, aprisionando as almas nas trevas. Porém, um mais forte do que ele havia chegado para vencê-lo. Grande parte da batalha não seria vista por olhos humanos e a cruz iria parecer uma derrota para o Filho de Deus. Mas seria ali que Satanás receberia o golpe mortal. A partir daí o diabo tenta desesperadamente arrastar consigo o máximo de pessoas. “Ele está cheio de fúria, pois sabe que lhe resta pouco tempo” (Ap 12:12). Paulo escreve aos cristãos da igreja em Colossos:
“Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz, e, tendo despojado os poderes e as autoridades [ou seja, os demônios e anjos caídos], fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz... Pois ele [Cristo] nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados” (Cl 2:13-15; 1:13-14).
Nos próximos 3 minutos você deve decidir de que lado está.
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Você é a favor ou contra?
Jesus diz: “Aquele que não está comigo é contra mim, e aquele que comigo não ajunta, espalha” (Lucas 11:23). No trânsito você pode ser aquele que flui com o tráfego ou o que está parado bloqueando tudo, ou ainda o que trafega na contra mão. Mas neutro você não é. Seu posicionamento tem um efeito sobre você e sobre os que o cercam. Assim é também em relação a Cristo. É impossível ser neutro. Se você não está com ele, está contra ele; se não ajunta, espalha.
Você pode até dizer que já tem uma religião e não tem nada a ver com Satanás. Mas o fato de ainda não ter a salvação e o perdão dos pecados pela fé em Jesus faz com que permaneça na mesma posição de todo pecador não redimido, ou seja, sob o domínio das trevas. Saulo era um judeu muito religioso, mas veja o que Jesus lhe falou no caminho para Damasco, quando foi levado a se converter:
“Sou Jesus, a quem você está perseguindo. Agora, levante-se, fique de pé. Eu lhe apareci para constituí-lo servo e testemunha do que você viu a meu respeito e do que lhe mostrarei. Eu o livrarei do seu próprio povo e dos gentios, aos quais eu o envio para abrir-lhes os olhos e convertê-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, a fim de que recebam o perdão dos pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (At 26:15-18).
Talvez você seja um cristão verdadeiramente convertido, porém ao convidar pessoas para pertencerem à sua denominação não percebe que está cumprindo a segunda parte das palavras de Jesus: “Aquele que comigo não ajunta, espalha” (Lucas 11:23). Ajuntar com Cristo é o desejo de Deus. Espalhar é o trabalho do diabo. João 10:12 diz que “o lobo ataca o rebanho e o dispersa” e em Atos 20:29-30 Paulo avisa: “Depois da minha partida lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos”.
No Antigo Testamento Deus designou um só lugar para Israel oferecer sacrifícios e adorar: “O local que o Senhor, o seu Deus, escolher para pôr o seu Nome” é repetido três vezes em Deuteronômio 12. Hoje Jerusalém já não é o lugar e Deus está buscando por adoradores que o adorem em espírito e verdade. Mas uma coisa permanece, o Nome que é o polo de atração e reunião. Hoje sabemos que Nome é esse, o único que deveria identificar um cristão e o único ao qual é possível juntar para não espalhar. Jesus prometeu: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20), e Paulo explicou: “Nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo” (1 Co 10:17).
Você procura ajuntar as pessoas ao nome de Jesus ou as espalha pelas denominações que os homens criaram?
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Casa vazia e arrumada
Jesus diz, a respeito de Israel: “Quando um espírito imundo sai de um homem, passa por lugares áridos procurando descanso, e não o encontrando, diz: ‘Voltarei para a casa de onde saí’. Quando chega, encontra a casa varrida e em ordem. Então vai e traz outros sete espíritos piores do que ele, e entrando passam a viver ali. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro” (Lucas 11:24-26). Em boa parte do Antigo Testamento você encontra Israel imerso em idolatria. Até mesmo Salomão acabou unindo-se a mulheres pagãs e o povo adotou seus costumes idólatras. Mais tarde o reino se dividiu e as dez tribos que ficaram fora do lugar que Deus havia estabelecido para colocar o seu nome mergulharam na idolatria e acabaram cativas do inimigo.
Mas as tribos de Judá e Benjamim, que permaneceram em Jerusalém e das quais descendem os que hoje conhecemos por judeus, não ficaram atrás em termos de idolatria. Diversas vezes vemos Deus repreendendo o seu povo por causa da idolatria, salvo em breves períodos quando algum rei fazia uma faxina parcial, eliminando ídolos e lugares de adoração que os homens criavam fora do lugar determinado por Deus. Então, ao chegarmos aos evangelhos, vemos o povo judeu livre de idolatria e zeloso em guardar a Lei. O que podia haver de errado nisso? O próprio Jesus diz no evangelho de Mateus:
“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês dão o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, mas têm negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade... Vocês limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro eles estão cheios de ganância e cobiça... Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade” (Mt 23:23-28). E Deus, por meio do profeta Isaías, já dizia: “Não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene” (Is 1:13).
Os judeus haviam se tornado uma “casa varrida e em ordem”, mas estavam tão orgulhosos de si mesmos que expulsaram o próprio Senhor, o único que deveria ocupar tal “casa”. Satanás aproveitará a casa vazia para invadi-la com “sete espíritos piores” do que o que havia no Israel idólatra do Antigo Testamento. Nos sete anos de tribulação que se seguirão ao arrebatamento da igreja, Israel acolherá uma idolatria pior do que a do passado, ao crer na mentira do anticristo. A última condição desse judaísmo reformado será muito pior do que a primeira.
Esta verdade não é diferente para muitos hoje que seguem alguma forma de religião vazia de Cristo e cheia de justiça própria, ainda que livre de idolatria, como é o judaísmo atual. No futuro a própria cristandade será a grande aliada do anticristo, mas deixaremos para falar disto nos próximos 3 minutos.
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As cartas proféticas
Apocalipse 2 e 3
Assim como encontramos nos evangelhos os judeus zelosos de sua religião, porém vazios de Cristo, a história da cristandade evoluiu no mesmo sentido e esse declínio aparece nas cartas às sete igrejas de Apocalipse. Para entender o que vou dizer é preciso que você leia atentamente os três primeiros capítulos de Apocalipse e repare nas três divisões apontadas na ordem dada por Jesus a João no capítulo 1, versículo 19: “Escreva as coisas que você viu, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer”.
“As coisas que você viu” são a própria visão que João teve, de Jesus aparecendo a ele. As coisas “que são” referem-se ao período ao qual João pertencia, o mesmo que nós pertencemos, ou seja, o período da igreja descrito nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse. As coisas “que depois destas hão de acontecer” são futuras ao período da igreja, e isto é mostrado na ordem dada a João no capítulo 4, versículo 1: “Suba para cá, e lhe mostrarei o que deve acontecer depois dessas coisas”. Nos capítulos 2 e 3 você encontra um resumo da história da cristandade. Na época de João a maior parte ainda era profética, mas hoje quase tudo é passado.
A carta à igreja de Éfeso revela um estado de apatia da igreja por ter deixado seu primeiro amor, Jesus. Cronologicamente ela representa a igreja do primeiro século, e seus desvios já apareciam nas epístolas da época. A carta a Esmirna mostra que ela não recebeu reprovação, mas consolo por ter sido perseguida. Ela representa o período do primeiro ao quarto séculos, quando os cristãos foram duramente perseguidos e martirizados pelos imperadores romanos.
Então vem a carta à igreja de Pérgamo, que fala da cristandade comprometendo-se com as instituições seculares e colocando-se à sombra do poder. Os cristãos se acomodaram ao mundo e passaram a habitar onde está o trono de seu príncipe, Satanás. Ali já vemos pessoas com o espírito de Balaão, buscando lucrar com as coisas de Deus e levando o povo a tropeçar na idolatria. Surge a doutrina dos nicolaítas, um embrião do clericalismo. Pérgamo representa o quarto e quinto séculos, quando o imperador Constantino fez do cristianismo a religião do império, oficializou o clero e tornando Roma a cidade referência dos cristãos.
Éfeso, Esmirna e Pérgamo passariam e suas características ficariam apenas na história do testemunho cristão neste mundo. Porém é na carta a Tiatira que Jesus faz, pela primeira vez, menção de sua vinda, ao dizer “Até que eu venha” (Ap 2:25). Nas três cartas seguintes ele diz “Virei como um ladrão”, “Venho em breve” e “Estou à porta” (Ap 3:3, 11, 20), dando a entender que estas quatro fases do testemunho cristão permaneceriam até sua vinda.
Mas que período representa a carta à igreja de Tiatira? É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Tiatira e Sardes
Apocalipse 2 e 3
No episódio anterior vimos as cartas a Éfeso, Esmirna e Pérgamo representando, respectivamente, o abandono do primeiro amor, a época das grandes perseguições e a acomodação da igreja ao mundo, comprometendo-se com o poder secular de Roma. Seguem-se as cartas a Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia, quatro períodos bem definidos da história do testemunho cristão no mundo, com características que permaneceriam até a vinda de Jesus.
Tiatira é elogiada por ter muito amor, boas obras, fé e paciência. Porém é repreendida por promover a idolatria e se prostituir, isto é, comprometer-se com o mundo na busca de vantagens seculares. Você não precisa ser grande conhecedor de história para perceber que a descrição serve como uma luva no sistema católico romano. Tiatira também admite que uma mulher ensine, a qual é chamada de Jezabel. Foi com o catolicismo romano que se introduziu a ideia de que a igreja ensina, o que contraria a Palavra de Deus que proíbe a mulher de ensinar. A igreja é feminina, é a noiva de Cristo; ela não ensina, ela aprende. Jezabel continua viva e ativa como um sistema agindo nos bastidores do catolicismo e até os papas estão sujeitos a ela.
O período de Tiatira teve seu apogeu do sexto ao décimo quinto século, quando veio a reforma protestante. Mas nesta carta Jesus fala de sua vinda, dando a entender que este sistema permanecerá até o fim. É dele que sai o protestantismo do período seguinte, representado pela carta à igreja de Sardes. Esta é caracterizada como tendo nome de que vive, porém está morta. Apesar de ter boas coisas, acabou se afastando daquilo que recebeu e ouviu. Por não ansiar pela volta do Senhor a qualquer momento, mas acreditar que o mundo precisaria antes ser cristianizado, ela será surpreendida pela vinda do Senhor como se fosse um ladrão inesperado. Este período vai do século 16 ao 19, quando empresta alguns elementos do período seguinte, representado aqui por Filadélfia.
Filadélfia não recebe palavras de reprovação, mas de consolo e é assegurada de ter diante de si uma porta aberta. Suas características, nem sempre admiradas pelos homens, são elogiadas pelo Senhor. Ela tem pouca força, guarda a Palavra de Deus e está comprometida com o nome de Jesus. Filadélfia surge na virada do século 18 para o 19 como uma reação à tendência da cristandade de buscar força política, desconsiderar a Palavra de Deus e dar pouca importância ao nome de Jesus como o único centro de reunião. Se no período da reforma protestante Deus havia usado Sardes para resgatar a verdade da salvação pela fé, escondida debaixo de séculos de romanismo, no século 19 muitas verdades foram trazidas à tona por Filadélfia, em especial as que dizem respeito à doutrina da igreja revelada ao apóstolo Paulo. Este é o assunto dos próximos 3 minutos.
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Filadélfia
No final do século 18 a ideia da maioria dos cristãos era de que a igreja seria a continuação de Israel, depois de os judeus terem rejeitado seu Messias e Rei. Sendo assim, as promessas feitas a Israel, que incluíam uma herança terrena e prosperidade material, teriam passado a valer para a igreja. O protestantismo continuava com a mesma estratégia adotada pelo catolicismo de cristianizar o mundo e prepará-lo para a vinda do Rei Jesus. O clero e o uso de elementos do judaísmo no culto cristão continuaram entre os cristãos reformados.
No início do século 19, cristãos de diferentes denominações passaram a examinar “todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo”, como tinham feito os bereanos de Atos 17:11. O Espírito Santo abriu o entendimento deles para compreenderem e resgatarem verdades há muito esquecidas, começando com a vocação celestial da igreja. Eles entenderam que as promessas feitas a Israel na antiguidade continuavam a valer para o povo terreno de Deus, enquanto a igreja, um mistério que ficara escondido dos profetas do Antigo Testamento, era algo novo que tinha suas promessas no céu, e não na terra.
Isto implicava, pela primeira vez em séculos, no reconhecimento do povo judeu como herdeiro das promessas e da terra que lhe fora destinada por Deus. Tais ideias batiam de frente com a crença e prática adotadas até então por católicos e protestantes, que historicamente perseguiram, desterraram e mataram judeus. Se você está surpreso de eu incluir o protestantismo nisto, faça uma busca por um texto de Martinho Lutero intitulado “Sobre os judeus e suas mentiras”. O resgate da verdade do lugar de Israel nas promessas de Deus teve desdobramentos significativos, como os milhares de judeus salvos da ocupação nazista por cristãos do sul da França e a própria fundação do estado de Israel em 1948.
Mas a verdade mais importante resgatada no período de Filadélfia foi entender o que é o corpo de Cristo, sua unidade e a ordem devida à casa de Deus. Os irmãos que saíam dos sistemas denominacionais passavam a congregar somente ao nome de Jesus, reconhecendo a unidade do corpo de Cristo e professando que o batismo não podia salvar e nem tornar alguém membro da igreja. A liberdade do Espírito nas reuniões também foi resgatada, só para ser depois adotada e corrompida pelo pentecostalismo que, por sinal, emprestou também outras verdades como a do arrebatamento da igreja, sem, contudo, abrir mão do clero herdado do catolicismo e de elementos do judaísmo, como templos e dízimos.
As verdades resgatadas no período de Filadélfia foram duramente atacadas e rejeitadas pela maioria dos cristãos, porém permanecem até hoje, quando toda a cristandade compartilha do mesmo estado de ruína e abandono encontrado na carta a Laodiceia, a última antes da vinda do Senhor. É disto que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Laodiceia
Recapitulando, vimos que as sete cartas às igrejas de Apocalipse representam sete períodos do testemunho cristão na terra, quatro deles permanecendo até a vinda de Cristo. A última carta, que representa o último e atual período da cristandade, é Laodiceia, cujas características dificilmente seriam consideradas ruins aos olhos humanos. Como mandam as regras do politicamente correto, ela não é fria nem quente, mas morna, isto é, procura agradar a todos. Ela é autossuficiente e gloria-se de seus feitos, ao contrário de Filadélfia, que se mostra dependente da Palavra de Deus, exalta o nome de Jesus e é elogiada pelo Senhor, não por si mesma.
Mas os feitos de Laodiceia, que podem parecer grande coisa a quem se deixa impressionar por números e cifrões, servem apenas para causar repulsa no Senhor. Ele está a ponto de vomitá-la de sua boca. “Miserável, digno de compaixão, pobre, cego e nu” (Ap 3:17). Esta é a opinião que Jesus tem do testemunho cristão hoje no mundo. É sempre bom lembrar que, enquanto a igreja é a noiva de Cristo, formada apenas pelos verdadeiros salvos, o testemunho cristão inclui todos os que professam o nome de Jesus, verdadeiros ou falsos. Após o arrebatamento da igreja — os verdadeiros salvos — os falsos serão a Babilônia, a noiva infiel que se prostitui com os poderes do mundo e passa a perseguir o remanescente de judeus que se converterá após o arrebatamento.
Na continuação do capítulo 3 de Apocalipse você encontra Jesus do lado de fora dessa cristandade corrupta, batendo à porta em busca de comunhão individual, já que coletivamente Laodiceia é um desastre e representa os últimos dias antes da vinda da apostasia e do anticristo. O arrebatamento é tipificado logo após a carta a Laodiceia, no primeiro versículo do capítulo 4 de Apocalipse, que diz: “Depois dessas coisas olhei, e diante de mim estava uma porta aberta no céu. A voz que eu tinha ouvido no princípio, falando comigo como trombeta, disse: ‘Suba para cá, e lhe mostrarei o que deve acontecer depois dessas coisas’”.
A palavra grega Laodiceia significa “direitos do povo” e é esta a característica da cristandade dos últimos dias. Na carta aos Filipenses, Paulo já dizia que “todos buscam os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo” (Fp 2:21) e a resposta do Senhor à atitude prepotente e autossuficiente de Laodiceia pode ser vista na abertura da carta, quando ele diz: “Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação de Deus” (Ap 3:14). O que ele quer dizer é que toda a criação está sujeita a ele, o que põe por terra qualquer ideia de autossuficiência. Além disso, apesar do fracasso do testemunho cristão, ele continua sendo “a testemunha fiel e verdadeira”. E para encerrar qualquer discussão sobre qual opinião deve prevalecer, ele chama a si mesmo de “Amém”, ou seja, aquele que tem a palavra final.
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Felizes
Se no capítulo 11 de Lucas vimos a resistência dos judeus, acusando Jesus de estar possesso e exigindo dele um sinal, agora vemos uma forma sutil de oposição. Trata-se de uma mulher que parece estar dando todo apoio a Jesus, mas na verdade desvia a atenção das pessoas para as coisas naturais. Ela exclama em meio à multidão: “Feliz é a mulher que te deu à luz e te amamentou”. A intenção dela é boa, mas ao dizer isto ela não exalta a Cristo, e sim a Maria, sua mãe.
Jesus não se opõe ao que ela diz, pois Deus escolheu Maria para o Espírito Santo conceber nela o Salvador do mundo. Mas ele faz uma correção: “Antes, felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e lhe obedecem”(Lucas 11:28). O nascimento natural é obra de Deus, mas a velha criação iniciada em Adão foi encerrada na cruz. O homem natural morreu ali para que Deus trouxesse à tona uma nova criação, da qual Jesus ressuscitado é “as__primícias”, ou primeiros frutos.
A ruína causada pelo pecado arrastou o homem para a morte e o juízo, exigindo de Deus uma operação de resgate que custou a vida de Jesus. Por isso Pedro escreve: “Não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que vocês foram resgatados da sua vã maneira de viver que por tradição receberam de seus pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado... E por ele vocês creem em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, para que a fé e esperança de vocês estivessem em Deus... sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela Palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1 Pe 1:18-25).
Por isso Jesus diz “antes, felizes são aqueles que ouvem a Palavra de Deus”. Por melhor que seja o nascimento natural, ele nem se compara ao novo nascimento daqueles que são gerados pela Palavra de Deus. O Evangelho de João diz que “o que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3:6). Se você ainda não nasceu do Espírito é porque a Palavra de Deus ainda não gerou vida em você. Mas se já tiver nascido de Deus, estará apto a entender a Palavra de Deus e terá discernimento espiritual para glorificar a Deus, e não ao homem.
Este discernimento é ainda mais necessário quando a cristandade atingiu a estatura da grande árvore da parábola da semente de mostarda, em cujos galhos estão aninhadas muitas aves, os mesmos agentes de Satanás que na parábola do Semeador arrebatavam a semente. Hoje muitos são enganados por homens com aparência de piedade, porém que glorificam a si mesmos, a outros homens e as coisas naturais, ao invés de glorificarem a Deus. Para não ser enganado, faça sempre a pergunta: “Isto traz glória a Deus ou ao homem?”.
Nos próximos 3 minutos Jesus chama de maligna ou perversa a geração que pede um sinal.
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Jonas e a rainha
Jesus tinha deixado claro para aqueles judeus que felizes são os que ouvem a Palavra de Deus. Em seguida ele os repreende por estarem em busca de sinais visíveis, dizendo: “Esta é uma geração perversa. Ela pede um sinal miraculoso, mas nenhum sinal lhe será dado, exceto o sinal de Jonas. Pois assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, o Filho do homem também o será para esta geração” (Lucas 11:29).
A Bíblia está repleta de sinais feitos por Deus com um propósito bem específico, e não para satisfazerem a curiosidade humana. Nos evangelhos, o objetivo dos sinais era convencer os judeus de que Jesus era quem os profetas diziam ser. Os sinais serviam para autenticar a Pessoa e obra de nosso Senhor Jesus Cristo. Quando alguém pede a você um documento autenticado, basta apontar para os carimbos, selos e assinaturas no documento.
Os sinais que já estão carimbados, selados e assinados na Bíblia são suficientes para você crer na Pessoa e obra de Jesus. O Evangelho de João diz que “Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome”.
Basicamente é isto o que Jesus diz aqui. Aquelas pessoas já tinham visto muitos sinais e ainda assim não criam nele. Então ele aponta para Jonas, um sinal que elas não viram, mas que estava no Antigo Testamento, lavrado e sacramentado nas Escrituras que os judeus tinham como a Palavra de Deus. Para os que estivessem dispostos a crer no sinal de Jonas, Deus lhes ajudaria a entender para onde o sinal apontava: a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo.
Resolvida a questão do sinal, Jesus fala dos ninivitas e da rainha de Sabá, revelando a insanidade dos judeus em rejeitarem aquele que Deus havia enviado. Jonas, o homem que saiu vivo do ventre do grande peixe após ter ficado ali por três dias, serviu de sinal para os habitantes de Nínive se converterem com sua pregação. A rainha de Sabá viajou centenas de quilômetros para ouvir a sabedoria que Salomão recebeu de Deus, e ali estava aquele que era maior que Salomão: Jesus, a Sabedoria em Pessoa.
Aqueles judeus incrédulos não precisaram dar um passo sequer em direção aos céus para ouvir a sabedoria de Deus; eles estavam sendo visitados pela própria, mas ainda assim pediam um sinal para entreter seus olhos. O único sinal de que iriam precisar seria a própria pessoa de Jesus, cujo corpo morto ficou três dias no ventre da terra e saiu ressuscitado. Quantas vezes Deus precisará mostrar a você que não é preciso ver para crer? O incrédulo Tomé deve ter ficado com vergonha ao ouvir Jesus dizer a ele: “Porque me viu, você creu? Felizes os que não viram e creram” (Jo 20:29).
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Luz
Aqueles judeus incrédulos devem ter ficado indignados por Jesus falar dos ninivitas e da rainha de Sabá. Como Deus poderia ter privilegiado aqueles gentios impuros? Eles não eram israelitas, não pertenciam ao povo de Deus, não eram os guardiões dos oráculos divinos e nem tinham sido escolhidos como testemunho para todas as nações! No entanto eles receberam e creram no testemunho que Deus havia dado por intermédio de Jonas e Salomão. E agora a radiante luz da Sabedoria de Deus em carne e ossos está bem diante deles. Não existe desculpa para ficarem indiferentes.
Jesus diz a eles: “Ninguém acende uma candeia e a coloca em lugar onde fique escondida ou debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, para que os que entram possam ver a luz” (Lucas 11:33). Em seu evangelho, João diz que “ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu [isto é, os judeus], e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (Jo 1:5-12). Deus não escondeu sua luz, mas colocou-a onde todos pudessem vê-la e até hoje Cristo brilha, porém nem todos percebem isto.
O mesmo trecho do Evangelho diz que João Batista foi enviado por Deus “como testemunha, para testificar acerca da luz, a fim de que por meio dele todos os homens cressem” (Jo 1:7). O sol, nossa fonte de luz natural, não precisa de testemunha. Ninguém chega a você em um dia ensolarado e diz: “Veja, o sol brilha!”. Mas não é de luz natural que Jesus fala aqui, mas da verdadeira luz que faz parte da própria essência de Deus, como João disse em sua carta: “Deus é luz; nele não há treva alguma” (1 Jo 1:5).
Por causa das trevas espirituais em que os homens estão mergulhados, Deus precisa enviar pessoas para testemunharem da luz que é Jesus. Milhões estão testemunhando o tempo todo em conversas, pregações, textos, letras de músicas ou em vídeos como este. Você já deve ter sido iluminado, mas reagiu como os insetos peçonhentos — aranhas, lacraias e escorpiões — quando alguém ergue a pedra debaixo da qual se escondem. Sua reação natural é correrem para debaixo de outra pedra, pois não gostam da luz. Esta é também a reação de um pecador ao ouvir falar de Jesus: ele foge. Será que este fujão é você?
Se for, saiba que a razão de seu receio é por ter sido concebido em um mundo de trevas. Mas Jesus continua falando de luz, agora daquela que você traz em seu próprio corpo: os seus olhos. Ele diz que eles podem ser bons ou maus, e não está falando em termos médicos. De que ele está falando então? Você saberá nos próximos 3 minutos, se estiver de olhos bem abertos.
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Uma questão de lente
Jesus diz: “Os olhos são a candeia do corpo. Quando os seus olhos forem bons, igualmente todo o seu corpo estará cheio de luz. Mas quando forem maus, igualmente o seu corpo estará cheio de trevas. Portanto, cuidado para que a luz que está em seu interior não sejam trevas. Logo, se todo o seu corpo estiver cheio de luz, e nenhuma parte dele estiver em trevas, estará completamente iluminado, como quando a luz de uma candeia brilha sobre você” (Lucas 11:33-36).
Os olhos são como a lente de uma câmera fotográfica. Quanto melhor a câmera, mais sofisticada a lente e mais luz ela deixa passar. As fotos ficam mais luminosas, nítidas e com melhor contraste. Câmeras baratas têm lentes com impurezas no material com que são fabricadas e não deixam passar luz em quantidade suficiente. O resultado é uma foto escura e sem nitidez. O problema não está no sol, no flash ou na fonte de luz do ambiente, mas na lente.
Assim é também com relação a Cristo. Quando alguém não enxerga com clareza a graça e verdade reveladas em Jesus, o problema não está na luz, mas nos olhos que impedem que a luz brilhe em seu interior. As pessoas que colocam Jesus à prova neste capítulo são insensíveis à presença de Jesus, tantas são as impurezas religiosas que obstruem o caminho da luz até seus corações.
Você pode se surpreender de eu dizer “impurezas religiosas”, pois somos levados a acreditar que religião seja sinônimo de coisa boa. A religião de Deus sim, mas a religião dos homens não. A atual moda da “espiritualidade”, que invade até os ambientes corporativos, está produzindo uma classe de pessoas religiosas o suficiente para aplacarem suas consciências, porém cegas para a verdadeira luz do evangelho. A “espiritualidade” oferecida em livros, revistas e palestras passa por lentes tão marcadas de dedos que fica impossível encontrar nela alguma luz.
Quando ocorre um acidente ou um crime com testemunhas, é comum que estas apresentem versões diferentes do mesmo evento, pois o que os seus olhos viram foi influenciado por seus preconceitos, ideias, opiniões, Etc. Assim é na cristandade. Depois de dois mil anos de condicionamento religioso fica difícil separar o que é a luz de Deus, que emana de sua Palavra, e o que são dogmas e preceitos de homens. Se você usa óculos, deve odiar quando as pessoas deixam marcas de dedos em suas lentes.
Para aqueles dispostos a se livrar das marcas de dedos da religião e absorverem a luz em toda a sua magnitude, o próprio Jesus promete: “Se todo o seu corpo estiver cheio de luz, e nenhuma parte dele estiver em trevas, estará completamente iluminado, como quando a luz de uma candeia brilha sobre você” (Lucas 11:36). Isto equivale dizer que você será uma testemunha fidedigna, usada por Deus para falar de Cristo, e não de doutrinas, dogmas ou religiões de homens.
Nos próximos 3 minutos Jesus fala da faxina religiosa.
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Faxina religiosa
Existem três formas de oposição à obra de Deus. A primeira é a influência de Satanás, que nós vimos na passagem começando no versículo 14 deste capítulo 11 de Lucas. O diabo levou os homens a duvidarem de Jesus, alegando que ele curava e libertava as pessoas pelo poder do príncipe dos demônios. A partir do versículo 27 vimos uma segunda forma de oposição, quando uma mulher passou a exaltar a mãe de Jesus, desviando a atenção daquele que é a única fonte de toda graça. Os sentimentos naturais, por mais nobres que sejam, podem ser um obstáculo à graça de Deus. Agora vem o terceiro obstáculo: a religião.
Jesus é convidado por um fariseu e o religioso anfitrião repara que Jesus não lava as mãos antes de comer, como era o costume da religião. Ele não comenta, mas Jesus é capaz de ler seus pensamentos e o repreende por sua falta de visão. Aquele homem tinha acabado de ouvir Jesus falar dos preconceitos religiosos que impedem que a luz penetre livremente na alma, e ali estava ele criticando em pensamento o único Homem totalmente limpo aos olhos de Deus.
A resposta de Jesus é certeira: “Vocês, fariseus, limpam o exterior do copo e do prato, mas interiormente estão cheios de ganância e da maldade. Insensatos! Quem fez o exterior não fez também o interior? Mas deem o que está dentro como esmola, e verão que tudo lhes ficará limpo” (Lucas 11:39-41). O mesmo Jesus, que era capaz de ler o pensamento do fariseu, podia sondar o que havia em seu coração, e coisa boa não era. A religião ensina os homens a levarem uma vida correta exteriormente, mas não tem poder para mudar o interior, que é onde está a verdadeira imundície.
O fariseu acha que dar esmolas é uma forma de ficar de bem com Deus, por isso Jesus vai direto ao ponto: “Deem o que está dentro como esmola”. O bem que você procura fazer exteriormente deve ser consequência do que existe dentro de você, e como poderá sair algo limpo de um coração sujo? Todo ser humano é pecador por natureza, e a menos que isto seja resolvido, qualquer aparência exterior de piedade não passará de hipocrisia. O mesmo Deus que fez o exterior fez também o interior, que é de onde tudo provém.
Portanto, se alguém lhe disser que, para receber o perdão de seus pecados, você precisa mudar de vida, deixar seus vícios, fazer-se membro de uma igreja, vestir-se de uma determinada maneira, dar dízimos e ofertas, frequentar regularmente os cultos, Etc. e tal, livre-se desse fariseu. Ele está mandando você lavar o exterior do copo e do prato, mas não é limpando o exterior que você é purificado, e sim expondo a Deus o interior. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1:9).
Nos próximos 3 minutos Jesus fala de coisas pequenas e grandes.
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O dízimo
Jesus continua reprovando os fariseus, que tentam se passar por justos aos olhos dos homens, porém são reprovados aos olhos de Deus. Ele diz: “Ai de vocês, fariseus, porque dão a Deus o dízimo da hortelã, da arruda e de toda a sorte de hortaliças, mas desprezam a justiça e o amor de Deus! Vocês deviam praticar estas coisas, sem deixar de fazer aquelas” (Lucas 11:42).
O dízimo fazia parte das ordenanças dadas a Israel, e na época dos evangelhos vigora o judaísmo, não o cristianismo. A igreja só seria criada no capítulo 2 de Atos dos Apóstolos, e é nas epístolas, e não na Lei, que encontramos instruções para a vida e adoração cristãs. Nas epístolas você encontra a doutrina dada à igreja, o povo celestial de Deus, e nela não há dízimos, e sim ofertas voluntárias.
Para o cristão também não há templos, altares, orquestras, dias santos, vestes cerimoniais, alimentos impuros e tantas coisas que a cristandade importou do judaísmo, ignorando a Carta aos Hebreus, que manda os cristãos se apartarem do antigo culto judaico. “Temos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo”, ou seja, os participantes do judaísmo. Considerando que “Jesus também sofreu fora das portas da cidade”, a exortação é para que “saiamos até ele, fora do acampamento”, ou o sistema judaico (Hb 13:10-13).
O dízimo, portanto, era a décima parte do que um israelita obtinha como fruto de seu trabalho e oferecia a Deus para a manutenção do Templo de Jerusalém, dos sacerdotes, levitas e necessitados. Na atual dispensação da igreja não existe um Templo cristão e não há sacerdotes ou líderes para serem sustentados, já que todos os salvos por Cristo são igualmente sacerdócio santo. Mas ainda há necessidades, e o cristão tem o privilégio de fazer ofertas a Deus para este fim.
Porém o foco do que Jesus está dizendo aqui não está especificamente no dízimo, e sim na má fé dos fariseus, que davam religiosamente o dízimo até das coisas de menor valor, porém desprezavam a justiça e o amor de Deus, vivendo para a satisfação própria. Jesus lhes diz para praticarem as coisas mais importantes, sem negligenciar as de menor importância. E ele continua:
“Ai de vocês, fariseus, porque amam os lugares de honra nas sinagogas e as saudações em público! Ai de vocês, porque são como túmulos que não se veem, por sobre os quais os homens andam sem o saber!” (Lucas 11:43-44). A estratégia daqueles homens, que gostavam de viver de aparências, era tão boa que enganava a muitos. Passar por eles era o mesmo que caminhar sobre túmulos camuflados sem perceber estar pisando em esqueletos ressequidos e sem vida.
Mas o pior ainda estava por vir. Aqueles peritos da Lei tinham se apoderado da chave do conhecimento. Que chave é essa? Você saberá nos próximos 3 minutos.
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A chave do conhecimento
Um dos doutores da Lei sente-se ofendido e retruca: “Mestre, quando dizes essas coisas, insultas também a nós”. Mas Jesus tem algo a dizer também àqueles que se consideram especialistas na Palavra de Deus e “que pela injustiça aprisionam a verdade” (Rm 1:18): “Quanto a vocês, peritos na lei... ai de vocês também! Porque sobrecarregam os homens com fardos que dificilmente eles podem carregar, e vocês mesmos não levantam nem um dedo para ajudá-los” (Lucas 11:45).
Há três lugares onde você pode guardar a Verdade: na biblioteca, no cérebro ou no coração. Muitos colecionam livros para exibirem erudição. Quem trabalha com decoração de ambientes está acostumado a comprar livros por metro para encher estantes de clientes que não leem nem gibi. Guardar a Verdade no cérebro é obter um diploma de “Doutor” em alguma disciplina cristã, sem nunca ter nascido de novo. São pessoas “que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade” (2Tm 3:7), pois “rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar... não creram na verdade, mas tiveram prazer na injustiça” (2Ts 2:10-12).
Em Apocalipse 10 o apóstolo João escuta uma voz que diz: “Vá, pegue o livro aberto que está na mão do anjo... Pegue-o e coma-o! Ele será amargo em seu estômago, mas em sua boca será doce como mel”. João conta o que aconteceu: “Peguei o livrinho da mão do anjo e o comi. Ele me pareceu doce como mel em minha boca; mas, ao comê-lo, senti que o meu estômago ficou amargo. Então me foi dito: ‘É preciso que você profetize de novo acerca de muitos povos, nações, línguas e reis’” (Ap 10:8-11). O conhecimento intelectual da Verdade é doce como o livrinho na boca. Assim são os que gostam de pregar a Verdade aos outros sem nunca a terem experimentado em si mesmos. É só quando João engole o livrinho e sente a realidade da Verdade aplicada em seu interior que ele está apto a testemunhar a “muitos povos, nações, línguas e reis”.
Os judeus de nosso capítulo são confrontados por Jesus por sua cumplicidade naquilo que seus antepassados fizeram, perseguindo e assassinando os profetas de Deus para impedirem que a Verdade chegasse às pessoas. Agora Jesus diz que eles estão fazendo algo muito pior: Vocês “se apoderaram da chave do conhecimento. Vocês mesmos não entraram e impediram os que estavam prestes a entrar!” (Lucas 11:52).
A “chave do conhecimento” é o próprio Jesus; é dele que Deus falou por meio de todos os que escreveram o Antigo Testamento, e é dele que Deus fala pelos apóstolos no Novo Testamento. Ao apoderarem-se dele para o matarem aqueles religiosos judeus queriam impedir o acesso ao conhecimento da Verdade. Afinal, “o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”, e é disto que continuaremos falando nos próximos 3 minutos.
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O assunto da Bíblia
Gênesis a Apocalipse
A Bíblia é a Palavra de Deus, dada aos homens do modo como um compositor distribui sua partitura à orquestra. Os diferentes instrumentos imprimiram nela a tonalidade de cada um, mas um só compositor e maestro esteve por detrás de suas notas. Sua execução levou 1500 anos, tocada por 40 homens de diferentes culturas e níveis sociais. Muitos nunca se conheceram e trabalharam separados por séculos e quilômetros de distância. Pense nesses vídeos do Youtube, com uma mesma música executada por artistas de diferentes países, e você terá uma vaga ideia de como foi a composição do texto sagrado.
Um só é o seu tema, princípio e fim: Cristo. Ele é o Alfa, a primeira letra do alfabeto grego, e o Ômega, a última. Por isso Jesus aparece de Gênesis a Apocalipse, e se você deseja conhecer a Verdade e se aproximar de Deus precisará conhecer a Jesus. Ele disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (Jo 14:6). Este é o genuíno. Qualquer outro caminho, verdade e vida são falsos. Não se chega a Deus sem Jesus, por isso é tão importante conhecê-lo. Se você ainda não confia nele é porque não o conhece.
Uma vez uma senhora me ligou pedindo referências de uma empregada que havia cuidado de meu filho deficiente. Ela buscava alguém para tomar conta de sua mãe idosa, mas queria uma pessoa de confiança. À medida que eu ia falando, ela ia conhecendo melhor a pessoa e eu podia perceber que sua confiança ia crescendo. Nós pedimos referências de alguém para sabermos o quanto podemos confiar. O mesmo ocorre com Jesus. Como você poderia ter total confiança nele sem conhecê-lo? Portanto, leia a Bíblia, não para saber o que Deus exige de você ou como se fosse um texto motivacional para recarregar suas baterias. Leia para encontrar Jesus em suas páginas, conhecê-lo e confiar nele cada vez mais.
Você sabia que ele aparece no primeiro versículo da Bíblia, em Gênesis 1:1? Sim, ali diz no original: “No princípio criou Elohim os céus e a terra”. Sabia que a palavra hebraica “Elohim” é plural? “Elohim” é plural, mas o verbo “criar” está no singular, mostrando que Deus é um, mas em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. No momento da criação o Filho eterno de Deus, Jesus, já participava da gênese de todas as coisas. João diz em seu Evangelho que “Ele estava com Deus, e era Deus... Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (Jo 1:1-2).
Jesus está também no último versículo da Bíblia, em Apocalipse 22:21, onde diz: “A graça do Senhor Jesus seja com todos. Amém”. E entre o primeiro e o último versículo da Bíblia você encontrará Jesus em todas as páginas da Palavra de Deus, nos mais diversos tipos e figuras, e também em Pessoa nos evangelhos. E é de como encontrar Jesus na Bíblia que falaremos nos próximos episódios de “O Evangelho em 3 minutos”.
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De Adão a Noé
Gênesis
Em Gênesis você encontra Adão, o primeiro homem, de cuja costela Deus tirou uma esposa (Gn 2:21-24). Não é difícil enxergar nele uma figura do segundo Homem, Jesus, que Deus colocou no sono da morte para de seu lado saírem sangue e água, os meios da criação e purificação de uma noiva, a Igreja. Você acha que é muita imaginação enxergar Cristo em Adão? A carta de Paulo aos Romanos declara que Adão “era um tipo daquele que haveria de vir” (Rm 5:14).
Após a queda, Deus disse ao diabo: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3:15). Só existe um homem descendente apenas de mulher: Jesus, o filho da virgem Maria. Satanás usaria seus agentes para trai-lo e levá-lo à morte, mas na cruz a cabeça da serpente, que é onde está o veneno, seria esmagada perdendo seu poder mortífero. “Visto que os filhos são pessoas de carne e sangue, ele [Jesus] também participou dessas coisas, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo” (Hb 2:14).
Mais uma vez Jesus aparece em Gênesis tipificado no animal que Deus sacrificou para, com sua pele, cobrir a nudez de Adão e Eva (Gn 3:21). Era uma figura do Cordeiro de Deus, que um dia viria ao mundo para morrer como consequência do pecado. Graças à morte de Cristo você pode ser purificado de seus pecados, perdoado de sua culpa e vestido da justiça que é segundo Deus (2 Co 5:3). Abel é outra figura de Cristo, pois ofereceu a Deus um sacrifício de sangue (Gn 4:4) e “depois de morto, ainda fala” (Hb 11:4). Sete, cujo nome significa “Escolhido”, nasceu depois da morte de Abel e é uma figura de Cristo ressuscitado, do qual veio a linhagem que “começou a invocar o nome do Senhor” (Gn 4:26).
Seu descendente, Enoque, o “sétimo depois de Adão” (Jd 1:14), “foi arrebatado, de modo que não experimentou a morte; ele já não foi encontrado porque Deus o havia arrebatado, pois antes de ser arrebatado recebeu testemunho de que tinha agradado a Deus” (Hb 11:5). Enoque é uma figura de Cristo subindo para o Pai, depois de andar em perfeita obediência e agradar em tudo a Deus.
Por meio de Noé o Espírito de Cristo pregou aos incrédulos antes do dilúvio, os quais agora são espíritos em prisão. Se Adão foi uma figura de Cristo como Senhor de todas as coisas e Cabeça da Igreja, Noé representa Jesus como o regente do mundo vindouro em seu reinado de mil anos numa terra restaurada. Ao sair da Arca, Deus disse a Noé: “Os animais selvagens, as aves do céu, as criaturas que se movem rente ao chão e os peixes do mar; eles estão entregues em suas mãos” (Gn 9:2). Você encontra as mesmas palavras no Salmo 8, porém falando de Cristo.
Nos próximos 3 minutos continuaremos em nossa fantástica jornada em busca de Jesus nas páginas da Bíblia Sagrada.
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De Melquideseque a José
Gênesis
Em nossa jornada em busca de Jesus nas páginas da Bíblia nós o encontramos em Gênesis 14 prefigurado em Melquisedeque, aquele que era “sem princípio de dias nem fim de vida, feito semelhante ao Filho de Deus, ele permanece sacerdote para sempre”. Além de ser chamado de sacerdote eternamente, Melquisedeque é também “rei de justiça” e “rei de Salem”, que significa “rei de paz” (Hb 7:2-3), títulos dados também a Jesus.
Em Gênesis 22 vemos Isaque, o filho de Abraão, como figura de Cristo tanto em sua morte como em ressurreição. A diferença entre o tipo e o antítipo foi que Deus providenciou um carneiro para substituir Isaque, porém Jesus não teve um substituto na morte. Tendo Isaque sido libertado da morte, assim como Cristo na ressurreição, no capítulo 24 de Gênesis, Abraão envia um servo através do deserto em busca de uma esposa para seu filho, uma figura de Deus Pai enviando o Espírito Santo a este mundo para reunir a Igreja, a noiva de Cristo.
Vemos então Esaú e Jacó, representando respectivamente o fruto da carne e do Espírito, e ao seguirmos a carreira de Jacó a vida de Cristo vai pouco a pouco sendo revelada nele, até ter sua plenitude em seu filho José. Este, o predileto de seu pai, é também uma figura de Cristo. José foi odiado por seus irmãos, vendido como escravo e dado como morto. No Egito, preso por resistir à tentação da mulher de Potifar, ele se destacou na prisão como capaz de revelar os sonhos e segredos das pessoas. Mais tarde ele revelaria também o que havia por detrás do sonho de Faraó e acabaria exaltado ao trono de vice-rei de todo o Egito.
Não é coincidência encontrarmos Jesus no capítulo 4 do Evangelho de João justamente à beira do poço em “Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José”, conversando com uma mulher samaritana. Impressionada com a capacidade de Jesus descobrir seus segredos, a mulher correu à cidade anunciando: “Venham ver um homem que me disse tudo o que tenho feito”. Os habitantes do lugar, depois de conhecerem Jesus, disseram a ela: “Agora cremos não somente por causa do que você disse, pois nós mesmos o ouvimos e sabemos que este é realmente o Salvador do mundo” (Jo 4:1-42).
Hoje Jesus é Salvador de todos os que nele creem e em breve voltará, primeiro para buscar sua Igreja, e depois em glória para reinar. Então ele será reconhecido pelos judeus assim como José foi reconhecido por seus irmãos em uma das mais dramáticas passagens da Bíblia. Depois de rejeitado, vendido e dado como morto por seus próprios irmãos, José se tornou o salvador deles e em amor e graça tirou deles qualquer temor de revanche, ao dizer: “‘Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos. Por isso, não tenham medo. Eu sustentarei vocês e seus filhos’. E assim os tranquilizou e lhes falou amavelmente” (Gn 50:20-21).
Nos próximos 3 minutos saiba o quanto de Jesus é possível ver em Moisés.
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Moisés
Êxodo
Moisés surge no livro de Êxodo como figura de Jesus, o Libertador de seu povo, do jugo de Satanás. Se você leu os Evangelhos deve se lembrar de que o rei Herodes mandou matar os meninos na tentativa de livrar-se de Jesus, a mesma estratégia usada por Satanás ao inspirar Faraó a eliminar os meninos hebreus. Mas Moisés escapou da morte e mais tarde o encontramos casando-se com Zípora, uma mulher gentia cujo nome significa “passarinha”, algo pequeno e insignificante.
Paulo também descreveu a Igreja, a noiva de Cristo, como insignificante aos olhos do mundo: “Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele” (1 Co 1:26-29).
A libertação do povo no Egito aconteceu por meio de outra figura de Cristo: um cordeiro sem defeito sacrificado na instituição da Páscoa. Seu sangue, aplicado ao batente das portas das casas dos hebreus, seria a garantia de que a morte não entraria ali quando o juízo de Deus caísse sobre todo o Egito. Depois, em outra figura representando o crente associado a Cristo em sua morte, vemos os hebreus passando pelo fundo do mar, um lugar de morte, e saindo triunfantes e salvos do outro lado, porém ainda num deserto a caminho da terra prometida.
O deserto é uma figura do mundo onde o cristão se encontra depois de salvo por Cristo. Assim como ocorre hoje com o crente em Jesus em sua jornada rumo à pátria celestial, os hebreus eram guiados por Cristo, representado na coluna de nuvem de dia, e na coluna de fogo à noite. Em sua carta aos Coríntios, Paulo explica que “todos comeram do mesmo alimento espiritual”, referindo-se ao maná que caía do céu, “e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo” (1 Co 10:3).
Chegamos ao Monte Sinai, e ali Moisés é uma figura de Cristo como Mediador entre Deus e os homens e também como o Profeta. Em Deuteronômio Deus disse a Moisés, referindo-se a Jesus: “Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você; porei minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar. Se alguém não ouvir as minhas palavras, que o profeta falará em meu nome, eu mesmo lhe pedirei contas” (Dt 18:18). E no evangelho Jesus diz: “Quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia” (Jo 12:48).
Nos próximos 3 minutos Moisés fica quarenta dias ouvindo falar de Jesus.
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As sombras e a realidade
Êxodo
No Monte Sinai Moisés ficou quarenta dias e noites ouvindo falar de Jesus, representado em cada detalhe da Lei que homem algum seria capaz de cumprir, exceto o Homem perfeito, Jesus. Em obediência e perfeição ele caminhou neste mundo revelando o Homem segundo o coração de Deus. Imaculado, sem pecado e sem a possibilidade de pecar, por ser Deus e Homem, somente ele poderia, em graça soberana, libertar o pecador da maldição da Lei que o condenava, e torná-lo irrepreensível e sem pecado aos olhos de Deus.
A Lei dada a Moisés não se limitava aos dez mandamentos, porém incluía centenas de ordenanças encontradas nos escritos de Moisés. Cada oferenda ali nos fala de Cristo e cada sacrifício aponta para o sangue que seria derramado na cruz para a glória de Deus e a salvação do pecador. O Tabernáculo, a grande tenda que Deus ordenou como o lugar de adoração dos hebreus, é uma figura de Cristo, bem como seus utensílios e até mesmo o véu, a grande cortina que impedia o acesso ao Santo dos Santos, figura da presença de Deus. É disto que fala a carta aos Hebreus, ao mencionar o véu do Templo rasgado no momento da morte de Jesus: “Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo” (Hb 10:19).
Aarão, irmão de Moisés, era uma figura do sacerdócio de Cristo, intercedendo por nós junto a Deus. Cada detalhe de suas vestes e de seu ministério apontava para o caráter e ministério de Jesus como nosso Sumo Sacerdote. Porém, por mais preciosas que sejam as figuras do Antigo Testamento, a carta aos Hebreus nos exorta a não nos ocuparmos com tabernáculos, templos, sacerdotes humanos e rituais copiados do judaísmo, mas com a realidade que agora é Cristo. Aos Colossenses Paulo referiu-se ao Antigo Testamento como “sombras do que haveria de vir” (Cl 2:16-17) e aos Coríntios que “essas coisas ocorreram como exemplos para nós” (1 Co 10:6), e Hebreus diz que são “figura e sombra das coisas celestes” e devem ser vistas como “figura do verdadeiro” (Hb 8:5; 9:24).
“Quando Cristo veio como sumo sacerdote dos benefícios agora presentes”, diz a carta aos Hebreus, “ele adentrou o maior e mais perfeito Tabernáculo, não feito pelo homem, isto é, não pertencente a esta criação. Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e obteve eterna redenção... Temos um sumo sacerdote... o qual se assentou à direita do trono da Majestade nos céus e serve no santuário, no verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, e não o homem” (Hb 8:1-2).
Depois de saber disto, como um cristão pode de sã consciência adorar a Deus em um templo feito de tijolos, com um sacerdote humano, um altar de mentirinha e tantos utensílios piratas, cópias baratas das figuras do Antigo Testamento?
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Sombras que desvanecem
Números a 2 Samuel
No capítulo 21 do livro de Números encontramos Jesus representado na serpente de bronze que Moisés fez para curar os israelitas das picadas de serpentes no deserto. “O Senhor disse a Moisés: ‘Faça uma serpente e coloque-a no alto de um poste; quem for mordido e olhar para ela viverá’. Moisés fez então uma serpente de bronze e a colocou num poste. Quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, permanecia vivo” (Nm 21:8-9).
Não teríamos como ver Jesus ali se não fosse pela explicação dada a Nicodemos no Evangelho de João, ao falar da vida que está disponível para o pecador moribundo que crê no crucificado: “Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna” (Jo 3:14-15). No mesmo livro de Números o mercenário Balaão, um profeta pagão, é obrigado a falar de Jesus, que virá para a Igreja como a Estrela da Manhã, e para Israel como o cetro que reinará por mil anos. Balaão profetizou: “Uma estrela surgirá de Jacó; um cetro se levantará de Israel” (Nm 24:17).
Deixamos de lado muitas outras figuras do Pentateuco para entrarmos no livro de Josué, o qual é um tipo de Jesus ressuscitado e liderando o seu povo na conquista da terra prometida. É por Jesus que “somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou... e nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8:37-39).
No livro de Juízes vemos a triste figura de um povo que se desviou de Deus, mas ainda ali é possível ver, nos diferentes juízes e libertadores levantados por Deus, uma tênue figura de Jesus, o verdadeiro Libertador e Juiz. Entramos no livro de Rute e nele visitamos Belém, onde nasceu Obede, figura do verdadeiro Servo de Deus que nasceria na mesma cidade e seria descendente do próprio Obede, pai de Jessé, e pai de Davi, do qual viria o Cristo.
Nos dois livros de Samuel vemos o profeta de mesmo nome, que Deus levantou em meio à ruína do testemunho e é uma figura do verdadeiro Profeta por meio de quem Deus falaria nos últimos dias. Ali encontramos Davi, o Rei segundo o coração de Deus e figura do Rei que virá em glória e majestade para reinar. Mas no caráter de um reino de paz, Jesus é prefigurado por Salomão. Nos Evangelhos ele fez questão de se apresentar como aquele “que é maior do que Salomão” (Mt 12:42), mostrando que as sombras, por mais representativas que sejam da realidade, podem se desvanecer como aconteceu com o final inglório da vida do primeiro Salomão.
Nos próximos 3 minutos veremos Jesus nos livros de Reis e Crônicas.
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Leis, Salmos e Profetas
1 Reis a Salmos
Deve ter sido maravilhoso para os dois discípulos a caminho de Emaús ouvirem Jesus falar do Antigo Testamento. “E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras”. Mais tarde ele diria aos discípulos: “‘Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’. Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras” (Lucas 24:27; 44-45).
Embora ele tenha citado apenas a Lei, os Profetas e os Salmos, é possível vê-lo também nos livros de Reis e Crônicas, porém com uma nitidez cada vez menor à medida que Deus esgotava as tentativas de despertar fidelidade em seu povo. Guardadas as devidas proporções, algumas figuras de Cristo são os reis Asa, Josafá, Ezequias e Josias. Então vem o cativeiro e chegamos ao livro de Ester, o único que não menciona o nome de Deus, e nele conhecemos Mordecai, um tipo do verdadeiro Libertador dos judeus. Em Esdras e Neemias vemos figuras de Jesus como o Restaurador do povo e da adoração ao Deus verdadeiro.
A chave para entendermos o livro de Jó continua sendo Cristo, porém ali demonstrado como aquele que é o único cuja justiça pode prevalecer aos olhos de Deus. Era esta a lição que Jó, orgulhoso de sua justiça própria, precisava aprender. Para isto Deus usou Eliú, uma figura de Cristo, nosso Grande Sumo Sacerdote. Ao mesmo tempo em que intercedia por Jó, “Eliú... indignou-se muito contra Jó, porque este se justificava a si mesmo diante de Deus” (Jó 32:2).
O livro de Salmos é como um diário pessoal de Jesus, no qual ele anotou os seus sentimentos em sua identificação com o seu povo. No Salmo 16 encontramos “Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hb 12:2) e em muitos outros ele pode ser visto sofrendo o abandono que sofrerá o remanescente judeu fiel — os “pequeninos irmãos” de Mateus 25 — na “grande tribulação”. O Salmo 22 mostra sua senda de sofrimento, desamparado por Deus e massacrado pelos homens. No Salmo 40 ele aparece cumprindo a vontade de Deus pelo sacrifício de si mesmo, e mais detalhes surgem no Salmo 69. O Salmo 102 revela seus sentimentos de pequenez, “como o pardal solitário no telhado” (Sl 102:7).
Porém nos Salmos 8 e 91 nós o vemos como o Segundo Homem, em seu domínio sobre todas as coisas, e no Salmo 18 o Rei aparece triunfante, e no Salmo 24 o Rei da glória toma posse daquilo que é seu por direito. No Salmo 45 ele é o Conquistador, cuja espada não poupa os ímpios em sua vingança a favor do sofrido remanescente fiel, que é amparado na jornada rumo ao reino milenial. Este tem suas glórias descritas no Salmo 100. Falta tempo para mostrar Jesus em todos os Salmos, portanto leia todos eles, começando com o Salmo 1, que mostra a perfeição da sua Pessoa, verdadeiro Deus e genuíno Homem.
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De Provérbios aos Evangelhos
Provérbios a João
No livro de Provérbios encontramos Jesus, o verdadeiro Filho de Davi e aquele que é “maior do que Salomão”, como a personificação da sabedoria de Deus. Reserve alguns minutos para ler o capítulo 8 de Provérbios e conhecer melhor este que é de “Eternidade a eternidade, porque dele são a sabedoria e a força” (Dn 2:20). É neste livro que você encontra Jesus também como “o amigo [que] ama em todos os momentos” e “um irmão na adversidade” (Pv 17:17).
O livro de Eclesiastes quase deixa Cristo de fora, por ser um compêndio de sabedoria humana debaixo do sol, ou seja, como o homem enxerga sua vida neste mundo. Mesmo assim nós o encontramos na alegoria de “uma pequena cidade, de poucos habitantes. Um rei poderoso veio contra ela, cercou-a com muitos dispositivos de guerra. Ora, naquela cidade vivia um homem pobre, mas sábio, e com sua sabedoria ele salvou a cidade. No entanto, ninguém se lembrou daquele pobre” (Ec 9:14-15). A carta de Paulo aos Coríntios nos faz lembrar “de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês” (2 Co 8:9).
Mas se a descrição árida de sabedoria humana encontrada no livro de Eclesiastes só aumenta nossa sede por Jesus, o livro de Cantares abre um manancial de água pura. Trata-se de uma alegoria que fala de Salomão, uma figura de Cristo, e sua noiva, a Sulamita, uma figura do povo terrenal de Deus, em especial o remanescente judeu fiel que será oprimido durante a “grande tribulação”. Ali tudo aponta para Cristo e sua extrema formosura. Ao perguntarem: “Que diferença há entre o seu amado e outro qualquer?”, a Sulamita responde:
“O meu amado tem a pele bronzeada; ele se destaca entre dez mil. Sua cabeça é ouro, o ouro mais puro; seus cabelos ondulam ao vento como ramos de palmeira; são negros como o corvo. Seus olhos são como pombas junto aos regatos de água, lavados em leite, incrustados como joias. Suas faces são como um jardim de especiarias que exalam perfume. Seus lábios são como lírios que destilam mirra. Seus braços são cilindros de ouro engastados com berilo. Seu tronco é como marfim polido adornado de safiras. Suas pernas são colunas de mármore firmadas em bases de ouro puro. Sua aparência é como o Líbano; ele é elegante como os cedros. Sua boca é a própria doçura; ele é mui desejável. Esse é o meu amado, esse é o meu querido” (Ct 5:9-16).
Seguem-se os livros dos profetas, que falam de Cristo, de sua obra e do reino vindouro. Digno de nota é o capítulo 53 de Isaías, escrito 700 anos antes da morte de Jesus e dizendo que ele “foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades... Pois ele carregou o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores”. Chegamos então aos Evangelhos e em Mateus Jesus é o Rei de Israel, em Marcos o Profeta e Servo fiel, em Lucas o perfeito Homem e em João o Verbo de Deus, a própria habitação de Deus com os homens. Nos próximos 3 minutos falaremos de mistérios.
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Mistérios
A revelação dada por Deus aos homens foi progressiva, portanto Moisés e os profetas que vieram depois dele não entenderam a profundidade das revelações que eles próprios recebiam. Muitas coisas só fariam sentido para aqueles que tivessem a revelação completa de Deus, por isso é impossível alguém entender corretamente as sombras e figuras do Antigo Testamento sem ler a realidade apresentada no Novo Testamento. Em sua primeira carta o apóstolo Pedro nos dá uma ideia mais clara disto, ao mencionar a salvação eterna pela fé em Jesus, que hoje o crente pode ter como certa e segura. Ele escreveu:
“Foi a respeito dessa salvação que os profetas que falaram da graça destinada a vocês investigaram e examinaram, procurando saber o tempo e as circunstâncias para os quais apontava o Espírito de Cristo que neles estava, quando lhes predisse os sofrimentos de Cristo e as glórias que se seguiriam àqueles sofrimentos. A eles foi revelado que estavam ministrando, não para si próprios, mas para vocês, quando falaram das coisas que agora lhes foram anunciadas por meio daqueles que lhes pregaram o evangelho pelo Espírito Santo enviado do céu; coisas que até os anjos anseiam observar” (1 Pe 1:10-12).
Mesmo assim, nem os próprios apóstolos tiveram toda a revelação de Deus durante o período dos Evangelhos. Algumas coisas ficaram ocultas como “mistérios” e foram reveladas especificamente ao apóstolo Paulo. Ele é o autor do “quinto evangelho”, a carta aos Romanos, onde diz, “pelo meu evangelho e pela proclamação de Jesus Cristo, de acordo com a revelação do mistério oculto nos tempos passados, mas agora revelado e dado a conhecer pelas Escrituras proféticas por ordem do Deus eterno” (Rm 16:25-26). A expressão “Agora revelado e dado a conhecer” significa que antes de Paulo ainda era um mistério.
Um dos mistérios revelados a Paulo foi a ressurreição dos santos no arrebatamento. Ele escreveu: “Eis que eu lhes digo um mistério: nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (1 Co 15:51-52). A carta aos Tessalonicenses dá mais detalhes deste mistério, e Paulo se inclui ali entre os que já esperavam por este evento: “Dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares” (1Ts 4:16).
Mas existe muito mais na maneira peculiar como Cristo se revelou a Paulo, como um apóstolo “abortivo” ou “nascido fora de tempo” (1 Co 15:8), e é disto que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Paulo
No Antigo Testamento Jesus foi apresentado em tipos e figuras e depois sua Pessoa descrita em detalhes nos Evangelhos. Mas o modo como ele se revelou a Paulo foi peculiar. Os outros discípulos haviam conhecido Jesus antes de sua morte e também depois, já ressuscitado. A Paulo ele apareceu glorificado e, como se isto não bastasse, levou-o para conhecer o Paraíso ou “terceiro céu”, onde o apóstolo “ouviu coisas indizíveis, coisas que ao homem não é permitido falar” (2 Co 12:4).
Portanto, ainda que você encontre Jesus em figuras no Antigo Testamento, e vivo, morto e ressuscitado nos Evangelhos, é por meio de Paulo que poderá conhecê-lo glorificado e em sua relação com a Igreja, o corpo de Cristo. Isto por causa da “revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações” (Rm 16:25-26). A chave para você abrir o cofre dos segredos ou mistérios de Deus é a “Obediência por fé”. Não apenas fé, mas a fé daquele que está disposto a obedecer para conhecer “a sabedoria de Deus, o mistério que estava oculto, o qual Deus preordenou, antes do princípio das eras, para a nossa glória” (1 Co 2:7).
Trata-se de coisas que pertencem a outra dimensão; que Deus tinha em mente antes que existisse o tempo, pois “olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam; mas Deus o revelou a nós por meio do Espírito”, diz o apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios (1 Co 2:8-9). Por mais privilegiados que tenham sido os homens de Deus do Antigo Testamento ou mesmo os discípulos no período dos evangelhos, nenhum deles teve o Espírito Santo habitando em si como o crente tem agora, depois de Pentecostes, e é somente pelo Espírito que estas coisas podem ser compreendidas.
Quando Deus decidiu revelar a verdade do mistério ele escolheu um vaso muito especial, e sabemos disso porque em Efésios 3 Paulo diz: “Certamente vocês ouviram falar da responsabilidade imposta a mim em favor de vocês pela graça de Deus, isto é, o mistério que me foi dado a conhecer por revelação” (Ef 3:2-3). Paulo ainda não tinha recebido a revelação do mistério quando o Senhor mostrou a ele a essência da verdade deste mistério no caminho para Damasco, ao perguntar: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (At 9:4). Jesus revelava assim que os santos, que Saulo perseguia na terra, formavam um corpo e estavam unidos a Cristo, a Cabeça, nos céus.
O detalhamento deste mistério Paulo apresenta em sua carta aos Efésios, mas este é um assunto para os próximos 3 minutos.
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O último mistério
Faltava um mistério a ser revelado, e a tarefa coube a Paulo. Com este segredo trazido à tona, a revelação de Deus estaria completa. É o que ele diz aos Colossenses, ao falar da Igreja, o corpo de Cristo e habitação do Espírito: “Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para com vocês, para cumprir a palavra de Deus; o mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos... que é Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1:24-27).
No grego a palavra traduzida como “cumprir” tem o sentido de completar ou preencher uma lacuna. É a mesma usada por João, ao dizer: “Escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa” (1 Jo 1:4). Paulo colocou a peça que faltava na revelação de Deus e nos fez saber que “os gentios são coerdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus”. E continua: “Foi-me concedida... a administração deste mistério que, durante as épocas passadas, foi mantido oculto em Deus” (Ef 3:6-9).
Por ser um mistério que ficou oculto no passado, a Igreja não existia no Antigo Testamento e nem mesmo nos evangelhos. Jesus a menciona pela primeira vez em Mateus 16:18, mas como algo ainda futuro. Ele diz: “Edificarei a minha igreja”. Como toda edificação da época, ela teria um alicerce com uma pedra de canto ou esquina — Cristo —, seguida das outras pedras do alicerce — os apóstolos e profetas do Novo Testamento. Sobre este fundamento as paredes seriam levantadas com o acréscimo de cada salvo por Cristo.
É desta edificação que Paulo fala no capítulo 2 de Efésios ao dizer que somos “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor” (Ef 2:20-21). Em 1 Coríntios o apóstolo fala de sua responsabilidade em lançar os fundamentos da Igreja: “Conforme a graça de Deus que me foi concedida, eu, como sábio construtor, lancei o alicerce, e outro está construindo sobre ele” (1 Co 3:10-11). Portanto é impossível você entender o que é a Igreja e saber como ela deve funcionar sem ler as cartas do apóstolo Paulo, a quem foi dada a tarefa de completar a Palavra de Deus.
Obviamente muitos pentecostais ou carismáticos não gostam da ideia de termos uma revelação completa, pois isto não lhes permite trazer suas próprias “revelações”. Por isso é comum ouvirmos frases do tipo “O Espírito Santo me revelou....”, “Deus me disse...”, Etc. Será isso uma necessidade de autoafirmação ou insatisfação com a suficiência das Escrituras? Ou talvez um desejo por novidades? Pode ser. Paulo avisou a Timóteo: “Virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos”. (2Tm 4:3-4)
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O fermento da hipocrisia
Em nosso capítulo 12 de Lucas também vemos a revelação progressiva de Deus. A carta aos Hebreus diz: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1:1-3).
Pela Criação Deus revelou sua glória e poder, pois “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Sl 19:1). Mas ele não se revelou ao homem pelas coisas criadas. Ao entregar a Lei a Moisés ele revelou a incapacidade do homem de cumprir as demandas de um Deus santo, mas ainda não se revelou ao homem. Por mais sincero que um judeu fosse em tentar guardar a lei, ele não podia conhecer a Deus, pois este ainda não tinha sido revelado.
Até mesmo Paulo, um judeu exemplar “circuncidado no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de Israel, à tribo de Benjamim, verdadeiro hebreu; quanto à lei, fariseu... quanto à justiça que há na lei, irrepreensível” (Fp 3:5), não conhecia a Deus. Por isso ele dizia que “quando aprouve a Deus... revelar seu Filho em mim... não consultei a carne nem o sangue” (Gl 1:15-16). A revelação de Cristo nada tem a ver com carne e sangue ou com a Criação natural e tampouco com a Lei. A primeira só mostra que nada somos comparados ao Universo e a segunda que nada podemos diante das santas demandas de Deus. Portanto, “os que são pela prática da lei estão debaixo de maldição, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei’. É evidente que diante de Deus ninguém é justificado pela lei” (Gl 3:10).
Por isso, depois de ter colocado de lado a nação de Israel, Jesus entra no capítulo 12 de Lucas denunciando a hipocrisia daqueles que gozam da maior estima entre os judeus, e mesmo assim são os principais adversários do Messias. Ele avisa seus discípulos: “Tenham cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia” (Lucas 12:1). Hipocrisia é querer parecer que você é algo que não é, e religiosos são hipócritas por natureza. Acham que por seguirem uma lista de regras e viverem de modo irrepreensível aos olhos dos homens estão justificados diante de Deus. Mas Jesus revela que “não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido” (Lucas 1:2). A Lei tinha mandamentos, promessas e profecias, mas não tinha Jesus, que é a “Expressão exata” de Deus. Ele é o Filho Unigênito de Deus, a verdadeira Luz e a atmosfera que o cristão respira.
Nos próximos 3 minutos o Senhor mostra que um novo testemunho estava para ser formado, não governado pela lei, mas pela luz de Deus.
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Andando na luz
O contraste entre o novo testemunho, que Jesus estabelece neste capítulo, e aquele em que estavam os fariseus é evidente. João assinala a entrada de Jesus em cena com estas palavras: “Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram... Estava chegando ao mundo a verdadeira luz, que ilumina todos os homens. Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1:5-11). Por isso nada mais haveria escondido que não viesse a ser descoberto, ou oculto que não viesse a ser conhecido, e isto incluiria a verdade da Igreja revelada a Paulo.
Assim como a própria Luz, este testemunho resplandeceria sem impedimento até que fosse dada a revelação completa de Deus, que inclui “o mistério que esteve oculto durante épocas e gerações, mas que agora foi manifestado a seus santos” (Cl 1:26). Jesus encoraja seus discípulos: “O que vocês disseram nas trevas será ouvido à luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro de casa, será proclamado dos telhados” (Lucas 12:2-3). Eles, que se esconderiam de medo quando Jesus fosse morto, reapareceriam depois de Pentecostes com uma ousadia que só poderia vir do Espírito Santo. Apesar de presos e proibidos de falar de Jesus, eles ousariam responder: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!” (At 5:29). E os próprios sacerdotes e fariseus do judaísmo seriam obrigados a reconhecer “que eles haviam estado com Jesus” (At 4:13).
Os que hoje creem em Cristo têm em si uma nova natureza vinda de Deus e vivem nesta atmosfera de luz que revela tudo o que neles é incompatível com a natureza divina. A Lei havia sido dada a Israel, mas o evangelho é proclamado a todas as nações. Os judeus sob a lei eram provados segundo a aparência externa de obediência aos mandamentos aos olhos dos homens, daí serem chamados de hipócritas por seu exterior não refletir o interior. Além disso, na lei muitas coisas eram toleradas por causa da dureza de seus corações. Mas tendo o véu sido rasgado e o acesso aberto à presença de Deus nada mais está oculto ou velado ao que crê. Preocupados com a aparência, os fariseus andavam no temor dos homens. O cristão anda na luz e no temor de Deus.
Jesus deixa claro aos seus, que chama de “amigos”, que eles não devem temer os homens. “Eu lhes digo, meus amigos: não tenham medo dos que matam o corpo e depois nada mais podem fazer”, e lhes tranquiliza: “Não se vendem cinco pardais por duas moedinhas? Contudo, nenhum deles é esquecido por Deus. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados”. A morte é o maior dano que alguém pode causar a um amigo de Jesus. Os incrédulos, sim, devem temer “aquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar no inferno. Sim, eu lhes digo, esse vocês devem temer” (Lucas 12:4-7).
Nos próximos 3 minutos saiba de onde viria o poder para testemunhar.
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O poder para testemunhar
O assunto agora é a fidelidade no testemunho, ou a falta dela. Jesus diz: “Quem me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas aquele que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus” (Lucas 12:8). O poder para confessá-lo não estaria nos discípulos, mas viria do Espírito Santo. Eles confessariam ousadamente o nome de Jesus, e exceto João, todos os apóstolos seriam executados.
O poder para a vida e o testemunho seria Espírito Santo dado a todo o que crê em Jesus, conforme Paulo explica aos Efésios: “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Ef 1:13-14).
O mesmo Espírito daria a eles poder para fugir do pecado e resistir ao mal. Porém sua luta não seria contra pessoas, mas contra seres espirituais, “contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6:12). Não caberia a eles julgar e reformar o mundo. Jesus faria isso em sua vinda, mas neste momento nem mesmo ele se proporia a julgar as demandas entre os homens. “Alguém da multidão lhe disse: ‘Mestre, dize a meu irmão que divida a herança comigo’. Respondeu Jesus: ‘Homem, quem me designou juiz ou árbitro entre vocês?’” (Lucas 12:13-14).
Jesus sairia deste mundo sem mover uma palha para melhorá-lo, social ou politicamente. Ele tão somente exerceria misericórdia, alimentando e curando os necessitados, e não esperando que o poder público o fizesse. Ele não interferiria nos sistemas humanos, não promoveria passeatas, greves ou boicotes, e nem deixaria de pagar impostos. O próprio Filho de Deus passaria por aqui e, exceto pelo testemunho de sua vida exemplar e do sacrifício de si mesmo, o mundo continuaria igual, ou pior por ser culpado de rejeitá-lo.
Em seu lugar ficariam os discípulos, ensinados e movidos pelo Espírito Santo que viria habitar na Igreja e em cada crente individualmente. Ao enviar o Espírito o Senhor estaria agindo em misericórdia para com o homem pecador, e o tempo da paciência de Deus já dura mais de dois mil anos. Mas “o Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente... não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe 3:9). Neste período da graça a justiça sofre e são “bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça” (Mt 5:10). Quando Cristo vier a justiça reinará.
Nos próximos 3 minutos Jesus fala do pecado sem perdão.
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O pecado sem perdão
Jesus garante aos discípulos que eles estariam plenamente capacitados pelo Espírito Santo para serem testemunhas fiéis de Deus no mundo. “Quando vocês forem levados às sinagogas e diante dos governantes e das autoridades, não se preocupem com a forma pela qual se defenderão, ou com o que dirão, pois naquela hora o Espírito Santo lhes ensinará o que devem dizer” (Lucas 12:11-12).
Todavia, o mesmo Espírito que viria capacitar os discípulos aumentaria a culpa daqueles fariseus incrédulos, e neste ponto Jesus fala do pecado sem perdão. “Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado” (Lucas 12:10). Os fariseus eram culpados deste pecado porque tinham visto Jesus curar e atribuíram seu poder a Belzebu, e não ao Espírito de Deus. Já vimos isto no capítulo 11 deste Evangelho de Lucas, mas também é citado em Mateus 12.
Hoje é impossível a um crente verdadeiro blasfemar contra o Espírito, apesar de alguns ficarem se torturando com esta ideia. Os Evangelhos associam isto explicitamente ao que os escribas e fariseus fizeram. O simples fato de um crente sentir remorso prova que não cometeu o pecado sem perdão. Um incrédulo que fale mal de Jesus ou rejeite o testemunho do Espírito para convencê-lo de pecado também não está blasfemando contra o Espírito. Até o seu último suspiro o perdão estará disponível para ele, mas se morrer na incredulidade estará perdido, não por blasfemar, mas por ter recusado a dádiva de Deus para salvá-lo. Saulo não só falou mal de Jesus, como perseguiu e entregou à morte seus discípulos. Mesmo assim ele foi perdoado quando creu e transformado por Deus num instrumento de bênção para muitos.
Hoje pregadores perversos usam do argumento da “blasfêmia contra o Espírito” como instrumento de terror para manter o controle sobre seus seguidores. Alguns ameaçam os que querem abandonar suas congregações, alegando que estariam assim virando as costas ao Espírito Santo e, portanto, blasfemando. Movidos pelo medo, muitos continuam a obedecê-los cegamente e a sustentá-los com seus bens. Quão diferente é esse modo de agir do amor demonstrado pelo verdadeiro Pastor das ovelhas, que não ameaçou nem mesmo os seus carrascos.
“Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pe 2:23). “Ele foi oprimido e afligido, contudo não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca” (Is 53:7).
Nos próximos 3 minutos Jesus fala justamente de uma característica desses falsos pregadores: a ganância.
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Prosperidade
Jesus diz aos discípulos: “Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens” (Lucas 12:15). Este aviso deveria ser suficiente para os que enchem os templos dos pregadores da Teologia da Prosperidade, deixando-os cada vez mais ricos. Esses pregadores gostam quando suas riquezas são denunciadas na mídia, pois tal propaganda faz bem para os seus negócios. Afinal, se você for ganancioso irá querer seguir o pregador mais próspero que encontrar, não é mesmo? Na sua cabeça ele é o mais abençoado por Deus, e quanto mais rico maior a probabilidade de ele revelar o segredo de sua prosperidade.
Talvez você pergunte: “Mas o Antigo Testamento não está cheio de promessas de prosperidade para os que forem fiéis?”. Está, mas a pergunta que você deveria fazer é esta: “Por que o Antigo Testamento está cheio de promessas de prosperidade e o Novo Testamento diz para nos contentarmos com o que temos?”. Você não terá qualquer dificuldade com isto se entender a verdade dispensacional. Ao dizer que Deus fará “convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos” (Ef 1:10), Paulo revela que existem coisas celestiais e terrenas, e há uma dispensação que chama de “plenitude dos tempos”. Um olhar atento por toda a Bíblia ajudará a detectar outras dispensações.
A palavra “dispensação” no grego tem o sentido de “administração de uma casa” e se fizéssemos um paralelo com a história do Brasil poderíamos dividi-la em diferentes dispensações, que podem ter sido tanto as diferentes formas de governo, como os diferentes planos econômicos. Deus também teve diferentes modos de agir, ou dispensações, em diferentes eras da história da humanidade. Mas aqui vou tratar apenas de duas: a dispensação da Lei, dada a Israel, e a dispensação da Graça, na qual está inserida a dispensação especial dada a Paulo revelar e que ficara em segredo nos séculos anteriores, a Igreja.
É bom entender que ao dizer “Israel” não estou me referindo aos judeus ou à nação que existe hoje na Palestina, formada por representantes das tribos de Judá e Benjamim. Refiro-me ao Israel original segundo os propósitos de Deus, composto por doze tribos em um só povo. E quando falo “Igreja”, não me refiro a algum edifício ou organização religiosa, mas ao seu significado original, que é “Os chamados para fora”. Isto é, os que são chamados para fora deste mundo durante o período de rejeição de Cristo; que são habitados pelo Espírito Santo e formam um só corpo, do qual Cristo é a cabeça no céu. Na Bíblia “igreja” pode referir-se tanto a esse conjunto como à representação dele, quando dois ou três estão reunidos ao nome de Jesus.
Mas para falar de um assunto tão importante vamos precisar de mais do que 3 minutos.
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A verdade dispensacional
A Lei fora dada apenas a Israel; o evangelho é pregado a todos os povos, e isto já é um indício de que estamos falando de diferentes dispensações ou modos de Deus tratar com a humanidade. João Batista foi o último profeta da antiga dispensação, e Jesus abriu a dispensação da graça na qual a Igreja estaria inserida. “A Lei e os profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus” (Lucas 16:16). “A Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1:17).
O contraste também fica evidente na conversa de Jesus com a mulher samaritana, ao deixar claro que haveria uma mudança no lugar e modo de adoração. Ele disse a ela: “Está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém... está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:21-24).
Como Messias prometido, Jesus “veio para o que era seu [o povo judeu], mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus” (Jo 1:11-13). Se na dispensação da Lei nenhum israelita ousaria chamar a Deus de Pai, agora Jesus inaugurava uma nova relação de parentesco. Mas para dar como realmente inaugurada a nova dispensação, ele precisava antes morrer, ressuscitar, subir ao céu e enviar o Espírito Santo.
Nada disso existiu antes. A Lei exigia que o homem fizesse algo para ser abençoado; a graça abençoa por favor imerecido. Apesar de seu fracasso, Deus em sua misericórdia não destruiu aquele povo, pois tinha em vista a vinda de Cristo. Foi assim que a lei serviu de “tutor”, conforme Paulo explica aos Gálatas, que ainda queriam viver sob a Lei: “Antes que viesse esta fé, estávamos sob a custódia da lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada. Assim, a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Agora, porém, tendo chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor. Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 3:23-26).
O crente em Cristo tem em si um poder muito maior que a Lei. É por isso que sob a potente influência da graça a hipocrisia dos fariseus fica muito mais evidente do que sob a Lei e o pecador pode ser perdoado, não por existir nele algo de bom, mas porque o Espírito o convence de ser totalmente mau. “Onde aumentou o pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5:20-21).
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Chamados para fora
Para se entender a Bíblia é preciso enxergar a diferença entre o modo de Deus tratar com Israel e com a Igreja. A antiga dispensação girava em torno de uma nação, Israel, enquanto a nova diz respeito ao corpo de Cristo, a Igreja. Nenhum outro povo havia recebido a Lei, mas apenas uma nação, Israel, por isso os privilégios da Lei eram destinados mais à nação do que ao indivíduo. Em tempos de ruína Deus tratava particularmente com indivíduos, mas sempre tendo em vista seu lugar numa nação eleita para habitar numa terra, Israel.
Na nova dispensação não existe qualquer característica nacional na Igreja. Ao contrário da Lei, que fora dada exclusivamente a um povo, o evangelho agora é pregado a todas as nações. A Igreja não é nacional e nem internacional ou mundial, mas é independente das nações. Ela é extranacional e chamada para fora do mundo. Por isso Atos 15:14 revela que Deus está tirando de entre as nações um povo para si: “Deus... visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o seu nome”. Repare que a passagem diz “dentre eles”, ou seja, a Igreja não é tampouco um agrupamento de gentios, mas de pessoas tiradas de entre gentios e judeus.
A igreja é um povo distinto e separado, e é neste sentido que Pedro a chama de “nação santa” (1 Pe 2:9). Hoje, ao olhar para o mundo, Deus vê três classes de pessoas: judeus, gentios e igreja. Por isso Paulo escreveu: “Não se tornem motivo de tropeço, nem para judeus, nem para gentios, nem para a igreja de Deus” (1 Co 10:32). Pense na Igreja como um contêiner sendo preparado para exportação. Assim que for colocado nele o último item comprado por Cristo, o contêiner será despachado para o céu.
A Igreja é representada na Bíblia como “um rebanho”, “um corpo”, uma “casa espiritual”, um “sacerdócio santo” e também como uma “família” formada pelos filhos de Deus (Jo 10:16; 1 Co 12:13; 1 Pe 2:5; 1 Jo 2:13; 3:1). Ao contrário de Israel, iniciado com um povo, a Igreja começou com pessoas salvas em sua individualidade e que vão sendo acrescentadas ao corpo de Cristo, ao rebanho do verdadeiro Pastor, ao sacerdócio santo e à casa e família de Deus. Este caráter individual é representado por termos como “membros” do corpo de Cristo ou “pedras vivas” da casa de Deus. Mas Deus enxerga a Igreja como um só corpo.
Na Bíblia você nunca encontra a expressão “membro da igreja”. O salvo é membro do corpo de Cristo e é acrescentado a ele pelo próprio Senhor, e não pelo batismo ou por alguma organização. Apenas os salvos por Cristo, que tiveram seus pecados perdoados e foram selados com o Espírito Santo, são membros do corpo de Cristo. Você deve estar se perguntando: “Se a Igreja não é uma continuação de Israel, e sim um povo distinto, então o seu modo de adorar a Deus não deveria ser diferente?” Sim, e é disto que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Das sombras para a realidade
Em sua conversa com a mulher samaritana, Jesus apontou uma mudança radical no modo e lugar de adoração a Deus. Os judeus adoravam em um Templo em Jerusalém, o único lugar autorizado por Deus para a adoração. Porém Jesus disse à samaritana: “Está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:23). A carta aos Hebreus ratifica essa mudança, ao deixar de lado o antigo sistema de adoração do judaísmo. Em seu capítulo 13 diz:
“Nós temos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo. O sumo sacerdote [do judaísmo] leva sangue de animais até o Santo dos Santos, como oferta pelo pecado, mas os corpos dos animais são queimados fora do acampamento. Assim, Jesus também sofreu fora das portas da cidade, para santificar o povo por meio do seu próprio sangue. Portanto, saiamos até ele, fora do acampamento, suportando a desonra que ele suportou. Pois não temos aqui nenhuma cidade permanente, mas buscamos a que há de vir. Por meio de Jesus, portanto, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome. Não se esqueçam de fazer o bem e de repartir com os outros o que vocês têm, pois de tais sacrifícios Deus se agrada” (Hb 13:10-16).
Hoje o cristão não possui um sistema religioso para adorar a Deus, como tinham os israelitas em sua adoração baseada em rituais que eram sombras das coisas que viriam. A igreja adora com base em realidades já consumadas. Por mais preciosas que fossem as sombras e figuras da antiga dispensação, o cristão tem o privilégio de se ocupar com a realidade para a qual as figuras apontavam: Cristo. “A Lei traz apenas uma sombra dos benefícios que hão de vir, e não a realidade dos mesmos” (Hb 10:1). Em Cristo as sombras se tornaram realidade, o Espírito a revelou aos apóstolos e o crente agora pode contemplar esta realidade com os olhos da fé. “Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno” (2 Co 4:18).
No Antigo Testamento as bênçãos eram condicionais e terrenas. Hoje Deus já “abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1:3) a todos os salvos pela fé em Jesus. A esperança dos israelitas estava na terra e a promessa para Israel era de ser um canal de bênção para todas as nações terrenas. A Igreja é a noiva do Cordeiro e todas as suas promessas e esperanças residem nos céus, onde Cristo está assentado à destra de Deus.
Mas quando teria ocorrido essa mudança tão radical, isto é, quando foi que Deus deixou Israel de lado por um tempo para que o período da Igreja tivesse início? É disto que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Uma nova dispensação
A morte de Cristo marcou o fim do período em que Deus tratou com Israel como nação. Sua ressurreição e a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes para habitar neste mundo deram início à atual dispensação. Naquele dia os discípulos de Jesus estavam reunidos num só lugar quando o Espírito Santo desceu e os batizou em um só corpo, não apenas os que estavam ali, mas a todos os que depois viriam a ser salvos por Cristo. Portanto, quando você ouvir alguém falar em “ser batizado com o Espírito Santo”, entenda que esse batismo já aconteceu ao formar o corpo de Cristo, a Igreja, conforme lemos no Livro de Atos:
“Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava. Havia em Jerusalém judeus, tementes a Deus, vindos de todas as nações do mundo. Ouvindo-se este som, ajuntou-se uma multidão que ficou perplexa, pois cada um os ouvia falar em sua própria língua” (At 2:1-8).
Que esse batismo só ocorreu uma vez, e nele estão incluídos todos os que viriam a crer em Jesus, está bem explicado por Paulo em sua carta aos Coríntios. Os cristãos em Corinto eram gregos convertidos a Cristo que não estavam em Jerusalém no dia de Pentecostes. Mas ao escrever a eles Paulo revela que haviam sido batizados em um só Espírito formando um só corpo. Paulo diz: “Em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1 Co 12:12-13). Se o batismo no Espírito ocorresse todas as vezes que alguém recebesse o Espírito Santo, como acreditam alguns, isto significaria que um novo corpo de Cristo estaria sendo formado a todo momento, o que seria um erro grave.
Portanto entenda que hoje, quando alguém é salvo por Cristo, não ocorre outro “batismo no Espírito”, pois este ocorreu uma vez e vale para todos. O crente que hoje recebe o Espírito Santo para habitar em si está sendo selado, e não batizado, com o Espírito. Paulo explicou isto aos Efésios: “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Ef 1:13-14).
Se agora Deus tem a Igreja como o seu povo, enquanto Israel é deixado de lado por um tempo, qual o papel da Igreja no mundo? É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Corpo, casa e noiva
A carta aos Efésios diz que, depois de ressuscitar a Cristo e fazê-lo assentar-se “à sua direita, nas regiões celestiais, muito acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir, Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou como cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância” Ef 1:20-23. Portanto, a Igreja representa a Cristo neste mundo durante o tempo de sua ausência e rejeição, sendo ela agora a rejeitada por sua associação a ele.
Satanás queria livrar-se de Cristo e expulsá-lo da terra, porém Jesus continua aqui representado por seu povo. Aquele que perseguir a Igreja estará perseguindo a própria Pessoa de Jesus, pois foi isto que ele disse a Paulo, que perseguia os cristãos: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?” (At 9:4). Além de ser o corpo de Cristo na terra, enquanto a Cabeça está no céu, a Igreja também é a casa de Deus, “um santuário santo no Senhor”, no qual os salvos “estão sendo juntamente edificados, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito” (Ef 2:21-22).
A Igreja é também vista na Bíblia como a Noiva que Deus planejou para o seu Filho, uma companhia que pudesse desfrutar de tudo o que Cristo possui na glória celestial. Um casal formado por um homem e uma mulher representa essa união de Cristo com sua Noiva, a Igreja. É por isso que, ao exortar os maridos a amarem suas esposas, Paulo revela estar falando figuradamente de Cristo e da Igreja. É por isso também que qualquer tentativa de desfigurar o matrimônio é uma abominação aos olhos de Deus, cujo plano era que a relação homem-mulher representasse a relação entre o seu Filho e sua Esposa. Em Efésios diz:
“Os maridos devem amar as suas mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos membros do seu corpo. Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne. Este é um mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja” (Ef 5:28-32).
Esta união de Cristo com sua Noiva é vista em algumas passagens do Livro de Apocalipse, e narrada em forma de júbilo, como ocorre também nas núpcias entre um homem e uma mulher. Veja este exemplo: “‘Regozijemo-nos! Vamos nos alegrar e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua noiva já se aprontou. Foi-lhe dado para vestir-se linho fino, brilhante e puro. O linho fino são os Atos justos dos santos’. E o anjo me disse: ‘Escreva: Felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro!’” (Ap 19:7).
Nos próximos 3 minutos você verá mais coisas que revelam o contraste existente entre Israel e a Igreja, mostrando que esta não é uma continuação de Israel.
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De servos a filhos
Outro contraste que encontramos entre a antiga e a nova dispensação está no conhecimento de Deus como Pai, algo que um judeu não podia desfrutar. Isto foi completamente revelado em Cristo e é um dos maiores privilégios do cristão. No Evangelho de João diz que “ninguém jamais viu a Deus, mas o Filho Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido” (Jo 1:18). Em sua carta o mesmo João fala de Jesus como sendo “o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:20).
No Antigo Testamento os israelitas celebravam sacrifícios que eram “uma recordação anual dos pecados, pois é impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados” (Hb 10:3-4). A eles era apenas prometido que Deus iria prover um Cordeiro para tirar o pecado, porém só no futuro. O cristão tem, ao invés de promessas, o fato da redenção já consumada. É como se Israel tivesse apenas uma nota promissória, porém a Igreja desfrutasse do resgate do valor prometido.
Outra diferença é que na antiga dispensação um israelita podia contar apenas com a influência do Espírito Santo ou sua atuação eventual em si mesmo. Agora o Espírito habita permanentemente no cristão. Aos seus discípulos, ainda no período dos evangelhos em que vigorava o judaísmo, Jesus disse que o Espírito Santo estava com eles, mas que em breve viria habitar neles. A passagem está em João 14:16 e diz textualmente: “Eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro [ou Consolador] para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês”.
Outro privilégio que Israel não tinha, mas agora a Igreja tem, é o de não sermos mais servos de Deus, porém filhos. Esta revelação gradual você encontra nos evangelhos. “Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido” (Jo 15:15). Isto Jesus disse antes de morrer, mas após a ressurreição ele revela a Maria Madalena o novo relacionamento do qual podemos desfrutar: “Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês” (Jo 20:17).
Por tudo isto e muito mais que você encontra nas Escrituras, como alguém poderia querer voltar às velhas práticas da lei ou dos rituais judaicos agora que estamos do lado de cá da cruz? Por que buscar no Antigo Testamento um modelo de adoração com aqueles que não podiam ter a certeza de sua salvação, que precisavam de um templo de pedras, de instrumentos musicais e de muito ouro para adorar? Como buscar bênçãos terrenas agora que “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo... nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo”? (Ef 1:3).
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Eu, eu eu!
Jesus conta uma parábola: “A terra de certo homem rico produziu muito bem. Ele pensou consigo mesmo: ‘O que [eu] vou fazer? Não tenho onde armazenar minha colheita’. Então disse: ‘Já sei o que [eu] vou fazer. [Eu] vou derrubar os meus celeiros e [eu vou] construir outros maiores, e ali [eu] guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E [eu] direi a mim mesmo: Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se’. Contudo, Deus lhe disse: ‘Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?’ Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus” (Lucas 12:15-21).
O pronome pessoal “eu”, subentendido como sujeito oculto, revela duas coisas: a pretensão daquele que pensa estar no controle de sua vida e a solidão em que vive o avarento, que é egoísta e só pensa em si. A parábola fala ainda da loucura que é achar que bens materiais possam garantir segurança, e acreditar que a vida resume-se ao nosso tempo na terra. O insensato consulta a si mesmo sobre o que fazer com o que acumulou. Ele exclui Deus de seus planos, esquecendo-se de que todo ser humano tem em sua agenda um compromisso pétreo, isto é, que não pode ser adiado: encontrar-se com Deus. Para ninguém se esquecer disso, Deus repete três vezes na Bíblia: “Diante de mim todo joelho se dobrará e toda língua confessará que sou Deus” (Is 45:23; Rm 14:11; Fp 2:10).
A diferença está em quando você dobra seus joelhos e confessa com sua língua. A Palavra de Deus promete que “se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo” (Rm 10:9), mas isto só vale enquanto você estiver vivo. Caso contrário será obrigado a dobrar seus joelhos e confessar que Deus é justo quando for levado à presença dele para receber a sentença. Ou você atende ao amoroso convite de Deus, que deseja fazer de você um filho, ou será levado à presença dele como réu e condenado à detenção eterna no lago de fogo. A única coisa em comum entre salvos e perdidos é que a condição em que saem desta vida é a mesma em que permanecerão para sempre. “Caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que a árvore cair, ali ficará”, diz Eclesiastes 11:3.
O homem da parábola tem uma agenda igual à da maioria das pessoas. Tudo o que planeja e armazena é para ter descanso, comida, bebida e lazer. Será esta também a sua agenda? Quantos anos você tem? Quantos anos lhe restam? Se você passou dos 35 já entrou no segundo tempo da expectativa de vida, que no Brasil é de setenta e poucos anos. No segundo tempo você joga cansado e atento ao apito do juiz. Mas talvez você seja jovem e nem se preocupe com isso. Mesmo assim, em cem anos você e todas as pessoas que conhece estarão mortas. Já viu no Facebook o perfil de alguém de sua idade que morreu? É uma sensação estranha, não é mesmo? Parece tão vivo, tantas fotos, tantas festas. Mas está morto. Como a árvore que caiu. “No lugar em que a árvore cair, ali ficará”.
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Esperar no Senhor
Na passagem anterior Jesus ensinava à multidão o comportamento adequado ao reino de Deus. Lembre-se de que fazer parte do reino não significa necessariamente estar salvo eternamente, pois o reino inclui joio e trigo. O reino é a esfera dos que reconhecem, ainda que exteriormente, o senhorio de Cristo. Quando alguém na multidão pede a Jesus para julgar uma questão de herança familiar, ele deixa claro que não veio para se intrometer na divisão da riqueza entre os homens. Ele não foi um ativista social e nem veio consertar os sistemas do mundo. Ele veio resgatar e salvar pessoas do mundo.
Depois de contar a parábola do rico insensato, Jesus se dirige aos discípulos, mostrando quais devem ser suas prioridades: “Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. A vida é mais importante do que a comida, e o corpo, mais do que as roupas. Observem os corvos: não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem celeiros; contudo, Deus os alimenta. E vocês têm muito mais valor do que as aves!” (Lucas 12:22-24).
Repare que ele não diz “não trabalhem para comprar comida e roupas”. Se dissesse, estaria contradizendo sua própria Palavra dita por intermédio de Paulo aos Tessalonicenses: “Vocês mesmos sabem como devem seguir o nosso exemplo, porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês, nem comemos coisa alguma à custa de ninguém. Pelo contrário, trabalhamos arduamente e com fadiga, dia e noite, para não sermos pesados a nenhum de vocês... Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: se alguém não quiser trabalhar, também não coma. Pois ouvimos que alguns de vocês estão ociosos; não trabalham, mas andam se intrometendo na vida alheia. A tais pessoas ordenamos e exortamos no Senhor Jesus Cristo que trabalhem tranquilamente e comam o seu próprio pão” (2 Ts 3:7-12).
Mas e se alguém recebeu um chamado do Senhor para evangelizar, pastorear ou ensinar? Então o Senhor irá sustentá-lo, sem que precise pedir nada a ninguém. Se o sustento não vier é porque o Senhor quer que trabalhe, em regime integral ou parcial, como fazia Paulo, que fabricava tendas. As duas formas são corretas. Porém existe uma terceira classe, a dos que não esperam no Senhor, mas pedem dinheiro aos homens com a desculpa de que é para a obra de Deus. Que diferença da vida de Paulo, que dizia: “Não cobicei a prata nem o ouro nem as roupas de ninguém. Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram minhas necessidades e as de meus companheiros. Em tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber’” (At 20:33-35).
Nos próximos 3 minutos, descubra a cura para a ansiedade.
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A cura para a ansiedade
Jesus continua ensinando seus discípulos a dependerem de Deus em tudo. Ele diz: “Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Visto que vocês não podem sequer fazer uma coisa tão pequena, por que se preocupar com o restante?” (Lucas 12:25-26). Então devo deixar que as coisas caiam do céu? Não devo mover uma palha para elas acontecerem? Existem muitas “palhas” que podemos mover, mas nenhum movimento adiantará se não for feito sob a direção de Deus. Por quê? Ora, se eu e você não somos capazes de acrescentar uma hora à nossa vida, por que achar que estamos no controle dela?
Alguma vez você perdeu um dia de escola ou de trabalho por doença, acidente ou morte na família. Você estava no controle dessas coisas? Absolutamente não! Você não foi capaz de fazer coisa alguma para impedir ou alterar essa situação. Você nem mesmo escolheu nascer neste país, ou ter o corpo que tem. Você não escolheu quem seriam seus pais, ou se nasceria saudável. Se você não tem controle sobre estas coisas, por que pensaria estar no controle das outras?
“Observem como crescem os lírios”, diz Jesus. “Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais vestirá vocês, homens de pequena fé!” (Lucas 12:27-28). Este é o segredo: fé! E na Bíblia há muitos exemplos de homens e mulheres de fé, como Noé e sua esposa, figuras do crente vivendo em um mundo destinado a juízo.
Com quê Noé estava ocupado? Certamente não com a melhoria do mundo para sua família, mas com a salvação de si mesmo, de sua família e de qualquer um que acreditasse na mensagem que pregava. Noé era um pregador da justiça divina, avisando a todos do dilúvio que viria e mostrando na prática que cria no que Deus disse. A enorme arca construída em terra seca antes de cair a primeira chuva era visível a todos. Naquele tempo os seres humanos viviam mais e Noé devia ter uns 480 anos quando foi avisado por Deus do juízo que viria e recebeu instruções de como se salvar por meio da Arca, que é uma figura de Cristo.
Lendo a história toda, do capítulo 5 ao 9 de Gênesis, e fazendo algumas contas com as idades, você irá descobrir que Noé não tinha filhos quando foi avisado da destruição do mundo. Você já escutou algum casal dizer que não quer filhos porque o mundo está ruim? Pois é, Noé não vivia em um mundo ruim — Noé vivia em um mundo com data de vencimento! E mesmo assim decidiu ter filhos, pois era um homem de fé. É disto que estou falando, da fé que confia e espera em Deus e não se aflige com as circunstâncias.
Nos próximos 3 minutos conheça a diferença entre o crente e o incrédulo.
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O tempo que resta
Jesus continua mostrando aos discípulos que existe uma grande diferença nas prioridades do crente e do incrédulo. Ele diz: “Não busquem ansiosamente o que hão de comer ou beber; não se preocupem com isso. Pois o mundo pagão é que corre atrás dessas coisas; mas o Pai sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, o Reino de Deus, e essas coisas lhes serão acrescentadas” (Lucas 12:29-31). Você vive como um pagão ou como um cristão?
Ele não está dizendo que não devemos nos ocupar com o que comer e beber, mas que não devemos nos preocupar com isso. O crente em Cristo tem um Pai que conhece suas necessidades. Ele deve trabalhar para se manter, mas também deve separar um tempo para as coisas de Deus. Adoração, leitura da Palavra, oração, comunhão com os irmãos, testemunho do evangelho, visita aos enfermos, auxílio aos necessitados — estas são algumas das ocupações daquele que foi salvo por Cristo. Que tal você avaliar quanto tempo separa para as coisas de Deus?
No fim de sua jornada aqui talvez você descubra que muitas das coisas com as quais se preocupou já estavam na agenda de Deus antes de você ter pensado nelas. Quanta energia, tempo e preocupação você teria economizado se soubesse que Deus teria suprido suas necessidades de qualquer maneira! Bastaria você ter orado e esperado com paciência. O Salmo 127 que diz: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono” (Sl 127:1-2).
Mas isto é privilégio dos salvos, dos filhos de Deus pela fé em Jesus. Se você ainda não é filho, a história é outra. Você ainda não tem o perdão dos pecados e um lugar garantido na eternidade graças ao sacrifício de Cristo. Sua vida é voltada para o aqui e agora. Para você, o além é um enorme ponto de interrogação. Então você faz das tripas coração para enriquecer e se divertir enquanto pode, pois esta vida é tudo o que possui. É nela que você aposta todas as suas fichas; neste breve período de tempo está toda a sua esperança.
Sabe por que você tem tanto medo da morte? Porque não consegue ver um palmo além do nariz; você vive como quem caminha à noite sem lanterna. À sua frente só há trevas. Em sua carta aos Coríntios, Paulo mostra o raciocínio de quem não tem a certeza da ressurreição: “Se os mortos não ressuscitam, ‘comamos e bebamos, porque amanhã morreremos’” (1 Co 15:32). Mas sua existência não termina no fim da vida. O tempo que você tem aqui é sua única oportunidade de garantir a vida eterna. Se você usa o seu tempo só para ganhar dinheiro, saiba que nem todo o dinheiro do mundo pode lhe comprar tempo. “Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação... Creia no Senhor Jesus” (2 Co 6:2; At 16:31).
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Bem-nascido
No versículo 31 deste capítulo 12 de Lucas, Jesus diz aos discípulos: “Busquem, pois, o Reino de Deus, e essas coisas lhes serão acrescentadas”, mas no versículo 32 ele diz: “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino” (Lucas 12:31-32). Seria uma contradição? O versículo 31 nos diz para buscarmos o Reino, enquanto o 32 nos diz para não nos preocuparmos, pois o Pai quer nos dar o Reino. Devo buscar ou esperar receber? As duas coisas.
Veja que neste capítulo o Senhor já vinha preparando os discípulos para viverem simultaneamente duas realidades: a presente e a futura, ainda a ser manifestada. O versículo 32 estabelece o fato de que o crente já é “rico para com Deus” (Lucas 12:21), pois seu Pai quer lhe dar o Reino. Ele não precisa invejar o que os outros têm ou cobiçar o que nunca teve, pois sabe que vive duas realidades: uma que é presente e passageira, e outra que é futura e permanente.
Imagine que você seja um garotinho bem-nascido, filho de um rico industrial. Você sabe que irá herdar a indústria de seu pai e toda a sua fortuna quando chegar a hora. Mas enquanto é pequeno, você ainda não está na direção da empresa, não tem um carro de luxo ou avião particular, e nem é dono daquele time de futebol que seu pai comprou. Você se contenta em brincar com um carrinho e um aviãozinho de brinquedo, e a jogar bola com seus amiguinhos.
Como você deveria agir se fosse esse garotinho? Será que invejaria o carrinho ou o aviãozinho do amigo? Não, pois quando chegasse a hora você estaria dirigindo uma Ferrari e viajando de jato executivo. Acaso você brigaria com seus colegas por causa de um bate-bola depois da aula? Não, pois saberia que um dia seria dono de um time campeão. Você não iria se preocupar com um joguinho qualquer. O que você faria se encontrasse um garotinho pobre e sem brinquedos? Você abriria mão dos seus por saber que seu pai lhe daria outros quando pedisse. Não ficaria apegado aos brinquedos de hoje, mas teria um comportamento compatível com a posição que iria ocupar amanhã.
Aquele garotinho ainda não é o rico industrial que será, mas se for inteligente aproveitará sua infância para brincar de “dono de indústria”, se inteirando dos negócios de seu pai e se comportando de modo compatível com sua herança. Assim deve ser o cristão, diferente do incrédulo que só pode contar com os brinquedos que tem aqui. O cristão vive segundo a moral do Reino, e não do mundo. Seu caráter aqui deve ser compatível com sua herança futura. Seus investimentos devem ter por objetivo um “tesouro no céu” (Mt 19:21). Vivendo nessa expectativa ele é capaz de abrir mão dos brinquedos de hoje porque sabe que seu Pai poderá prover estes e muito mais amanhã. E é de investimentos futuros que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Onde está o seu tesouro?
Você recebe uma grande soma em dinheiro e sua preocupação é correr e depositá-lo no banco sem ser assaltado no caminho. Então você reparte as notas em maços e os distribui pelos bolsos, por dentro da roupa e até nas meias. Mesmo assim você fica preocupado. E se algum assaltante perceber seu olhar inquieto? E se você desmaiar no caminho ou sofrer um acidente? Ser levado a um pronto-socorro inconsciente e de bolsos cheios não é exatamente o que você gostaria que acontecesse. Quem irá garantir que seu dinheiro não desaparecerá?
Se você pudesse despachar tudo para o banco, sem precisar andar por aí recheado de notas, certamente faria isso. Assim teria a garantia de poder usar seu tesouro quando precisasse, sem correr o risco de perdê-lo. Jesus diz: “Vendam o que têm e deem esmolas. Façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro nos céus que não se acabe, onde ladrão algum chega perto e nenhuma traça destrói. Pois onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Lucas 12:33-34). O cristão é o único que pode realmente agir assim, pois quando compartilha do que tem não está gastando, mas guardando.
Mas qual é verdadeiramente o tesouro do crente? Serão seus bens, sua carreira ou posição na sociedade? O apóstolo Paulo pertencia à nata da sociedade de sua época, mas depois de convertido a Cristo passou a enxergar tudo o que era e possuía com outros olhos. Veja o que ele diz: “O que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo” (Fp 3:7-8).
Jesus tranquiliza os discípulos, dizendo: “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino” (Lucas 12:32). Ser pequeno — em força, tamanho ou capacidade — não é uma vantagem neste mundo selvagem onde impera a lei do mais forte, mas é isto o que diferencia o cristão do incrédulo. Quando lemos a história de Sansão aprendemos que ninguém sabia de onde vinha sua força, pois ele devia ser um homem comum, e não um gigante musculoso. Os que seguem a Cristo encontram sua força somente naquele que revelou a Paulo que o seu “poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Ao que o apóstolo concluiu: “Quando sou fraco é que sou forte” (2 Co 12:9-10).
Neste momento de nosso capítulo 12 de Lucas o reino ainda não tinha sido manifestado. O reino estava entre os discípulos, pois o Rei estava ali, mas ele ainda seria rejeitado e voltaria ao céu, o lugar de origem do reino. Um dia Jesus viria para estabelecer seu reino de forma visível e seus discípulos reinariam com ele. É desta expectativa, e de como os discípulos deveriam viver neste mundo, que Jesus fala nos próximos 3 minutos.
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O que você espera?
“Estejam cingidos os lombos de vocês, e acesas as suas candeias”, diz o Senhor no versículo 35 do capítulo 12 de Lucas. Deus disse o mesmo aos israelitas, prestes a saírem do Egito. Eles também deviam ter os “lombos cingidos”, uma corda amarrada à cintura para não tropeçarem nas bordas das longas vestes ao caminharem rápido. Ter uma candeia acesa significa estar preparado, pois só quem tem azeite não é pego de surpresa. É na expectativa de sua vinda iminente para nos tirar daqui que o Senhor quer que vivamos. Mas infelizmente não é a volta do Senhor a qualquer momento que alguns cristãos esperam.
Quando o assunto é profecia, existem basicamente duas correntes de interpretação das Escrituras: Dispensacionalismo e Teologia do Pacto. A primeira crê numa interpretação literal das profecias, portanto onde você lê “Israel” é Israel mesmo, o povo terreno de Deus e descendente de Jacó. Esta corrente de interpretação crê que todas as promessas de Deus feitas a Israel no Antigo Testamento ainda se cumprirão para Israel no futuro, apesar de terem sido suspensas por um intervalo que já passa de dois mil anos.
O dispensacionalismo acredita ainda que a Igreja é um povo distinto de Israel e só veio a existir a partir do capítulo 2 do livro de Atos. Ao contrário de Israel, Deus não deu à Igreja qualquer promessa ou esperança aqui no mundo, mas só nos céus. Os cristãos, que formam a igreja, o corpo de Cristo, deveriam viver na expectativa da volta do Senhor a qualquer momento para arrebatá-los daqui. Seu destino não é viver na terra, mas nos céus.
A maioria das religiões cristãs fundamentalistas católicas e protestantes não veem assim, pois seguem a Teologia do Pacto. Seus seguidores não esperam pela volta do Senhor a qualquer momento para serem arrebatados ao céu e se encontrarem com ele nos ares. Ao contrário, esperam por sua vinda para reinar na terra e estão ocupados com os acontecimentos deste mundo, já que muitas profecias ainda precisam se cumprir antes de Cristo vir reinar. Além disso, para a Teologia do Pacto o reino de mil anos que é citado várias vezes no capítulo 20 de Apocalipse seria apenas simbólico, e não um período definido de tempo.
A mesma Teologia do Pacto ensina que os cristãos devem evangelizar todos os habitantes do planeta antes que o Senhor possa voltar, condicionando a volta de Cristo ao trabalho dos cristãos. Uma das vertentes da Teologia do Pacto é a Teologia do Domínio, a mesma adotada pelo catolicismo romano nas Cruzadas e por países protestantes expansionistas, como Inglaterra e Estados Unidos. A ideia que estes têm de cristianizar o mundo é melhorá-lo e prepará-lo para Cristo vir reinar. Alguns cristãos fazem isto através do evangelismo, outros pela política, e outros, como os da Teologia do Domínio, pela força das armas.
Se você crê na Teologia do Pacto, nos próximos três minutos irá querer se apossar de tudo o que Deus prometeu, não para a Igreja, mas para Israel.
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Imediatamente
Nem todo cristão percebe as consequências das distorções causadas pela Teologia do Pacto. Durante séculos a Igreja, que deveria viver como estrangeira neste mundo e em constante expectativa pela vinda do Noivo, achou-se no direito de reivindicar para si as promessas feitas por Deus a Israel no Antigo Testamento. Assim os judeus foram perseguidos de forma implacável por aqueles que estavam de olho em seu espólio ou eram simplesmente levados pelas ideias vigentes na época. Se você estudou história aprendeu que não foram apenas os Papas, mas também reformadores como Lutero e Calvino que perseguiram judeus.
Mais recentemente pregadores inescrupulosos passaram a oferecer à Igreja as bênçãos terrenas prometidas originalmente a Israel. A Teologia da Prosperidade é um dos subprodutos da Teologia do Pacto. Portanto, se você acreditava que não importa muito adotar uma ou outra visão — Dispensacionalismo ou Teologia do Pacto — é melhor reconsiderar. Sua escolha determinará se no topo da lista das coisas que você espera para qualquer momento está encontrar-se com o Senhor nos ares ou os eventos que virão após o arrebatamento da igreja.
Dentro da visão dispensacionalista, que é a que eu acredito ser a correta, o Senhor pode voltar neste exato momento para ressuscitar a todos os que morreram em Cristo e arrebatar sua Igreja para o céu. Paulo explica isto em 1 Tessalonicenses 4, incluindo-se entre os que em seu tempo já aguardavam pelo Senhor: “Pois... o próprio Senhor descerá do céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, [nós] os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim [nós] estaremos com o Senhor para sempre” (1Ts 4:16-17).
Depois do arrebatamento virão três anos e meio chamados de “início das dores” seguido pela manifestação do anticristo e pela “grande tribulação” (Mt 24:8, 21). Só depois é que Cristo se manifestará ao mundo, vindo do céu com todos os que foram levados para lá sete anos antes. Nessa ocasião ele virá para julgar as nações e estabelecer o seu Reino de mil anos literais na terra. Nela habitarão israelitas e gentios convertidos após o arrebatamento da Igreja. Enquanto isso, a Igreja, a noiva do Cordeiro, estará com Cristo no céu reinando sobre a terra.
Portanto, se você espera pelo estabelecimento do Reino no mundo, não está esperando pela volta iminente do Senhor, já que há muitos eventos que precisam ocorrer antes de Cristo vir reinar. Todavia, o Senhor deseja que sejamos “como aqueles que esperam seu senhor voltar de um banquete de casamento; para que, quando ele chegar e bater, possam abrir-lhe a porta imediatamente” (Lucas 12:36). “Imediatamente”, é o que ele diz. Quer um conselho? Não deixe para esperar para amanhã o que pode esperar para hoje.
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Servo ou juiz?
Se você já foi salvo por Cristo deve viver agora como um servo que aguarda ansioso pela volta de seu Senhor. Para os seus ele voltará para servi-los. Ele diz: “Felizes os servos cujo senhor os encontrar vigiando, quando voltar. Eu lhes afirmo que ele se vestirá para servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-los” (Lucas 12:37). “Ele se vestirá para servir” indica uma roupagem que nada tem a ver com a roupa de um juiz, que é como ele virá vestido para o mundo em geral.
Em Apocalipse 1:13-17, João descreve as vestes de Jesus em seu caráter de um juiz severo, e elas nada tem a ver com este manso Senhor que volta como se fosse um garçom para acomodar os seus confortavelmente reclinados à mesa e servi-los. O caráter do Senhor como o Juiz que virá para julgar o mundo pode ser visto no capítulo 1 de Apocalipse quando o Senhor apareceu ao apóstolo João numa roupagem de meter medo.
Ele trazia “uma veste que chegava aos seus pés”, semelhante à toga que vemos os juízes usarem nos tribunais. Também “um cinturão de ouro ao redor do peito” simbolizando a justiça e fidelidade com que ele julga, como em Isaías 11:5, que diz: “A retidão será a faixa de seu peito, e a fidelidade o seu cinturão”. “Sua cabeça e seus cabelos... brancos como a lã” representam sua eternidade, além da experiência e sabedoria de um ancião, como ele é visto também em Daniel 7:9.
“Seus olhos... como chama de fogo” nos falam de um conhecimento perfeito, de um discernimento infalível e de um escrutínio profundo. Você ficaria à vontade diante de alguém com olhos de fogo? “Seus pés... como o bronze numa fornalha ardente” mostram sua função judicial, pois o fogo prova todas as coisas. Sua voz é como “o som de muitas águas”. Será que alguém conseguiria se fazer ouvir diante do bramido das poderosas ondas do mar?
Em Gênesis vemos que os astros e estrelas foram criados para governar, e é o que representam as “sete estrelas” que Jesus tem na mão direita. Todo o governo está em suas mãos, a quem pertence todo poder, controle e honra. A “espada afiada de dois gumes”, que João vê sair de sua boca, é a Palavra de Deus, pela qual todos serão julgados. Finalmente, sua face “como o sol quando brilha em todo o seu fulgor” revela a glória da sua divindade (Ap 1:13-17).
Felizmente não será esta a visão que os salvos terão de seu Senhor. Para estes, como diz nosso capítulo em Lucas, ele virá vestido para servir e dar descanso. Obviamente o apóstolo João estava salvo quando Jesus lhe apareceu numa visão apenas para mostrar como virá para o mundo. Mesmo assim, para tranquilizar João, ele colocou sua mão direita sobre o apóstolo e disse: “Não tenha medo”.
E você, como espera por Jesus? Ansioso que ele volte para você ser servido por ele, ou aterrorizado pela expectativa de ele voltar para você ser julgado?
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O dia e a hora
Ao contrário do que muitos falsos profetas têm feito, não encontramos na Bíblia qualquer autorização para determinar o momento exato da vinda de Jesus. Em Marcos 13:32 o Senhor diz: “Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai”. Por causa desta passagem alguns colocam em dúvida a divindade de Jesus. Se ele era Deus, como poderia desconhecer o dia e a hora de sua própria vinda?
Mas um versículo em João 15:15 indica que “o servo não sabe o que o seu senhor faz”, e era neste caráter que Jesus estava no mundo. Filipenses 2:6-7 diz que “Cristo Jesus... embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens”. Como Deus ele sabia, mas como servo não lhe era dado saber, principalmente se a finalidade fosse revelar isso a outros.
Atos 1:6-7, embora se referindo aos discípulos, ajuda a entender a competência que cada um tem conforme sua posição e autoridade. Ali diz: “Então os que estavam reunidos lhe perguntaram: ‘Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?’ Ele lhes respondeu: ‘Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade’”.
Com base nisto podemos dizer que a Jesus, o Filho, em seu caráter de Servo, não competia saber a data de sua vinda, pois tal conhecimento era da competência exclusiva do Pai. Se Jesus usasse de sua prerrogativa de ser Deus para revelar a data de sua vinda, estaria passando por cima da autoridade do Pai. Vemos que isto jamais aconteceria, pois ele próprio disse: “Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo 6:38).
Sua submissão ao Pai era tamanha que até aquilo que ele tinha poder para fazer preferiu deixar que o Pai fizesse. Em João 10:18, ao falar de sua morte e ressurreição, Jesus revela ter autoridade ou poder para entregar sua vida e voltar a tomá-la, isto é, ressuscitar. Ele diz: “Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la. Esta ordem [ou mandato] recebi de meu Pai”. Todavia ele não fez uso desse poder, como Paulo revela: “Deus Pai... o ressuscitou dos mortos” (Gl 1:1).
Portanto qualquer especulação em torno de datas é querer passar por cima da autoridade do Pai. Mesmo assim, temos indícios de que estamos nos últimos dias pois vemos o testemunho de Deus no mundo se deteriorando, e esta sempre foi uma característica de mudança de era ou dispensação. Sempre que Deus confia ao homem alguma responsabilidade as coisas começam bem e terminam mal.
Nos próximos 3 minutos saiba como foi restaurada a expectativa da volta de Jesus e quais foram suas consequências.
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Meia-noite
O capítulo 12 de Lucas nos exorta a vivermos na expectativa da vinda iminente de Jesus, justamente por não sabermos quando será. Ele diz: “Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes... Quer ele venha na segunda vigília, quer na terceira, bem-aventurados serão eles, se assim os achar” (Lucas 12:37-38). Em Marcos 13:35 ele fala das quatro vigílias usadas na época: “...à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo ou ao amanhecer”. Porém aqui apenas duas são mencionadas, a da “meia-noite” e a do “cantar do galo”, pois o assunto é sua vinda para os seus, e não para o mundo.
A vigília da “meia-noite” é mencionada na parábola das dez virgens, que nos fala da responsabilidade dos que levam o testemunho de Deus na terra, sejam genuínos ou falsos; com ou sem o azeite do Espírito. Mateus 25:6 diz que “À meia-noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo se aproxima!’”. Este aviso a todas as virgens foi dado há cerca de duzentos anos, quando muitos cristãos voltaram a pregar que Jesus voltaria a qualquer momento para arrebatar sua Igreja.
A Teologia do Pacto, adotada até então por católicos e protestantes, não tinha qualquer preocupação com a vinda iminente de Jesus. Por considerar a Igreja como a legítima sucessora de Israel, portanto beneficiária das bênçãos terrenas prometidas àquele povo, durante séculos o foco da cristandade esteve em conquistar o mundo para a Igreja e não as pessoas para Cristo. O objetivo era preparar o mundo para Jesus poder vir reinar. Nessa visão não havia lugar para a ideia de Jesus vir buscar sua Igreja a fim de levá-la para o céu.
No século 19 foram restauradas algumas verdades das Escrituras que estavam perdidas sob o entulho de dogmas católicos e protestantes. Uma delas foi a posição singular da Igreja como algo totalmente novo, e não como sucessora de Israel. Ao contrário do Israel terreno, a Igreja teve sua origem no céu com a vinda do Espírito Santo do céu, e estava destinada a ser levada de volta para o céu com a retirada do Espírito deste mundo. Isto foi chamado de arrebatamento da Igreja, ou a vinda de Jesus para encontrar o seu povo nos ares, não no chão.
Portanto a partir do século 19 os cristãos voltaram a esperar por Jesus para tirá-los do mundo, não pela morte, mas no arrebatamento. A redescoberta desta verdade teve efeitos colaterais tanto na evangelização quanto na política mundial. Se Jesus podia voltar a qualquer momento, era importante levar o evangelho o mais rápido possível a mais pessoas, e este sentimento impulsionou a evangelização dos povos pagãos. Além disso, o conhecimento de que a Igreja não era sucessora de Israel, e que a antiga nação ainda teria suas promessas realizadas, gerou um movimento em prol da volta dos judeus à sua terra.
Obviamente os que se consideravam “donos da casa” da cristandade não viam com bons olhos estas ideias, e é disto que falaremos nos próximos 3 minutos.
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O dono da casa e o ladrão
Nos versículos 37 e 38 deste capítulo 12 de Lucas Jesus chama de “servos” aqueles que esperam por sua vinda iminente, mas a linguagem muda no versículo 39. Agora ele apresenta outro tipo, que chama de “dono da casa”, antes de exortar os discípulos a estarem preparados para sua vinda. Ele diz: “Entendam, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não permitiria que a sua casa fosse arrombada. Estejam também vocês preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que não o esperam” (Lucas 12:39-40).
Em 1 Timóteo 3:15 Paulo chama o testemunho cristão de “casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade”. Porém em 2 Timóteo 2:20 aquela casa é vista em um estado de degradação como uma “grande casa” na qual “há vasos não apenas de ouro e prata, mas também de madeira e barro; alguns para fins honrosos, outros para fins desonrosos”. O mesmo que os líderes do judaísmo fizeram com a casa de Deus de então, os cristãos fizeram com a casa de Deus na atual dispensação. Em Lucas 19, enquanto expulsava os vendedores do Templo, Jesus dizia: “Está escrito: ‘A minha casa será casa de oração’; mas vocês fizeram dela um covil de ladrões” (Lucas 19:46).
Por causa da volúpia por riquezas e poder, a imagem que o mundo tem hoje do cristianismo é muito diferente daquela encontrada nos primeiros cristãos. Neste capítulo Jesus diz que “onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Lucas 12:34), isto é, o tesouro é o imã que atrai o coração. Ao adotar para si as bênçãos terrenas que eram prometidas a Israel, a Igreja colocou o seu foco no acúmulo de tesouros terrenos. Não foram os pregadores do evangelho da prosperidade que inventaram isso, mas foi o comportamento adotado desde o terceiro século, quando os cristãos deixaram de ser perseguidos para se transformarem em perseguidores.
O patrimônio da cristandade é imenso, se somarmos as riquezas de suas organizações. Não é de admirar que, no último estágio do testemunho cristão no mundo, representado por “Laodicéia” em Apocalipse 3, ela se considera rica e bem suprida. Mas a opinião do Senhor é outra: “[Você] é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu. Dou-lhe este aconselho: Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar” (Ap 3:17-18).
O caráter de “dono da casa”, usado pelo Senhor em sua parábola, cai muito bem para aqueles que apenas professam ser cristãos e também para a cristandade institucional. Para estes a vinda de Cristo será como a chegada inesperada de um ladrão e irá pegá-los de surpresa, causando a perda de tudo o que juntaram aqui.
Nos próximos 3 minutos conheça o vigilante que nunca fica ocioso.
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Vigilantes e ocupados
A lição deste capítulo 12 de Lucas continua mostrando que não estamos aqui apenas esperando pela vinda do Senhor, mas vigiando e trabalhando. Um vigia não pode cochilar, caso contrário é pego de surpresa. Além da admoestação para vigiarmos (Lucas 12:37) existem outras características daquele que realmente vive na expectativa de encontrar-se com Jesus a qualquer momento. Ele diz:
“Estejam também vocês preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que não o esperam... Quem é, pois, o administrador fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos seus servos, para lhes dar sua porção de alimento no tempo devido? Feliz o servo a quem o seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens” (Lucas 12:40-44). Portanto, devemos estar preparados, isto é, sempre prontos, pois não sabemos quando o Senhor virá nos buscar. Se você depende da carona de seu amigo que vai passar em sua casa para pegá-lo, o que você faz? Deixa para se aprontar quando seu amigo estiver buzinando no portão ou fica de prontidão?
Deus avisou os israelitas no Egito que deviam se aprontar para sair dali imediatamente após comerem o cordeiro assado no fogo — uma figura de Cristo sacrificado em lugar do pecador. Deus disse a eles: “Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente” (Ex 12:11). Não sei se existe outro lugar na Bíblia que mostre tamanho senso de urgência. Afinal, você consegue imaginar pessoas comendo com uma mão e segurando um cajado na outra?
Outra exortação para aquele que espera é que seja como um “administrador fiel e sensato”, encarregado de alimentar e cuidar daqueles que o seu Senhor colocou sob sua responsabilidade. Mas como alimentar outros com a Palavra de Deus se nós mesmos não nos alimentarmos dela todos os dias? E se não soubermos administrar o que temos nesta vida, como iremos administrar as coisas do Senhor no futuro? “Com ele reinaremos”, diz 2 Timóteo 2:12, portanto “feliz o servo a quem o seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens” (Lucas 12:43-44).
Portanto, quando o Senhor vier, não irá querer nos encontrar ociosos, e sim ocupados com os interesses dele. Alguns cristãos sentem arrepios quando ouvem falar de boas obras, e vão logo disparando versículos que afirmam que não somos salvos por obras, o que é verdade. Mas somos salvos para um propósito, e este é claramente indicado após o versículo de Efésios 2 que diz que somos “salvos pela graça, por meio da fé... não por obras, para que ninguém se glorie. Somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2:8-10).
Nos próximos 3 minutos saiba como você pode comer, beber e se divertir.
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Comer, rezar e amar?
Por três vezes neste capítulo Jesus fala de comer, beber e alegrar-se. A primeira, no versículo 19, expressa o desejo do fazendeiro rico, que quer aumentar seus celeiros para garantir uma vida sossegada. Ele diz a si mesmo “coma, beba e alegre-se” (Lucas 12:19), sem saber que irá morrer. Ele quer assegurar uma aposentadoria feliz, o que é perfeitamente lícito. O problema está em excluir Deus de seus planos e confiar em sua própria capacidade. Ele pode até ser um bom cidadão, que cuida de sua família, gera empregos e faz caridade, mas Jesus o chama de “louco” ou “insensato”. Por quê?
Porque loucos são os que “tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível... Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador” (Rm 1:21-25).
Embora Romanos 1:21-25 esteja falando dos pagãos, a descrição serve para todos os que idolatram a capacidade humana e vivem em função das coisas criadas. Nesta classe estão os céticos, ateus, humanistas, racionalistas, hedonistas ou quem quer que viva uma vida de indiferença para com Deus, ainda que seja politicamente correto e se preocupe com o ser humano, a comunidade e a salvação do planeta. Alguns acrescentam ao seu humanismo uma pitada de espiritualidade e vivem a vida apenas para comer, rezar e amar.
No versículo 37 de Lucas 12 é a vez dos verdadeiros servos desfrutarem por graça aquilo que o rico buscou obter pelo esforço. Destes, Jesus diz: “Felizes os servos cujo senhor os encontrar vigiando, quando voltar. Eu lhes afirmo que ele se vestirá para servir, fará que se reclinem à mesa, e virá servi-los” (Lucas 12:37). Existe um tempo de descanso, satisfação e alegria para quem crê em Jesus e espera por ele. Mesmo que passe por dificuldades e necessidades nesta vida, ele comerá, beberá e se alegrará quando for servido pelo próprio Senhor.
A próxima passagem sobre comer, beber e alegrar-se é a do falso servo no versículo 45. Ali diz: “‘Meu senhor se demora a voltar’, e então começa a bater nos servos e nas servas, a comer, a beber e a embriagar-se” (Lucas 12:45). Este é o religioso que nunca se converteu, mas chama Jesus de Senhor. Ele não liga para a vinda de Cristo e é pior que o ímpio, que quer apenas comer, beber e se divertir. Ele quer embriagar-se, e é o que acontece com quem detém o poder religioso. Como um ébrio insensível, ele não tem escrúpulos em massacrar as ovelhas que apascenta. Mas sua sentença é clara: “O senhor daquele servo virá num dia em que ele não o espera e numa hora que não sabe, e o punirá severamente e lhe dará um lugar com os infiéis” (Lucas 12:47). Ou seja, o seu destino é o lago de fogo.
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Responsabilidade
O versículo 47 diz: “Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lucas 12:47).
Se para o crente há uma diferença nas recompensas que receberá no céu, para o incrédulo haverá uma variedade de condenações no lago de fogo. Se você foi batizado em nome de Jesus e o chama de Senhor, mesmo sem ser convertido de verdade, você pertence à esfera da responsabilidade cristã e está sujeito a uma condenação mais severa que a do aborígene que nunca ouviu falar de Jesus.
É claro que no final todos os incrédulos — cristãos nominais ou não — irão para o mesmo lago de fogo, mas o grau de punição dependerá da responsabilidade de cada um. Mesmo o pagão, que recebeu naturalmente de Deus um testemunho por meio da Criação e de sua própria consciência, será avaliado desta forma “no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo” (Rm 2:16).
Existe até uma diferença geográfica no tratamento que Deus dará aos povos no futuro reino de mil anos de Cristo. Ele abençoará as nações que hoje não são cristãs e transformará em deserto os territórios dos povos que conheceram a verdade. Você entenderá melhor isto se considerar que o livro de Apocalipse identifica a futura “Babilônia” como a falsa cristandade — aquela que deveria ser noiva, mas surpreende o apóstolo João ao surgir como meretriz.
João diz: “Vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos, o sangue das testemunhas de Jesus. Quando a vi, fiquei muito admirado” (Ap 17:6). Assim como no passado o sistema católico — e mais tarde o protestante — perseguiu e matou cristãos genuínos por não se sujeitarem, a cristandade apóstata que após o arrebatamento crerá no anticristo irá perseguir o remanescente judeu que se converterá em tempos de grande tribulação.
As referências proféticas a “Babilônia” mostram que as terras onde o cristianismo floresceu, como Europa e suas colônias, ficarão desoladas no reinado de Cristo. O profeta Isaías diz: “Nunca mais será repovoada nem habitada, de geração em geração... Mas as criaturas do deserto lá estarão, e as suas casas se encherão de chacais; nela habitarão corujas e saltarão bodes selvagens. As hienas uivarão em suas fortalezas, e os chacais em seus luxuosos palácios. O tempo dela está terminando, e os seus dias não serão prolongados” (Is 13:20-23).
Nos próximos 3 minutos Jesus acende um fogo.
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Rejeição
Jesus agora fala de sua rejeição: “Vim trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso! Mas tenho que passar por um batismo, e como estou angustiado até que ele se realize! Vocês pensam que vim trazer paz à terra? Não, eu lhes digo. Pelo contrário, vim trazer divisão! De agora em diante haverá cinco numa família divididos uns contra os outros: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos pai contra filho e filho contra pai, mãe contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra sogra” (Lucas 12:49-53).
Se você achou que ao se converter a Cristo a vida seria tranquila, já deve ter percebido que não é bem assim. Quando os anjos anunciaram a chegada de Jesus, eles proclamaram: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor” (Lucas 2:14). Teria havido paz se Jesus não fosse rejeitado, mas ele foi. Sua encarnação trouxe fogo à terra, e tão logo nasceu, os homens já queriam matá-lo. Sua vida santa era demais para eles suportarem. “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más. Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas” (Jo 3:19-20).
Enquanto Jesus andou aqui, o juízo de Deus se manifestava pelo fogo que queimava as consciências. Ainda não era a hora de o fogo literal do juízo de Deus ser derramado sobre a humanidade culpada. “Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele... Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens” (Jo 3:17; 2 Co 5:19).
Jesus diz que tem ainda que passar por um “batismo”, que seria a sua morte na cruz recebendo sobre si o fogo do juízo de Deus por causa do pecado. “Se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto” (Jo 12:24). Jesus morreu, ressuscitou e subiu à glória, consumando assim a obra que o Pai lhe tinha dado. Enquanto andou aqui, sua presença acendeu o fogo do juízo; na cruz o fogo caiu sobre si e, por substituição, sobre todo aquele que crê. Para o incrédulo resta a perspectiva futura do fogo eterno.
Todavia o fogo da presença de Jesus continua no mundo, agora por intermédio dos que foram salvos por ele e são rejeitados à semelhança de sua rejeição. A simples presença de Jesus no mundo incomodava, e agora a simples presença do crente incomoda. Casais são separados, famílias são divididas e amigos se tornam inimigos por causa do ódio natural que o homem tem contra Cristo. Assim como nos dias de Jesus foram os religiosos do judaísmo os seus maiores opositores, à medida que a cristandade caminha para a apostasia a oposição à verdade virá cada vez mais dos que professam ser cristãos.
Nos próximos 3 minutos os judeus são incapazes de fazer a previsão do tempo.
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Compre colírio
Um pouco antes Jesus alertava os discípulos da rejeição que sofreriam por segui-lo. Agora ele fala às multidões, uma mescla de judeus crentes e incrédulos: “Quando vocês veem uma nuvem se levantando no ocidente, logo dizem: ‘Vai chover’, e assim acontece. E quando sopra o vento sul, vocês dizem: ‘Vai fazer calor’, e assim ocorre. Hipócritas! Vocês sabem interpretar o aspecto da terra e do céu. Como não sabem interpretar o tempo presente?” (Lucas 12:54-56).
Eles eram capazes de julgar os sinais do clima físico, mas não o clima espiritual; viam as nuvens e a chuva, mas estavam cegos para interpretar o “tempo presente”. O juízo estava prestes a vir sobre a nação que levava o testemunho de Deus na terra. Logo depois Jesus diria do Templo: “Não deixarão pedra sobre pedra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus a visitaria” (Lucas 19:44). Esse tempo era o momento da visita do “Emanuel”, nome usado para anunciar o nascimento de Jesus e que significava “Deus conosco”.
Durante séculos, o povo esperou pelo Messias e agora o rejeitavam por ele não se encaixar em seus planos. Orgulhosos de sua religião, os judeus estavam cegos para sua própria degradação e ruína. Em outra ocasião eles diriam: “Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém” (Jo 8:33). Eles sequer percebiam que estavam sob o jugo do invasor romano e trabalhavam para o sustento do inimigo. A história se repetiria quando o sistema religioso cristão, batizado profeticamente de “Babilônia”, passasse a se vender como uma prostituta. “Os reis da terra se prostituíram com ela; à custa do seu luxo excessivo os negociantes da terra se enriqueceram” (Ap 18:3).
Assim como aconteceu com Israel, a Igreja falhou miseravelmente como um testemunho de Deus na terra. Dos ricos palácios do Vaticano aos pregadores de prosperidade da TV, passando pelas articulações políticas do protestantismo fundamentalista, tudo na cristandade cheira ao mundano. Ela vive exatamente da mesma maneira que os judeus dos tempos de Jesus: no mundo e para o mundo. Algumas frases das cartas às sete igrejas de Apocalipse resumem a mensagem que Jesus tem para a Igreja hoje: “Sei onde você habita, onde está o trono de Satanás... você tem fama de estar viva, mas está morta... porque você é morna, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-la da minha boca... [você] é miserável, digna de compaixão, pobre, cega e nua” (Ap 2:13, 3:1, 16-17).
E você? Qual é a sua percepção do testemunho cristão no mundo? Acredita mesmo que está tudo bem e cada vez melhor? Então a receita é a mesma de Apocalipse 3:18: “Compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar”. O lugar que Jesus ocupa hoje, em relação à cristandade, é do lado de fora. Por isso, na continuação, ele diz aos que individualmente querem manter comunhão com ele fora do arraial religioso: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo”(Ap 3:20).
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Saber julgar
Os versículos finais de Lucas 12 são uma consequência da incapacidade dos judeus de “interpretarem o tempo presente” (Lucas 12:56). A rejeição do Messias já era evidente quando ele veio ao mundo e Maria “o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2:7). Ao ser expulso do mundo, Jesus sofreu “fora das portas da cidade” (Hb 13:12). Porém, mesmo em meio à rejeição generalizada, um remanescente ainda seguia a Jesus e sofria a rejeição dos religiosos. Eles podiam ser encontrados dentro da grande massa do testemunho judaico, mas separados do mal que havia ali.
Do mesmo modo como foi excluído de entre os judeus na vida e na morte, o Senhor ocupa hoje um lugar fora do cristianismo institucional, apesar de o Espírito Santo habitar individualmente no coração de todo verdadeiro salvo por Jesus. A história do judaísmo se repetirá com a cristandade apóstata. Em Apocalipse ela é chamada de “Babilônia” e irá perseguir o remanescente de judeus que se converterá após o arrebatamento da Igreja. Judeus e gentios convertidos habitarão a terra durante o reinado de mil anos de Cristo. A exortação para os que têm qualquer associação com “Babilônia” é: “Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados” (Ap 18:4).
Enquanto os judeus se opunham à verdade, a cristandade apóstata corrompe a verdade, o que é pior. A ordem é sair dela para evitar a contaminação. Um dos princípios na Palavra de Deus é que o mal contamina pelo simples contato. Em Ageu 2:13 o profeta pergunta: “‘Se alguém levar carne consagrada na borda de suas vestes, e com ela tocar num pão, ou em algo cozido, ou em vinho, ou em azeite ou em qualquer comida, isso ficará consagrado?’ Os sacerdotes responderam: ‘Não’. Em seguida perguntou Ageu: ‘Se alguém ficar impuro por tocar num cadáver e depois tocar em alguma dessas coisas, ela ficará impura?’ ‘Sim’, responderam os sacerdotes, ‘ficará impura’”. Judas usa a expressão “odiando até a roupa contaminada pela carne” (Jd 1:23) para nos alertar do perigo da contaminação por contato.
Não cabe ao cristão decidir quem é ou não salvo por Cristo, pois “o Senhor conhece quem lhe pertence”. Sua responsabilidade é julgar o mal e apartar-se. Paulo escreve: “Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor” (2Tm 2:19). Por não saberem julgar ou “interpretar o tempo presente” Jesus repreende os judeus usando de um exemplo que mostra a importância de se saber julgar, falando de coisas que todos nós tememos ter de enfrentar, como “magistrado”, “juiz”, “oficial de justiça” e “prisão”. Ele diz: “Por que vocês não julgam por si mesmos o que é justo? Quando algum de vocês estiver indo com seu adversário para o magistrado, faça tudo para se reconciliar com ele no caminho; para que ele não o arraste ao juiz, o juiz o entregue ao oficial de justiça, e o oficial de justiça o jogue na prisão. Eu lhe digo que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo” (Lucas 12:57-59).
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Todos iguais
O capítulo 12 do Evangelho de Lucas terminou com o fracasso dos judeus em discernir o tempo da chegada do Messias. Agora o capítulo 13 revela o orgulho individual e nacional do povo. Se você for um dos que acham que quando algo vai mal a alguém isso é porque a pessoa fez algo de errado, o que Jesus diz serve para você. E para mim também, pois não existe um ser humano que não goste de apontar o dedo para as falhas dos outros para desviar a atenção de si mesmo.
Os judeus vão a Jesus contar dos galileus aos quais Pilatos teria mandado matar enquanto ofereciam sacrifícios a Deus. A intenção deles é maliciosa, e Jesus percebe isso. Os habitantes da Judeia não toleravam os da Galileia e os consideravam inferiores. O comentário de Natanael no Evangelho de João sobre Nazaré, cidade da Galileia, revela a opinião comum na Judeia. Quando Filipe avisou Natanael que tinha encontrado Jesus de Nazaré, cidade da Galileia, sua reação foi: “Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá?” (Jo 1:46).
Jesus não se limita a comentar o caso dos galileus, mas acrescenta outro também trágico: o desmoronamento de uma torre em Siloé que causou a morte de dezoito pessoas. Aquele que sonda os corações certamente sabe o que se passa no interior daqueles judeus orgulhosos de seu território, e por isso mostra que os habitantes da Galileia eram tão pecadores quanto os da Judeia:
“Vocês pensam que esses galileus eram mais pecadores que todos os outros, por terem sofrido dessa maneira? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão. Ou vocês pensam que aqueles dezoito que morreram, quando caiu sobre eles a torre de Siloé, eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu lhes digo que não! Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão” (Lucas 13:1-5).
Ao invés de pensarem na crueldade de Pilatos provavelmente eles estavam levantando suspeitas sobre a conduta das vítimas. No judaísmo, que era um sistema religioso de causa e efeito, bênção e prosperidade eram prometidas como recompensa para a obediência, enquanto para os desobedientes sobravam as adversidades, doenças e morte. Mas Jesus ensina algo que vai muito além do pensamento judeu: aos olhos de Deus, todos — absolutamente todos — são igualmente culpados e merecem morrer, a menos que se arrependam.
A carta aos Romanos diz que “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus... assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 3:23; 5:12). Você já se enxergou nesse “todos” ou será que é como os da Judeia que se achavam menos culpados que os da Galileia?
Nos próximos 3 minutos Jesus decreta o fim do judaísmo.
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O fim do judaísmo
Após denunciar o orgulho individual de alguns judeus, que se consideravam melhores que os outros, Jesus revela o orgulho nacional do povo usando de uma parábola: “Um homem tinha uma figueira plantada em sua vinha. Foi procurar fruto nela, e não achou nenhum. Por isso disse ao que cuidava da vinha: ‘Já faz três anos que venho procurar fruto nesta figueira e não acho. Corte-a! Por que deixá-la inutilizar a terra? ‘ Respondeu o homem: ‘Senhor, deixe-a por mais um ano, e eu cavarei ao redor dela e a adubarei. Se der fruto no ano que vem, muito bem! Se não, corte-a’” (Lucas 13:6-9).
Se você quiser entender o Novo Testamento deve ter sempre em mente o que João diz sobre Jesus em seu evangelho: “Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1:11-12). Repare que o primeiro advento ou vinda de Jesus tem duas etapas. Primeiro, ele veio para o que era seu, isto é, os judeus. Como os seus não o receberam, ele passou a tratar com judeus e gentios que o receberam pela fé, fazendo deles filhos de Deus.
Portanto, ao ler os evangelhos, pergunte sempre: “O que isto tem a ver com os judeus?”. Somente depois é que você deve tentar identificar se existe algo que possa ser aplicado de forma direta ou indireta a você. Vemos que este capítulo está claramente relacionado aos judeus. Se perguntarmos ao profeta Isaías que vinha ou fazenda é esta, e o que significa a planta figueira, teremos a resposta: “A vinha do Senhor dos Exércitos é a nação de Israel, e os homens de Judá são a planta que ele amava” (Is 5:7).
Durante tempo suficiente — os três anos mencionados na parábola — Deus procurou fruto em sua vinha, Israel, e não encontrou. Depois que a nação foi dividida tudo o que sobrou foi um pequeno remanescente — Judá e Benjamim — que voltou a Jerusalém para reconstruir a cidade e o Templo. Estes são os judeus e, como a figueira da parábola, representam a planta que devia ter dado fruto, porém não deu. Deus mandou que a figueira fosse cortada, isto é, que fosse dado um fim naquele testemunho. Porém um intercessor suplica: “Deixe-a por mais um ano, e eu cavarei ao redor dela e a adubarei. Se der fruto no ano que vem, muito bem! Se não, corte-a” (Lucas 13:8-9).
O que intercede é o próprio Senhor Jesus e este “mais um ano” representa o tempo de seu ministério entre os judeus. Apesar de dar à figueira todas as condições para que desse fruto, isto não aconteceu e ela acabaria sendo cortada totalmente no ano 70 D.C. quando o Templo de Jerusalém foi destruído e o judaísmo se transformou em mera recordação. Os judeus que hoje existem não podem praticar sua religião sem o Templo e sem sacrifícios, por isso mantêm apenas uma casca ou aparência daquilo que era no passado. Mas o recado de Jesus aos judeus não termina aí, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Encurvados
No episódio anterior Jesus usou de uma parábola para decretar o fim do judaísmo. Visto profeticamente, este episódio revela que no futuro ele irá curar um remanescente de Israel de sua condição arruinada. “Certo sábado Jesus estava ensinando numa das sinagogas, e ali estava uma mulher que tinha um espírito que a mantinha doente havia dezoito anos. Ela andava encurvada e de forma alguma podia endireitar-se. Ao vê-la, Jesus chamou-a à frente e lhe disse: ‘Mulher, você está livre da sua doença’. Então lhe impôs as mãos; e imediatamente ela se endireitou, e louvava a Deus” (Lucas 13:10-13).
O contexto do capítulo fala dos judeus rejeitando seu Messias, portanto não fica difícil identificar o que representa esta mulher. Em Romanos 10:11 Paulo cita uma profecia a respeito de Israel: “Suas costas fiquem encurvadas para sempre”. O Senhor chama a mulher de “filha de Abraão” (Lucas 13:16). Em Gálatas 3:7 diz que “Os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão”. Apesar de sua fé genuína ela sofria as consequências do pecado e do estado geral de incredulidade de sua nação, do mesmo modo como todo verdadeiro crente no Senhor Jesus hoje sofre por causa da apostasia que vai tomando conta da cristandade.
O Senhor diz que “Satanás a mantinha presa”, revelando sob o jugo de quem os judeus haviam se colocado. A indignação do dirigente da sinagoga pela cura ter sido no sábado não tinha fundamento, pois Levítico 23:7 proibia os israelitas apenas de executarem “trabalho servil” no sábado, isto é, aquele feito com finalidade de salário ou lucro. Mas o líder da sinagoga insiste: “Há seis dias em que se deve trabalhar. Venham para ser curados nesses dias, e não no sábado” (Lucas 13:14). Ele diz isso como se pudesse curar nos outros dias da semana. Se pudesse, ela não estaria ali esperando há dezoito anos.
Jesus repreende os judeus: “Hipócritas! Cada um de vocês não desamarra no sábado o seu boi ou jumento do estábulo e o leva dali para dar-lhe água? Então, esta mulher, uma filha de Abraão a quem Satanás mantinha presa por dezoito longos anos, não deveria no dia de sábado ser libertada daquilo que a prendia?” (Lucas 13:15-16). Eles tinham misericórdia de seus animais que davam lucro, mas não tinham escrúpulos em preferir que a mulher continuasse vivendo naquela condição. A ironia de tudo isso é que, enquanto os religiosos judeus reclamavam do Senhor, a mulher “louvava a Deus” (Lucas 13:13).
A libertação dela é completa, assim como será completa a libertação de Israel no futuro. Seu corpo ficou ereto e ela deixou de olhar só para a terra e foi capaz de olhar para o céu. Ela estava livre do peso da Lei e dos grilhões de Satanás e o resultado foi glória e louvor. Assim teria acontecido com os judeus se tivessem recebido seu Messias. Mas a incredulidade os mantinha encurvados e incapazes de ver e entender as coisas do céu, e é também a incredulidade que mantêm ainda hoje muitos encurvados sob o jugo da religião, da Lei e de Satanás.
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O Reino
Na história da humanidade você encontra muitos exemplos de reinos e governos que são organizados antes mesmo de assumirem o poder. Geralmente algum partido de oposição ao governo vigente começa a se articular e a decidir quem assumirá cada posição na nova ordem de coisas. Às vezes até mesmo uma nova constituição é redigida para quando o novo governo assumir o controle. Algo semelhante ocorre com o reino de Deus. Ele já existe, mas não está no poder.
É importante entender que “reino de Deus” não é sinônimo de céu ou salvação eterna. O reino é a esfera de governo de um Rei sobre seus súditos, sejam eles submissos ou não. Jesus veio ao mundo para reinar, porém foi rejeitado. Portanto o reino de Deus já estava no mundo funcionando nos bastidores, pois o Rei tinha seguidores em campanha divulgando suas propostas de governo e convidando as pessoas a se filiarem ao reino. Ao mesmo tempo Jesus dava provas de que seu reino era real, ao revelar o seu poder e de como seria a vida na terra quando estivesse no trono. A cura da mulher encurvada era uma dessas provas.
Se você entender isto entenderá a passagem de Hebreus 6 que diz que “para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir [ou seja, do Reino], e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento” (Hb 6:4-6). Essas pessoas são as mesmas que tiveram um contato direto com Jesus e não foram salvas porque não creram de verdade. Estavam no reino, porém eram contrárias ao Rei.
Elas foram expostas à luz da presença de Cristo, sentiram um gostinho do dom celestial e foram participantes do Espírito Santo ao serem influenciadas por ele. O Espírito é quem convence o pecador do pecado, da justiça e do juízo vindouro, como explica João 16:8, tentando levá-lo a Cristo. Ele também santifica o pecador colocando-o numa posição de privilégio, como a do incrédulo casado com uma mulher crente em 1 Coríntios 7:14. Os “poderes da era que há de vir” são os que Jesus manifestava ao curar doentes e alimentar multidões. Muitos dos que beberam do vinho nas bodas de Caná e comeram do pão que Jesus multiplicou estariam mais tarde cuspindo nele e gritando: “Crucifica-o! Crucifica-o!”.
Para mostrar que na ausência do Rei o Reino iria se deteriorar nas mãos dos homens, Jesus faz uma pergunta e a responde na forma de dois exemplos: “Com que se parece o Reino de Deus? Com que o compararei? É como um grão de mostarda que um homem semeou em sua horta. Ele cresceu e se tornou uma árvore, e as aves do céu fizeram ninhos em seus ramos... É como o fermento que uma mulher misturou com uma grande quantidade de farinha, e toda a massa ficou fermentada” (Lucas 13:18-21). Nos próximos 3 minutos você ficará surpreso ao descobrir como as religiões invertem o significado destes exemplos.
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A árvore mutante
Primeiro Jesus compara o seu Reino a uma hortaliça: “É como um grão de mostarda que um homem semeou em sua horta. Ele cresceu e se tornou uma árvore, e as aves do céu fizeram ninhos em seus ramos” (Lucas 13:18-19). Se quiser entender a Bíblia você deve buscar as respostas na própria Bíblia, e é o que vamos fazer aqui para entender o significado da árvore e das aves em seus ramos.
Se você aprendeu que a semente de mostarda transformada em árvore é uma figura positiva do avanço do evangelho no mundo, é melhor passar uma borracha nessa ideia. Alguns acrescentam que os pássaros aninhados seriam os líderes religiosos instalados nos diferentes ramos da cristandade para promover o crescimento da igreja. Apesar de uma explicação assim ser tão conveniente e confortável para eles quanto aos ninhos, eles deveriam se envergonhar de aplicar a si mesmos uma posição que o Senhor rejeitou. Ele disse: “As aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Lucas 9:58).
Para começar, um pé de mostarda cresce no máximo até um metro e vinte. Ninguém chamaria isso de árvore e é improvável que pássaros façam ninhos em seus ramos. Portanto Jesus está falando de uma mutação, um crescimento anormal do Reino na terra. Na Bíblia a árvore é uma figura da humanidade, que tem raízes na terra e não no céu. No capítulo 4 de seu livro o profeta Daniel compara a grande árvore do sonho de Nabucodonosor ao próprio rei, cujos domínios se estenderiam por toda a terra. Mas aquela árvore seria derrubada, pois seu crescimento anormal não vinha de Deus, e sim do homem.
Na Bíblia encontramos também o significado das aves do céu. Na Parábola do Semeador Jesus diz que as “aves” que comem as sementes caídas à beira do caminho representam Satanás. Apocalipse 18:2 diz que Babilônia “se tornou habitação de demônios e antro de todo espírito imundo, antro de toda ave impura e detestável”. Você já sabe que Babilônia é a futura cristandade apóstata, aquela que deveria se apresentar como noiva de Cristo, mas surpreende o apóstolo João ao surgir na visão como uma meretriz.
Portanto Jesus está dizendo que, nas mãos dos homens, o Reino teria um crescimento anormal. A história da cristandade mostra que os ramos dessa árvore sempre serviram para aninhar “toda ave impura e detestável”. A árvore não é uma imagem positiva do crescimento do evangelho, e sim do futuro sombrio do testemunho de Deus na terra. Este se tornaria uma aberração nas mãos dos homens e abrigaria líderes da pior espécie. Paulo os chama de “falsos apóstolos, obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo” e acrescenta que “o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam que são servos da justiça” (2 Co 11:14-15).
E a massa fermentada? Nos próximos 3 minutos você verá que terá de passar uma borracha também no que aprendeu sobre isto.
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A massa fermentada
Mais uma vez Jesus faz uma previsão negativa a respeito do crescimento anormal do testemunho de Deus, hoje representado pela cristandade. Agora é a vez de você passar uma borracha no que aprendeu dos teólogos e líderes religiosos sobre o significado da massa fermentada. Jesus volta a fazer uma pergunta seguida da resposta na forma de uma figura: “A que compararei o Reino de Deus? É como o fermento que uma mulher misturou com uma grande quantidade de farinha, e toda a massa ficou fermentada” (Lucas 13:20-21).
Assim como aconteceu com a semente de mostarda, que cresceu além do normal até virar uma aberração, a massa também representa um crescimento da cristandade no mundo, porém causado por fermento. Tente encontrar na Bíblia um significado positivo para “fermento” e você não achará. Desde sua primeira menção no livro de Êxodo, até a última na carta de Paulo aos Gálatas, o fermento sempre tem conotação negativa.
Em Êxodo 12:15 Deus ordenava: “No primeiro dia tirem de casa o fermento, porque quem comer qualquer coisa fermentada, do primeiro ao sétimo dia, será eliminado de Israel”. Ao falar da má doutrina que contamina, Paulo escreveu em Gálatas 5:9: “Um pouco de fermento leveda toda a massa”, usando a mesma expressão de 1 Coríntios 5 ao tratar do pecado moral e do “fermento da maldade e da perversidade” (1 Co 5:8). Nos evangelhos o Senhor alertou os discípulos: “Cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus” e eles “entenderam que não estava lhes dizendo que tomassem cuidado com o fermento de pão, mas com o ensino dos fariseus e dos saduceus” (Mt 16:6-12).
Considerando que o crescimento na igreja se dá pelo ensino da Palavra, e que o fermento é comparado à má doutrina, como interpretar o papel da mulher na parábola? Entendendo os limites que Deus coloca ao ministério das mulheres. Em 1 Coríntios 14, a ordem para que as mulheres permaneçam caladas nas igrejas é chamada de “mandamento do Senhor” (1 Co 14:33-37). Em 1 Timóteo, Paulo explica a razão: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a mulher” (1 Tm 2:11-14).
Deus diz que a mulher é suscetível ao engano e por isso não deve ensinar. Além disso, no Éden, Deus colocou inimizade entre a serpente e a mulher, o que a transformou no alvo predileto do diabo. Outra pista para entendermos o que significa a mulher que introduz fermento na massa é o costume católico e protestante de dizer que “a igreja ensina”, quando a igreja, por ser a noiva, jamais deveria ensinar. A igreja aprende; quem ensina são os dons dados à igreja. Antes de você me chamar de machista ou avesso às mulheres é melhor conferir se é isso mesmo que a Bíblia diz. Se for, o melhor a fazer é se submeter ao ensino do Espírito Santo de Deus.
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Contexto
Você já começou a conversar com alguém e depois descobriu que falavam de assuntos diferentes? Isto ocorre por usarmos palavras com significados diferentes para diferentes pessoas. Se você pedir uma receita à cozinheira, ela pensará em comida, mas se pedir ao médico ele pensará em medicamento. Se o macaco de seu carro tiver problemas, não peça a opinião de seu amigo veterinário. Vá direto a um mecânico ou loja de autopeças. Portanto, ao ler a Bíblia, procure saber o contexto para não entender errado o que está sendo falado.
A primeira edição da Bíblia em inglês, publicada em 1535 por iniciativa do Rei Tiago da Inglaterra, ou “King James”, trazia um prefácio de Miles Coverdale que dizia: “Será de grande auxílio para entenderes as Escrituras se atentares, não apenas para o que é dito ou escrito, mas de quem e para quem, com que palavras, em que época, onde, com que intenção, em quais circunstâncias, e considerando o que vem antes e o que vem depois”.
Este cuidado deve ser aplicado na pergunta que o homem faz a Jesus: “Senhor, serão poucos os salvos?”. Para os judeus, “salvação” costumava representar a libertação das mãos dos inimigos para habitar em paz na terra prometida sob o reino do Messias. Você não encontra no Antigo Testamento o conceito celestial de salvação. A esperança de Israel era na terra, não no céu, e para o cristão os exemplos de salvação do Antigo Testamento servem como sombras e figuras das coisas celestiais, pois a esperança da igreja é celestial, não terrena.
Portanto, a pergunta deste judeu pode muito bem ser traduzida assim: “Senhor, serão poucos os que sobreviverão para entrar no Reino?”. Jesus diz: “Esforcem-se para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lucas 13:24). Considerando que o Reino em seu estado atual é uma mistura de joio e trigo, apenas os esforçados conseguem suportar a oposição. Para estes a porta é estreita por causa das dificuldades, mas volto a dizer que a resposta de Jesus não está se referindo à salvação da alma e à entrada no céu.
Se você entender que para um judeu é isto que significa “salvação”, entenderá também que muitos erram ao interpretar como salvação eterna passagens como Mateus 24, que diz que “aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24:13). O trecho fala claramente de sobrevivência, de estar vivo por ocasião do estabelecimento do Reino do Messias na terra. Por isso naquele capítulo é explicado que “se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria”, ou “seria salvo”, como dizem outras versões (Mt 13:22).
Nos próximos 3 minutos Jesus fala do estabelecimento do Reino.
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Primeiros e últimos
Após falar da persistência necessária para se entrar no Reino que os judeus tanto esperavam, Jesus continua em forma de parábola: “Quando o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês ficarão do lado de fora, batendo e pedindo: ‘Senhor, abre-nos a porta... comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas’. Mas ele responderá: ‘Não os conheço, nem sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês, que praticam o mal!’ Ali haverá choro e ranger de dentes, quando vocês virem Abraão, Isaque e Jacó e todos os profetas no Reino de Deus, mas vocês excluídos. Pessoas virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e ocuparão os seus lugares à mesa no Reino de Deus” (Lucas 13:25-29).
Jesus fala de um evento na terra, não no céu. A referência aos quatro pontos cardeais não faria sentido no céu. A igreja, que nos evangelhos era um mistério a ser revelado mais tarde a Paulo, não aparece nestas parábolas. Mas em seu testemunho exterior a cristandade representa hoje o Reino, onde o joio e o trigo caminham lado a lado. Após o arrebatamento da igreja restarão aqui judeus e gentios, alguns dos quais se converterão e serão introduzidos vivos no Reino de mil anos após passarem por grande tribulação. Mas os que hoje escutam o evangelho da graça e não creem ficarão na terra após o arrebatamento, sem uma segunda chance de conversão. Só quem nunca escutou poderá se converter.
O mundo está cheio de cristãos que praticam sua religião, participam da ceia comendo do pão e bebendo do cálice, e escutam os pregadores da Palavra que falam em nome de Jesus. São estes que irão argumentar: “Comemos e bebemos contigo, e ensinaste em nossas ruas” (Lucas 13:26). Porém o Senhor não os reconhecerá. Eles são o joio, que é muito semelhante ao trigo, mas cujas folhas não acompanham o sol, como o trigo faz. Participar de cerimônias cristãs não faz de você um cristão. Comer do pão e beber do cálice não é garantia de que sua comunhão seja com Cristo. A característica dos falsos discípulos é que eles praticam o mal, já que a religião não dá uma vida nova para se viver para Deus.
Mas quem são os “últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos” (Lucas 13:30)? Os primeiros a receberem os oráculos de Deus foram os judeus, porém seu legalismo os privou de apreciar a graça imerecida. Já os gentios que se converterem durante os tempos de tribulação que precedem o estabelecimento do Reino na terra, serão os primeiros a apreciar a gratuidade da salvação sem as amarras do legalismo e do cerimonial judeu.
Nos próximos 3 minutos Jesus continua sua jornada para Jerusalém, onde deve morrer.
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A hipocrisia dos fariseus
No versículo 31 deste capítulo 13 de Lucas vemos os fariseus preocupados com a segurança de Jesus. Eles se aproximam dele e avisam: “Saia e vá embora daqui, pois Herodes quer matá-lo” (Lucas 13:31). O que os fariseus provavelmente queriam era que Jesus se escondesse e parasse de criticá-los em público. Herodes talvez quisesse o mesmo, pois temia que Jesus fosse a ressurreição de João Batista, ao qual havia mandado decapitar. Tirá-lo de circulação poderia resolver o problema do rei e dos religiosos judeus sem precisar matá-lo, já que isto geraria um protesto da multidão que o seguia.
Por natureza, todo ser humano deseja o mesmo: livrar-se de Jesus. Alguns tentam se livrar dele combatendo tudo que tenha qualquer ligação com o cristianismo. É o caso de países islâmicos avessos ao evangelho. Outros tentam ser indiferentes, mas não conseguem calar suas consciências quando colocam a cabeça no travesseiro. Mas existe ainda um terceiro tipo, que é o mais ladino e perigoso, e é esta a posição tanto de Herodes quanto dos fariseus neste momento. Eles adotam a estratégia: “Se não puder lutar contra seu inimigo, junte-se a ele”.
Hoje muitos fazem isso. Apesar de não terem qualquer simpatia por Jesus, fingem que são seus aliados para atingir seus interesses mesquinhos. São aqueles que vestem um manto de cristianismo apenas quando convém. Você já deve ter ouvido falar de políticos ateus que, depois de eleitos, dizem “Graças a Deus” e passam a cortejar os que se dizem cristãos. Herodes, que nem judeu era e sim usurpador do trono, capacho dos romanos e inimigo do povo de Deus, aparece aqui numa conveniente aliança com os religiosos judeus contra Jesus.
Mas Jesus conhece a hipocrisia deles e manda um recado a Herodes: “Vão dizer àquela raposa: ‘Expulsarei demônios e curarei o povo hoje e amanhã, e no terceiro dia estarei pronto’. Mas, preciso prosseguir hoje, amanhã e depois de amanhã, pois certamente nenhum profeta deve morrer fora de Jerusalém!” (Lucas 13:32-33). Nenhum religioso ou governante iria interferir naquilo que já estava determinado por Deus. Jesus não fala de três dias literais, mas de um testemunho completo, o que é sempre representado por dois ou três. Ele completaria o tempo do seu testemunho à nação incrédula de Israel, morreria e ressuscitaria conforme estava determinado. Jerusalém acrescentaria à sua lista de profetas assassinados o nome do próprio Messias e Rei de Israel.
Em função dessa rejeição, nos próximos 3 minutos Jesus lamenta o destino de Jerusalém.
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Não me verão mais
Muitos questionam a divindade de Jesus, apesar de a Bíblia afirmar isso em muitos lugares. Mas existem passagens que dão a entender que Jesus é Divino, porém de forma indireta. É o caso do primeiro versículo da carta aos Gálatas, no qual Paulo apresenta suas credenciais dizendo que foi “enviado, não da parte de homens... mas por Jesus Cristo e por Deus Pai” (Gl 1:1). O leitor atento irá perceber que ele fala de duas categorias: a dos que são meramente humanos e outra, na qual estão “Jesus Cristo e... Deus Pai”.
Nos dois últimos versículos de Lucas 13 também é possível perceber a divindade e a eternidade de Jesus, quando ele diz: “Jerusalém, Jerusalém, você, que matas os profetas e apedrejas os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram!” (Lucas 13:34). Como poderia Jesus ter tentado reunir o povo de Israel sob suas asas se ele tinha apenas trinta anos de idade e seu ministério público só três anos? A resposta é que ele fez isto ao longo da história de Israel, pois Jesus é o mesmo Jeová que encontramos no Antigo Testamento.
A parábola dos lavradores maus, contada por Jesus em Mateus 21, vai se tornando realidade. Nela o dono da vinha envia seus servos para buscar seus frutos, porém “a um espancaram, a outro mataram e apedrejaram o terceiro”, fazendo o mesmo com os que vieram depois. “Por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: ‘A meu filho respeitarão’. Mas quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo e tomar a sua herança’. Assim eles o agarraram, lançaram-no para fora da vinha e o mataram” (Mt 21:35-39).
Em nosso capítulo está chegando a hora de cumprir-se a última parte da parábola: “O Reino de Deus será tirado de vocês e será dado a um povo que dê os frutos do Reino” (Mt 21:43). “O Reino de Deus será tirado de vocês” equivale às palavras “Eis que a casa de vocês ficará deserta” do último versículo de Lucas 13. A casa dos judeus realmente está deserta até hoje e o judaísmo é uma religião apenas de formas e rituais, porém sem Deus. O Reino seria dado a outros e é esta a situação atual. Porém, o que muitos cristãos não percebem é que Deus voltaria a tratar com os judeus no futuro e que um remanescente de judeus fiéis receberia a Cristo quando ele viesse estabelecer seu reino visível na terra. É disto que Jesus fala aqui: “Eu lhes digo que vocês não me verão mais até que digam: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’” (Lucas 13:35).
Nos próximos 3 minutos Jesus cura, exalta e recompensa.
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Cura, exaltação e recompensa
O capítulo 14 de Lucas começa com o convite de um fariseu para Jesus comer em sua casa. Na sequência vemos três coisas que caracterizam alguém que se aproxima de Jesus na condição que Deus espera do pecador: cura, exaltação e recompensa. Estas três coisas estão representadas na cura de um homem hidrópico, na exaltação do que se coloca em último lugar e na recompensa dos que sabem que “há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20:35).
Tão logo Jesus entra na casa do fariseu duas coisas ficam evidentes. Ali está um homem hidrópico, isto é, que sofre de inchaço no corpo, uma figura perfeita do pecador inchado de pecados e incapaz de curar-se a si mesmo. Jesus conhece os pensamentos dos fariseus e doutores da lei que estão ali e lança uma pergunta desafiadora: “É permitido ou não curar no sábado?” (Lucas 14:3). Eles obviamente acham que curar no sábado é uma transgressão da Lei e no capítulo anterior o dirigente da sinagoga havia declarado isto. Porém agora até mesmo os juízes de Israel ficam em silêncio. Aqueles homens que sabiam a Lei de cor e salteado não podem apontar uma passagem sequer em que a guarda da lei anule a misericórdia e graça de Deus.
Jesus cura o homem e ainda revela o que há no coração daqueles que exigem que você guarde a Lei para ser salvo. Anote aí para nunca mais se esquecer: Todo religioso legalista é um hipócrita. Ele vai dizer o que você deve fazer enquanto ele mesmo só finge que faz. Jesus já havia mostrado isso quando falou dos fariseus no Evangelho de Mateus, dizendo que eles “não praticam o que pregam”, pois “Atam fardos pesados e os colocam sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos não estão dispostos a levantar um só dedo para movê-los. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens” (Mt 23:3-5).
Depois de curar e ordenar que o homem saísse dali, Jesus vira-se para os fariseus e faz outra pergunta que eles também não ousam responder, pois a resposta denunciaria a hipocrisia deles: “Se um de vocês tiver um filho ou um boi, e este cair num poço no dia de sábado, não irá tirá-lo imediatamente?” (Lucas 14:5). No capítulo anterior, após curar a mulher encurvada e ser repreendido pelo chefe da sinagoga, Jesus revelou a hipocrisia deles com uma pergunta semelhante: “Hipócritas! Cada um de vocês não desamarra no sábado o seu boi ou jumento do estábulo e o leva dali para dar-lhe água?” (Lucas 13:15). Naquele caso era o cuidado com as necessidades, agora é o cuidado com a vida. O legalismo sempre irá querer impedir a graça de Deus de salvar o pecador.
Nos próximos 3 minutos veja o que Cristo pensa da exaltação própria.
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Humilhados exaltados
Ainda na casa do fariseu, Jesus observa como os convidados escolhem os lugares de honra à mesa, e conta uma parábola: “Quando alguém o convidar para um banquete de casamento, não ocupe o lugar de honra, pois pode ser que tenha sido convidado alguém de maior honra do que você. Se for assim, aquele que convidou os dois virá e lhe dirá: ‘Dê o lugar a este’. Então, humilhado, você precisará ocupar o lugar menos importante. Mas quando você for convidado, ocupe o lugar menos importante, de forma que, quando vier aquele que o convidou, diga-lhe: ‘Amigo, passe para um lugar mais importante’. Então você será honrado na presença de todos os convidados. Pois todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado” (Lucas 14:7-11).
A exaltação própria é uma forma de hipocrisia, por você achar que é mais importante do que é na realidade. Jesus denuncia a hipocrisia dos fariseus, que queriam parecer justos, quando não passavam de “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mt 23:27). Se você achar que é bom o suficiente para merecer o céu ainda não entendeu que “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”, e não os bons (1Tm 1:15). Se você se considera pecador, há esperança para você. Caso se considere melhor que um marginal, o mais provável é que ele seja salvo e você não.
O pecado de Satanás foi a auto exaltação. Antes de enganar Eva, mentindo que ela seria “como Deus” (Gn 3:5), ele já tinha enganado a si mesmo, ao dizer: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo” (Is 14:13-14). Imagine um ser criado querer ficar acima de seu Criador! A resposta de Deus foi: “Às profundezas do Sheol você será levado, irá ao fundo do abismo!” (Is 14:15).
Por causa do pecado todos somos hipócritas e mentirosos por natureza, sempre buscando a exaltação própria à custa de outros e por necessidade de autoafirmação. Quando alguém se torna religioso, como os fariseus que nesta passagem, corre o risco de ser identificado com a lista das características dos religiosos nos últimos dias da cristandade em 2 Timóteo 3:1-5. Ela termina com “Aparência de piedade”. Você pode enganar muita gente querendo parecer fiel e santo, mas não vai enganar a Deus que tudo vê. É por isso que “todo o que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado” (Lucas 14:11). Na primeira turma está Satanás. Na última, os verdadeiros crentes.
Aqui Jesus falou dos convidados. Nos próximos 3 minutos ele fala do anfitrião.
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Graça produz graça
Nos últimos 3 minutos, Jesus falou dos convidados que exaltavam a si mesmos buscando os melhores lugares. Agora o recado é para o anfitrião: “Quando você der um banquete ou jantar, não convide seus amigos, irmãos ou parentes, nem seus vizinhos ricos; se o fizer, eles poderão também, por sua vez, convidá-lo, e assim você será recompensado” (Lucas 14:12). Ao entregar o seu Filho à morte por pecadores, Deus não esperava encontrar merecedores. Ele não convidaria os melhores do mundo, os mais inteligentes, os mais versados na Bíblia ou os ganhadores do Prêmio Nobel para fazerem parte de sua família. Em 1 Coríntios, Paulo descreve como são os que Deus escolhe:
“Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele... para que, como está escrito: ‘Quem se gloriar, glorie-se no Senhor’” (1 Co 1:26-31).
Nesta vida tudo é conseguido com esforço, trabalho e estudos, menos a salvação eterna que você só pode receber por graça, não por mérito. A razão é que toda a glória deve ser exclusivamente de Deus. Ele é o anfitrião que convida a todos para cearem em sua casa, mas nem todos querem. Mais adiante neste capítulo 14 de Lucas o Senhor irá falar do homem rico que obriga “Os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos” (Lucas 14:21) a participarem de sua ceia, pois se dependesse deles não iriam querer. O significado do termo “graça” é “favor imerecido”, e não existe outro meio de você ser salvo a menos que aceite o convite de Deus para crer em Cristo, que morreu em seu lugar para que você pudesse ser salvo.
Jesus instrui o anfitrião com estas palavras, mostrando assim o comportamento que espera de quem foi salvo por graça: agir também em graça sem esperar por recompensa. Ele diz: “Quando você der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os mancos, e os cegos. Feliz será você, porque estes não têm como retribuir. A sua recompensa virá na ressurreição dos justos” (Lucas 14:13-14). Os chamados “justos” aqui não recebem esta designação por algo que tenham feito, mas por terem sido justificados por Deus. Eles participarão da “ressurreição da vida” (Jo 5:29), e é de ressurreição que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Duas ressurreições
Ao falar da atitude que caracteriza um salvo por Cristo, que é a de dar sem esperar receber algo em troca, Jesus complementa dizendo que “a sua recompensa virá na ressurreição dos justos” (Lucas 14:14). Muitos ficam confusos com esta passagem e mais ainda com a de João 5:28-29, que diz: “Está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”. Afinal, a salvação é por graça ou por mérito para quem faz o bem?
“Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus”, diz Paulo em Efésios 2:8. Quando uma afirmação assim esbarra em outra que parece contradizê-la, devemos nos lembrar de que não existem contradições na Palavra de Deus. Então o que significaria a expressão “Os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida”? Simples. Uma pessoa salva por graça fica capacitada por Deus a fazer o bem, e assim é identificada. Ela receberá uma recompensa ou galardão pelo bem que Deus a capacitou fazer quando ressuscitar para a vida eterna. As demais pessoas também ressuscitarão, mas para serem condenadas.
Apesar de ambas as ressurreições aparecerem juntas neste versículo, isto não significa que ocorrerão simultaneamente. A Bíblia ainda fala de um terceiro tipo de ressurreição, a de pessoas como Lázaro que ressuscitaram em seus velhos corpos e depois morreram outra vez. Não era uma ressurreição permanente e só acontecia com quem já era convertido antes de morrer. Deus não iria ressuscitar um incrédulo para dar a impressão de que existiria uma segunda chance de se converter após a morte. Até hoje Jesus é o único que ressuscitou em um corpo glorioso como o que os salvos terão. É o que vemos em 1 Coríntios 15:
“Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo as primícias [ou o primeiro] dentre aqueles que dormiram. Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem. Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder” (1 Co 15:20-23).
Portanto existem duas ressurreições — a dos salvos e a dos perdidos — mas a primeira ocorrerá em diferentes estágios, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Três estágios
As passagens que falam genericamente de ressurreição usam a expressão “ressurreição dos mortos”, mas a ressurreição de Cristo e dos salvos é tratada como “ressurreição dentre os mortos”. Isto é para indicar que Jesus foi tirado de entre os que estavam mortos. A mesma expressão “dentre os mortos” é usada também para a ressurreição dos salvos por Cristo, pois os corpos dos demais permanecerão na morte até o juízo final. Por isso Paulo escreve em Filipenses 3:11 que aguardava “a ressurreição dentre os mortos”.
A ressurreição dos salvos é chamada de “primeira ressurreição” em Apocalipse 20:5, “ressurreição da vida” em João 5:29 e “ressurreição dos justos” em Lucas 14:14. Mas ela acontece em pelo menos três estágios: primeiro Cristo, que é “as primícias”, cuja ressurreição revela o que acontecerá também com os que crerem nele. Hoje existe apenas um Homem de carne e ossos no céu, porém depois da ressurreição dos mortos em Cristo e a transformação dos vivos no arrebatamento da igreja, todos os crentes que morreram e hoje estão em espírito no céu, receberão seus corpos à semelhança do que aconteceu com Jesus.
Então o céu será habitado por milhões de seres humanos em corpos de carne e ossos, porém diferentes deste corpo natural, pois poderão viver na eternidade, quando o tempo deixar de existir. Mas serão corpos tangíveis, e não espíritos, como Jesus explicou depois de ressuscitar: “Vejam as minhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo! Toquem-me e vejam; um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho” (Lucas 24:39). Ele surgiu em um aposento com as portas fechadas e comeu peixe com os discípulos.
A ressurreição de Jesus é a primeira fase da primeira ressurreição; a ressurreição dos que morreram em Cristo e a transformação dos vivos no arrebatamento é a segunda fase. A terceira fase seria a ressurreição dos mártires da grande tribulação que virá após o arrebatamento da igreja. Alguns acreditam que os santos do Antigo Testamento ressuscitarão nesta fase, porém eu creio que eles estejam entre os “mortos em Cristo” (1Ts 4:16) ressuscitados no arrebatamento. Poderá haver ainda mais uma ressurreição ou transformação dos corpos no final do milênio, pois devemos nos lembrar de que a terra no reinado de Cristo será habitada por pessoas vivas em corpos naturais e que ainda haverá morte. Sugiro a leitura das passagens que falam da primeira, segunda e terceira fases da primeira ressurreição em 1 Coríntios 15, 1 Tessalonicenses 4:15-18 e Apocalipse 14:13.
Nos próximos 3 minutos veremos a segunda ressurreição, mas espero sinceramente que você não esteja entre os que participarão dela.
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A segunda ressurreição
Até aqui vimos que “Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo as primícias dentre aqueles que dormiram. Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem” (1 Co 15:20-21).
Essa “primeira ressurreição” (Ap 20:5) inaugurada por Jesus ocorre em pelo menos três estágios, até que todos os salvos estejam em corpos gloriosos, imortais e eternos à semelhança do corpo de carne e ossos que Jesus tem hoje nos céus. Mas, e os perdidos? Estes “ressuscitarão para serem condenados” (Jo 5:29), conforme vemos em Apocalipse 20:11-15:
“Depois vi um grande trono branco e aquele que nele estava assentado. A terra e o céu fugiram da sua presença, e não se encontrou lugar para eles. Vi também os mortos, grandes e pequenos, de pé diante do trono, e livros foram abertos. Outro livro foi aberto, o livro da vida. Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros. O mar entregou os mortos que nele havia, e a morte e o Hades entregaram os mortos que neles havia; e cada um foi julgado de acordo com o que tinha feito. Então a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. O lago de fogo é a segunda morte. Se o nome de alguém não foi encontrado no livro da vida, este foi lançado no lago de fogo”.
Ao contrário do que alguns acreditam o juízo final não é para ver quem será salvo e quem será condenado. Naquele dia os salvos já estarão guardados como “trigo” recolhido no celeiro de Deus. O resto é palha, como João Batista revela em Mateus 3:12 ao falar que Jesus “traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga”. Mas não pense que isto signifique a destruição literal dos ímpios, pois Jesus afirma que a vida natural que há neles não termina, revelando que no lago de fogo “o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:48).
E você, é trigo para Deus ou palha para o fogo? Sua decisão de crer em Jesus e ser salvo para participar da primeira ressurreição só pode ser tomada em vida. Quem morre sem salvação nunca poderá ser salvo. Não queira pagar para ver, pois o preço é eterno “e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:48).
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Judeus, gentios e Igreja
Um dos que estão com Jesus à mesa diz: “Feliz será aquele que comer no banquete do Reino de Deus” (Lucas 14:15). Certamente será um privilégio participar dos benefícios do Reino de Deus quando este for estabelecido pelo Messias na terra. Mas será que aquele homem e os outros estavam cientes de que o Rei estava bem ali com eles e convidando cada um a desfrutar desse privilégio?
Hoje, apesar de exilado no céu, Jesus continua convidando a muitos, não do modo como fez com os judeus para serem meros súditos de seu reino, mas para desfrutarem de um privilégio ainda mais elevado: o de filhos de Deus e membros do corpo de Cristo, a Igreja, que é a sua Noiva. Esta reinará com ele, e não sob ele como acontecerá com Israel. Você pode até ter boa intenção ao chamar a Cristo de “Rei”, mas as escrituras nunca o chamam de Rei da Igreja. Para a Igreja ele é o Noivo, um privilégio muito mais elevado do que o prometido a Israel.
Depois de ressuscitar e subir ao céu, Jesus sentou-se no trono de seu Pai, mas quando ele estiver sentado em seu próprio trono a sua promessa para os que forem salvos por ele vai muito além de apenas “comer no banquete do Reino de Deus”. Em Apocalipse 3:21 ele diz: “Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono”. Chamar a Cristo de Rei da Igreja é depreciar o amor que ele tem por sua Noiva, a Igreja, e colocá-la no mesmo nível de Israel, o povo terreno de Deus.
Na atual dispensação os chamados por Cristo são tirados dentre judeus e gentios para formarem a Igreja. Judeus, gentios e Igreja são as três classes de pessoas que hoje Deus enxerga no mundo, como o apóstolo Paulo revela nesta passagem: “Não se tornem motivo de tropeço, nem para judeus, nem para gregos, nem para a igreja de Deus” (1 Co 10:32). Para o cristão individualmente Jesus não é Rei, é Senhor, e para a Igreja coletivamente ele é Noivo e Cabeça do corpo.
Mas será que estes detalhes são tão importantes assim? Na Bíblia tudo é importante, mas é evidente que ninguém precisa saber estas coisas para ser salvo. Basta ter fé em Cristo, que é a única condição para se receber o perdão dos pecados e a justificação, que significa ser considerado justo aos olhos de Deus. O convite para estar com Cristo e com o Pai nos céus continua a ser feito neste mesmo capítulo 14 de Lucas, quando Jesus conta uma parábola para mostrar que as pessoas dão mais importância aos bens, trabalho e família do que a estarem na companhia de Cristo. É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Tudo pronto!
Em resposta ao comentário do homem que disse que felizes seriam os que participariam do banquete no Reino de Deus, Jesus conta uma parábola: “Certo homem estava preparando um grande banquete e convidou muitas pessoas. Na hora de começar, enviou seu servo para dizer aos que haviam sido convidados: ‘Venham, pois tudo já está pronto’” (Lucas 14:16-17). Assim é o convite que Deus faz — um convite que só precisa ser aceito, pois “tudo já está pronto”. Não faria sentido você ser convidado para um banquete e no convite vir escrito: “Traga sua própria comida, bebida, prato, talheres e guardanapos”.
Pois é exatamente isto que muitas religiões fazem: convidam você para o banquete de Deus, porém mandam que você traga a comida. Pregam uma salvação por obras, dizendo que você precisa se esforçar, sofrer e trabalhar para ser salvo. Mas quem dá o banquete é que deve cuidar de tudo. Assim é a salvação; Deus não exige de você coisa alguma para ajudar na obra que custou a vida de Jesus.
Deus pode dizer “tudo está pronto” porque há dois mil anos Jesus bradou na cruz: “Está consumado!” (Jo 19:30). Horas antes em sua oração ao Pai “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29) disse: “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer” (Jo 17:4). Portanto não resta obra alguma para você fazer para ser salvo e nem para permanecer salvo. A salvação é obra de Deus, do princípio ao fim. Romanos 11:6 diz que “se é pela graça, já não é mais pelas obras; se fosse, a graça já não seria graça”.
Agora imagine você ser convidado para um jantar e o anfitrião dizer: “O jantar está pronto!”. Você toma seu lugar à mesa e são trazidas as travessas, todas contendo apenas bilhetes com os dizeres “Promessa de Arroz”, “Promessa de Feijão”, “Promessa de Frango”, Etc. Então seu amigo avisa: “Sirva-se à vontade, mas só no final você saberá se vai ganhar comida, pois isso irá depender do modo como se comportar à mesa”. Loucura, não é mesmo?
Mas é isto que ensinam as religiões que convidam você para sentar-se à mesa do banquete, mas não lhe dão certeza alguma de que será alimentado antes de o banquete terminar. Elas ensinam que você é salvo pela fé, porém precisará perseverar para permanecer salvo. A menos que você seja um hipócrita, nunca terá certeza se está se esforçando o suficiente. Será que você está à mesa de um banquete assim ou do banquete de Deus, que diz: “Tudo está pronto”?
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Desculpas
“Certo homem estava preparando um grande banquete e convidou muitas pessoas. Na hora de começar, enviou seu servo para dizer aos que haviam sido convidados: ‘Venham, pois tudo já está pronto’. Mas eles começaram, um por um, a apresentar desculpas. O primeiro disse: ‘Acabei de comprar uma propriedade, e preciso ir vê-la. Por favor, desculpe-me’. Outro disse: ‘Acabei de comprar cinco juntas de bois e estou indo experimentá-las. Por favor, desculpe-me’. Ainda outro disse: ‘Acabo de me casar, por isso não posso ir’” (Lucas 14:18-20).
O homem da parábola é Deus; ele quer ter comunhão com suas criaturas e para isso envia o convite através do Espírito Santo, aqui representado pelo “Servo”. Na mesma parábola em Mateus 22 você encontra “servos”, no plural, pois ali fala daqueles que levam o convite do evangelho. Os primeiros convidados são pessoas de posses. Um tem bens materiais, outro, juntas de bois para executar seu trabalho, e outro uma esposa para constituir família. Fica claro que eles acham que já têm tudo, portanto não necessitam do favor do anfitrião.
Você pode aplicar esta parábola a qualquer pessoa que coloque bens, trabalho e família acima da salvação e comunhão com Deus, mas no sentido profético estes convidados são os judeus, um povo agraciado por Deus com uma terra, um serviço a Deus e uma família. Mesmo assim os judeus desprezaram o convite para “comer no banquete no Reino de Deus” (Lucas 14:15). Quando o servo voltou e relatou as desculpas dadas por cada um “o dono da casa irou-se” (Lucas 14:21). Essa ira é a mesma do capítulo 10 de Hebreus, que fala do que espera por aqueles que desprezaram a graça de Deus. Ali diz:
“Quem rejeitava a lei de Moisés morria sem misericórdia... Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: ‘A mim pertence a vingança; eu retribuirei’; e outra vez: ‘O Senhor julgará o seu povo’” (Hb 10:28-31).
Esse “seu povo” que o Senhor julgará de forma tão severa é o povo judeu, pois primeiro Jesus “veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1:11). Mais adiante na parábola, ao se referir aos primeiros convidados, o dono da casa diz que “Nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete” (Lucas 14:24). Mas nem por isso Deus dá por encerrado seu convite de graça, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Uma casa cheia
Diante da recusa dos convidados “o dono da casa irou-se e ordenou ao seu servo: ‘Vá rapidamente para as ruas e becos da cidade e traga os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos’. Disse o servo: ‘O que o senhor ordenou foi feito, e ainda há lugar’. Então o senhor disse ao servo: ‘Vá pelos caminhos e valados e obrigue-os a entrar, para que a minha casa fique cheia. Eu lhes digo: nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete’” (Lucas 14:21-24).
Os primeiros convidados são os judeus que rejeitaram o Messias. Então o “dono da casa” envia o servo em caráter de urgência para “as ruas e becos da cidade em busca dos pobres, os aleijados, os cegos e os mancos”. Estes são os discípulos e outros israelitas que seguiam a Jesus e seriam perseguidos e mortos pelos judeus, como foram Estêvão e Tiago (At 7:59; 12:2), e também os que Saulo entregava às autoridades. Todos os apóstolos, exceto João, sofreriam mortes violentas. A eles cabe muito bem o que é dito na carta aos Hebreus a respeito dos mártires do Antigo Testamento: “O mundo não era digno deles” (Hb 11:38).
O que os caracterizava — e também caracteriza hoje todo aquele que crê em Jesus — era o fato de serem “pobres”, pois nada possuíam para dar em troca da salvação. Também eram “aleijados” ou incapacitados de qualquer boa obra para Deus. Eram “cegos”, pois por si mesmos nunca teriam encontrado o Caminho, e “mancos” porque sozinhos seriam incapazes de andar nele. Você é assim?
Após estes serem introduzidos no grande banquete o servo avisa que “ainda há lugar”. Se antes ele tinha saído pelas “ruas e becos da cidade”, agora é fora do arraial de Israel que o servo busca pessoas. Seu senhor diz: “Vá pelos caminhos e valados e obrigue-os a entrar, para que a minha casa fique cheia”. Estes são os gentios, estrangeiros e estranhos às alianças de Deus com Israel. Devemos nos lembrar de que o servo é uma figura do Espírito Santo, o único que pode realmente “forçar” alguém a crer em Jesus. Mas não é por força brutal, porém com uma irresistível influência que exerce na alma. “Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor” (Zc 4:6).
É de grande consolo saber que Deus quer que sua casa fique cheia, o que nos remete a Colossenses 1:18 que diz que o objetivo é que Cristo “em tudo tenha a supremacia” ou o primeiro lugar. Portanto no final será maior o número de salvos por Cristo do que de perdidos, Fica fácil você entender isto se considerar que os bilhões de abortos, crianças e mentalmente incapazes têm seu lugar garantido nos “muitos aposentos” (Jo 14:2) da casa do Pai graças ao sangue derramado na cruz.
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Graça e Discipulado
Ao reparar na multidão que o segue, Jesus lhes diz: “Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. E aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:25-27). Ele não diz que “não pode ser salvo”, mas que “não pode ser meu discípulo”.
Um pouco antes neste capítulo Jesus falou da graça de Deus, o favor imerecido que recebem os que aceitam o convite para a grande ceia. Depois de tamanha revelação de graça não é de estranhar que uma multidão decida segui-lo. Porém graça e discipulado são coisas distintas, apesar de conectadas. Neste capítulo nós vemos primeiro a graça e depois o discipulado, nesta ordem.
Graça é o que Deus oferece ao pecador; é a manifestação do amor livre e desimpedido de Deus que não pede nada em troca. Ele deu o seu Filho para morrer na cruz e agora oferece uma salvação que é totalmente de graça. Ela só pode ser recebida pelos que reconhecem nada ter para dar em troca, como os pobres, aleijados, cegos e mancos da parábola. Deus não está oferecendo uma barganha, mas um presente para aqueles que ele convida a crerem em Jesus.
O discipulado genuíno é resultado da graça na vida de quem crê em Jesus. Se a graça é a ação, discipulado é a reação manifestada na forma de uma sincera gratidão e interesse pelas coisas de Deus. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19). O discípulo está sempre desejoso de aprender mais desse amor, como Maria, irmã de Marta, que “ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo-lhe a palavra” (Lucas 10:39). Portanto é a graça que gera o discipulado, e não o contrário.
Porém muitos invertem esta ordem e se declaram discípulos por interesse no favor de Deus. Quem professa o nome de Cristo dizendo-se “cristão” acaba se colocando na condição de discípulo, seja convertido ou não. Enquanto seguir a Jesus significava ouvir belos discursos, ter o pão cotidiano e ser curado das enfermidades, muitos o seguiam. Mas ao descobrirem o que realmente era ser discípulo a reação destes foi: “‘Dura é essa palavra. Quem consegue ouvi-la?’ Daquela hora em diante muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo” (Jo 6:60, 66).
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Discipulado
Muitos dos que se diziam discípulos de Jesus estavam mais interessados nos benefícios do que nas responsabilidades e acabaram decidindo abandoná-lo. “Jesus perguntou aos doze: ‘Vocês também não querem ir?’ Simão Pedro lhe respondeu: ‘Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus’” (Jo 6:67-69).
Pedro e os outros mostraram que não seguiam a Jesus pelas vantagens materiais e transitórias, mas por ele ser quem era e pela promessa da vida eterna. Porém, para mostrar que podem existir falsos discípulos, Jesus revelou: “‘Não fui eu que os escolhi, os doze? Todavia, um de vocês é um diabo!’ Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, que, embora fosse um dos doze, mais tarde haveria de traí-lo” (Jo 6:70-71).
Existem também aqueles que são discípulos de homens, achando que isso faz deles discípulos de Cristo. É claro que na Bíblia encontramos discípulos de profetas como João Batista, mas na atual dispensação vemos todos os cristãos como discípulos de Cristo apenas. Paulo alertou os irmãos em Éfeso que depois de sua partida surgiriam homens em busca de seguidores. Ele disse: “Dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos” (At 20:30).
Ele também chamou de mundanos ou carnais aqueles que seguiam a homens, mesmo dentre os verdadeiros servos de Deus: “Pois quando alguém diz: ‘Eu sou de Paulo’, e outro: ‘Eu sou de Apolo’, não estão sendo mundanos? Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um” (1 Co 3:4-5). O equivalente moderno disso seria dizer “eu sou de Lutero”, “eu de Calvino” ou “eu do pastor fulano”.
Nos evangelhos Jesus revela algumas características de um verdadeiro discípulo: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos” (Jo 8:31). Ter prazer na Palavra de Deus e procurar aprender cada vez mais é uma das marcas de um verdadeiro discípulo. Outra é dar fruto para Deus, como explicou Jesus ao dizer: “Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos” (Jo 15:8). Mas para dar fruto, primeiro você precisa estar morto, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Mais que a própria vida
Na parábola da grande ceia alguns rejeitam o convite por suas vidas girarem em torno dos bens, trabalho e família. A respeito da família Jesus diz que “se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs... não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:26). Então ele chega ao extremo de dizer que o amor à própria vida não pode ficar acima do amor a ele. “Se alguém vem a mim e ama... sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:26).
Pense bem no que ele diz. Quem teria o direito de exigir tal coisa? Quem poderia dizer a você que nada e ninguém pode ser mais amado do que ele? Quem poderia esperar que você o amasse mais que a própria vida? A história está cheia de ditadores que exigiram isso de seus seguidores, mas eles morreram e foram esquecidos. Somente uma Pessoa poderia, de fato e de direito, pedir tal coisa: o próprio Deus Criador.
Pois Jesus não é nada menos que o Criador e mantenedor de todas as coisas. Você só existe por causa dele e para ele, e sem ele nada em sua vida fará sentido. Quando pensamos nos milhões que foram martirizados por sua fé em Jesus entendemos o que significa amar mais a ele do que a própria vida. Afinal, ele nos amou mais do que a si mesmo quando se entregou como sacrifício por nós numa cruz assumindo nossa culpa.
Então ele diz: “Aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27). Isto nada tem a ver com os que saem pelas estradas carregando uma cruz para pagar promessas ou receber uma bênção. Com Deus não se faz barganha. Mas há quem interprete o “carregar sua cruz” como algum sofrimento que ajudaria a limpar seus pecados. Porém o único sofrimento que podia nos purificar foi o de Jesus nas três horas de trevas em que foi julgado e condenado por Deus na cruz em nosso lugar, morrendo ali depois de ter sido feito pecado por nós.
Carregar a própria cruz significa considerar-se morto para a vontade própria para seguir a Jesus. Há dois mil anos quem visse um condenado carregando uma cruz a caminho da execução certamente diria: “Aquele já era; está morto!”. Ninguém iria perder tempo perguntando a ele se queria comprar um campo, uma junta de bois ou casar-se. A cruz era morte certa.
Nos próximos 3 minutos Paulo fala dos que foram crucificados com Cristo e não eram os dois ladrões.
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Crucificados com Cristo
Até aqui vimos que ser discípulo não significa necessariamente estar salvo e ter seus pecados perdoados. Muitos dos que se declaram “cristãos” ou discípulos de Cristo nunca se converteram. Do mesmo modo há cristãos verdadeiramente salvos pela fé, mas que estão longe de serem verdadeiros seguidores de Jesus na vida diária, preferindo seguir suas próprias vontades. É desses salvos de mãos vazias que Paulo fala em 1 Coríntios 3:15: “Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo”.
Jesus falou também de cada um “carregar sua cruz”, e não estava falando da cruz que ele levou, e sim de cada um considerar-se morto para esta vida. Os Gálatas haviam se esquecido da cruz neste sentido e tentavam manter-se salvos por seus próprios esforços. Por isso Paulo pergunta: “Não foi diante dos seus olhos que Jesus Cristo foi exposto como crucificado?” (Gl 3:1). Se Cristo tinha sido crucificado, e com ele o nosso velho homem, como eles podiam achar que iriam melhorar a carne por meio de regras?
Para mostrar que é só pela fé que somos salvos e andamos “em novidade de vida” (Rm 6:4), Paulo afirma: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 2:20). Em seguida ele mostra a posição que o crente deve ocupar: “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos” (Gl 5:24), portanto “que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6:14).
Cristo foi crucificado por mim, eu fui crucificado com Cristo, crucifiquei minha carne com suas paixões e desejos, o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo. Cinco vezes a cruz é aplicada aqui ao cristão, e todas elas mostram por que devo tomar sobre mim a cruz para seguir a Jesus. Isto é, devo considerar-me morto para minha vida a fim de ter uma vida de real comunhão com Deus seguindo a Cristo como discípulo.
Agora você entendeu o que significam as palavras de Jesus, quando diz: “Aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27). E se o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo, seria correto eu viver em função das coisas terrenas prometidas por alguns pregadores? Veja a resposta nos próximos 3 minutos.
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Crucificado para o mundo
Se você foi a Cristo em busca de uma vida mansa e próspera neste mundo provavelmente foi enganado pelas promessas de um pregador do evangelho da prosperidade. O mesmo falso evangelho foi pregado pela serpente no Éden e oferecia tudo o que “parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e... desejável para... se obter discernimento” (Gn 3:6). Foram estas também as tentações usadas pelo diabo ao sugerir que Jesus transformasse pedras em pão, para agradar seu “paladar”; ao encher seus “olhos” com todas as riquezas do mundo; e ainda insistir que saltasse do ponto mais alto do templo para fazer prova de Deus.
Em sua primeira epístola João nos exorta a não irmos atrás das coisas terrenas como as prometidas pelos pregadores da prosperidade. Ele diz: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provêm do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 Jo 2:15-17).
Esses pregadores apoiam suas promessas principalmente no Antigo Testamento, pois para Israel, Deus prometeu sim prosperidade terrena, mas nunca bênçãos celestiais. Para a igreja, porém, a exortação é que “tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos” (1Tm 6:8).
Pregadores assim certamente prosperam pregando um falso evangelho que apela para o ventre, a ganância e a ambição do ser humano. Paulo já alertava contra isso, ao dizer que “há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo. Quanto a estes, o seu destino é a perdição, o seu deus é o estômago e têm orgulho do que é vergonhoso; eles só pensam nas coisas terrenas. A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:18-20).
Portanto esqueça a ideia de que seguir a Cristo seja fácil em um mundo cujo príncipe é Satanás. Você sofrerá oposição e perseguições, e ainda será zombado quando não conseguir viver aquilo que prega. É o que veremos nos próximos 3 minutos, ao considerarmos o custo do discipulado.
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A torre
Enquanto a salvação é pela fé e de graça a todo aquele que crê em Jesus, segui-lo na prática tem um custo. Jesus dá dois exemplos disso, um que fala de construir uma torre e outro de preparar-se para a batalha. A exortação é para que você saiba que segui-lo tem um preço. Ele diz: “Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele, dizendo: ‘Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar’” (Lucas 14:28-29).
Uma torre é alta e visível. Assim é o crente que constrói uma torre: o seu testemunho será evidente a todos os homens e ele ficará numa posição estratégica e privilegiada para perceber a aproximação do inimigo e discernir suas intenções. Ele também discernirá qual é a vontade de Deus e como reagir a cada ataque. Esse discernimento é um privilégio do crente espiritual, isto é, que não apenas foi salvo por Cristo e tem o Espírito Santo, mas que é guiado por este mesmo Espírito e não pela carne.
O apóstolo Paulo escreve que “quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? Nós, porém, temos a mente de Cristo” (1 Co 2:15-16). Ou seja, o crente que anda em comunhão com Deus e com a sua Palavra não somente sabe discernir a vontade de Deus, como também as intenções de Satanás e dos incrédulos. Mas para os incrédulos o crente espiritual é um verdadeiro enigma. Não conseguem compreendê-lo.
Um bom exemplo de ‘construtor de torres’ você encontra no rei Uzias. Ele “construiu torres fortificadas em Jerusalém” e “também construiu torres no deserto” (2 Cr 26:9-10). Ele não construiu apenas em Jerusalém, mas também no deserto para detectar os inimigos quando ainda estivessem longe das portas da cidade. E quais são as ‘portas’ desta nossa ‘cidade’ que é a alma ou coração? Nossos olhos e ouvidos. Deus os colocou numa ‘torre’, isto é, no ponto mais alto do nosso corpo.
Do poeta grego Cícero ao britânico Shakespeare, muitos autores já usaram a frase “Os olhos são a janela da alma”, mas nos evangelhos você encontra o Senhor Jesus mostrando que não apenas os olhos, mas também os ouvidos são as principais vias de acesso ao nosso coração. É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Visão estratégica
Olhos e ouvidos são as vias de acesso ao coração, mas eles por si só não são capazes de decidir. É você, por meio de sua vontade, quem decide o que entra ou não, como aconteceu com os judeus que recusaram a verdade: “De má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os curaria” (Mt 13:15).
Se os judeus fecharam olhos e ouvidos à verdade, Eva os abriu à mentira. Ela não só deu ouvidos à serpente, como também “viu que a árvore... era atraente aos olhos” (Gn 3:6). As tentações do inimigo continuam chegando através de nossos olhos e ouvidos, e cabe a cada um discernir e controlar o que deve ou não passar por nossas ‘portas’. O apóstolo Pedro escreveu: “Sejam sóbrios e vigiem. O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar” (1 Pe 5:8).
No Antigo Testamento há uma figura de como agir. Neemias conta o que fez depois que os judeus reconstruíram os muros de Jerusalém: “Eu lhes disse: As portas de Jerusalém não deverão ser abertas enquanto o sol não estiver alto” (Ne 7:1-3). O sol a pino não deixa sombra, e assim deve ser o nosso cuidado. Enquanto existir alguma sombra de dúvida sobre algo ou alguém é prudente você não abrir as portas do seu coração.
Às vezes você será tentado a abrir para aquilo que é lícito, que não aparenta risco e parece até poder ajudar. Quando os inimigos dos judeus viram que os muros reconstruídos já não tinham brechas, enviaram a Neemias uma proposta: “Venha, vamos nos encontrar num dos povoados da planície de Ono”, mas ele respondeu: “Estou executando um grande projeto e não posso descer. Por que parar a obra para ir encontrar-me com vocês?” (Ne 6:2-3).
Se você também estiver “executando um grande projeto” não irá dar ouvidos aos convites dos ímpios. O primeiro Salmo diz: “Feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Ao contrário, sua satisfação está na lei do Senhor, e nessa lei medita dia e noite. É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham” (Sl 1:1-3). E por falar em água, nos próximos 3 minutos voltaremos ao rei Uzias para ver o que mais ele construiu além das torres.
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Cisternas
Não basta construir torres para vigiar o inimigo; é preciso também cavar cisternas, como fez o rei Uzias, que “construiu torres fortificadas em Jerusalém e... cavou muitas cisternas, pois ele possuía muitos rebanhos na Sefelá e na planície. Ele mantinha trabalhadores em seus campos e em suas vinhas, nas colinas e nas terras férteis, pois gostava da agricultura” (2 Cr 26:9-10). Algumas traduções trazem a palavra “poços”, mas a passagem realmente fala de “cisternas” ou reservatórios de água.
Efésios 5:26 diz que Cristo purificou sua Noiva, a Igreja, “pelo lavar da água mediante a palavra”, e em várias outras passagens a água aparece como figura da Palavra de Deus. Costumamos instalar fechaduras, travas e alarmes para vivermos seguros, mas quem poderia pensar que é cavando “muitas cisternas” que podemos “ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef 6:11)? “Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti”, diz o Salmo 119:11. O Salmo 19 diz que essa Palavra “é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes” (Sl 19:7).
A água das cisternas do rei servia para manter seus rebanhos, além dos “trabalhadores em seus campos e em suas vinhas, nas colinas e nas terras férteis” (2 Cr 26:10). O primeiro Salmo diz que aquele que tem prazer na Palavra de Deus e medita nela é como “árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham” (Sl 1:1-3). Somos aconselhados a beber dois litros de água por dia para vivermos saudáveis, mas quanto da Palavra realmente bebemos? Não estou falando de volume, pois é possível ler a Bíblia inteira em menos de cem horas corridas sem aproveitar uma vírgula. Estou falando de saborear e digerir a Palavra até ela impregnar nossos pensamentos.
Proteção, vigor, sabedoria, refrigério e muito mais você encontra na Palavra de Deus se as “cisternas” de seu coração estiverem sempre cheias dessa água pura. Os 176 versículos das 22 estrofes que compõem o Salmo 119 mencionam a Palavra de Deus. Cada estrofe começa com o nome de uma letra do alfabeto hebraico, e uma antiga lenda dizia que Davi usava este Salmo como uma cartilha para ensinar o alfabeto e a sabedoria de Deus a seu filho Salomão. Faz sentido. Eu aprendi a ler com uma cartilha chamada “Caminho Suave” e não posso imaginar um caminho mais suave do que a Palavra de Deus para aprender a ler, falar e pensar os pensamentos de Deus.
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Guerra espiritual
Uma torre é defensiva, para você vigiar contra ataques e defender sua fé sem atacar pessoas. Mas existe uma esfera onde o cristão é soldado em uma batalha contra seres espirituais. “Pois a nossa luta não é contra pessoas, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6:12). E é de guerra que Jesus fala aqui.
“Qual é o rei que, pretendendo sair à guerra contra outro rei, primeiro não se assenta e pensa se com dez mil homens é capaz de enfrentar aquele que vem contra ele com vinte mil? Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz” (Lucas 14:28-32).
Esta guerra não é travada com decibéis de berros prepotentes cuspidos num microfone, nem brandindo a Bíblia de forma ameaçadora ou caminhando de um lado para o outro num palco, como um cão bravio que marca território. É de joelhos que o crente luta em oração e sujeição a Deus, mantendo o domínio do próprio corpo. Paulo escreve que “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Pois Deus não é Deus de desordem, mas de paz... Sendo assim, não corro como quem corre sem alvo, e não luto como quem esmurra o ar. Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado” (1 Co 14:32-33; 9:26-27).
Reprovado é quem começa a edificar ou sai a batalhar confiando na própria inteligência, oratória e poder de persuasão. Sem oração, leitura da Palavra e comunhão com Deus você viverá uma farsa. Muitos que um dia caminharam bem hoje só fingem caminhar. A respeito da torre, Jesus diz: “Se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele” (Lucas 14:29). E sobre a guerra contra o inimigo de nossas almas, ele avisa: “Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz” (Lucas 14:32).
É num espírito de renúncia, inclusive daquilo que achamos que temos de bom em nós, que o crente segue a Jesus. Não é o pedreiro quem fornece o material da construção onde trabalha, e nem o soldado vai à guerra vestindo a farda que ele mesmo costurou. “Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:32).
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Sal
Neste capítulo 14 de Lucas aprendemos da bondade daquele que convida para o grande banquete, mostrando que a salvação é pela graça e não por mérito. Também vimos que, se por um lado a salvação é de graça, por outro o discipulado exige empenho daquele que deseja seguir a Jesus. Para ser um discípulo de Cristo há quatro coisas que você deve considerar.
Cristo deve ocupar o primeiro lugar em seu coração, acima de todas as coisas e pessoas, e acima até de sua própria vontade. Além disso, você deve carregar sua própria cruz, isto é, considerar-se morto para si mesmo e saber que o mundo morreu para você e você para o mundo. Você também deve calcular o custo de seguir a Jesus e buscar nele os recursos para edificar um testemunho forte, visível e vigilante. Finalmente você deve estar ciente de quais são os seus verdadeiros inimigos e saber que não vem de você a força para combatê-los.
Este capítulo nos dá os ingredientes da receita da salvação e comunhão com Deus, e como toda receita não poderia faltar o sal, só que neste caso o sal é o próprio discípulo. É disto que Jesus fala nos últimos dois versículos de Lucas 14: “O sal é bom, mas se ele perder o sabor, como restaurá-lo? Não serve nem para o solo nem para adubo; é jogado fora” (Lucas 14:34-35).
O sal serve para dar sabor aos alimentos e também para preservá-los. Onde não há refrigeradores a carne é salgada para não estragar. O discípulo é o sal da terra: sua presença aqui não apenas revela o sabor do cristianismo autêntico, mas também evita que o mal se alastre. Mas isto não significa que o cristão deva usar de força bruta ou ingerência nos assuntos deste mundo para conter o mal. Sua simples presença e exemplo causam essa influência. Quantas vezes você chegou numa roda de amigos que falavam bobagens e eles mudaram de assunto quando viram você?
O modo como o cristão se comunica também deve ser equilibrado — nem pouco, nem muito sal. “O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal” (Cl 4:6). Sem comunhão pessoal com Deus você corre o risco de perder o sabor, isto é, virar um sal que não salga. Um sal assim não serve nem para adubar a terra. O mundo pode não gostar de um cristão fiel, mas certamente irá desdenhar de um fracassado na fé. Jesus termina dizendo: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça” (Lucas 14:35). Você tem ouvidos para ouvir o que vem de Deus, ou vive de escutar a opinião pública como os fariseus dos próximos 3 minutos?
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Cobertos de folhas
O capítulo 15 do Evangelho de Lucas começa dizendo que “todos os publicanos e pecadores estavam se reunindo para ouvi-lo. Mas os fariseus e os mestres da lei o criticavam: ‘Este homem recebe pecadores e come com eles’” (Lucas 15:1-2). Publicanos eram judeus coletores de impostos que traíam seu povo por trabalharem para o invasor romano. Pecadores eram judeus com um comportamento contrário à Lei de Moisés, como prostitutas, homossexuais e ladrões ou mesmo samaritanos e gentios.
Deus havia dado a Lei a Israel como o padrão divino para o homem, provando assim ser ele incapaz de viver segundo este padrão. Isto porque “quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente. Pois aquele que disse: ‘Não adulterarás’, também disse: ‘Não matarás’. Se você não comete adultério, mas comete assassinato, torna-se transgressor da Lei” (Tg 2:10-11). Portanto a Lei só serve para condenar, nunca para salvar. Mas os fariseus e outros religiosos judeus seguiam exteriormente a Lei como meio de salvação, vivendo de aparências.
Assim como fizeram nossos ancestrais no jardim do Éden, o ser humano junta “folhas de figueira para cobrir-se” (Gn 3:7). Ele tenta parecer exteriormente que está com seu pecado coberto pelas “folhas” da justiça própria. Folhas são o que embelezam a árvore, porém se esta não der frutos para nada serve. No Evangelho de Marcos você encontra o que Jesus fez à árvore sem frutos: “Vendo à distância uma figueira com folhas, foi ver se encontraria nela algum fruto. Aproximando-se dela, nada encontrou, a não ser folhas, porque não era tempo de figos. Então lhe disse: ‘Ninguém mais coma de seu fruto’. E os seus discípulos ouviram-no dizer isso... De manhã, ao passarem, viram a figueira seca desde as raízes” (Mc 11:13-20).
Quando Adão e Eva perceberam que Deus vinha ao encontro deles “esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim” (Gn 3:8). Ao perceber que suas “folhas” de justiça própria não serão suficientes aos olhos de Deus o ser humano corre para a religião, a reunião das “as árvores do jardim”, acreditando que camuflado entre as “folhas” de outros fique oculto aos olhos de Deus. Então ele passa a considerar-se melhor que aqueles que não têm uma religião ou cujos pecados são evidentes, como fazem os fariseus aqui. Nos próximos 3 minutos os fariseus pensam estar ofendendo Jesus, mas o que dizem é verdade.
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O que você acha de si mesmo?
Os fariseus criticam Jesus, dizendo: “Este homem recebe pecadores e come com eles” (Lucas 15:2). Apesar de estarem cientes do que é o pecado aberto e notório, eles não são capazes de perceber a imundície que há em seus corações sob o manto da religião. Jesus não se defende da acusação dos fariseus, pois eles têm razão: “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores” (1Tm 1:15). “O Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes”, explica Jesus, e completa: “Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento” (Lucas 19:10; Mc 2:17).
“Todos os publicanos e pecadores estavam se reunindo para ouvi-lo” (Lucas 15:1). Por que Jesus exerce tamanha atração sobre os marginalizados? Porque eles reconhecem seus pecados, sabem que estão perdidos e buscam em Jesus o perdão e a cura de suas almas. Portanto esqueça aquela conversa religiosa de que Deus salva os bons, pois ninguém é bom segundo o padrão de Deus que é o seu Filho Jesus. A menos que você se enxergue na descrição do capítulo 3 da carta aos Romanos, não irá querer se juntar aos publicanos e pecadores que se aproximam de Jesus. Ali diz:
“Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer. Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas línguas enganam. Veneno de serpentes está em seus lábios. Suas bocas estão cheias de maldição e amargura. Seus pés são ágeis para derramar sangue; ruína e desgraça marcam os seus caminhos, e não conhecem o caminho da paz. Aos seus olhos é inútil temer a Deus” (Rm 3:10-13).
Se você é do tipo que processaria por difamação alguém que dissesse estas coisas de você, então ainda não entendeu o que é ser pecador. E se acha que é capaz de ser salvo — ou permanecer salvo — por sua obediência, bondade e perseverança, ainda não entendeu como é horrendo o pecado aos olhos de Deus. Tão maligno que nada menos que o sangue do próprio Filho de Deus seria capaz de extirpar tal mancha. Será que há dois mil anos você estaria entre aqueles publicanos e pecadores que buscavam por Jesus, ou você estaria entre os religiosos de boa reputação que se escandalizavam com aquilo?
Nos próximos 3 minutos vamos falar de música, literatura e cinema.
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Entretenimento bíblico?
“Então Jesus lhes contou esta parábola: Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la?” (Lucas 15:3-4). Quando me converti costumava ouvir um hino cuja letra dizia: “As noventa e nove, deixou no aprisco”. Tempos depois fui descobrir que as “noventa e nove” foram deixadas no deserto, não no aprisco. Será que você já se deu conta do quanto é influenciado por músicas, livros e filmes de temas bíblicos? Pois é, nem tudo o que é vendido como “cristão” ou “evangélico” é bom.
Sabe aquele calendário com Jesus de cabelos longos e olhos azuis? Jesus não era europeu e a Bíblia diz que é vergonhoso para o homem ter cabelos longos. Em um desenho animado do “filho pródigo” um cãozinho corre ao encontro do filho, salta em seus braços e lambe seu rosto. No Evangelho é o pai quem corre, o abraça e o beija. Em um livro para crianças Saulo aparece caindo do cavalo, mas Saulo não caiu do cavalo quando ia a Damasco prender cristãos — ao menos não literalmente.
Noé se esforça para acionar o mecanismo que fecha a porta da arca em um filme cristão, mas na Bíblia quem fecha a porta é Deus. Em Hollywood Sansão é o mais musculoso, mas na Bíblia ninguém sabia de onde vinha sua força, portanto ele não era uma montanha de músculos. Em um filme sobre o Evangelho Judas se joga no fogo do altar para morrer. A Bíblia diz que ele se enforcou e que seu corpo caiu de grande altura. Quantos reis magos você vê no presépio? A Bíblia não diz que eram três e eles não visitaram um bebê numa manjedoura, e sim um menino de dois anos.
Os escritores, ilustradores, roteiristas, artistas e diretores contratados para produzir obras comerciais com temas cristãos geralmente são incrédulos. Com eles você aprende sobre figurinos e arquitetura antiga, mas não a Verdade. Ao contrário, você será influenciado por seus erros, pois para atrair público eles precisam inventar personagens e enredos que induzem você a acreditar que aquilo está na Bíblia, quando não está. O homem natural “não é capaz de entendê-las [as coisas de Deus], porque elas são discernidas espiritualmente” (1 Co 2:14). Portanto nem tudo o que traz o selo “evangélico” ou “cristão” é bom. Não se deixe levar pela arte de incrédulos e pela sabedoria do mundo quando o assunto é a Palavra de Deus.
Nos próximos três minutos saiba quem são as noventa e nove ovelhas perdidas.
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Nos ombros do Pastor
João, em seu Evangelho, revela uma mudança radical no modo de Deus tratar com Israel. Ali Jesus diz: “Aquele que entra pela porta [do aprisco] é o pastor das ovelhas. O porteiro abre-lhe a porta, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora. Depois de conduzir para fora todas as suas ovelhas, vai adiante delas, e estas o seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10:2-4).
As ovelhas de Israel estavam protegidas por um aprisco, “sob a custódia da lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada” (Gl 3:23). Jesus era o único Pastor credenciado a entrar, chamar as ovelhas e sair seguido por elas. A partir daí as ovelhas não seriam mais mantidas juntas pelos muros do aprisco legal, mas o Pastor seria o imã que as atrairia para si, mantendo-as em um só rebanho e sob um só Pastor, não mais em um aprisco.
Neste capítulo 15 de Lucas o Senhor conta uma parábola: “Qual de vocês que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai atrás da ovelha perdida, até encontrá-la? E quando a encontra, coloca-a alegremente sobre os ombros e vai para casa. Ao chegar, reúne seus amigos e vizinhos e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha ovelha perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se” (Lucas 15:4-7).
As noventa e nove ovelhas representam Israel por meio dos fariseus que aqui criticam Jesus. Elas não são deixadas no aprisco, mas em um lugar deserto, longe dos cuidados e da proteção do Pastor. Enquanto isso ele sai em busca do pecador, a ovelha perdida que está balindo desesperadamente por socorro. Ao encontrá-la o Pastor se alegra duas vezes: uma quando a coloca sobre os ombros e outra ao chegar à sua casa e convocar seus amigos para se alegrarem com ele.
Repare que do momento em que a ovelha perdida é encontrada até chegar ao lar do Pastor ela não pisa o chão. Ao longo do caminho é transportada sobre os fortes ombros do Pastor. Ainda que ela experimente os rigores do sol, do vento e da chuva, nada poderá fazê-la cair, pois é o Pastor quem a mantém segura. Se você já creu em Jesus como seu Salvador, quem é que está neste momento conduzindo você ao lar celestial? Suas próprias pernas? Pense nisto da próxima vez em que lhe vierem dúvidas se chegará ou não ao seu destino; se poderá ou não perder sua salvação.
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Retocado ou perdoado?
A parábola da ovelha perdida termina dizendo que “haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se” (Lucas 15:7). Não que os “noventa e nove justos” não tenham de que se arrepender, pois em Romanos 3:10 diz que “não há nenhum justo, nem um sequer”. Eles acham que não precisam. Sua religião de regras ajuda a aplacar suas consciências, como acontece com qualquer religião que dê aos seus membros uma lista de regras.
Em religiões assim as pessoas adotam um mesmo vocabulário, modo de vestir, corte de cabelo e outros costumes como uma “lei” a ser seguida para se obter a salvação. A conversão pregada ali é de uma mudança apenas exterior, de um modo de vida para outro, algo que até um ateu é capaz de fazer se seguir à risca os “Doze Passos” dos “Alcoólicos Anônimos”. Não são novas criaturas, apenas velhas criaturas religiosas e retocadas.
Quando pessoas de religiões assim conseguem cumprir todas as regras sentem-se justas e corretas como os fariseus, e passam a apontar o dedo para quem não pertence à sua religião e não anda segundo as mesmas regras. Quanto maior o número de ‘ímpios’ para os quais puderem apontar o dedo, maior será o sentimento de satisfação e justiça própria.
Em lugares assim as ovelhas não são alimentadas pela Palavra do bom Pastor, mas alimentam-se umas às outras com os chamados ‘testemunhos’. Como ‘quem conta um conto aumenta um ponto’, muitos desses testemunhos são exagerados para impressionar. “Tal pessoa conta detalhadamente suas visões, e sua mente carnal a torna orgulhosa” (Cl 2:18). É desses que Paulo escreveu, ao dizer que “não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para as fábulas” (2Tm 4:3-4).
Enquanto isso, os pecadores que reconhecem seu estado arruinado e clamam por perdão são socorridos e transportados pelo Pastor na jornada rumo ao céu. Eles estão cientes de que em si mesmos não existe qualquer fidelidade ou perseverança que os faça chegar lá, mas é Cristo quem “Os manterá firmes até o fim, de modo que... serão irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1:8). Em que classe de pessoas você está: na dos religiosos retocados ou dos pecadores perdoados?
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Uma moeda nas trevas
Depois da parábola da ovelha perdida o Senhor conta outra que também termina em alegria. Ele diz: “Ou, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende uma candeia, varre a casa e procura atentamente, até encontrá-la? E quando a encontra, reúne suas amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrem-se comigo, pois encontrei minha moeda perdida’. Eu lhes digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15:8-10).
Se antes a perdida era uma ovelha rebelde e capaz de caminhar aonde não devia, agora é uma moeda, um objeto inanimado como o pecador morto e incapaz. Se, por um lado, somos tão incapazes quanto uma moeda de sairmos da perdição causada pelo pecado herdado de Adão, por outro usamos dessa natureza para pecar, entregando nossos corpos à “escravidão à impureza e à maldade que leva à maldade” como “escravos do pecado” (Rm 6:19-20). Andamos praticando pecados como a ovelha desgarrada porque somos pecadores como a moeda perdida.
O trabalho do Pastor foi ir pessoalmente até a ovelha em sua condição perdida e carregá-la nos ombros de volta à sua casa. Jesus desceu da glória dos céus, assumiu a forma humana e foi às últimas consequências para salvar a ovelha perdida. “Embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Fp 2:6-8).
Se no Pastor vemos o Filho de Deus carregando o peso da salvação de sua ovelha, na mulher vemos os sentimentos do Espírito Santo empenhado na busca daquilo que não quer perder. Para encontrar sua moeda ela acende uma luz, e é pela ação do Espírito que “a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4) revela ao pecador sua condição de perdido e necessitado. Mas a história não ficaria completa se o Senhor contasse apenas estas duas parábolas que falam do papel do Filho de Deus e do Espírito Santo na salvação do pecador. Falta ainda uma terceira Pessoa da Trindade, o Pai, feliz por avistar ao longe o filho perdido que caminha de volta ao lar.
É o que iremos ver nos próximos 3 minutos na parábola do filho pródigo. Ou será que deveríamos chamá-la de “Parábola do Pai pródigo”?
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Parábola do Pai pródigo
As três parábolas que abrem o capítulo 15 do Evangelho de Lucas mostram respectivamente o papel do Filho, do Espírito Santo e do Pai na salvação de uma alma. Mas a terceira parábola, a do filho pródigo, é a que mais toca nossos sentimentos por apresentar não uma ovelha ou moeda, mas o pecador de carne e ossos colhendo o fruto amargo de sua rebelião. Esta é a mensagem mais óbvia passada pela parábola, a de que devemos nos arrepender e voltar para a casa do Pai. Mas existe outra mensagem menos óbvia que só percebemos quando analisamos o contexto.
Perceba que o Senhor não conta estas parábolas para os publicanos e pecadores, mas para os religiosos fariseus. Se na primeira parábola eles eram as noventa e nove ovelhas que não se achavam perdidas, nesta eles são representados pelo filho mais velho, o “bom rapaz” da história. O que temos nesta parábola são dois perdidos. Um por ser mau, baladeiro e gastador; outro por ser bom, caseiro e controlado. Independentemente de seu modo de vida, todo ser humano é um pecador perdido.
Talvez você pergunte a razão do título desta mensagem ser “O Pai pródigo” e não “O filho pródigo”. Se considerarmos que “pródigo” significa “gastador”, podemos dizer que o pai da parábola é bem mais pródigo que o filho rebelde. Por quê? Preste atenção no que ele faz: “Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao seu pai: ‘Pai, quero a minha parte da herança’. Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles” (Lucas 15:11-12). Ao entregar ao filho pródigo a sua parte da herança ele automaticamente fica sem nada, pois o que restou pertence ao outro filho. O próprio pai declara isso ao filho mais velho: “Tudo o que tenho é seu” (Lucas 15:31).
Agora pense no que fez Deus, “aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós” (Rm 8:32). “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). O filho pródigo “desperdiçou os seus bens” (Lucas 15:13). E Deus, com que gastou o seu maior tesouro, o seu Filho amado? Com pecadores como eu e você; com ladrões, prostitutas e corruptos da pior espécie. Será possível encontrar alguém tão pródigo e “mão aberta” quanto Deus?
Nos próximos 3 minutos vamos acompanhar as desventuras do filho pródigo em seu caminho de volta à casa do pai.
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Perdido ou achado?
Eu e você sabemos o que significa ser um filho pródigo numa terra distante, pois nascemos assim, pecadores e longe de Deus por causa de nosso pecado e rebelião. Sem perceber, passamos boa parte da vida na “escravidão da decadência” (Rm 8:21) e obrigados a servir a alguém que nos priva até da comida destinada aos porcos. Esse alguém é o diabo.
Mas nem todos se consideram perdidos até perderem as coisas que realmente valorizam nesta vida, como aconteceu com o jovem da parábola. Foi só depois de perder o dinheiro e os amigos que ele caiu em si. Alguns, porém, nem perdendo tudo se reconhecem perdidos. Ou adotam uma postura de um otimismo cego, acreditando que tudo vai dar certo, ou se desesperam sem enxergar uma solução. O problema é que não consideram uma terceira opção: Deus.
O jovem da parábola reconhece seu estado arruinado. Ao invés de tentar recuperar o que perdeu ou mergulhar de vez na lama dos porcos, ele pensa nos privilégios de se viver na casa do pai: “Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome!” (Lucas 15:17). Então ele toma uma decisão: “Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados” (Lucas 15:18-19). Arrependido, envergonhado e humilhado, ele está pronto para voltar.
“Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou” (Lucas 15:20). O que o filho faz? Diz a seu pai para tratá-lo como um empregado? De jeito nenhum. Ele sabe que não é digno de ser chamado filho, mas mesmo assim é recebido como um filho arrependido, e não como um empregado. Ele diz: “Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho” (Lucas 15:21).
Porém o pai diz aos servos: “Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e comemorar. Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado” (Lucas 15:22). A expressão “foi achado” mostra que não foi o filho quem se encontrou, e sim o pai nunca desistiu de procurá-lo. Neste exato momento Deus está procurando por você e quer dizer a seu respeito: “Foi achado!”. Você já foi achado ou ainda nem se deu conta de que está perdido?
Nos próximos 3 minutos o pai corre para o abraço.
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Correndo para o abraço
Quando você assiste a um filme não imagina como irá terminar. Se soubesse, não perderia seu tempo assistindo. Cabe ao roteirista, que escreve o enredo, surpreendê-lo introduzindo novos personagens, trazendo à tona segredos ocultos e criando reviravoltas para entreter o público. Você acha que Deus seria menos criativo que esses roteiristas?
Existe um plano e existe um roteiro nos estúdios de Deus, e nada acontece por acidente. Você não pode julgar o filme enquanto não assistir até o fim, quando se dá o desfecho. Então todos os fios da meada, que pareciam soltos, se encontram para formar uma perfeita trama. O “filme” que Deus escreveu ainda não terminou. Ele foi escrito antes da criação do tempo, quando foi também ensaiado pela Divindade.
Seu tema é o amor, e seus principais protagonistas — o Pai, o Filho e o Espírito Santo — já ensaiavam o verbo “amar” desde eternamente. No mundo Jesus orou ao Pai dizendo: “Me amaste antes da criação do mundo” (Jo 17:24). Esse amor era tanto, que outros personagens foram convidados a participar do “filme”, e é aí que nós entramos, como o filho perdido da parábola. No enredo existe um “novilho cevado”, que é morto, figura do “Cordeiro sem mancha e sem defeito”, preparado de antemão para ser sacrificado, “conhecido antes da criação do mundo, [e] revelado nestes últimos tempos” (1 Pe 1:19-20).
Se alguém me pergunta quando foi que Deus começou a me amar, respondo que ele nunca começou, pois sempre me amou. Afinal, como teria preparado na eternidade um Cordeiro para morrer por mim antes que eu existisse? Como teria escolhido a mim e a outros “antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.”? “Em amor nos predestinou — também antes da criação do mundo — para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo” (Ef 1:4-5).
Eu nunca teria chegado ao Pai se ele não tivesse me enxergado de longe — de uma eternidade de distância — e corrido me abraçar, como ao filho da parábola. “Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou e beijou” (Lucas 15:20). Não fui eu quem tirou meu “trapo imundo” (Is 64:6), “mas o pai disse aos seus servos: ‘Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e matem-no. Vamos fazer uma festa e comemorar. ‘“ (Lucas 15:22-23).
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Desprezando a bondade
Enquanto o filho pródigo era recebido com festa, “o filho mais velho... chamou um dos servos e perguntou-lhe o que estava acontecendo... ‘Seu irmão voltou, e seu pai matou o novilho gordo, porque o recebeu de volta são e salvo’. O filho mais velho encheu-se de ira, e não quis entrar. Então seu pai saiu e insistiu com ele. Mas ele respondeu ao seu pai: ‘Todos esses anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos. Mas quando volta para casa esse seu filho, que esbanjou os teus bens com as prostitutas, matas o novilho gordo para ele!’” (Lucas 15:25-30).
O filho mais velho não é diferente do pródigo. Um queria gastar a herança com prostitutas, o outro com os amigos, e para eles o pai só servia para financiar a diversão. Porém, enquanto um entra na casa arrependido, o outro não. Ele se revolta por achar que merecia receber algo pelo tempo de serviço ao pai. Mas o pai responde que, por graça, tudo já pertencia a ele. “Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu” (Lucas 15:31).
O filho pródigo estava perdido por ser mau, gastador e baladeiro. O filho mais velho estava perdido por ser bom, trabalhador e caseiro, as mesmas qualidades que o fizeram recusar a graça do pai e a negar-se a entrar em sua casa. Alguém que confie em sua vida correta como meio de salvação não entende a magnitude do sacrifício de Cristo na cruz e não crê na eficácia de seu sangue derramado para nos purificar de nossos pecados. Ele acredita ser capaz de purificar-se a si mesmo.
Nunca me esquecerei da visita que fiz com um irmão à tia dele, que estava numa cama há anos, vítima de uma doença deformante. Assim que ele terminou de falar da graça de Deus e da salvação pela fé, a mulher se alterou. Extremamente irada e aos berros, contestava: “Quer dizer que todos esses anos na cama, todas as dores que passei e as orações que fiz não contam nada para minha salvação?!”. Nós achamos melhor sair dali antes que ela se exaltasse ainda mais.
E você, reagiria da mesma maneira se soubesse que sua caridade, seu sofrimento, suas orações ou qualquer outra coisa não contam pontos para o perdão de seus pecados e a salvação eterna? “Será que você despreza as riquezas da bondade, tolerância e paciência [de Deus], não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?” (Rm 2:4).
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O administrador corrupto
Jesus conta a parábola de um homem rico que decide demitir seu administrador. Ao receber o aviso prévio ele se preocupa, pois já não tem idade para fazer trabalho braçal e teria vergonha de mendigar. Então planeja um esquema: chama cada devedor de seu patrão e reduz a dívida para poderem quitá-la. Ele “perguntou ao primeiro: ‘Quanto você deve ao meu senhor? ‘ ‘Cem potes de azeite’, respondeu ele. O administrador lhe disse: ‘Tome a sua conta, sente-se depressa e escreva cinquenta’. A seguir perguntou ao segundo: ‘E você, quanto deve? ‘ ‘Cem tonéis de trigo’... Ele lhe disse: ‘Tome a sua conta e escreva oitenta’” (Lucas 16:5-7).
Jesus diz que o homem rico elogiou o administrador desonesto, não sua desonestidade, mas sua prudência. Você só entenderá a parábola se ler a conclusão: “Pois os filhos deste mundo são mais astutos no trato entre si do que os filhos da luz” (Lucas 16:16). Por que Jesus diz que os “filhos deste mundo”, isto é, os incrédulos, são mais espertos do que os “filhos da luz” ou crentes? Porque aproveitam o tempo presente para garantir amigos no futuro, como fez o administrador. A lição aqui não é ser desonesto, mas ser prudente e investir no futuro. Por isso Jesus diz: “Usem a riqueza deste mundo ímpio” — ou “riquezas da injustiça” — “para ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas” (Lucas 16:9).
A “riqueza deste mundo ímpio” é o dinheiro. O cristão deve ser sábio investindo nas coisas que permanecem. O administrador desonesto negociou com dinheiro que não era dele para garantir resultados futuros. Os cristãos também negociam com riqueza que não é deles, mas de Deus, para “ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas” (Lucas 16:9). A pergunta é: Quantos “Amigos” eu e você iremos encontrar na glória? Quantos nós ajudamos a terem suas dívidas perdoadas por Deus para garantirem seu lugar nas “moradas eternas”? E quanto das “riquezas da injustiça”, isto é, do dinheiro que Deus nos dá, nós investimos neste trabalho de “ganhar amigos”?
Nosso tempo aqui na terra é breve, mas os recursos que Deus nos dá para fazer sua obra são infinitos. A questão é saber se somos confiáveis para administrar esses recursos, ao contrário de muitos que passaram por aqui e falharam. Como veremos nos próximos 3 minutos.
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Administradores de Deus
No princípio Deus escolheu um homem, Adão, para ser administrador da Criação. Ele e Eva deveriam se multiplicar, povoar a terra, dominar sobre os animais e cultivar o jardim do Éden. Havia um único mandamento: Não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Antes mesmo de terem seu primeiro filho, ou colherem os primeiros frutos de seu cultivo, eles já tinham desobedecido esse mandamento.
Adão e Eva descobriram que o mero conhecimento do bem e do mal, adquirido ao comerem da árvore proibida, não lhes capacitava a fazer o bem ou evitar o mal. Seus descendentes mergulharam na iniquidade e Deus decidiu destruir o mundo num dilúvio, preservando a Noé e sua família. A eles foi ordenado: “Sejam férteis e multipliquem-se; espalhem-se pela terra e proliferem nela” (Gn 9:7). Para administrar a terra Noé recebeu a autoridade de governar e exercer poder sobre seus semelhantes.
Mas seus descendentes falharam, por não se espalharem pela terra como Deus havia ordenado. Ao contrário, concentraram-se num só lugar para construir uma cidade e uma torre com um objetivo contrário à ordem dada por Deus. Eles disseram: “Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da terra” (Gn 11:4). Deus confundiu suas línguas e os espalhou pela face da terra, formando assim diferentes nações.
De uma dessas nações Deus tirou um homem, Abraão, e prometeu que nele todas as famílias da terra seriam abençoadas. De seu descendente, Jacó, Deus criou a nação de Israel, responsável por administrar as coisas de Deus na terra. Israel recebeu a Lei, as promessas, os concertos, a adoração e possessões terrenas. Mas, assim como o administrador da parábola, Israel não soube multiplicar as bênçãos terrenas que recebeu.
Então Deus criou outro povo, a Igreja, para transformar coisas terrenas em resultados espirituais. Como os lendários alquimistas, que tentavam transformar chumbo em ouro, o cristão é capaz de transformar bens materiais em espirituais. Como ele faz isto? Usando os recursos que Deus coloca em suas mãos para promover a obra do evangelho, a fim de que pessoas se convertam a Cristo e sejam salvas. É assim que conseguem “ganhar amigos, de forma que, quando ela [a riqueza] acabar, estes os recebam nas moradas eternas” (Lucas 16:9).
Mas para isto é preciso ser idôneo, como Jesus explica nos próximos 3 minutos.
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Pouco ou muito?
Um amigo não convertido foi convidado a uma dessas “igrejas” de pregadores da prosperidade e, ao invés de sair dali convencido a crer em Jesus, saiu enojado. Marcou no relógio uma hora e quarenta minutos de pedidos de dinheiro. Ele, que pensava ter sido convidado para um culto a Deus, saiu convencido de que aquilo era um culto a Mamom, o dinheiro.
Mas qual é a importância que Deus dá ao dinheiro? Ao compará-lo às “moradas eternas” em Lucas 16, Jesus diz que “quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito” (Lucas 16:10). Para Deus, o valor da riqueza é “pouco”, mas ele chama de “muito” os “tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam” (Mt 6:20).
Deus diz: “Tanto a prata quanto o ouro me pertencem... Não tenho necessidade de nenhum novilho dos seus estábulos, nem dos bodes dos seus currais, pois todos os animais da floresta são meus, como são as cabeças de gado aos milhares nas colinas... fui eu quem lhe deu o trigo, o vinho e o azeite, quem o cobriu de ouro e de prata” (Ag 2:8; Sl 50:10; Os 2:8-9). Você acha que aquele que em Mateus 17:27 colocou uma moeda na boca do peixe que Pedro iria pescar precisaria do nosso dinheiro?
Mas então por que a Bíblia diz para contribuirmos para a propagação do evangelho e as necessidades dos irmãos? Porque Deus quer testar a nossa capacidade de administrar “o pouco”, isto é, o dinheiro, antes de nos confiar o “muito” das riquezas espirituais. Jesus diz: “Se vocês não forem dignos de confiança em lidar com as riquezas deste mundo ímpio, quem lhes confiará as verdadeiras riquezas? E se vocês não forem dignos de confiança em relação ao que é dos outros, quem lhes dará o que é de vocês?”. Antes de lhe entregar um violino Stradivarius de quinze milhões de dólares Deus quer saber se você cuida bem do pandeiro.
Ele também dá um recado aos que se dedicam ao culto a Mamom: “Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará ao outro, ou se dedicará a um e desprezará ao outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”. Obviamente os adeptos do evangelho da prosperidade irão rir disso, mas não é novidade. A passagem continua dizendo que “os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus” (Lucas 16:10-14).
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Justificar-se
Após revelar a avareza do coração dos religiosos fariseus — e ser ridicularizado por eles — Jesus lhes diz: “Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus” (Lucas 16:15). Estamos sempre prontos a nos justificarmos a nós mesmos, seja culpando outros por nossos erros, seja apresentando boas obras na tentativa de neutralizá-los.
Desde o dia em que Adão tentou se justificar diante de Deus, dizendo, “foi a mulher que me deste por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu comi” (Gn 3:12), ficamos especialistas na arte da justiça própria. Porém, se é fácil identificar a justificativa que joga a culpa em terceiros, o mesmo não acontece com a justiça própria construída pela autovalorização, quando tentamos parecer melhor do que somos exibindo os nossos feitos.
Ainda que nas coisas dos homens essa atitude ajude você a conseguir emprego, pois é necessário apontar os gols que marcou na carreira, nas coisas de Deus ela é deplorável. Neste mesmo evangelho Jesus alerta: “Quando vocês tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’” (Lucas 17:10). A exaltação própria é característica da cristandade dos últimos dias, representada por Laodiceia. Ela diz: “Estou rica, adquiri riquezas e não preciso de nada”, porém o Senhor retruca: “Não reconhece, porém, que é miserável, digna de compaixão, pobre, cega e que está nua” (Ap 3:17).
Quantos cristãos você conhece que se gabam da riqueza de seus templos, do número de membros de suas “igrejas” ou da capacidade intelectual de seus pregadores? Ao fazerem isso estão medindo as coisas pela régua dos homens, e não de Deus. Eles se esquecem de que “aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus” (Lucas 16:15). E o que tem valor para Deus? Ele mostra claramente ao elogiar Filadélfia, na sexta carta de Apocalipse: “Você tem pouca força, mas guardou a minha palavra e não negou o meu nome” (Ap 3:8).
A cristandade dos últimos dias busca ter muita força — às vezes até por meios políticos —, despreza a Palavra, em especial a doutrina de Paulo, e identifica seus membros por diferentes denominações, considerando insuficiente serem identificados com Cristo apenas como “cristãos”. Quanto a seus líderes, bem, é o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Líderes gananciosos
Na dispensação da Lei a bênção era prometida na forma de prosperidade material como consequência da obediência. Por isso os homens buscavam obedecer — ou ao menos parecer que obedeciam — a fim de serem beneficiados com saúde e riquezas. Seus líderes religiosos acabaram se esquecendo de que a obediência deveria ser aos olhos de Deus, e não dos homens, e passaram a alardear seus próprios feitos ou ocupar posições de destaque segundo o que achavam de si mesmos.
No Evangelho de Mateus Jesus os critica, dizendo: “Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens. Eles fazem seus filactérios bem largos e as franjas de suas vestes bem longas; gostam do lugar de honra nos banquetes e dos assentos mais importantes nas sinagogas, de serem saudados nas praças e de serem chamados ‘rabis’ [mestres]” (Mt 23:5-7).
Filactérios eram fitas amarradas ao corpo com trechos das Escrituras. Ao alargar seus filactérios, os líderes queriam exibir um maior conhecimento delas. Deus também havia ordenado que fizessem franjas nas vestes, mas não para serem vistas por outros, e sim como um lembrete para si mesmos. “Quando vocês virem essas franjas se lembrarão de todos os mandamentos do Senhor, para que lhes obedeçam” (Nm 15:40). Na cristandade isso equivaleria aos vários títulos eclesiásticos e teológicos inventados pelos clérigos para se mostrarem superiores aos leigos.
Mas o que os leigos acham disso? Eles gostam, e o Salmo 49:18 explica essa característica do comportamento humano: “Os homens te louvam, enquanto fazes o bem a ti mesmo”. Por isso muitos seguem os pregadores de prosperidade, indiferentes às denúncias que revelam suas fortunas. Eles os seguem por desejarem a mesma prosperidade, e o raciocínio é que quanto mais próspero o líder, mais poder ele tem de tornar prósperos seus liderados. Para esses pregadores denúncias de riqueza servem de propaganda, pois atraem mais gente em busca de prosperidade material.
Ao descrever a cristandade, Paulo diz que “nos últimos dias os homens serão egoístas, avarentos [ou gananciosos], presunçosos, arrogantes...” (2Tm 3:1-9). A lista de adjetivos continua e diz também que eles fazem como os magos de Faraó, que imitavam os sinais que Deus fazia por meio de Moisés. Qualquer semelhança com o que você vê em alguns pregadores do rádio e TV não é mera coincidência.
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Justificação
Nem tudo no Evangelho de Lucas está em ordem cronológica. Algumas coisas seguem uma ordem moral, como neste capítulo 16. Ele começa com a parábola do administrador infiel, segue falando da correta administração do que pertence a Deus e denuncia a avareza dos fariseus. Agora Jesus fala da justiça própria, antes de falar da lei, do divórcio e terminar com a história do rico e do mendigo. Apesar de parecerem assuntos diferentes, tudo está ligado e tem a ver com os judeus, a lei e o judaísmo.
Jesus diz aos fariseus: “Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês” (Lucas 16:15). Encontramos na Bíblia tanto a justificação horizontal — de homem para homem — como a justificação vertical, do homem para com Deus. Tiago, em sua epístola, fala da primeira, mostrando que diante de seu semelhante o homem é justificado pelas obras. Ali diz:
“A fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: Você tem fé; eu tenho obras. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras. Insensato! Quer certificar-se de que a fé sem obras é inútil? Não foi Abraão, nosso antepassado, justificado por obras, quando ofereceu seu filho Isaque sobre o altar?” (Tg 2:17-21). Ao dizer “Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras” fica fácil entender que ele está falando de uma justificação horizontal, de homem para homem.
Porém na carta aos Romanos, Paulo fala da justificação vertical, do homem para com Deus: “Se de fato Abraão foi justificado pelas obras, ele tem do que se gloriar, mas não diante de Deus” — ou seja, diante dos homens. “Que diz a Escritura? ‘Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça’” (Rm 4:2-3). Deus, que vê os corações, justifica o homem por sua fé e deposita isso em sua conta. “Àquele que não trabalha, mas confia em Deus que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça” (Rm 4:5).
Um exemplo de ímpio justificado apenas pela fé é o ladrão que se converteu na cruz. Sem fazer qualquer obra, sem ser batizado ou cumprir qualquer ordenança, ele recebeu a certeza de encontrar-se naquele mesmo dia com o Senhor no Paraíso. Mas o que isso e tudo o mais neste capítulo tem a ver com os judeus e o judaísmo? Bem, é disso que falaremos nos próximos 3 minutos.
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Lei ou graça
A Lei dada por Deus recompensava o homem por sua fidelidade. Se você obedecesse, seria recompensado, caso contrário viveria doente, na miséria, sem filhos e seu nome cairia no esquecimento. A Lei é pura e perfeita para o homem natural vivendo na terra. O problema é que somos imperfeitos, por isso a Lei acabou desvirtuada pelos judeus, que faziam de conta que a praticavam de olho na recompensa. Tornaram-se gananciosos de riquezas materiais e posições de destaque na sociedade.
Jesus fala de uma mudança: “A Lei e os profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele. É mais fácil o céu e a terra desaparecerem do que cair da Lei o menor traço” (Lucas 16:16-17). A Lei não deixaria de existir, mas seria em vão tentar justificar-se por ela. João Batista anunciara a chegada do Messias e seu Reino, e os judeus, culpados de violar a Lei, deviam se arrepender e serem batizados, assumindo uma nova posição no Reino. “Mas os fariseus e os peritos na Lei rejeitaram o propósito de Deus para eles, não sendo batizados por João” (Lucas 7:30).
Se o normal até ali era buscar a justificação pela Lei, não seria normal arrepender-se por não ter conseguido e aceitar “as boas novas do Reino”. “Forçar sua entrada” no Reino seria equivalente à expressão “forçar a barra”. Quem fizesse isso seria perseguido pelos que se justificavam a si mesmos. O problema não estava na Lei, que é boa e perfeita, mas no homem que é incapaz de cumpri-la por estar morto em delitos e pecados. Este precisaria depender inteiramente da graça de Deus, “pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1:17).
Em suma, a lei não deixou de existir; o que deixou de existir foi o homem descendente de Adão. Na cruz Jesus deu um fim nele, inaugurando um novo homem pela ressurreição. Aqueles que insistem em permanecer sob a Lei colocam a corda no próprio pescoço, pois a Lei não foi feita para salvar, e sim para condenar. Ela prometia prosperidade aos fiéis, mas condenação aos infiéis. Você se considera cem por cento fiel e cumpridor de todos os preceitos da Lei? A menos que seja hipócrita, a resposta será não. Então, sob a Lei você está condenado, não só por transgredi-la, mas por ser adúltero. Não entendeu? Então é melhor ouvir os próximos 3 minutos, quando veremos que é adultério querer viver com dois maridos.
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Adúlteros
Jesus diz: “Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher divorciada do seu marido estará cometendo adultério” (Lucas 16:18). Por que será que ele interrompe o assunto da Lei do versículo 17 para falar de adultério e divórcio? Ele não interrompe; o assunto aqui ainda é a Lei, e você só entenderá isso se ler o que Paulo escreve em sua Carta aos Romanos, que é o evangelho explicado.
“Acaso vocês não sabem que a lei tem autoridade sobre alguém apenas enquanto ele vive? Por exemplo, pela lei a mulher casada está ligada a seu marido enquanto ele estiver vivo; mas, se o marido morrer, ela estará livre da lei do casamento. Por isso, se ela se casar com outro homem enquanto seu marido ainda estiver vivo, será considerada adúltera. Mas se o marido morrer, ela estará livre daquela lei, e mesmo que venha a se casar com outro homem, não será adúltera. Assim, meus irmãos, vocês também morreram para a Lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerem a outro, àquele que ressuscitou dos mortos” (Rm 7:1-4).
A questão é: Pode um morto guardar a Lei? Não! E por acaso não é assim que Deus vê o crente em relação à Lei? “Agora, mortos para aquilo que antes nos prendia, fomos libertados da lei, para que sirvamos em novidade de espírito, e não segundo a velha forma da lei escrita” (Rm 7:6). Agora veja como tudo está maravilhosamente conectado a este capítulo de Lucas: “Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra mulher estará cometendo adultério” (Lucas 16:18). O assunto aqui não é divórcio, mas adultério, caso o vínculo não tenha sido desfeito pela morte.
Por isso o apóstolo Paulo explica: “Vocês também morreram para a lei, por meio do corpo de Cristo para pertencerem a outro, àquele que ressuscitou dos mortos” (Rm 7:4). Se agora pertencemos a Cristo, como continuar pertencendo à Lei para a qual morremos? Querer viver sob ambos é adultério. Além disso, “tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1). Isto significa que aqueles que creem em Jesus são justos aos olhos de Deus, e Paulo escreve a Timóteo que a Lei “não é feita para os justos” (1Tm 1:9).
Nos próximos 3 minutos Jesus fala de um rico anônimo e de um mendigo chamado Lázaro.
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O anônimo e Lázaro
“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia no luxo todos os dias. Diante do seu portão fora deixado um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas; este ansiava comer o que caía da mesa do rico. Em vez disso, os cães vinham lamber as suas feridas” (Lucas 16:19:21).
Alguns leem esta história achando que é uma parábola, mas não é. Trata-se da história real de um rico anônimo aos olhos de Deus, e um mendigo cujo nome o Espírito Santo fez questão de registrar, apesar de ser invisível aos olhos do rico. Provérbios 10:7 diz que “a memória deixada pelos justos será uma bênção, mas o nome dos ímpios apodrecerá.”.
Tudo neste capítulo tem a ver com a maneira como utilizamos nossos bens. Jesus começa falando do administrador que, apesar de infiel, foi elogiado por seu senhor por ser previdente no uso da riqueza alheia. Então ele segue alertando para o perigo do amor ao dinheiro, fala da mudança radical exigida para se viver no Reino de Deus e do engano da justiça própria. O rico vestia-se de “púrpura”, cor usada pela realeza, e “linho fino”, que na Bíblia tem a conotação de justiça individual. Ele se achava nobre e justo, mas Deus tinha uma ideia diferente a seu respeito.
A história não fazia sentido para o judeu. Afinal, como poderia o rico, que foi abençoado com prosperidade, estar perdido, se no Antigo Testamento a prosperidade era prometida como consequência da obediência a Deus? E como Lázaro teria sido salvo se era doente e não trazia nenhuma evidência de bênção física e prosperidade material? Em Deuteronômio 28 Deus havia prometido a Israel que, se obedecessem e seguissem fielmente todos os mandamentos, Deus os colocaria “muito acima de todas as nações da terra” e lhes concederia saúde e “grande prosperidade”. A desobediência traria o inverso, isto é, doenças e pobreza como no caso de Lázaro.
Jesus deixa claro que a salvação não vem da obediência para a justificação própria, que na Lei poderia ser evidenciada pela prosperidade, mas é pela fé e resultado da graça do Deus que “justifica o ímpio” (Rm 4:5). Mas salvação é algo decidido nesta vida, pois a porta do céu fica na terra. Daqui você sai salvo ou perdido eternamente, como diz em Eclesiastes 11:3, “Caindo a árvore para o sul, ou para o norte, no lugar em que a árvore cair ali ficará”. Mas este é o assunto dos próximos 3 minutos.
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Depois que morremos
Quer saber o que acontece após a morte? Então preste atenção na história do rico e Lázaro, pois ela revela o além. Ali Deus é representado pela figura de Abraão e a sorte do rico é selada no momento em que morre. Enquanto o seu corpo é sepultado, tem início o sofrimento eterno da alma e do espírito no lugar “onde o seu verme não morre, e o fogo nunca se apaga” (Mc 9:48). De passagens como Jó 17:14 e 25:6 aprendemos que “verme” é uma metáfora usada para o ser humano em seu estado de impotência.
Algumas traduções trazem que o rico estava no “inferno”, mas a palavra original grega é “hades” e não tem a conotação de um lugar físico, mas da condição após a morte. Se aqui Lázaro aparece no seio de Abraão, mais tarde Jesus revelaria que a alma e o espírito dos salvos vão para junto dele. Foi o que prometeu ao ladrão convertido na cruz minutos antes de morrer: “Hoje estarás comigo no Paraíso” (Lucas 23:43). Em 2 Coríntios 12:2 o apóstolo Paulo identifica o Paraíso como sendo o “terceiro céu”.
Jesus revela que a condição após a morte não é de sono, pois tanto Lázaro quanto o rico estão bem despertos. Apenas os seus corpos estão no sono da morte: Lázaro aguardando “a ressurreição da vida” e o rico “a ressurreição da condenação” (Jo 5:29). O rico pode ter recebido um funeral de luxo, mas foi Lázaro quem recebeu um transporte angelical: “O mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão” (Lucas 16:22).
Consciente de sua perdição e sofrimento, e do lugar privilegiado que Lázaro agora ocupa, o rico faz dois pedidos. O primeiro parece mostrar que ele ainda se considera um homem de posição, pois trata Lázaro como um servo ao seu dispor: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo” (Lucas 16:24). Ele não pede para ser tirado dali, mas para que Lázaro seja enviado em seu socorro. Um perdido jamais irá querer ser tirado da perdição se isto significar ter de viver para sempre junto a Deus. Ele não quis isso aqui e não irá querer isso lá.
É impossível Lázaro levar algum refrigério ao rico, conforme explica Abraão: “Entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem” (Lucas 16:26). Você já pensou no que significa isso? Se não pensou, vou ajudá-lo a pensar nos próximos 3 minutos.
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Destino
Experimente falar de morte a um incrédulo e ele provavelmente baterá três vezes com os dedos na madeira, numa tentativa supersticiosa de evitar o inevitável. Agora pergunte ao apóstolo Paulo o que ele achava da morte e sua resposta será: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1:21).
O incrédulo sabe que, com a morte, deixará de desfrutar de seus bens, reputação, família, amigos, prazeres, Etc. Por isso se agarra a essas coisas, pois é tudo o que tem. Não se espante quando vir alguém desesperado em defender opiniões, propriedades ou paixões. Se lhe tirarem isso nada lhe restará. O crente, porém, sabe que as coisas desta vida são passageiras, por isso se agarra às coisas eternas. Abraão diz ao rico: “Lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento” (Lucas 16:25).
As religiões inventaram purgatório, reencarnação, sono da alma, salvação universal, aniquilamento dos perdidos, etc., mas a verdade é que o rico e Lázaro não estão dormindo e nem aguardando num purgatório. Não estão se preparando para voltar à terra reencarnados e nem podem mudar sua condição. “Há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem” (Lucas 16:26). Portanto não perca seu tempo com rezas e velas, e nem tente consultar os mortos. Os perdidos não podem mais ser ajudados e os salvos não precisam de sua ajuda.
Mas o rico insiste em achar que Lázaro está ao seu serviço e pede a Abraão: “Manda Lázaro ir à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos. Deixa que ele os avise, a fim de que eles não venham também para este lugar de tormento” (Lucas 16:27-28). Abraão responde que eles já têm a Palavra de Deus, no caso, Moisés e os profetas. O rico não desiste: “‘Se alguém dentre os mortos fosse até eles, eles se arrependeriam’. Abraão respondeu: ‘Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos’”. (Lucas 16:30-31).
Se você está esperando alguém voltar de entre os mortos para poder crer em Jesus então pode crer agora mesmo, pois ele próprio ressuscitou.
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Pedra de tropeço
Jesus conta uma parábola e “Os mestres da lei e os chefes dos sacerdotes... perceberam que era contra eles que ele havia contado” (Lucas 20:19). Às vezes você escuta o evangelho e pensa: “Fulano devia ouvir isso...”. Mas e se Deus estiver querendo falar com você? Aqui os fariseus entenderam que o recado era para eles, mas ao invés de se arrependerem, endureceram ainda mais seus corações. Será que você está entre os que endurecem o coração ou entre os que aceitam alegremente as boas novas de salvação?
O evangelho é um divisor de águas que revela os que estão destinados à vida eterna e os que querem continuar inimigos de Deus. Foi o que aconteceu em Antioquia da Pisídia, quando o resultado da pregação de Paulo e Barnabé foi a divisão dos ouvintes entre salvos e perdidos: “Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do Senhor; e creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna... Mas os judeus incitaram as mulheres piedosas de elevada posição e os principais da cidade e, provocando perseguição contra Paulo e Barnabé, os expulsaram do seu território” (At 13:48-50).
A parábola de Jesus previa a rejeição da parte dos judeus. Nela um homem que planta uma vinha, arrenda a terra a alguns lavradores e viaja para longe. A cada colheita ele envia um funcionário para receber sua parte do arrendamento, mas os arrendatários espancam e humilham cada um deles, expulsando-os de mãos vazias. “Então o proprietário da vinha disse: ‘Que farei? Mandarei meu filho amado; quem sabe o respeitarão’. Mas quando os lavradores o viram, combinaram entre si dizendo: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa’. Assim, lançaram-no fora da vinha e o mataram. O que lhes fará então o dono da vinha? Virá, matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros”. (Lucas 20:13-16).
A vinha representa Israel, que Deus formou para dar fruto para si, mas os judeus falharam miseravelmente e perderam por um tempo sua posição de testemunho, o qual foi entregue à Igreja. “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular” (Lucas 20:17). Em outro evangelho Jesus diria a Pedro, “sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt 16:18), e mais tarde Pedro, em sua carta, identificaria Jesus como a “pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele” (1 Pe 2:4). Para os que creem em Cristo, “esta pedra é preciosa; mas para os que não creem, a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular, pedra de tropeço e rocha que faz cair” (1 Pe 2:7-8).
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Repreensão
O Senhor diz: “Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe” (Lucas 17:3-4). Repare que a passagem não diz para você deixar para lá ou relevar o pecado. Todo pecado é uma transgressão contra Deus, mesmo quando praticado contra o próximo. Então a forma bíblica de se lidar com o pecado é primeiro repreender quem pecou e depois perdoar, quando houver arrependimento.
Mas repreender não seria falta de amor? Ao contrário, a Bíblia está cheia de exemplos de repreensão para o benefício de quem errou. No livro de Provérbios encontramos passagens como: “A repreensão faz marca mais profunda no homem de entendimento do que cem açoites no tolo... Melhor é a repreensão feita abertamente do que o amor oculto... O Senhor disciplina [ou repreende] a quem ama, assim como o pai faz ao filho de quem deseja o bem...” (Pv 3:12; 17:10; 29:15;). Todavia a repreensão deve ser em um espírito de graça, e não de ódio ou vingança. Seu objetivo é levar o que pecou a arrepender-se e ser restaurado à comunhão com Deus.
Na carta aos Gálatas o apóstolo Paulo repreende aqueles que insistiam em guardar a Lei de Moisés, a qual obviamente devia também influenciar o modo como tratavam o irmão surpreendido em pecado. Afinal, a Lei mandava aplicar o “olho por olho, dente por dente” (Ex 21:24), mas Paulo admoesta: “Se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém, cada um para que também não seja tentado” (Gl 6:1).
Quando a repreensão não é feita em amor e graça, aquele que repreende também incorre em pecado se o fizer em um espírito de ódio. O que repreende também corre o risco de achar-se melhor ou mais espiritual que o que pecou. Além disso, não são poucos os que, ao lidarem com a avaliação do pecado, repreensão e aconselhamento, acabam sendo tentados e caindo na mesma falta. Por isso em 1 Coríntios 10:12 temos o alerta: “Aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia”.
Mas o processo de restauração do transgressor não deve parar na repreensão, pois a continuação da passagem fala de arrependimento e perdão, que são os nossos assuntos para os próximos 3 minutos.
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Arrependimento
O versículo 4 de Lucas 17 fala de arrependimento e perdão, e ali o número sete representa algo completo, tanto para o arrependimento como para o perdão. “Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: ‘Estou arrependido’, perdoe-lhe”. Arrepender-se é ir contra a natureza humana que quer sempre estar com a razão. Para se arrepender você precisa admitir que falhou, e seu ego não vai gostar disso. Você pode até fazer algo para reparar o dano e mesmo assim não estar arrependido, como quando paga uma multa de trânsito. Você sente-se mal pelo dinheiro que gastou, mas não pela infração que cometeu.
Ao pecarmos, nosso primeiro impulso é jogar a culpa em alguém, e isso não vem de hoje. Eva jogou a culpa na serpente: “A serpente me enganou, e eu comi” (Gn 3:13). Adão culpou a mulher e o próprio Deus: “Foi a mulher que [tu] me deste por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu comi” (Gn 3:12). Colocar a culpa no outro é um instinto carnal, mas julgar a si mesmo e se considerar culpado é o resultado da graça operada por Deus na alma, algo contrário à natureza humana.
Três coisas nos levam ao arrependimento: a bondade de Deus, o juízo futuro e a tristeza: “Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?” (Rm 2:4). “Deus... agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou” (At 17:30-31). “A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte” (2 Co 7:9).
O arrependimento genuíno é um exercício profundo de alma, como descreve o profeta Jeremias: “De fato, depois de desviar-me, eu me arrependi; depois que entendi, bati no meu peito. Estou envergonhado e humilhado” (Jr 31:19). O arrependimento verdadeiro gera uma mudança de atitude, mas o falso é apenas uma fuga das consequências, como acontece com o bandido que se diz arrependido só porque foi preso. Ao tratar com os fariseus e saduceus, que só tinham aparência de piedade, João Batista os alertou da necessidade de demonstrar o arrependimento na prática: “Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima? Deem fruto que mostre o arrependimento!” (Mt 3:7)
Nos próximos 3 minutos nosso assunto será o perdão.
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Perdão
A ideia de perdão nos faz pensar em dívida. Quando alguém empresta de você e não paga, lhe ofende ou quebra um copo em sua casa, sua reação natural é: “Vai pagar!”. Quando você percebe que nunca irá receber, passa a desejar que o outro pague de outro modo, ficando na miséria, sendo difamado ou tendo seus copos quebrados. Mas perdoar não é apenas abrir mão de receber, e sim pagar pelo devedor, trabalhando duro para repor o dinheiro, reconstruindo a própria reputação ou comprando um novo copo.
O perdão pode ter um custo material ou emocional, mas é o único meio de se livrar da dívida que passou a ser sua. Perdão que guarda rancor não é perdão. É como depositar o pagamento em juízo, ou seja, você paga, mas o outro não recebe. Fazer o outro pagar denegrindo a imagem dele na sociedade ou o demonizando em pensamento, também não é perdoar. O verdadeiro perdão leva você a orar e interceder por seu adversário.
Perdão gerado por um sentimento de superioridade não é perdão. Falo daquele que trata o ofensor com desdém e se considera superior dizendo a si mesmo: “Pobre alma pouco evoluída! Eu jamais faria algo assim”. Se você pensa desta maneira é porque não sabe que também é um devedor necessitado do perdão de Deus. A diferença é que, se o seu devedor tem como pagar por seu copo quebrado, você jamais conseguirá pagar a dívida dos pecados que pratica contra Deus, a qual se acumula a cada dia.
Se você entendeu que perdoar seu ofensor é você mesmo pagar o preço irá entender que, para nos perdoar, Deus precisou entregar o seu próprio Filho em pagamento. Jesus foi julgado em nosso lugar e considerado culpado, pagando na cruz por nossos pecados como se fossem dele. Você não será capaz de perdoar se não assumir a perda, o sofrimento e a dor.
No Salmo 69:4 é Jesus quem diz, profeticamente: “Sou forçado a devolver o que não roubei”. Isaías também profetizou: “O Senhor fez cair sobre ele [Jesus] a iniquidade de todos nós... porquanto ele derramou sua vida até à morte, e foi contado entre os transgressores. Pois ele carregou o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores” (Is 53:6-12); “Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: ‘Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam’” (Rm 15:3).
Mas como perdoar quando estamos irados? Saiba nos próximos 3 minutos.
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Ira santa
A dificuldade para perdoar está associada à nossa dificuldade em lidar com as emoções. A carta aos Efésios diz: “Fiquem irados, mas não pequem”(Ef 4:26). A passagem não diz para não ficarmos irados, mas para não pecarmos. O problema não está na ira, pois o próprio Deus fica irado, mas em como administrá-la. A continuação diz que não devemos permanecer irados até o final do dia e nem darmos lugar ao diabo. Este certamente se aproveitará de nossos sentimentos para nos tentar.
Sentimentos que costumamos chamar de negativos, como ira, indignação ou tristeza, não são apenas humanos, mas divinos em sua origem. Se você fizer uma busca em uma Bíblia eletrônica por estes sentimentos e suas variantes descobrirá que muitas vezes eles aparecem relacionados a Deus. Você fica irado com a injustiça? Deus também. Indignado com a infidelidade? Por que Deus não ficaria? Fica triste quando traído? Deus muito mais. Por que achar que Deus seria menos sensível que você?
Um Deus neutro, indiferente e impassível para com o mal seria também alheio para com o bem e incapaz de amar, se compadecer ou se alegrar. Mas sabemos que Deus ama, se compadece e também se entristece, ao mesmo tempo em que odeia “o ímpio e a quem ama a injustiça” (Sl 11:5) — algo que todos nós somos por natureza. Todavia Deus se compadece do pecador contrito, o perdoa e se alegra com sua conversão.
Mas por que nossa ira costuma se transformar em agressão, a indignação em violência e a tristeza em depressão? Porque somos permeáveis e suscetíveis ao mal. Deus não. “Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tg 1:13). Sua ira, indignação ou tristeza são santas, isto é, separadas das causas pois estas não podem atingi-lo. A nossa se transforma em pecado quando nos sentimos prejudicados ou ameaçados por aquilo que causou tais sentimentos e queremos nos proteger. Daí a exortação para administrarmos a ira antes que ela se transforme em pecado.
O capítulo 4 da carta aos Efésios continua com preceitos práticos como não furtar, não falar palavrão, não entristecer o Espírito Santo, livrar-se da amargura, indignação, ira, maldade, gritaria e calúnia, e termina dizendo: “Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo” (Ef 4:32). Mas como viver assim e ainda perdoar como Deus nos perdoou? Trocando de roupa, conforme veremos nos próximos 3 minutos.
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Trocando de roupa
A passagem de Efésios traz uma lista de preceitos do tipo não furte, não minta, livre-se da amargura, da indignação, da ira, da gritaria, da calúnia, da maldade, Etc. Mas é importante perceber que antes dessa lista vem o segredo para se viver de acordo com a natureza de Deus, não seguindo uma lista de preceitos, mas trocando de roupa: “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade” (Ef 4:22-24).
Regras morais ou códigos de conduta você encontra em todas as religiões, mas existe uma diferença no cristianismo. Neste, não é a mudança de comportamento que faz de você um novo homem, mas é o “ser um novo homem” que o leva a mudar de comportamento. O cristão deve viver e agir de acordo com a nova identidade que recebeu por graça, e não tentar usar uma identidade forjada por suas próprias mãos. É a diferença entre receber um “RG” emitido pelo governo, em papel timbrado e impresso na Casa da Moeda, e criar seu próprio “RG” numa impressora jato de tinta.
As religiões humanas dizem “Não faça o mal”, porém Deus diz “Você não é dos que praticam o mal”. As religiões dizem para você fazer o bem para se tornar uma pessoa melhor; Deus diz que você faz o bem por já ser uma pessoa melhor. Ao crer em Jesus você descobre que seu velho “eu” foi morto na cruz e você nasceu de novo, purificado pela água da Palavra e comprado pelo sangue de Cristo, ambos vertidos do lado ferido de Jesus. Agora você tem o Espírito Santo de Deus habitando em si, e quando você peca, Deus não diz “Não faça assim!”, mas diz “Você não é assim!”.
“Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?... Assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos em novidade de vida” (Rm 6:2-4). Só conseguimos perdoar “como Deus nos perdoou em Cristo” (Ef 4:32) quando trocamos de roupa, nos despimos do velho homem e nos vestimos do novo. Aí temos “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... [que] esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens... humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2:7-8).
Nos próximos 3 minutos os discípulos pedem por mais fé.
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Amoreira no mar
Os discípulos se sentem impotentes diante dos desafios de não ser pedra de tropeço, saber repreender com graça o pecador e perdoá-lo sete vezes ao dia. Afinal, de si mesmo ninguém consegue agradar a Deus, como diz a carta aos Romanos: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3:10).
Quando nos damos conta de nossa total incapacidade fazemos como os discípulos e pedimos ao Senhor: “Aumenta a nossa fé” (Lucas 17:5). Somente por fé podemos nos aproximar “do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4:16 ). E graça se obtém por fé, seja ela grande ou pequena. Por isso Jesus explica que a fé, ainda que minúscula, é capaz de grandes proezas:
“Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderão dizer a esta amoreira: ‘Arranque-se e plante-se no mar’, e ela lhes obedecerá” (Lucas 17:6). Mas Jesus fala de uma fé colocada fora de si mesmo, a fé em Deus. As pessoas lhe dirão: “Confie em si mesmo!”, porém Deus lhe dirá: “Maldito é o homem que confia no homem” (Jr 17:5).
Se você já descobriu que é um pecador perdido e incapaz irá depositar sua fé em Deus e em seu Filho Jesus, que morreu para pagar por seus pecados e ressuscitou para sua justificação. Você irá reconhecer que é dele que vem a graça da qual você depende para receber a salvação sem mérito algum de sua parte. Graça significa favor imerecido.
A amoreira produz um emaranhado de raízes que a mantém firme no solo, assim como o pecado que está arraigado em nós. Mas isto não impede que a fé obtenha de Deus graça suficiente para desarraigá-lo e lançá-lo no mar. Miquéias profetizou que Deus nos perdoaria e atiraria “todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Mq 7:18-19). Ele pôde fazer isso porque Jesus foi lançado nas profundezas da morte em nosso lugar. São suas as palavras ditas por intermédio de Jonas: “Jogaste-me nas profundezas, no coração dos mares; correntezas formavam turbilhão ao meu redor; todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim” (Jn 2:3).
Nos próximos 3 minutos saiba como servir a este Senhor que morreu para nos salvar.
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Servir
Jesus diz aos discípulos: “Qual de vocês que, tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas, lhe dirá, quando ele chegar do campo: ‘Venha agora e sente-se para comer’? Pelo contrário, não dirá: ‘Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’? Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado? Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’” (Lucas 17:7-10).
A prioridade de quem serve não é o seu próprio bem estar, mas o de seu senhor. Ao servo também não cabe se gloriar por servir e nem esperar por palavras de agradecimento. Seu papel é servir e, depois de cumpridas suas tarefas, se considerar inútil por não ter feito nada mais que a obrigação. E o que isto tem a ver com a fé mencionada nos versículos anteriores? A fé não pode agir em independência, como se fosse um superpoder que o crente possui para fazer sua própria vontade, mas deve estar subordinada ao Senhor e para o serviço dele.
Para que o servo ande por fé ele precisa primeiro se colocar no seu devido lugar de servo. O servo do exemplo dado por Jesus estava arando ou cuidando das ovelhas, duas atividades para as quais encontramos um paralelo na obra de Deus nas mãos do evangelista que semeia ou do pastor que apascenta. Mas quando seu senhor chega ele está pronto a assumir tarefas de menor visibilidade, como preparar o jantar e servir a mesa. Só depois de seu senhor ter comido é que ele prepara o próprio prato.
Qualquer que seja o serviço que estejamos fazendo para o Senhor, não devemos buscar uma posição mais elevada que a de um simples servo. O serviço na obra de Deus só faz sentido quando feito diretamente para o Senhor em comunhão, adoração e submissão a ele. Portanto, se em algum momento você rogar ao Senhor “aumenta a nossa fé”, como fizeram os discípulos, é bom perguntar antes: Será que desejo mais fé para o meu próprio benefício ou para a glória de Deus? Não seja como aqueles que, “quando pedem, não recebem, pois pedem por motivos errados, para gastar em seus prazeres” (Tg 4:3).
Nos próximos 3 minutos você irá descobrir que nove dentre dez que rogaram ao Senhor para serem curados não estavam buscando a glória de Deus, mas apenas seu próprio bem-estar.
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Nove dentre dez leprosos
“A caminho de Jerusalém... dez leprosos dirigiram-se a ele [a Jesus]. Ficaram a certa distância e gritaram em alta voz: ‘Jesus, Mestre, tem piedade de nós!’ Ao vê-los, ele disse: ‘Vão mostrar-se aos sacerdotes’” (Lucas 17:11-14). A lepra era uma doença temida. Além da enfermidade, o leproso era discriminado e expulso do convívio social. Por isso estes “ficaram a certa distância”, ao invés de se aproximarem de Jesus.
A lepra é uma figura do pecado, por tirar a sensibilidade da pele fazendo com que o doente se machuque sem sentir dor. O pecado faz o mesmo e nos deixa insensíveis ao mal que nos corrói pouco a pouco, do mesmo modo como as infecções e a gangrena fazem com o corpo do leproso. O pecado também nos mantém “a certa distância” de Jesus.
Os dez leprosos pedem para serem curados, mas recebem instruções para se apresentarem aos sacerdotes. Todos obedecem, pois a Lei dada a Israel determinava que apenas os sacerdotes tinham autoridade para declarar um leproso curado de sua lepra e apto a voltar ao convívio social. Se você ler o capítulo 14 de Levítico verá que a Lei exigia do leproso curado um complexo cerimonial.
No caminho os dez leprosos são curados, porém apenas um percebe que aquele que o curou é maior que os sacerdotes e toda a lei cerimonial do judaísmo. Ele não chega a ir até lá, mas “quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano” (Lucas 17:14-16). Enquanto nove estão ocupados com o cerimonial, um está ocupado com Jesus, a verdadeira fonte da bênção, de quem ouve algo que os outros não puderam ouvir por estarem presos à religião: “Levante-se e vá; a sua fé o salvou” (Lucas 17:19).
É triste ver como nove dentre dez cristãos hoje estão mais ocupados com um cerimonialismo vazio do que com a Pessoa de Cristo. As únicas ordenanças dadas à igreja são o batismo, feito uma só vez, e a ceia do Senhor, celebrada a cada dia do Senhor (o Domingo). Tudo o mais — como templos, sacerdotes, vestes rituais, sacrifícios, incensos, promessas, instrumentos musicais, dízimos, peregrinações, Etc. — não passa de uma imitação barata do judaísmo. Ocupar-se com isso é ficar de costas para Cristo, aquele que deve ser nossa ocupação agora e eternamente.
Nos próximos 3 minutos Jesus fala do Reino que estava no meio deles.
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O Reino e o Rei
“Certa vez, tendo sido interrogado pelos fariseus sobre quando viria o Reino de Deus, Jesus respondeu: ‘O Reino de Deus não vem de modo visível, nem se dirá: ‘Aqui está ele’, ou ‘Lá está’; porque o Reino de Deus está entre vocês’” (Lucas 17:20-21). Os fariseus esperavam pela manifestação gloriosa do Messias em um reino visível, ignorando o que havia sido previsto pelo profeta Daniel: “...o Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele. A cidade e o lugar santo serão destruídos pelo povo do governante que virá” (Dn 9:26).
Jesus explica que o Reino já estava entre eles desde o momento em que seu Rei havia chegado ao mundo. Algumas versões da Bíblia trazem a frase “O Reino de Deus está dentro de vós”, porém a tradução correta é “no meio de vós” ou “entre vós”, pois o Reino não poderia estar “dentro” daqueles fariseus incrédulos. Jesus havia apresentado todas as credenciais do verdadeiro Messias e Rei de Israel, curando enfermos, restaurando a vista aos cegos e ressuscitando os mortos, porém os judeus não queriam recebê-lo. “Não queremos que este reine sobre nós” (Lucas 19:14) era o sentimento em seus corações.
A religiosidade que há no homem natural irá sempre buscar o que é visível, mesmo que isto signifique virar as costas para Jesus e se ocupar com grandes edifícios e rituais. Enquanto os nove leprosos curados se ocupavam com a grandiosidade física do Templo de Jerusalém e seus rituais, o décimo se prostrava aos pés de Jesus em gratidão. Quando Jesus voltar para estabelecer seu Reino de mil anos em glória, poder e majestade todo olho o verá, mas aqui o Reino e o Rei já estavam entre os judeus.
João Batista havia anunciado a chegada do Reino ao pregar “Arrependam-se porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3:2). A palavra “próximo” tem o sentido de “perto” ou “ao alcance da mão”. Em Mateus 12:28 Jesus explica aos judeus: “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso demônios, então chegou a vocês o Reino de Deus” (Mt 12:28). A expressão “Reino dos Céus” está mais relacionada ao governo desse Reino, que passou a emanar dos céus a partir do momento em que Jesus assentou-se nas alturas. Já a expressão “Reino de Deus” tem mais a ver com o resultado moral que esse governo nos céus causa nas pessoas na terra.
Nos próximos 3 minutos iremos entender melhor alguns aspectos do “Reino” e da forma como ele hoje se apresenta.
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O Reino invisível
Ao dizer aos fariseus que “O Reino de Deus não vem de modo visível” (Lucas 17:20) Jesus está se referindo àquele primeiro momento em que o Rei já estava entre eles, apesar de o Reino ainda não ter sido manifestado em poder e glória. Depois que os judeus rejeitassem seu Rei o Reino ficaria em suspenso. Enquanto isso os crentes viveriam “na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo”, como João identifica o atual período em Apocalipse 1:9. Jesus descreve a condição atual do Reino na parábola de Lucas 19:12 com estas palavras: “Um homem de nobre nascimento foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar” (Lucas 19:12).
Hoje o reino existe em sua forma misteriosa e compreensível apenas aos crentes. “A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles não”, disse Jesus aos discípulos em Mateus 13:11. Hoje eu e milhões de crentes em Jesus nos aproximamos “do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hb 4:16). Onde está esse trono? Não na terra, mas no céu, como avisou Jesus na cruz, enquanto era ridicularizado por seus algozes: “De agora em diante o Filho do homem estará assentado à direita do Deus todo-poderoso” (Lucas 22:69).
O mundo agora é liderado por um príncipe usurpador, Satanás, que procura atrapalhar a vida dos cidadãos do céu que vivem na terra. Ainda que a estes possa faltar o que comer e beber, eles já desfrutam de justiça, paz e alegria, atributos do Reino invisíveis ao mundo, porém bem reais para os que têm o Espírito Santo. “Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14:17). Para enxergar este Reino temporariamente invisível aos olhos da carne é preciso nascer de novo, como explicou Jesus a Nicodemos: “Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo” (Jo 3:3).
Porém, embora o Reino seja celestial em sua origem, na terra ele foi desfigurado pelos homens. Em Mateus 13 Jesus conta as quatro primeiras parábolas do Reino ao povo em geral, deixando as outras para contar em particular aos discípulos. Estas revelam como o mal se infiltraria até que Cristo voltasse para estabelecer o seu Reino em poder. O Reino hoje não é a Igreja, o Corpo de Cristo que contém apenas os salvos, mas a esfera de todos os que professam ser cristãos, sejam incrédulos ou crentes, falsos ou verdadeiros, joio ou trigo. Nos próximos 3 minutos Jesus explica aos discípulos como será sua vinda para estabelecer o Reino.
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Um Rei ausente
No versículo 22 de Lucas 17 Jesus deixa de lado os fariseus para falar em particular aos discípulos. É importante distinguir quando ele fala aos líderes religiosos, ao povo em geral ou aos discípulos em particular. O apóstolo Paulo exortou Timóteo a “Apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro... que maneja corretamente a palavra da verdade” (2Tm 2:15). O verbo “manejar” tem o sentido de “dissecar” ou separar cuidadosamente as partes. Para entender as Escrituras é preciso perguntar ‘quando’ algo está sendo dito, ‘onde’, ‘em que circunstância’ e ‘com qual objetivo’.
Neste momento Jesus está em Israel, falando a judeus que aguardam pelo Messias em meio à rejeição dos líderes e do povo em geral. Considerando que estes discípulos logo deixariam o status de judeus para serem feitos Igreja, morrendo antes de Cristo voltar para reinar, o discurso não era diretamente para eles. Todavia as instruções permaneceriam válidas para pessoas naquele mesmo caráter: o remanescente de judeus fiéis que viverá na terra nos momentos que precedem a vinda de Cristo para reinar.
Jesus começa falando do período de sua ausência: “Chegará o tempo em que vocês desejarão ver um dos dias do Filho do homem, mas não verão. Dirão a vocês: ‘Lá está ele! ‘ ou ‘Aqui está! ‘ Não se apressem em segui-los. Pois o Filho do homem no seu dia será como o relâmpago cujo brilho vai de uma extremidade à outra do céu” (Lucas 17:22-24). Mesmo que a aplicação direta da passagem seja para os judeus que se converterão após o arrebatamento da Igreja, o princípio vale também para hoje. Muitos falsos cristos surgiram nos últimos dois mil anos e enganaram a muitos, porém a vinda do verdadeiro para reinar será tão visível quanto um raio no céu.
Mas não é só contra aqueles que descaradamente declaram ser Jesus que devemos nos precaver. Mesmo para o período da Igreja o apóstolo Paulo deixou um alerta ao despedir-se dos anciãos de Éfeso: “Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos. Por isso, vigiem! Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir a cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas” (At 20:29). Os “lobos ferozes” seriam os interessados em se alimentar do rebanho. Os “homens que torcerão a verdade” seriam aqueles em busca de seguidores. Como identificá-los? É o que você verá nos próximos 3 minutos.
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Sob o poder do maligno
Jesus alerta seus discípulos contra os que declaram ser o Cristo. As mesmas instruções aparecem no Evangelho de Mateus falando de “falsos cristos e falsos profetas”. Mas não é preciso alguém chegar ao ponto de declarar ser Jesus para estar “sob o poder do Maligno” (1 Jo 5:19). Basta negar a encarnação do Filho de Deus, como explica o apóstolo João:
“Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne procede de Deus; mas todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo, acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo” (1 Jo 4:1).
Ele não diz que os que são de Deus confessam “que Jesus Cristo nasceu”, mas “que Jesus Cristo veio em carne”. Que ele nasceu todos sabemos, mas apenas quem crê que ele é Deus e Homem confessa que ele “veio em carne”. Isto significa reconhecer sua divindade e pré-existência eterna antes de assumir a forma humana. A mesma carta termina confirmando isto: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno. Sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento, para que conheçamos aquele que é o Verdadeiro. E nós estamos naquele que é o Verdadeiro, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:20).
Nossa mente é incapaz de entender como Jesus pode ser ao mesmo tempo Deus e Homem, por isso é pela fé e guiados pelo Espírito Santo de Deus que aceitamos isto. A Bíblia ensina claramente que Deus é um, porém em três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Nós as encontramos no batismo de Jesus em Mateus 3:16: “Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento os céus se abriram, e ele viu o Espírito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele. Então uma voz dos céus disse: “Este é o meu Filho amado, em quem me agrado” (Mt 3:16). Se você aprendeu a contar até três saberá identificar aqui cada Pessoa divina.
Portanto, dois indícios para você identificar os falsos profetas são o fato de negarem a divindade de Cristo e a Trindade. Mas nos próximos 3 minutos veremos ainda outras maneiras de identificar “lobos ferozes” e “homens que torcem a verdade, a fim de atrair os discípulos” (At 20:29).
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Falsos apóstolos e profetas
O apóstolo João escreveu que “todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo _e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (_2 Jo 1:9). Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10:30), portanto a “doutrina de Cristo” inclui confessar que só tem a Deus quem tem o Pai e o Filho. Paulo a chama de “sã doutrina” em 1 Timóteo 1:1 e 6:3, e acrescenta que a recebeu, não de homens, mas do Senhor juntamente com a revelação do que é a Igreja.
Muitos se gabam de receber novas revelações, mas são falsos profetas, “homens que torcem a verdade, a fim de atrair os discípulos” (At 20:29). Ultrapassar a doutrina de Cristo é ir além do que Deus revelou em sua Palavra, inclusive negando a graça de Deus e o sacrifício expiatório de Jesus, e pregando uma salvação por obras, religião ou pela guarda da Lei de Moisés. Aos cristãos da Galácia, influenciados por judaizantes que pregavam a salvação pela guarda da Lei, Paulo escreveu: “Algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo. Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado!” (Gl 1:6-8).
O falso evangelho dá glória ao homem ao dizer que é por seu próprio esforço que ele pode ser salvo. O verdadeiro evangelho glorifica a Deus, que graciosamente salva o pecador que crê em Jesus. Para identificar uma falsa doutrina basta perguntar: “Quem recebe a glória no final, o homem ou Deus?”. Se os meus esforços me garantissem merecer a salvação, no final eu poderia chegar ao céu e cobrar: “Senhor, eu fiz isso e aquilo, agora me dê a salvação porque mereço”. Isto faria de Deus meu devedor.
O apóstolo Judas acrescenta três características dos falsos profetas. Ele os compara aos que “seguiram o caminho de Caim... caíram no erro de Balaão e foram destruídos na rebelião de Corá” (Jd 1:11). Caim quis conquistar o favor de Deus com seu trabalho; Balaão era ganancioso e profetizava mediante cachê; e Coré era rebelde e prepotente, querendo ser o que não era. Paulo alerta contra os “falsos apóstolos, obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo. Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que os seus servos finjam que são servos da justiça” (2 Co 11:13). Quer mais? Então leia o capítulo 3 de 2 Timóteo sabendo que ali o apóstolo descreve os “perversos e impostores” (2Tm 3:13) dos últimos dias. Será que você está sendo enganado por um deles?
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Rejeição, morte e ressurreição
Antes de entrar nos detalhes da profecia que fala dos momentos que precedem sua vinda para reinar, Jesus revela que sua rejeição pelos judeus seria condição necessária para ele voltar e estabelecer o seu Reino. Ele diz: “Antes é necessário que ele [o Cristo] sofra muito e seja rejeitado por esta geração” (Lucas 17:25). Sua rejeição desencadearia uma sequência de eventos que marcariam o fim de uma era e o início da atual dispensação.
“Então ele começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias depois ressuscitasse... No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-se e disse em alta voz: ‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva’. Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado” (Mc 8:31; Jo 7:37-39).
Nunca antes o Espírito Santo tinha habitado na terra, embora já atuasse aqui. Para que ele fosse enviado ao mundo era preciso Jesus morrer, ressuscitar, subir aos céus e ser glorificado. Qualquer ideia de que a Igreja seja uma continuação de Israel esbarra no fato de o Espírito Santo nunca ter habitado em Israel de forma permanente, seja no povo em geral, seja no israelita em particular. A carta de Paulo aos Efésios mostra ainda que os dons só foram dados após Cristo ter subido aos céus: “Por isso é que foi dito: ‘Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens’... E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4:8-12).
Você entende agora a razão de em Mateus 16:18 Jesus ter usado o verbo no futuro, quando disse a Pedro: “Edificarei a minha igreja”? Foi para edificá-la que ele deu os dons, o que só aconteceu após ele ter morrido, ressuscitado e subido aos céus. Boa parte da confusão que você encontra na cristandade hoje se deve ao fato de muitos não entenderem que Deus possui dois povos distintos, Israel e Igreja. E é de Israel, e não da Igreja, que Jesus fala na passagem dos próximos 3 minutos.
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Surpresa!
Jesus avisa: “Assim como foi nos dias de Noé, também será nos dias do Filho do homem. O povo vivia comendo, bebendo, casando-se e sendo dado em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então veio o dilúvio e os destruiu a todos. Aconteceu a mesma coisa nos dias de Ló. O povo estava comendo e bebendo, comprando e vendendo, plantando e construindo. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu e os destruiu a todos” (Lucas 17:26-29).
Esta passagem mostra que tudo ia bem até as pessoas serem pegas de surpresa por um juízo de morte. Comer, beber, comprar, vender, plantar e construir são coisas que eu e você fazemos porque acreditamos que amanhã ainda estaremos aqui. Se você soubesse que o mundo iria acabar hoje dispensaria os pedreiros que constroem sua casa, os agricultores que plantam sua comida e cancelaria suas compras pois perderia o apetite.
O mundo pode não acabar hoje, porém ao final desta mensagem de três minutos mais de trezentas pessoas terão partido desta vida. No final do dia 153 mil pessoas terão passado para a eternidade. Ao descrever os dias de Noé, Jesus fala de comer, beber e se casar, atividades tão antigas quanto o homem. Ao falar dos dias de Ló, séculos mais tarde, mais atividades são mencionadas: as pessoas compravam, vendiam, plantavam e construíam. Desde então muitas atividades foram acrescentadas à vida moderna, mas elas em nada mudam o fato de que estamos aqui de passagem.
Se você acha que falar de morte e fim do mundo é pressão psicológica, então enfie a cabeça na areia e continue a alimentar sua negação. Caso contrário, saiba que Deus oferece uma rota de escape. O apóstolo Pedro escreve: “Há muito tempo existiam céus e terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus. E pela água o mundo daquele tempo foi submerso e destruído. Pela mesma palavra os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios. Não se esqueçam disto, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe 3:5-9).
Nos próximos 3 minutos Jesus revela o que acontecerá quando ele vier em poder e glória para reinar neste mundo.
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Jesus ou conspirações?
Do versículo 22 ao final do capítulo 17 de Lucas o contexto é o da vinda de Cristo para reinar e não deve ser confundido com o arrebatamento da igreja. No arrebatamento ele não desce à terra, mas o encontro se dá “nas nuvens” e “nos ares” (1Ts 4:17). Em sua vinda para reinar “Os seus pés estarão sobre o monte das Oliveiras” (Zc 14:4-5). No arrebatamento apenas os salvos o verão, “num abrir e fechar de olhos” (1 Co 15:52), mas a sua vinda “será como o relâmpago cujo brilho vai de uma extremidade à outra do céu” (Lucas 17:24) e “todo olho o verá” (Ap 1:7).
O arrebatamento da igreja não depende de sinais para acontecer, “porque vivemos por fé, e não pelo que vemos” (2 Co 5:7). São os judeus que “pedem sinais” (1 Co 1:22), como “grandes terremotos, fomes e pestes em vários lugares, e acontecimentos terríveis” (Lucas 21:11). No arrebatamento Cristo vem libertar a Igreja (1 Ts 1:10), mas a sua vinda como Rei será para libertar Israel (Sl 6:1-4). Por isso no arrebatamento é ele quem reúne pessoalmente os seus (1Ts 4:15-18; 2Ts 2:1), enquanto em sua vinda ele enviará os seus anjos para reunir os eleitos de Israel (Mt 24:30-31).
No arrebatamento o Senhor tira do mundo os crentes e deixa os incrédulos (Jo 14:2-3). Em sua vinda os ímpios serão tirados do mundo para juízo, enquanto os convertidos em tempos de tribulação serão deixados para viver na terra no reino de mil anos (Mt 13:41-43; 25:41). No arrebatamento ele vem libertar os seus “da ira que há de vir” (1 Ts 1:10), mas em sua vinda ele vem derramar sua ira (Ap 19:15). Portanto, Jesus veio uma vez, voltará para arrebatar os que lhe pertencem, ressuscitando os mortos e transformando os vivos, e uns sete anos mais tarde virá de maneira manifesta a todo o mundo para julgar as nações e reinar por mil anos.
Se você já tem a salvação, não há com que se preocupar. A Internet está infestada de teorias conspiratórias de uma nova ordem mundial, Illuminati e invasões extraterrestres. Isso é estratégia do diabo para tirar nossos olhos de Cristo e colocá-los nas circunstâncias, como Pedro, “quando reparou no vento, ficou com medo” e começou a afundar (Mt 14:30). Para os que já têm sua salvação assegurada valem estas palavras: “Não se deixem abalar nem alarmar tão facilmente... como se o dia do Senhor já tivesse chegado” (2 Ts 2:2). Afinal, quando você se converteu “deixando os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro”, não foi para ficar amedrontado com conspirações, mas para “esperar dos céus a... Jesus, que nos livra da ira que há de vir” (1Ts 1:9-10).
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Uns tirados, outros deixados
Os versículos seguintes apresentam o cenário na terra por ocasião da vinda de Cristo para julgar as nações e estabelecer o seu reino: “Acontecerá exatamente assim no dia em que o Filho do homem for revelado. Naquele dia, quem estiver no telhado de sua casa, não deve descer para apanhar os seus bens dentro de casa. Semelhantemente, quem estiver no campo, não deve voltar atrás por coisa alguma. Lembrem-se da mulher de Ló! Quem tentar conservar a sua vida a perderá, e quem perder a sua vida a preservará. Eu lhes digo: naquela noite duas pessoas estarão numa cama; uma será tirada e a outra deixada. Duas mulheres estarão moendo trigo juntas; uma será tirada e a outra deixada. Duas pessoas estarão no campo; uma será tirada e a outra deixada” (Lucas 17:30-36).
O capítulo 24 de Mateus, que trata dos mesmos eventos, diz: “Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem. Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem” (Mt 24:37). Repare que foi o juízo de Deus que levou a todos pela morte, e será também o juízo que descerá como abutre fazendo distinção entre duas pessoas ocupadas numa mesma atividade: “uma será tirada e a outra deixada” (Lucas 17:36).
Apesar de alguns interpretarem estas passagens como o arrebatamento da Igreja, elas falam de juízo e morte. Quando Cristo vier reinar ele separará os bodes das ovelhas, tirando uns e deixando outros para habitarem em seu reino na terra com o remanescente de judeus convertidos que ele chama de “meus pequeninos irmãos”(Mt 25:31-46). Quando os discípulos perguntam onde ocorrerá esse terrível juízo discriminatório Jesus responde: “Onde houver um cadáver, ali se ajuntarão os abutres”(Lucas 17:37). Abutres ficam pairando sobre suas vítimas até a hora do mergulho final para despedaçá-las, e assim será na vinda de Cristo. Naquele dia o Senhor irá tirar da terra todo aquele que não servir para viver em seu reino. Os que restarem entrarão com seus corpos físicos e naturais no reino que irá durar mil anos.
Neste capítulo 17 de Lucas o Senhor falou de exercitarmos um espírito de graça em perdoar, de humildade no servir, de gratidão como a do leproso curado e de vigilância aguardando por sua vinda. Nos próximos 3 minutos ele abre o capítulo 18 falando da perseverança na oração.
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Orar sempre
No capítulo 18 de Lucas o Senhor conta uma parábola sobre a necessidade de “orar sempre e nunca desanimar”, mas ainda no contexto do assunto do capítulo anterior, que era sua vinda para reinar na terra. Ele diz:
“Em certa cidade havia um juiz que não temia a Deus nem se importava com os homens. E havia naquela cidade uma viúva que se dirigia continuamente a ele, suplicando-lhe: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário’. Por algum tempo ele se recusou. Mas finalmente disse a si mesmo: ‘Embora eu não tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha me importunar’. E o Senhor continuou: Ouçam o que diz o juiz injusto. Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu lhes digo: ele lhes fará justiça, e depressa” (Lucas 18:1-8).
A parábola da viúva neste capítulo 18 de Lucas serve de ânimo para os crentes de todas as épocas, mas não devemos perder de vista que ela é dirigida primeiramente ao remanescente de judeus fiéis que estará na terra quando acontecer o que foi descrito no capítulo 17 e após a Igreja ter sido arrebatada. O Senhor conclui a parábola com uma pergunta retórica, isto é, para a qual ele já sabe a resposta: “Quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” (Lucas 18:8).
Ele fala de um tempo de “grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá” (Mt 24:21), quando a fé será quase inexistente e os judeus, que aguardarão pelo Messias, serão “perseguidos e condenados à morte... odiados por todas as nações...”. Uma época quando muitos, “escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros, e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24:9-14). Isso precederá sua vinda para estabelecer seu reino na terra, por isso diz que “se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria” — ou “nenhuma carne se salvaria”, como diz outra tradução. “Mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados” (Mt 24:22).
Os eleitos de Deus precisarão estar vivos para entrarem no reino terreno, por isso os dias serão “abreviados” ou não sobraria ninguém na terra. Mas “orar sempre e nunca desanimar” também serve para nós, porém com outra conotação, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Maldição ou intercessão?
Como você já viu, a parábola da viúva que roga ao injusto juiz está no contexto do judaísmo e para o remanescente de judeus fiéis que habitarão na terra após o arrebatamento da Igreja. É um erro pensar que a viúva aqui represente a Igreja, pois esta não é viúva, e sim “noiva, a esposa do Cordeiro” (Ap 21:9), uma “virgem pura” (2 Co 11:2) pela qual Cristo “entregou-se a si mesmo por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Ef 5:25-27). Mas de Jerusalém o profeta diz: “Como se parece com uma viúva, a que antes era grandiosa entre as nações” (Lm 1:1).
Outro detalhe é que a viúva da parábola não roga pelo pão diário ou por outra necessidade, mas por vingança. Ela diz: “Faze-me justiça contra o meu adversário” (Lucas 18:3). Esse tipo de oração fazia sentido para Israel, que tinha inimigos de carne e ossos contra os quais lutar, mas não para a Igreja, cuja “luta não é contra pessoas, mas contra... as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef 6:12). Este detalhe passa despercebido para a maioria dos cristãos que acreditam que as promessas feitas a Israel se apliquem à Igreja. Por isso você encontra tantos hinos evangélicos falando de maldição, vingança e vitória sobre os adversários.
Alguém poderia alegar que tudo isso é encontrado nos Salmos, mas este é o ponto: os Salmos não são hinos cristãos. Se você discorda, tente cantar algo com estes versos tirados dos Salmos: “Certamente Deus esmagará a cabeça dos [meus] inimigos, o crânio cabeludo dos que persistem em seus pecados... para que [eu] encharque os pés no sangue dos inimigos, sangue do qual a língua dos cães terá a sua porção... Puseste os meus inimigos em fuga e exterminei os que me odiavam... Fiquem órfãos os seus filhos e a sua esposa, viúva. Vivam os seus filhos vagando como mendigos... Feliz aquele que pegar os seus filhos e os despedaçar contra a rocha!” (Sl 68:21-23; 18:40; 109:9-10; 137:9).
Todavia, na doutrina dos apóstolos aprendemos a interceder pelos que nos fazem mal: “Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem... Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber... Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 12:14, 20-21). Deu para perceber que cristianismo não é uma fé motivacional de prosperidade, vingança e vitória?
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Batendo no peito alheio
Jesus conta uma parábola sobre “alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros”. Ele diz: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’” (Lucas 18:9-13).
Os fariseus eram a seita mais rigorosa do judaísmo, sempre preocupados em apresentar boa aparência mesmo que fossem “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mt 23:27). Publicanos eram coletores de impostos que entregavam ao invasor romano o dinheiro de seu próprio povo. Eles sabiam que estavam enfiados até o pescoço num esquema de traição e corrupção. Apesar de insistir para que se arrependessem, Jesus não era severo com publicanos, ladrões e prostitutas, porém chamava de “raça de víboras” (Mt 23:33) os religiosos fariseus.
Mesmo que Deus nunca tenha incluído na Lei a obrigatoriedade ou frequência do jejum, o fariseu se gaba de jejuar duas vezes por semana. Do mesmo modo, muitos dos que hoje se dizem cristãos inventam regras, “as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Cl 2:23). No fundo o fariseu não está satisfazendo a Deus, mas a seu próprio ego por não ser ladrão, corrupto ou adúltero, e por jejuar e dar o dízimo. Ao fazer isso ele condena os que não são como ele, batendo, por assim dizer, no peito alheio.
O publicano, por sua vez, bate no próprio peito, ou seja, mostra que é merecedor do juízo divino por ser pecador. Ele ficava “à distância... e nem ousava olhar para o céu”, mas confiava na misericórdia de Deus, e não em sua obediência ou boas obras. Se você gosta de bater no peito alheio saiba que quando tiver um dedo apontado para alguém terá três apontados para o seu próprio peito. Apesar de toda a aparência de religiosidade do fariseu, Jesus revela: “Eu lhes digo que este homem [o publicano], e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lucas 18:14).
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Um reino de crianças
“O povo também estava trazendo criancinhas para que Jesus tocasse nelas. Ao verem isto, os discípulos repreendiam os que as tinham trazido. Mas Jesus chamou a si as crianças e disse: ‘Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele’” (Lucas 18:15-17).
Uma criança não precisa se tornar adulta para ser salva, mas um adulto precisa se tornar como criança para receber o Reino de Deus. Isto é de grande consolo aos pais que perderam seus filhos em tenra idade ou que se converteram a Cristo e ainda trazem na memória algum aborto praticado quando ainda não conheciam a Verdade. Todas essas crianças estão neste exato momento “com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1:23).
Crianças são automaticamente beneficiadas pelos resultados do sacrifício de Cristo, pois ainda não têm consciência de seu pecado. Mas este não é o meu caso e nem o seu. Nós temos idade suficiente para saber que somos pecadores e que nenhuma boa obra nossa poderá nos salvar. Como escreveu Paulo aos cristãos de Éfeso, “vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8-9).
Portanto, se você perdeu um filho ainda na infância alegre-se com o fato de a qualquer momento poder encontrar-se com ele. Mas se você ainda não se converteu a Cristo jamais voltará a vê-lo: ele estará na presença de Deus e você no lago de fogo. Como resolver isso? Transforme-se agora mesmo numa criança crendo com uma fé infantil que Jesus morreu na cruz em seu lugar para pagar por seus pecados ali. Deus precisava condenar o pecador, mas queria também salvá-lo. Se inocentasse o culpado seria injusto; se o condenasse não estaria agindo com misericórdia.
Ao entregar o seu próprio Filho para substituir o pecador na condenação Deus foi justo e misericordioso: por graça deu ao pecador a salvação que ele não merecia e por misericórdia o livrou da condenação que merecia. Para aquele que crê em Jesus com a simplicidade de uma criança seus pecados foram todos pagos na cruz. Mas muitos que hoje se dizem cristãos agem como os discípulos de outrora: Conhecem a Jesus, porém impedem que outros sejam encaminhados a ele. É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Atrapalhando os dons
Uma leitura desatenta do versículo 15 de Lucas capítulo 18 pode nos levar a pensar que os discípulos estivessem impedindo as crianças de irem a Jesus. Embora esta fosse uma consequência do que faziam, na verdade eles criticavam os que levavam as crianças: “O povo também estava trazendo criancinhas para que Jesus tocasse nelas. Ao verem isto, os discípulos repreendiam Os que as tinham trazido” (Lucas 18:15).
Você pode causar um grande estrago à obra do evangelho atrapalhando os que querem levar as pessoas a Jesus. Chamamos a isto de “evangelizar”, porém evangelização não é tarefa da igreja ou de alguma missão ou organização, mas de cristãos individualmente. Para isso alguns recebem de Cristo o dom de evangelista, conforme é explicado em Efésios 4:8-11: Quando Cristo “subiu em triunfo às alturas... deu dons aos homens... e ele designou alguns para... evangelistas”.
Como ocorre com os outros dons citados no mesmo capítulo, nenhum homem ou curso teológico pode fazer de alguém um evangelista, ou tirar tal dom, “pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis” (Rm 11:29). Conheci o pastor de uma denominação que me confidenciou: “Mario, eu não sirvo para ficar no púlpito ensinando crentes e nem tenho jeito para visitar os membros da congregação. Meu prazer é estar nas ruas pregando o evangelho!”. Ele tinha sido consagrado pastor por sua religião, mas seu dom era de evangelista, e a responsabilidade do evangelista é para com o seu Senhor e não para com uma organização.
Mesmo os que não têm o dom de evangelista podem fazer o trabalho de um, e parece ter sido esta a razão de Paulo dizer a Timóteo “Faça a obra de um evangelista” (2Tm 4:5). E antes que você pense que é só falando que se conduz alguém a Cristo, veja o que Pedro aconselha às esposas de maridos incrédulos: “Do mesmo modo, mulheres, sujeitem-se a seus maridos, a fim de que, se alguns deles não obedecem à Palavra, sejam ganhos sem palavras, pelo procedimento de sua mulher, observando a conduta honesta e respeitosa de vocês” (1 Pe 3:1-2).
Sempre que os homens tentam interferir nos dons que são dados por Cristo acabam atrapalhando o trabalho daqueles que querem levar adultos e crianças a Jesus, como acontecia com os discípulos neste capítulo. Mas existe uma outra maneira de colocar tropeços à salvação de alguém, conforme veremos nos próximos 3 minutos.
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Empecilhos à salvação
Os discípulos impediam aqueles que tentavam levar as crianças a Jesus, talvez por acharem que aquilo era conversa para gente grande. Jesus os repreende deixando claro que a fé não é dos que se consideram entendidos, mas dos que se colocam na condição de simples crianças que creem em coisas que não conseguem compreender. Mas o capítulo 18 de Lucas traz ainda outros empecilhos à fé e à salvação.
No início do capítulo, ao falar da insistência da viúva pelo auxílio do juiz, o Senhor sinaliza que tem seus ouvidos atentos ao nosso clamor. O profeta Jeremias escreveu: “‘Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês’, declara o Senhor” (Jr 29:12-14). Desistir não é uma opção.
Outro empecilho à salvação é considerar-se justo, comparando-se a outros ou confiando em sua justiça própria. O fariseu do versículo 10 se achava melhor que o publicano por dar o dízimo e jejuar. O publicano, por sua vez, não se achava digno de se aproximar de Deus e, ao bater no próprio peito, reconhecia merecer o castigo divino. Jesus afirma “que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus” (Lucas 18:14).
O versículo 18 de Lucas fala do encontro de Jesus com um príncipe, que confiava que seria justificado se guardasse a Lei. Mas o primeiro mandamento dizia: “Não terás outros deuses além de mim” (Dt 20:3), e ao recusar abrir mão de suas riquezas para seguir a Jesus, que é Deus e Homem, ele deixava claro quais eram os deuses que seguia e adorava.
Mais um empecilho à salvação está implícito na resposta de Jesus à pergunta dos discípulos acerca de quem poderia ser salvo. “Jesus respondeu: O que é impossível para os homens é possível para Deus” (Lucas 18:27). Se você considerar a salvação humanamente possível de se obter por mérito, ainda não entendeu a magnitude de seu pecado e que é só por graça ou favor imerecido que somos salvos. Qualquer coisa vinda de nós — seja a guarda da Lei, as boas obras, a religião, jejuns, dízimos, Etc. — acabará anulando a verdade de que a salvação é uma dádiva de Deus àqueles que a recebem por graça quando creem em Jesus, o Salvador.
Nos próximos 3 minutos voltaremos a falar do príncipe que idolatrava seus bens.
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Que farei?
“Certo homem importante lhe perguntou: ‘Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?’. ‘Por que você me chama bom’, respondeu Jesus. ‘Não há ninguém que seja bom, a não ser somente Deus. Você conhece os mandamentos: ‘Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’. ‘A tudo isso tenho obedecido desde a adolescência’, disse ele. Ao ouvir isso, disse-lhe Jesus: ‘Falta-lhe ainda uma coisa. Venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois venha e siga-me’. Ouvindo isso, ele ficou triste, porque era muito rico” (Lucas 18:18-23).
Jesus decide testar esse príncipe de Israel. Ao chamar Jesus de “bom” ele aprende que ninguém é bom, exceto Deus. O teste é para ver se ele reconhece que Jesus é Deus, mas isto não acontece. Ele está mais interessado em si mesmo e em receber a vida eterna. Então Jesus faz outro teste. Ele quer saber o que fazer? Então aqui vai uma lista que tem apenas cinco mandamentos que falam da responsabilidade do homem para com o seu próximo. Jesus omite os quatro primeiros mandamentos da Lei dada aos judeus que falavam da responsabilidade para com Deus.
Mas aquele homem se gaba de estar em dia com todos esses cinco mandamentos. Afirma que nunca adulterou, matou, furtou, mentiu ou deixou de honrar pai e mãe. Você conhece alguém assim? Mesmo que ele não tivesse praticado adultérios, homicídios ou roubos, em outra passagem dos evangelhos Jesus ensina que o simples desejo de fazê-lo é pecado. Nunca mentiu? Nunca desobedeceu seus pais? Se ele for feito da mesma carne que eu então não posso acreditar no que diz.
No Evangelho de Mateus, Jesus resume a Lei e os Profetas em dois mandamentos: “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento e... ame o seu próximo como a si mesmo” (Mt 22:37-40). Se este homem realmente amasse o seu próximo como a si mesmo não teria problemas em dar sua fortuna aos pobres, e se amasse a Deus de todo o coração seguiria a Jesus. Mas ele não faz nem uma coisa nem outra, pois amava a si mesmo e às suas riquezas mais que a seu próximo e a Deus.
Seu problema não era a riqueza, mas a avareza. Outros ricos, como Nicodemos e José de Arimateia, não foram testados do mesmo modo porque não confiavam nas riquezas e queriam seguir a Jesus.
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Camelo em buraco de agulha
O rico saiu decepcionado da conversa com Jesus. Seu coração revelara que ele só se importava consigo mesmo e com suas riquezas. Você já buscou a Deus e saiu decepcionado? O problema não estava em Deus, mas em suas prioridades. Talvez você tenha ido a ele pensando no que iria ganhar, quando devia pensar no que iria perder: seus pecados. Você só pede por socorro quando sente a lama bater no queixo e percebe que irá perecer.
O primeiro clamor de um pecador convicto não é por riqueza, saúde ou algum outro benefício, mas para que Deus o purifique de seus pecados, algo que homem algum consegue fazer. Deus pergunta, através do profeta Jeremias: “Será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês que estão acostumados a praticar o mal” (Jr 13:23).
Será que você acredita ser capaz de escapar do juízo eterno sendo bom? Isso é tão impossível quanto fazer passar um camelo pelo buraco de uma agulha. O pecado fez de você réu culpado e merecedor do juízo, e a única saída é aceitar o perdão divino. Um condenado pode ser liberto se cumprir sua pena ou receber um perdão judicial. É o caso de uma mãe culpada de causar a morte de um filho por acidente. Primeiro o juiz a condena e depois a isenta da pena concedendo o perdão por misericórdia.
Nem pense em cumprir a pena imposta por Deus para seus pecados, pois ela é eterna. Então só lhe resta confiar na misericórdia divina e clamar por perdão. Trata-se de um perdão que decorre de uma pena cumprida em sua totalidade por um Substituto, Jesus. Na cruz Deus fez dele pecado por nós, derramando sobre ele em três horas de trevas uma eternidade de castigo. Agora, pela fé e por graça, você pode ter um perdão completo, independente do peso de seus pecados e do juízo que eles mereciam.
Jesus comenta: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Porque é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. E os que ouviram disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Mas ele respondeu: os impossíveis dos homens são possíveis para Deus” (Lucas 18:24-27). Em seus devaneios os teólogos ficam discutindo se “camelo” seria uma corda de amarrar navio e “agulha” um portão estreito. Mas o assunto de Jesus é a impossibilidade de o homem salvar-se a si mesmo. Então nos próximos 3 minutos vem Pedro e pergunta: “E o que eu ganho com isso?”
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Muitas vezes mais
Quando os discípulos veem que o homem rico preferiu conservar suas riquezas a seguir a Jesus, Pedro comenta: “Nós deixamos tudo o que tínhamos para seguir-te!”. O Senhor, então, responde: “Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, mulher, irmãos, pai ou filhos por causa do Reino de Deus deixará de receber, na presente era, muitas vezes mais, e, na era futura, a vida eterna” (Lucas 18:28-30).
No fundo o que Pedro quer saber é o que ganhará por ter trocado o que tinha nesta vida para seguir a Jesus. Este raciocínio é natural ao coração humano. Se existir em nós qualquer desejo de seguir a Jesus esse desejo será egoísta e interesseiro. Uma leitura distraída da resposta de Jesus dada a Pedro pode parecer indicar que nossa disposição de deixar nossos bens para seguir o Senhor seria recompensada com a garantia de vida eterna.
Mas é preciso lembrar que Jesus tinha acabado de comentar que a salvação “é impossível para os homens”, mas “é possível para Deus” (Lucas 18:27). Ou seja, nada do que fazemos irá nos garantir a vida eterna. Esta só pode ser recebida por graça, e isto fica patente desta afirmação de Jesus e de muitas outras passagens das Escrituras, como a de Efésios 2:8-10: “Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.”.
Então o que significa a resposta de Jesus a Pedro? Que a pessoa salva pela fé em Cristo é transformada em um instrumento de Deus para “boas obras”, as quais incluem o desapego pelas coisas materiais e pelos vínculos afetivos, e até a disposição para abrir mão disso se esta for a direção recebida de Deus. Esse desapego é fruto de um coração que recebeu a salvação por graça.
Além disso, de uma certa maneira aquele que crê recebe, na vida presente, “muitas vezes mais... casa, mulher, irmãos, pai ou filhos” no sentido de encontrar nos milhares de irmãos em Cristo aquilo que talvez não tenha encontrado nos bens e parentescos desta vida. Esse mesmo desapego pelas coisas do aqui e agora faz o crente desfrutar melhor das coisas que são eternas. O que Jesus revela aos discípulos nos próximos 3 minutos é prova disso, ou seja, de como ele tinha vindo ao mundo, não para salvar sua própria vida, mas para entregá-la numa cruz de dor e humilhação.
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Critério de auto referência
Depois de tranquilizar a Pedro, preocupado com o que iria ganhar por ter deixado tudo para segui-lo, Jesus faz uma revelação surpreendente. Ele, que “sendo rico, se fez pobre” (2 Co 8:9) por amor de nós, iria entregar seu bem mais precioso, a própria vida, para que pudéssemos ser salvos.
“Jesus chamou à parte os doze e lhes disse: ‘Estamos subindo para Jerusalém, e tudo o que está escrito pelos profetas acerca do Filho do homem se cumprirá. Ele será entregue aos gentios que zombarão dele, o insultarão, cuspirão nele, o açoitarão e o matarão. No terceiro dia ele ressuscitará’. Os discípulos não entenderam nada dessas coisas. O significado dessas palavras lhes estava oculto, e eles não sabiam do que ele estava falando” (Lucas 18:31-34).
Pela terceira vez Jesus avisa que irá morrer, mas os discípulos não compreendem. Eles sabiam que Jesus corria o risco de cair numa emboscada ou ser apedrejado em um ato espontâneo por suas críticas contra o clero. Mas ser entregue às autoridades romanas significava um julgamento formal. E como poderia ele ser julgado e condenado à morte sem ter cometido crime algum?
Ele avisa que “tudo o que está escrito pelos profetas acerca do Filho do homem se cumprirá”, e se eles tivessem buscado nas Escrituras teriam visto muitas referências à humilhação e morte do Messias antes de ele vir em glória como libertador. “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras” (Mt 22:29), dissera ele aos fariseus em outra ocasião. Apesar de copiarem, estudarem e pregarem as Escrituras todos os dias, os religiosos judeus julgavam tudo pelo critério de auto referência, que é quando você analisa as coisas com base em ideias preconcebidas e não segundo a verdade.
Mais tarde, os próprios discípulos no caminho para Emaús demonstrariam sua frustração com a morte de Jesus, pois pensavam exatamente como os religiosos. Eles diriam: “Nós esperávamos que era ele que ia trazer a redenção a Israel” (Lucas 24:20-21). As referências à morte do Messias eram abundantes nos Salmos e nos livros dos profetas, mas o povo tinha sido cegado pelo ensino errôneo dos escribas, fariseus e sacerdotes. E você, confere na Bíblia tudo o que escuta por aí ou simplesmente acredita nas ideias preconcebidas da religião humana?
Nos próximos 3 minutos um cego faz Jesus parar.
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Incapaz de fazer
Jesus passa por Jericó e à beira do caminho há um mendigo cego que, ao ouvir o ruído da multidão, pergunta o que está acontecendo. A resposta é que “Jesus de Nazaré está passando” (Lucas 18:35). Jesus era de Belém, mas por ter sido criado em Nazaré alguns o chamavam assim. Os nascidos em Nazaré eram discriminados, como você percebe na passagem do Evangelho de João, quando Natanael é informado por Filipe que haviam encontrado o Messias, “Jesus de Nazaré, filho de José”. Natanael contestou: “Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá?” (Jo 1:45-46).
Mas se os homens dizem que é “Jesus de Nazaré”, não é assim que o cego o chama. Ele “se pôs a gritar: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Lc 18:38). Chamá-lo de “Filho de Davi” era tratá-lo com a dignidade real que ele merecia. “Os que iam adiante o repreendiam para que ficasse quieto”, talvez embaraçados com o escândalo causado pelo cego, “mas ele gritava ainda mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Lucas 18:39). O que acontece a seguir é significativo: “Jesus parou” (Lucas 18:40).
Em um episódio no Antigo Testamento, quando o anoitecer poderia atrapalhar a vitória de Israel sobre o inimigo, “Josué exclamou ao Senhor, na presença de Israel: ‘Sol, pare sobre Gibeom! E você, ó lua, sobre o vale de Aijalom!’ O sol parou, e a lua se deteve, até a nação vingar-se dos seus inimigos” (Js 10:12-13). O Senhor é capaz de fazer o sol parar no meio do alto céu, mas aqui vemos um cego capaz de fazer o Senhor parar na terra.
Lemos em Isaías 57:15: “Assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: ‘Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito’”. Um pouco antes vimos um rico saudável perguntar a Jesus: “Que farei para herdar a vida eterna?” (Lucas 18:18). Agora vemos um cego pobre que clama por misericórdia por saber que é incapaz de fazer coisa alguma. E como poderia, se precisou da ajuda de outros para saber que Jesus passava e ser levado a ele?
É Jesus quem pergunta: “‘O que você quer que eu lhe faça?’ ‘Senhor, eu quero ver’, respondeu ele. Jesus lhe disse: ‘Recupere a visão! A sua fé o curou’. Imediatamente ele recuperou a visão; e seguia a Jesus glorificando a Deus. Quando todo o povo viu isso, deu louvores a Deus” (Lucas 18:41-43). E você? Ainda está querendo saber o que fazer para ser salvo ou se reconhece incapaz ao ponto de deixar que Jesus faça por você?
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Vergonha
No capítulo 18 de Lucas vimos um rico, que idolatrava suas riquezas, rejeitar Jesus. Na ocasião Jesus comentou: “Como é difícil aos ricos entrarem no Reino de Deus!”, e quando os discípulos perguntaram, “Então, quem pode ser salvo?”, Jesus respondeu: “O que é impossível para os homens é possível para Deus” (Lucas 18:24-27). O capítulo 19 começa com Jesus em Jericó e “havia ali um homem rico chamado Zaqueu, chefe dos publicanos” (Lucas 19:1-2). Jesus mostra agora como o “impossível para os homens”, isto é, alguém salvar-se a si mesmo, “é possível para Deus”.
É significativo o fato de Zaqueu morar em Jericó, cidade amaldiçoada no capítulo 6 do livro de Josué. Jesus irá libertar Zaqueu da maldição do pecado que assola cada coração humano. Ao contrário do rico do capítulo anterior, que queria guardar a Lei mais para ter boa reputação diante dos homens do que diante de Deus, Zaqueu não dá a mínima importância à sua riqueza e posição social. Ele está disposto a se expor ao ridículo para conhecer a Jesus. Por ser baixinho, Zaqueu sobe numa figueira brava, árvore cujo fruto é de má qualidade e uma figura da incapacidade do ser humano pecador de produzir bons frutos para Deus.
Zaqueu não quer ver a Jesus por curiosidade, ganância de prosperidade ou necessidade de cura. Ele é rico e saudável. Seu foco está na Pessoa de Jesus. Se no capítulo anterior Jesus parou por causa de um cego que não tinha vergonha de gritar por misericórdia, mesmo sendo criticado pela multidão, aqui ele se detém para falar com um rico que não tem medo do que as pessoas irão pensar dele. Espero que você não esteja entre os que estão mais preocupados com a própria reputação do que com a salvação.
Muitos não confessam fé em Jesus para não serem ridicularizados, porém Jesus declarou: “Quem me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas aquele que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus” (Lucas 12:8-9). Uma fé genuína em Jesus inclui crer de coração em sua Pessoa, morte e ressurreição, e também confessar com a boca sujeição a ele. “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para salvação” (Rm 10:9-10). Você prefere passar vergonha diante de Deus ou dos homens?
Nos próximos 3 minutos Jesus chama Zaqueu pelo nome.
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Zaqueu
Zaqueu é um homem de baixa estatura que deseja ver Jesus passar e, por causa da multidão, sobe numa árvore. “Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: ‘Zaqueu, desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje’. Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria” (Lucas 19:5-6). Como Jesus sabia o nome daquele coletor de impostos trepado numa figueira brava? Porque ele é Deus, o Senhor.
O profeta Isaías escreve acerca de um rei, dizendo: “Eu sou o Senhor... que diz acerca de Ciro: ‘Ele é meu pastor, e realizará tudo o que me agrada; ele dirá acerca de Jerusalém: ‘Seja reconstruída’, e do templo: ‘Sejam lançados os seus alicerces’” (Is 44:24-28). Detalhe: Isaías escreveu estas linhas e citou o nome de um rei que iria nascer uns 150 anos depois. Como ele poderia saber? Por revelação divina, como tudo mais nas Escrituras.
Deus sabe o nome de cada pessoa que viveu, vive e viverá, e também “determina o número de estrelas e chama cada uma pelo nome” (Sl 147:4). Os astrônomos não sabem quantas estrelas existem e já não conseguem dar nomes as recém descobertas. Hoje elas são chamadas por códigos alfanuméricos. Mas Jesus sabe o nome das estrelas, de Zaqueu e também o meu e o seu. Ele diz a Zaqueu: “Quero ficar em sua casa hoje” e Zaqueu “desceu rapidamente e o recebeu com alegria” (Lucas 19:5-6). Não seria esta também sua reação se Jesus quisesse se hospedar em sua casa? Certamente você o receberia alegremente e de portas abertas. Ou não?
A oposição formada por “todo o povo” logo condena a iniciativa de Jesus. “Ele se hospedou na casa de um ‘pecador’” (Lucas 19:7), dizem eles, como se aquele que sabe o nome das estrelas não conhecesse cada pecado de Zaqueu. Incomodado com os comentários, Zaqueu tenta se justificar: “Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado” (Lucas 19:8).
Esta é a versão mais correta da passagem, e não as que parecem apontar que Zaqueu teria decidido agir assim como consequência da visita de Jesus. Isto porque não é com base em um bom proceder que a salvação entra na casa de Zaqueu, mas por graça e como resposta a uma fé genuína igual à de Abraão, que “creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça” (Gl 3:6). Por isso Jesus diz: “Hoje houve salvação nesta casa! Porque este homem também é filho de Abraão. Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido” (Lucas 19:9-10). Se você ainda está perdido, faça como Zaqueu: receba a Jesus com alegria.
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Desde quando?
No episódio anterior conhecemos Zaqueu, um pecador perdido que dava metade de seus bens aos pobres e restituía quadruplicado algum imposto cobrado a mais. Porém não foi por suas boas obras que o Senhor lhe declarou: “Hoje houve salvação nesta casa!”. Zaqueu foi salvo por pertencer à linhagem dos filhos Abraão, aquele cuja “fé lhe foi creditada como justiça” e é chamado de “pai de todos os que creem” (Rm 4:9-11).
Será que você também é da descendência de Abraão? Se for, então não tentará apoiar sua salvação em suas boas obras, mas na graça de Deus. Pois “a promessa vem pela fé, para que seja de acordo com a graça e seja assim garantida a toda a descendência de Abraão” (Rm 4:16). Repare nas palavras “promessa”, “fé”, “graça” e “garantida”. Assim é a salvação: ela foi prometida pelo Deus que não pode mentir, é recebida por fé, não por obras, vem de graça e é garantida, isto é, impossível de se perder.
Mas desde quando Deus teria concebido uma tal salvação? Quando teria começado a se interessar por Zaqueu, por mim ou por você? Por cinco vezes a Bíblia fala de um tempo antes da existência do tempo, e você ficará surpreso ao saber que, na eternidade Deus já estava interessado em Zaqueu, em mim e em você. Então já estávamos nos pensamentos de Deus.
Tudo começa com o amor do Pai pelo Filho eterno, Jesus, que diz: “Pai... [tu] me amaste antes da criação do mundo” (Jo 17:24). Descobrimos então que “Deus nos escolheu nele [em Cristo] antes da criação do mundo... [e] em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos” (Ef 1:4-5). Para isso Deus preparou “um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo” (1 Pe 1:20).
Se você já creu em Jesus como seu Salvador, saiba que ele “nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos” (2Tm 1:9). Sabemos também que a “fé e o conhecimento da verdade que conduz à piedade... se fundamentam na esperança da vida eterna, a qual o Deus que não mente prometeu antes dos tempos eternos” (Tt 1:1-2).
Agora, quando lhe perguntarem quando Deus começou a amar você, a melhor resposta é “nunca”, pois ele sempre amou, “antes da criação do mundo”, “antes dos tempos eternos”, antes mesmo de você existir.
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Na esfera do Reino
No episódio anterior Jesus declarou que a salvação havia entrado na casa de Zaqueu, mas não por merecimento de Zaqueu. A salvação é recebida por fé, a mesma fé de Abraão, chamado de “pai de todos os que creem” (Rm 4:9-11). Agora Jesus vai falar da responsabilidade daquele que crê com o coração e com a boca confessa que Cristo é seu Senhor. Se a salvação é recebida por graça e mediante a fé, a recompensa é recebida pelas obras e pelo modo como o crente utiliza o que recebeu de Deus.
Mas antes Jesus precisava esclarecer algo. Com sua presença no mundo aqueles judeus “foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir” (Hb 6:4-5), ou seja, do reino do Messias. Agora, “porque [Jesus] estava perto de Jerusalém o povo pensava que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato” (Lucas 19:11). Porém os profetas indicavam uma ausência do Messias entre sua primeira vinda e o estabelecimento do Reino em glória. O profeta Daniel dissera: “O Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele” (Dn 9:26).
O Reino de Deus aparece em diferentes aspectos no Novo Testamento. João Batista veio como precursor do Rei para anunciar esse reino. Seu discurso era: “O tempo é chegado... O Reino de Deus está próximo” (Mc 1:15). Então, no início de seu ministério, Jesus declarou, “O Reino de Deus está entre vocês” (Lucas 17:21), pois ele, o Rei, estava entre eles ainda que o reino não tivesse sido estabelecido em poder. Após Jesus morrer, ressuscitar e subir aos céus, o Reino permanece na terra em sua ausência e dele fazem parte os que se sujeitam a Cristo, vivendo segundo os princípios que ele estabeleceu para o seu Reino. Esses são os “bem aventurados” dos capítulos 5 de Mateus e 6 de Lucas.
Fica fácil entender se nos lembrarmos da História do Brasil. Quando D. João VI transferiu o reino para as terras brasileiras, Portugal foi invadido e dominado por Napoleão. Os portugueses que continuaram a viver em Portugal permaneceram sujeitos a um rei ausente, falando a língua e praticando os costumes desse reino, mesmo vivendo em terras tomadas pela França. Assim vivem os cristãos no Reino de Deus, um reino cujo Rei viajou para o céu e prometeu voltar. E é exatamente assim que Jesus começa a parábola que veremos nos próximos 3 minutos, quando “um homem de nobre nascimento foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar” (Lucas 19:12).
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A parábola das minas
Jesus conta uma parábola: “Um homem de nobre nascimento foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar. Então, chamou dez dos seus servos e lhes deu dez minas. Disse ele: ‘Façam esse dinheiro render até à minha volta’. Mas os seus súditos o odiavam e depois enviaram uma delegação para lhe dizer: ‘Não queremos que este homem seja nosso rei’. Contudo, foi feito rei e voltou. Então mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber quanto tinham lucrado.” Será bom você ler Lucas 19:12-27 para conhecer a história completa.
Jesus está se referindo ao fato de o povo pensar “que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato” (Lucas 19:11). Mas não. Antes de voltar para reinar Jesus teria de morrer, ressuscitar e ser glorificado. Jesus é esse “homem de nobre nascimento” da parábola que agora está nessa “terra distante” de onde prometeu voltar. Os judeus são os que declararam “Não queremos que este homem seja nosso rei” (Lucas 19:14) e “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27:25), ao rejeitarem seu testemunho em vida e assumirem a responsabilidade por sua morte.
Na continuação da parábola o Rei volta e passa a indagar dos servos quanto tinha rendido os recursos que cada um recebeu para administrar. O primeiro fez a “mina” ou moeda que recebeu render “outras dez”, e seu empenho é premiado com a responsabilidade de governar sobre “dez cidades”. O segundo transformou uma moeda em cinco e foi posto sobre cinco cidades. O terceiro não negociou com a moeda e nem teve a iniciativa de investi-la para render juros, e ainda culpa o Rei por seu marasmo: “Tive medo, porque és um homem severo. Tiras o que não puseste e colhes o que não semeaste” (Lucas 19:21).
Aquela era a opinião que o mau servo tinha do Rei, que aproveita para julgá-lo segundo suas próprias palavras e recompensar o que mais multiplicou o dinheiro. O Rei diz: “‘Tomem dele a sua mina e deem-na ao que tem dez’. ‘Senhor’, disseram, ‘ele já tem dez!’ Ele respondeu: ‘Eu lhes digo que a quem tem, mais será dado, mas a quem não tem, até o que tiver lhe será tirado.’”(Lucas 19:23-26). Enquanto os dois primeiros servos representam cristãos genuínos, este último pode tanto representar um falso professo como também um que será “salvo como alguém que escapa através do fogo”(1 Co 3:15), sem nada ter construído para Deus.
Mas este é um assunto que voltaremos a abordar nos próximos 3 minutos.
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Sacrifício vivo
Na parábola deste capítulo vimos dois servos úteis e um inútil e ignorante do caráter de seu senhor. Os dois primeiros foram recompensados por sua iniciativa, enquanto o terceiro foi censurado por sua apatia. Sua desculpa se baseou no que ele pensava de seu senhor. Será que você está entre os que têm a mesma opinião a respeito de Deus? Você o considera um Deus severo, que tira o que não deu e colhe o que não plantou? Esta é a opinião daqueles que acusam Deus de querer privá-los dos prazeres desta vida.
Se tal atitude já é reprovável nos incrédulos, que ignoram que Deus “faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mt 5:45), quanto mais nos que dizem crer em Jesus. Nós, os que cremos no Salvador, fomos “lavados... santificados... justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (1 Co 6:11), e estamos prontos a ocupar um lugar no céu. Se somos deixados na terra é “para fazermos boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2:10), e não para vivermos “como os gentios, que vivem na futilidade dos seus pensamentos” (Ef 4:17).
Talvez você alegue ser incapaz de fazer algo para Deus, mas será que não pode orar e interceder pelos que fazem? Talvez sua desculpa seja falta de dinheiro, esquecendo-se da pobre mulher que tinha apenas duas moedas e foi elogiada pelo Senhor por sua liberalidade. Ainda que não tenha coisa alguma, você ainda tem a si mesmo para oferecer. Na carta aos Romanos Paulo exorta os cristãos a oferecerem o próprio corpo “em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, chamando a isto de “culto racional” (Rm 12:1).
Quando Jesus entregou-se a Deus como sacrifício por mim e por você, aquilo significou sua morte. Mas quando um crente é convidado a sacrificar-se para Deus isto significa entregar-se vivo — seu corpo, seu trabalho, sua adoração e seus bens. Mas nosso sacrifício não é para remover pecados, pois Deus proveu o sacrifício perfeito, Cristo, “oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos” (Hb 9:28).
Além dos dois servos úteis e do inútil, existe na parábola uma outra classe de pessoas, das quais o Rei declara: “Aqueles inimigos meus, que não queriam que eu reinasse sobre eles, tragam-nos aqui e matem-nos na minha frente!” (Lucas 19:27). Esses representam os judeus que não querem se sujeitar a Cristo, algo que até um jumento xucro se dispõe a fazer nos próximos 3 minutos.
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O jumento xucro
Em seu caminho em direção a Jerusalém Jesus envia “dois dos seus discípulos, dizendo-lhes: ‘Vão ao povoado que está adiante e, ao entrarem, encontrarão um jumentinho amarrado, no qual ninguém jamais montou. Desamarrem-no e tragam-no aqui. Se alguém lhes perguntar: ‘Por que o estão desamarrando?’ digam-lhe: ‘O Senhor precisa dele.’”. Os discípulos fazem como lhes fora ordenado. Depois, “lançaram seus mantos sobre o jumentinho e fizeram que Jesus montasse nele” (Lucas 19:28-35).
O jumento xucro representa o homem religioso, ainda amarrado à Lei dada a Moisés para restringir seus passos e impedir que ele se comporte como um animal selvagem. Paulo explica que “antes que viesse esta fé, estávamos sob a custódia da lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada. Assim, a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Agora, porém, tendo chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor” (Gl 3:23-25).
Jesus ordena aos discípulos que desamarrem o jumento para este poder ser útil e transportar o Senhor. Hoje cada crente em Cristo está liberto da Lei e pode servir a Cristo levando alegremente o seu nome e testemunho neste mundo como prova de gratidão, e não por obrigação. Os fariseus costumavam fazer o contrário: Atavam “fardos pesados e difíceis de suportar” (Mt 23:4) e os colocavam nos ombros dos homens, apesar de eles próprios não desejarem carregá-los. Muitos líderes religiosos fazem o mesmo hoje com seus seguidores, alheios ao fato de que a salvação não é recebida por mérito ou pela guarda da Lei, mas por graça.
Por outro lado, há também os que compreendem que sua salvação é por graça, porém estão interessados apenas em se verem livres das amarras. Se o jumento tivesse apenas sido solto, que utilidade teria para o Senhor? Todavia, “o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:14-15).
Depois de liberto da Lei, do pecado e da condenação, para quem você vive? Como tem empregado sua vida aqui? Que utilidade você tem para Deus?
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Bendito é o Rei
Lucas descreve a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém: Os discípulos “lançaram seus mantos sobre o jumentinho e fizeram que Jesus montasse nele. Enquanto ele prosseguia, o povo estendia os seus mantos pelo caminho. Quando ele já estava perto da descida do monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos começou a louvar a Deus alegremente, em alta voz, por todos os milagres que tinham visto: ‘Bendito é o rei que vem em nome do Senhor!’ ‘Paz no céu e glória nas alturas!’” (Lucas 19:35-38).
A cena do homem gentil que estende seu casaco sobre a poça de lama para a mulher passar é bem conhecida nos romances. E é nessa disposição que as pessoas estendem suas vestes para forrar o caminho de Jesus. Ele não está montado num possante cavalo, como faria um rei conquistador. Isso ele ainda fará, como revela o Livro do Apocalipse: “Vi o céu aberto e diante de mim um cavalo branco, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e guerreia com justiça. Seus olhos são como chamas de fogo” (Ap 19:11-12). Aqui ele monta humildemente um jumentinho, pois entra em Jerusalém para morrer e salvar, e não para conquistar e julgar.
A multidão o exalta “por todos os milagres que tinham visto”, porém Deus coloca em suas bocas o devido louvor: “Bendito é o rei que vem em nome do Senhor”, e “Paz no céu e glória nas alturas”, anunciam “alegremente, em alta voz”. É fácil perceber a origem divina dessas palavras, pois quando “alguns dos fariseus que estavam no meio da multidão disseram a Jesus: ‘Mestre, repreende os teus discípulos!’ ‘Eu lhes digo’, respondeu ele, ‘se eles se calarem, as pedras clamarão’”. (Lucas 19:39-40). Aquele que seria capaz de fazer as pedras clamarem é quem faz sair louvor da boca daquelas pessoas, mesmo que não entendessem o que falavam.
Em Lucas 2:14 os anjos proclamavam “Glória a Deus nas alturas”, e depois “paz na terra”. Mas aqui o Rei já foi rejeitado e não se fala em “paz na terra”, pois esta ficará devastada antes que ele volte para reinar. Aqui o clamor divinamente inspirado diz “Paz no céu” e só depois “Glória nas alturas”. Antes que a paz venha sobre a terra Jesus precisa morrer, ressuscitar e ser glorificado, cumprindo assim a única obra capaz de garantir “paz no céu” e “Glória nas alturas”. Se você é daqueles que acreditam na possibilidade de paz neste mundo sinto dizer que está iludido. Nenhuma paz haverá até Cristo voltar para reinar, mas seria bom você atentar para o fato de a paz já ter sido resolvida no céu, e é disto que iremos falar nos próximos 3 minutos.
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Paz no céu
Costumamos pensar na obra de Cristo apenas no sentido de nos salvar, mas sua morte, ressurreição e glorificação “à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1:3) têm uma abrangência bem maior. Antes de Adão e Eva caírem em pecado houve outra queda envolvendo Satanás, o “querubim guardião” (Ez 28:14). Aquilo criou uma situação estranha, pois tanto os anjos fieis a Deus como “as forças espirituais do mal”, contra as quais o cristão é exortado a lutar, passaram a compartilhar de uma mesma esfera “nas regiões celestiais” (Ef 6:12). Por isso nos capítulos 1 e 2 do Livro de Jó você encontra Satanás no céu e Apocalipse 12 revela a futura expulsão de Satanás e seus anjos com estas palavras:
“Houve uma guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar no céu. O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra. Então ouvi uma forte voz do céu que dizia: ‘Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite’” (Ap 12:7-10).
A vitória de Miguel e seus anjos contra os rebeldes do céu só será possível no futuro porque na cruz Jesus esmagou a cabeça da serpente, como havia sido predito no Jardim do Éden. Não foi por intermédio de anjos que Deus selou a sorte de Satanás, o querubim mais elevado na hierarquia angelical, mas por meio de um Homem, Jesus, descendente da mulher que o diabo enganou no princípio. Por isso o evangelho está entre as “coisas que até os anjos anseiam observar” (1 Pe 1:12) e buscam conhecer a “multiforme sabedoria de Deus” (Ef 3:10) manifestada através da Igreja.
“Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz. Antes vocês estavam separados de Deus e, em suas mentes, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês. Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação” (Cl 1:19-22).
Nos próximos 3 minutos Jesus chora.
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“Vocês não quiseram!”
“Quando se aproximou e viu a cidade [Jerusalém], Jesus chorou sobre ela e disse: ‘Se você compreendesse neste dia, sim, você também, o que traz a paz! Mas agora isso está oculto aos seus olhos. Virão dias em que os seus inimigos construirão trincheiras contra você, e a rodearão e a cercarão de todos os lados. Também a lançarão por terra, você e os seus filhos. Não deixarão pedra sobre pedra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus a visitaria’”. (Lucas 19:41-44).
Duas passagens nos Evangelhos falam de Jesus chorando. Em João 11:35, quando Lázaro morreu, ele chorou, mas não um pranto de luto, pois sabia que traria Lázaro de volta da morte. Ele chorou por Marta e Maria, irmãs de Lázaro, e pela ruína causada pelo pecado. No original, a palavra grega para o choro das irmãs tem o sentido de pranto. A palavra usada para o choro de Jesus significa que verteu lágrimas em silêncio. Mas o choro à entrada de Jerusalém é de pranto, de profunda desolação.
A vinda de Jesus havia sido acompanhada da promessa de “paz na terra” (Lucas 2:14), mas os judeus rejeitaram seu Messias, apesar dos avisos dos profetas que tinham vindo antes dele. Ele já havia se lamentado disso em Lucas 13:34, quando disse: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedrejas os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! Eis que a casa de vocês ficará deserta. Eu lhes digo que vocês não me verão mais até que digam: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’”.
Agora preste muita atenção nesta frase de Jesus ao falar dos judeus: “Vocês não quiseram”. Por não desejarem o Príncipe da Paz tudo o que restava para eles seriam guerras. Não é surpresa, portanto, toda a desgraça que caiu sobre esse povo nos últimos dois mil anos. O profeta Oseias revela o sentimento por detrás desse pranto de Jesus: “Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho... Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles não perceberam que fui eu quem os curou. Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los... O meu coração está enternecido” (Os 11).
Agora pense em seu destino se um dia Jesus precisar dizer de você que, por mais que tenha tentado atrair sua atenção, você não quis recebê-lo.
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De mercadores a assassinos
No início de seu ministério Jesus viu no pátio do templo “alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e outros assentados diante de mesas, trocando dinheiro” e, enquanto expulsava os comerciantes e cambistas, disse: “Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado!” (Jo 2:14-16). Agora, no final de seu ministério, mais uma vez ele “entrou no templo e começou a expulsar os que estavam vendendo”, dizendo: “A minha casa será casa de oração; mas vocês fizeram dela um covil de ladrões.’” (Lucas 19:45-46).
É um erro aplicar estas passagens ao comércio nas dependências das chamadas ‘igrejas’, pois isto seria dar a esses templos o mesmo status do Templo em Jerusalém. Deus não autorizou a construção de nenhum templo cristão, portanto os chamados ‘templos’ da cristandade não têm qualquer valor para Deus. Na atual dispensação o Senhor Jesus prometeu estar no meio de dois ou três congregados ao seu Nome. O que importa não são as paredes usadas para reunir os cristãos, mas aquele em torno de quem o Espírito Santo os reúne.
Também é um erro chamar esses edifícios de “casa de Deus”, pois “a casa de Deus... é a igreja do Deus vivo” (1Tm 3:15). Fazer de quatro paredes o elemento reunidor é perder de vista o Espírito Santo, o único que reúne os crentes em torno de Cristo. Colocar um homem à frente como “pastor” do rebanho é desprezar a liderança do Senhor, que “chama as suas ovelhas pelo nome e as leva para fora [do aprisco]” (Jo 10:3-4). Acrescentar ao cristão uma denominação é desonrar o nome que está acima de todo nome — Cristo — dado “como cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas” (Ef 1:21-23).
O corpo de Cristo é perfeito e indivisível, mas a casa de Deus, a esfera da profissão cristã, foi arruinada pelo homem. A “casa de Deus... coluna e fundamento da verdade” (1Tm 3:15) se transformou numa “grande casa” onde “há vasos... para fins honrosos, outros para fins desonrosos” (2Tm 2:20), principalmente por causa daqueles que “pensam que a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6:5). Em Israel o comércio associado às coisas de Deus foi só o começo. Na primeira limpeza do Templo Jesus chamou a “casa de Deus” de “mercado”, mas agora a chama de “covil de ladrões” que se transformariam em assassinos, pois “Os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes do povo procuravam matá-lo” (Lucas 19:47).
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Com que autoridade?
“Quando Jesus estava ensinando o povo no templo e pregando as boas novas, chegaram-se a ele os chefes dos sacerdotes, juntamente com os mestres da lei e os líderes religiosos, e lhe perguntaram: ‘Com que autoridade estás fazendo estas coisas? Quem te deu esta autoridade?’” (Lucas 20:1-2). A pergunta dos líderes religiosos é pretensiosa. Eles se acham capazes de julgar a resposta de Jesus e decidir se ele tem ou não autoridade para ensinar. Ao fazerem isso estão se colocando acima do próprio Senhor e fazendo-se juiz dele. Jesus responde com uma pergunta para ver se eles têm competência para julgar sua autoridade.
“Digam-me: ‘O batismo de João era do céu, ou dos homens?’ Eles discutiam entre si, dizendo: ‘Se dissermos: ‘do céu’, ele perguntará: ‘Então por que vocês não creram nele?’ Mas se dissermos: ‘dos homens’, todo o povo nos apedrejará, porque convencidos estão de que João era um profeta. Assim, responderam: ‘Não sabemos de onde era’. Disse então Jesus: ‘Tampouco lhes direi com que autoridade estou fazendo estas coisas.’” (Lucas 20:3-8).
Os líderes religiosos revelam assim a sua total incompetência para julgar as coisas divinas. Seu orgulho era tão grande que já haviam abandonado as Escrituras e adotado a si mesmos, seus dogmas e tradições como referencial para julgar. A cristandade segue o mesmo caminho ao adotar títulos acadêmicos para certificar quem está ou não capacitado para falar da parte de Deus. Mas a verdade é que “quando ele [Cristo] subiu em triunfo às alturas... deu dons aos homens... e designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4:7-12).
Hoje homens outorgam a outros homens dons que só podem ser dados por Cristo. Ordenam ao ministério e enviam para a obra aqueles que cumprem um currículo acadêmico, esquecendo-se de que a seara é do Senhor e que ele próprio ensinou que devíamos pedir “ao Senhor da seara que envie trabalhadores para a sua seara” (Mt 9:38). Homem algum pode enviar outro homem. Pode, no máximo, impor suas mãos em comunhão com aquele que o Espírito Santo envia, reconhecendo assim o mover de Deus, mas nunca querer fazer algo que cabe ao Senhor e ao Espírito.
Nos próximos 3 minutos Jesus conta uma parábola sob medida.
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Pedra de tropeço
Jesus conta uma parábola e “Os mestres da lei e os chefes dos sacerdotes... perceberam que era contra eles que ele havia contado” (Lucas 20:19). Às vezes você escuta o evangelho e pensa: “Fulano devia ouvir isso...”. Mas e se Deus estiver querendo falar com você? Aqui os fariseus entenderam que o recado era para eles, mas ao invés de se arrependerem, endureceram ainda mais seus corações. Será que você está entre os que endurecem o coração ou entre os que aceitam alegremente as boas novas de salvação?
O evangelho é um divisor de águas que revela os que estão destinados à vida eterna e os que querem continuar inimigos de Deus. Foi o que aconteceu em Antioquia da Pisídia, quando o resultado da pregação de Paulo e Barnabé foi a divisão dos ouvintes entre salvos e perdidos: “Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do Senhor; e creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna... Mas os judeus incitaram as mulheres piedosas de elevada posição e os principais da cidade e, provocando perseguição contra Paulo e Barnabé, os expulsaram do seu território” (At 13:48-50).
A parábola de Jesus previa a rejeição da parte dos judeus. Nela um homem que planta uma vinha, arrenda a terra a alguns lavradores e viaja para longe. A cada colheita ele envia um funcionário para receber sua parte do arrendamento, mas os arrendatários espancam e humilham cada um deles, expulsando-os de mãos vazias. “Então o proprietário da vinha disse: ‘Que farei? Mandarei meu filho amado; quem sabe o respeitarão’. Mas quando os lavradores o viram, combinaram entre si dizendo: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo, e a herança será nossa’. Assim, lançaram-no fora da vinha e o mataram. O que lhes fará então o dono da vinha? Virá, matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros”. (Lucas 20:13-16).
A vinha representa Israel, que Deus formou para dar fruto para si, mas os judeus falharam miseravelmente e perderam por um tempo sua posição de testemunho, o qual foi entregue à Igreja. “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular” (Lucas 20:17). Em outro evangelho Jesus diria a Pedro, “sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mt 16:18), e mais tarde Pedro, em sua carta, identificaria Jesus como a “pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele” (1 Pe 2:4). Para os que creem em Cristo, “esta pedra é preciosa; mas para os que não creem, a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular, pedra de tropeço e rocha que faz cair” (1 Pe 2:7-8).
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A Deus o que é de Deus
Primeiro “os chefes dos sacerdotes, juntamente com os mestres da lei e os líderes religiosos” (Lucas 20:1) quiseram questionar a autoridade de Jesus tentando acusá-lo de ser uma fraude. Mas a estratégia falhou e foram desmascarados. Agora eles mandam “espiões, que se fingiam justos, para apanhar Jesus em alguma coisa que ele dissesse, de forma que o pudessem entregar ao poder e à autoridade do governador” (Lucas 20:20).
Em Apocalipse o apóstolo João viu a Jesus e disse que “seus olhos eram como chama de fogo” (Ap 1:14). Como um moderno raio laser, o olhar do Senhor penetra todas as coisas. Imagine a ingenuidade dos líderes religiosos enviando “espiões, que se fingiam justos, para apanhar Jesus em alguma coisa” (Lucas 20:20). E você, já tentou parecer justo aos olhos de Deus, fingindo-se capaz de viver de modo a merecer o céu?
Aplicar uma maquiagem de religião não vai funcionar. Basta um olhar penetrante do Senhor para o seu rímel derreter, sua base virar meleca e o lápis dos olhos escorrer como negras lágrimas. É assim que Deus nos vê quando fingimos ser justos. A única solução para o pecador é apresentar-se de cara lavada e convicto de sua culpa, arrependido e crendo que Jesus morreu em seu lugar para pagar por seus pecados. Não com a maquiagem da religião ou das boas obras que Deus é convencido, mas com o “sangue de Jesus” que “nos purifica de todos os nossos pecados” (1 Jo 1:7).
Tentar bajular a Deus com rezas e cerimônias é fazer como esses espiões hipócritas, quando dizem: “Mestre, sabemos que falas e ensinas o que é correto, e que não mostras parcialidade, mas ensinas o caminho de Deus conforme a verdade”. Jesus percebe a astúcia deles quando perguntam se seria correto pagar imposto a César. Ele pede uma moeda de um denário e pergunta: “De quem é a imagem e a inscrição que há nela?”. “De César” respondem eles. “Portanto, deem a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Lucas 20:21-26). Mais uma vez eles afastam-se em silêncio.
Os judeus estavam sob o domínio de César por terem rejeitado a Deus, e eram obrigados a dar a César o que era de César. E Deus, o que queria? Queria a eles próprios, do mesmo modo como ele quer a mim e a você. Por isso Paulo escreve aos cristãos de Corinto: “Vocês foram comprados por alto preço” (1 Co 6:20), por Jesus ter pago com a própria vida a redenção do pecador. Se você ainda não creu em Jesus continua súdito do “César” ou príncipe deste mundo, que é Satanás.
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Os filhos da ressurreição
Agora é a vez dos saduceus tentarem fazer Jesus cair em contradição. Por não crerem na ressurreição, eles apresentam um caso hipotético de uma viúva que se casa com o cunhado e fica outra vez viúva, e assim sucessivamente até ter sido casada com sete irmãos antes de ela própria falecer. A pergunta se baseava na Lei, que dizia que uma viúva sem filhos deveria se casar com o cunhado, para deste gerar descendência para o marido falecido. A pergunta deles é: “Na ressurreição, de quem ela será esposa, visto que os sete foram casados com ela?” (Lucas 20:33).
Jesus expõe a ignorância dos que analisam as coisas eternas com a mente carnal. Ele diz: “Os filhos desta era casam-se e são dados em casamento, mas os que forem considerados dignos de tomar parte na era que há de vir e na ressurreição dentre os mortos não se casarão nem serão dados em casamento, e não podem mais morrer, pois são como os anjos. São filhos de Deus, visto que são filhos da ressurreição” (Lucas 20:34-36).
Os “filhos desta era” são as pessoas em geral, que vivem num mundo onde Deus estabeleceu o matrimônio entre homem e mulher. “O Criador os fez homem e mulher... Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne” (Mt 19:4-5). A “era que há de vir” é a eternidade, mas aqui Jesus fala apenas dos salvos, “Os que forem considerados dignos” de participar da ressurreição “dentre os mortos”, e não “dos mortos” como aparece erroneamente em algumas versões da Bíblia. Os perdidos também ressuscitarão no final, porém apenas para serem lançado vivos no lago de fogo.
Ao dizer que “Os filhos de Deus... que são filhos da ressurreição... não se casarão nem serão dados em casamento, e não podem mais morrer, pois são como os anjos” Jesus mostra que serão imortais e não mais sujeitos às distinções da vida aqui. Aos crentes em Cristo, Paulo escreve: “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus... Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gl 3:27, 28). Isto não implica em perda de gênero ou identidade, mas das posições que ocupavam aqui com suas distinções entre homens e mulheres, judeus e gentios ou escravos e livres. Tampouco significa perda de memória ou da afeição dos relacionamentos, pois depois de ressuscitados não seremos menos humanos do que somos aqui.
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Morte e ressurreição
Se Jesus tivesse vindo apenas para servir de exemplo de como deveríamos viver para agradar a Deus, continuaríamos perdidos. Sabe aquela foto na qual você aparece na praia ao lado de amigos e amigas e se sente péssimo, pois a boa forma deles só serve para revelar que você está fora do padrão? Assim é com a perfeição de Jesus. Ela mostra que estamos longe da boa forma espiritual exigida para passarmos pela “porta estreita”, o “Apertado caminho que leva à vida” (Mt 7:14). Jesus era naturalmente “sem pecado” (Hb 4:15), mas nós, “se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1 Jo 1:8).
Embora a vida de Jesus sirva de exemplo, dizer que para ser salvo você precisaria viver como ele viveu não seria “boa notícia”, que é o significado de “evangelho”. Seria uma péssima notícia, pois ninguém iria conseguir. Então o que é o evangelho? Paulo explica: “Quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei... por meio deste evangelho vocês são salvos... Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15:1-3).
Ao pregar o evangelho a Cornélio e seus amigos, Pedro falou de “como Jesus andou por toda parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo diabo”, mas não foi por terem escutado isso que eles foram salvos e receberam o Espírito Santo. Foi só quando Pedro disse que “o mataram, suspendendo-o num madeiro” e que “Deus o ressuscitou no terceiro dia... e que todo aquele que nele crê recebe o perdão dos pecados mediante o seu nome” que “o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a mensagem” (At 10:38-44).
A “boa notícia” inclui a ressurreição, por isso Jesus insiste com os mestres da Lei que Deus “não é Deus de mortos, mas de vivos” (Lucas 20:38). Paulo explica que “se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus pecados... Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15:12-19). Se o “evangelho” que você tem escutado fala de seguir o exemplo de Jesus para ser salvo, você está sendo enganado. Se não passar de curas, prosperidade e libertação, você está perdendo seu tempo. Um evangelho sem sangue não irá limpar seus pecados, e um evangelho sem ressurreição irá prometer benefícios “só nesta vida”, colocando você entre “Os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co 15:19).
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Herói ou Deus?
Agora é a vez de Jesus perguntar aos religiosos judeus: “Como dizem que o Cristo é Filho de Davi? O próprio Davi afirma no Livro dos Salmos: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos como estrado para os teus pés’. Portanto Davi o chama ‘Senhor’. Então, como é que ele pode ser seu filho?” (Lucas 20:41-44). Até aqui os judeus estavam preocupados com os relacionamentos pós-ressurreição, mas Jesus eleva a conversa a um outro nível. Ele fala da natureza eterna do Messias que, apesar de descendente de Davi, existia antes dele e era seu superior. Só alguém que fosse Deus e Homem poderia ser tanto Senhor de Davi quanto seu descendente.
Crer em Cristo implica crer que ele é Deus e Homem; reconhecê-lo como o Criador de todas as coisas e honrar o Filho de Deus com a mesma honra devida ao Pai. “Para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou” (Jo 5:23). Muitos que se dizem cristãos negam a divindade de Cristo e acham que considerá-lo um grande homem ou um espírito elevado seja honrá-lo. Mas por que tantos resistem em admitir sua divindade? Porque somos condicionados a admirar os heróis.
Herói é quem se distingue por sua coragem, habilidade e poder; que é admirado por sua bravura, altruísmo e nobreza de caráter. Herói é nosso modelo ideal — é o mocinho dos filmes, o campeão dos esportes, o bilionário dos negócios que, por seu próprio mérito, conquistou o status de um semideus. Ou seja, herói é alguém que não somos, mas gostaríamos de ser e adotamos como modelo para um dia chegarmos lá.
Todavia, ao reconhecer que Jesus é Deus você vê aniquilada toda a vaidade de tentar ser como ele é por meio de seus esforços. Você é obrigado a admitir que não passa de um pecador e que “Jesus” significa “Jeová Salvador”, o “Deus conosco” (Mt 1:23). Então você deixa de olhar para ele com a admiração de um fã e passa a buscá-lo como um pecador perdido que necessita, não de um herói para servir de exemplo, mas de um Salvador. Você descobre que ele não subiu ao pódio dos heróis, mas que, “embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Fp 2:6-8).
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Seminários teológicos?
Recebi um e-mail de alguém em dúvida se devia ler ou não meus livros de comentários bíblicos, pois não encontrou em meu currículo uma formação em teologia. Os cristãos se acostumaram ao modelo judaico de sacerdotes, escribas e doutores da Lei, e não percebem que isso não existe na Igreja. No judaísmo havia um clero intermediando os homens e Deus, mas não na Igreja. Nela todos são “sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (1 Pe 2:5). Hoje alguém que adote o título de “sacerdote” para se distinguir de outros cristãos é um impostor. Todos desfrutam igualmente de “plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus” (Hb 10:19).
Mas não deveria existir na Igreja pessoas aptas a ensinarem as Escrituras? Certamente, e para isso Cristo “deu dons aos homens... com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4:8-12). Aprendemos dos dons nas reuniões da igreja, onde “todos podem profetizar”, que significa proferir algo da Palavra de Deus, “de forma que todos sejam instruídos e encorajados” (1 Co 14:31). E podemos adotar a sugestão de Paulo a Timóteo: “As coisas que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar a outros” (2Tm 2:2).
Alguém poderá dizer: “Ah! Eis aí o fundamento para os seminários teológicos!”. Será? Observe que Paulo fala de transmitir a “sã doutrina” (2Tm 1:13) que Timóteo havia escutado dele e que hoje temos nas epístolas, e não na filosofia, sociologia, psicologia, etc., ensinadas nos seminários. O critério para decidir a quem ensinar não seria a capacidade intelectual dos alunos, mas que fossem “homens fiéis”. E tudo o que receberiam seria ensino, e não investidura de autoridade e poder sobre os irmãos.
O modelo judaico de “_mestres da lei”_produziu uma classe de homens versados nas Escrituras, porém inimigos de Deus. Foram eles que ajudaram Herodes quando quis matar o menino Jesus (Mt 2). Serão também os líderes de uma cristandade sem Cristo, a “_grande prostituta”_de Apocalipse 17, os instrumentos do diabo para perseguir os judeus fiéis na “grande tribulação”(Ap 7:14). Por isso Jesus aqui alerta seus discípulos: “Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com roupas especiais, e gostam muito de receber saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes... e para disfarçar, fazem longas orações. Esses homens serão punidos com maior rigor!”(Lucas 20:45-47).
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A viúva pobre
No capítulo 21 do Evangelho de Lucas “Jesus olhou e viu os ricos colocando suas contribuições nas caixas de ofertas. Viu também uma viúva pobre colocar duas pequeninas moedas de cobre. E disse: ‘Afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou mais do que todos os outros. Todos esses deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver’” (Lucas 21:1-4). A divisão de capítulos não existe nos originais, portanto devemos ler este episódio como uma sequência do capítulo 20. E que sequência é essa?
No capítulo 20 encontramos Jesus no templo ensinando e tendo sua autoridade questionada pelos líderes religiosos dos judeus. Então ele conta uma parábola expondo a avareza desses líderes que, à semelhança dos lavradores maus, não teriam escrúpulos em matar o próprio filho do senhor da vinha para ficar com a herança. Eles eram os “pastores de Israel” que apascentavam a si mesmos, comiam a gordura das ovelhas e se vestiam com sua lã, como são descritos em Ezequiel 34. O capítulo termina com o alerta para os discípulos terem cuidado com os “mestres da Lei” que “devoram as casas das viúvas” (Lucas 20:47), ou seja, roubam seus bens.
E o que vemos agora no capítulo 21? Uma dessas viúvas espoliadas pelos mestres da Lei à qual restam apenas duas moedas que ela fielmente coloca na caixa das ofertas do Templo. Nos versículos seguintes Jesus anuncia a total destruição do Templo, e no capítulo 2 do Evangelho de João revela ser o seu corpo o verdadeiro Templo que seria derrubado na morte, porém levantado três dias depois na ressurreição. Apesar de a pobre mulher estar entregando seu dinheiro no lugar que Deus já havia rejeitado, Jesus não a repreende por isso, muito pelo contrário. Ele elogia sua fidelidade.
Assim é também com as pobres viúvas que hoje são enganadas por falsos pastores que se apascentam a si mesmos nos falsos templos da cristandade. À semelhança dos líderes judeus eles “serão punidos com maior rigor” (Lucas 20:47), mas elas recompensadas por sua fidelidade. Foi para o Senhor que elas entregaram, e se esses pregadores ímpios tomaram para si essas ofertas, não roubaram delas, mas do Senhor. É a ele que irão prestar contas e, ainda que supliquem “Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?”, o Senhor lhes dirá: “Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mt 7:22-23).
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Expectativa ou pavor?
Se você visitasse Jesus ficaria ocupado com ele ou com sua casa? Você não ficaria olhando a decoração tendo o Senhor bem ali na sua frente! Mas os discípulos aqui “estavam comentando como o templo era adornado com lindas pedras e dádivas dedicadas a Deus” (Mt 21:5). Porém Jesus mostra que o Templo já não era importante e anuncia sua destruição: “Disso que vocês estão vendo, dias virão em que não ficará pedra sobre pedra; serão todas derrubadas” (Lucas 21:6).
É fácil ficarmos mais ocupados com as profecias acerca do Senhor do que com o Senhor das profecias. E é o que parece estar acontecendo aqui, ao perguntarem: “Quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal de que elas estão prestes a acontecer?” (Lucas 21:7). Em Apocalipse 19:10 aprendemos que “o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”, portanto é a sua Pessoa que importa, e não os eventos. Jesus quer mostrar aos discípulos que o judaísmo chegara ao fim e que, quando o assunto fosse profecia, deviam ficar atentos pois muitos iriam querer enganá-los.
Ele alerta: “Cuidado para não serem enganados. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ‘o tempo está próximo’. Não os sigam. Quando ouvirem falar de guerras e rebeliões, não tenham medo. É necessário que primeiro aconteçam essas coisas, mas o fim não virá imediatamente” (Lucas 21:8-9). Dos versículos 8 ao 24 ele fala da destruição do Templo que ocorreria no ano 70 da era cristã. Dos versículos 25 ao 33 deste capítulo 21 de Lucas ele trata de sua vinda para estabelecer o Reino.
Hoje enquanto alguns dizem ser o Cristo, outros ficam aterrorizados com teorias conspiratórias e alarmes “de guerras e rebeliões”. Mas o Senhor tranquiliza os seus ao dizer: “Não tenham medo”. Quem é salvo por Cristo não deve se ocupar com o que aterroriza, mas com a vinda do Senhor para buscar sua Igreja. Ao escrever aos crentes Paulo não falou de terror, mas de consolo. “Nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados... para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com estas palavras” (1Ts 4:17-18).
Porém para o incrédulo resta “tão somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus” (Hb 10:27). Para o incrédulo o Senhor virá como ladrão de noite, mas o crente o espera como o Noivo que vem buscar sua noiva, a Igreja. “O Espírito e a noiva dizem: Vem!” (Ap 22:17). E você, deseja muito a volta do Senhor ou sente pavor só de pensar?
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Curiosidade mórbida
Gostamos de nos sentir vivos, e uma forma de experimentarmos isso é vendo a morte alheia. Crimes, acidentes ou tragédias geram em nós sensações de terror, indignação e alívio, esta última por não sermos nós os protagonistas da dor. Somos movidos a adrenalina e na falta da tragédia real buscamos a artificial nos filmes. Vemos corridas, lutas e touradas torcendo para o carro explodir, o atleta sangrar e o touro chifrar. Alguém precisa morrer para nos sentirmos vivos e despertos.
Esta curiosidade mórbida inclui saber como será a maior de todas as tragédias, o fim do mundo. Pensamos nisso achando que as coisas irão se desmoronar numa tela de um cinema onde seremos meros espectadores. Se foi com uma curiosidade assim que os discípulos perguntaram a Jesus quando aconteceria a destruição do Templo e que sinal haveria de que estava prestes a acontecer, a resposta que recebem tem um fundo moral e não visa satisfazer a curiosidade de quem quer ver a notícia no jornal.
Depois de avisar para não serem enganados com falsos Cristos e nem se amedrontarem com notícias alarmantes de guerras e rebeliões, ele dá uma ideia de eventos que precederão sua vinda futura para reinar: “Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em vários lugares, e acontecimentos terríveis e grandes sinais provenientes do céu” (Lucas 21:10-11). Acredito que os versículos 10 e 11 façam parte do que ele diz a partir do versículo 25, quando “haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas”.
Os versículos 12 ao 24 já aconteceram. Os discípulos foram perseguidos, presos e levados à presença dos governantes, aos quais testemunharam de Cristo com notável intrepidez. Todos os apóstolos, exceto João, foram martirizados. Mesmo assim Deus esteve no controle, pois ainda que seus corpos tenham sido mortos Jesus lhes prometeu: “Nenhum fio de cabelo da cabeça de vocês se perderá” (Lucas 21:18). Isto porque o crente tem a certeza da ressurreição, como diz a letra de um hino: “Porque ele vive, posso crer no amanhã, porque ele vive, temor não há. Pois eu bem sei, eu sei, que a minha vida está nas mãos do meu Jesus, que vivo está.”
Se você ainda não tem esta mesma certeza e acha que a profecia bíblica só serve para tema de filmes de catástrofes, é melhor crer em Jesus como seu Salvador e garantir seu lugar no céu.
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O cerco de Jerusalém
Os versículos 20 ao 24 de Lucas 21 falam do cerco de Jerusalém e da destruição do Templo pelos romanos no ano 70. Quando Jesus diz que não ficaria pedra sobre pedra ele falou sério. O Templo foi incendiado e todo o ouro dos revestimentos, vasos e utensílios se derreteu infiltrando-se por entre as pedras da construção. Para recuperá-lo os romanos desmontaram pedra por pedra, deixando no lugar apenas a laje, hoje ocupada por uma mesquita, e um muro de arrimo conhecido como “Muro das Lamentações”.
“Quando virem Jerusalém rodeada de exércitos, vocês saberão que a sua devastação está próxima... pois esses são os dias de vingança, em cumprimento de tudo o que foi escrito... haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão pela espada e serão levados como prisioneiros para todas as nações. Jerusalém será pisada pelos gentios até que os tempos deles se cumpram” (Lucas 21:20-24).
Esse cerco e destruição foram profetizados por Daniel no capítulo 9 de seu livro. Dos versículos 23 ao 27 o profeta fala de um período de 490 anos da história e do futuro de Israel que começa com a reconstrução de Jerusalém e do Templo descrita em Esdras e Neemias. Então o profeta revela a vinda e morte do Messias, seguidas do cerco e destruição da cidade e do Templo ocorridos no ano 70 da era cristã. A profecia ignora o período de quase dois mil anos da Igreja e passa a tratar dos sete últimos anos que precedem a volta de Cristo para julgar as nações e estabelecer seu reino.
É nesse período de sete anos, ou “semana”, que o anticristo, o “governante que virá” (Dn 9:26), fará uma aliança com os judeus, porém os enganará. Esse “governante” será líder do mesmo povo que destruiu o Templo há dois mil anos, o que nos dá a entender que o Império Romano será restabelecido com um misto de totalitarismo e democracia. A estátua do sonho de Nabucodonosor, decifrado por Daniel no capítulo 2 de seu livro, tinha as pernas de ferro, representando o Império Romano, e os pés de ferro misturado com barro indicavam um ressurgimento do mesmo império, porém como uma mescla de poder autoritário e vontade do povo.
Sugiro a leitura de Daniel 9:23-27 antes dos próximos 3 minutos, quando contarei o que aconteceu com um judeu que foi confrontado com esta mesma profecia. Esse povo, que rejeitou e matou seu Messias, dará as boas-vindas ao anticristo juntamente com a cristandade apóstata que ficar na terra após o arrebatamento da Igreja.
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Cadê o Messias?
No início dos anos 80 eu aguardava na fila do caixa de uma livraria cristã em São Paulo, quando um jovem à minha frente puxou conversa. Com um LP de música cristã nas mãos, ele me contou que era judeu e tinha entrado ali só para comprar o disco para a brincadeira de ‘Amigo secreto’. Uma colega cristã havia escolhido aquele presente. A consciência do rapaz devia incomodá-lo para ele se dar ao trabalho de se justificar a um desconhecido. Seu olfato judeu desaprovava sua presença entre pessoas que exalavam “o aroma de Cristo” (2 Co 2:15).
Decidi então acrescentar mais umas gotas desse perfume falando do evangelho com versículos tirados do Novo Testamento da Bíblia que eu tinha ido ali comprar. Sua rejeição foi imediata. Em tom de zombaria declarou: “Nós judeus, quando pegamos uma Bíblia, descartamos o Novo Testamento porque é tudo mentira”. Sentime totalmente impotente. Como falar do evangelho sem usar o Novo Testamento?
Então um homem atrás de mim pediu licença, pegou a Bíblia de minhas mãos e, abrindo no capítulo 9 do livro do profeta Daniel no Antigo Testamento, começou a ler a partir do versículo 24. Vi que o rapaz demonstrou aprovação com um aceno da cabeça. A passagem identificava com “semanas” de anos os principais eventos passados e futuros da história de Israel: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade... Desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas [totalizando 69 semanas ou 483 anos]; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos”.
O homem fez uma pausa e perguntou quando teria sido essa restauração, e o rapaz indicou que fora na época de Esdras e Neemias. O homem continuou: “E depois... será cortado o Messias... e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário.”. Então ele perguntou quando ocorreu a destruição da cidade e do Templo, e o rapaz apontou o ano 70 da era cristã. Então aquele irmão em Cristo falou: “Aqui diz que o Messias viria e seria tirado em algum momento entre a reconstrução do Templo e sua destruição. O Templo já foi destruído. Cadê o Messias?”.
O jovem ficou pálido. Jogou o LP sobre o balcão e começou a gritar: “Não! Não! Não pode ser Jesus! Se fosse nossos mestres teriam nos ensinado assim!”. E saiu correndo da livraria sem levar o presente para a colega.
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Uma tríplice pergunta
Jerusalém já foi cercada várias vezes e será novamente quando Cristo voltar. Apesar das semelhanças entre os textos, Lucas 21:20-24 fala da destruição do Templo no ano 70 da era cristã, e Mateus 24 dos eventos da última semana profética de Daniel 9. Esta começa com “uma aliança [do anticristo] que durará uma semana. No meio da semana ele dará fim ao sacrifício e à oferta. E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível”(Dn 9:27, Mt 24:15). Os primeiros três anos e meio são “o início das dores”(Mt 24:8) e os últimos a “grande tribulação” (Mt 24:21).
“Jesus passava o dia ensinando no templo; e, ao entardecer, saía para passar a noite no monte chamado das Oliveiras. Todo o povo ia de manhã cedo ouvi-lo no templo” (Lucas 21:37-38). Em Mateus 24:3, após falar da destruição do Templo, “tendo Jesus se assentado no monte das Oliveiras, os discípulos dirigiram-se a ele em particular e disseram: ‘Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?’”. A revelação da destruição do Templo foi pública, mas as outras coisas foram ditas aos discípulos em particular.
A tríplice pergunta — “quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?” (Mt 24:3) — exige uma tríplice resposta. Lucas 21:8-24 mostra o que os discípulos sofreriam antes e depois da destruição do Templo. A partir do versículo 25 o assunto é a vinda de Cristo para derrotar os inimigos e libertar os judeus convertidos no período de sete anos profetizado por Daniel. O tema de Mateus 24 é a “grande tribulação”, da qual os cristãos terão sido livrados pelo arrebatamento da Igreja descrito em 1 Tessalonicenses 4:13-18.
Tudo em Mateus 24:13-22 tem a ver com Israel, que voltará a ser o testemunho de Deus após a partida da Igreja. “Sacrilégio, “lugar santo”, “Judeia” e “sábado” nada têm a ver com cristãos. O “evangelho do Reino” a ser pregado em todo o mundo não é o mesmo “evangelho da graça de Deus” (At 20:24) que pregamos, e o “perseverar até o fim” não é para a salvação eterna, mas para a sobrevivência do corpo. Os sobreviventes entrarão vivos no Reino de mil anos de Cristo na terra, enquanto a Igreja reinará com ele a partir do céu. Se você já se converteu a Cristo, não irá se encontrar nesta fotografia. Se não se converter poderá estar entre os que serão “levados” pela morte, como quando “veio o dilúvio e os levou a todos” (Mt 24:37-41).
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Observem a figueira
Jesus fez apenas um milagre para amaldiçoar ao invés de abençoar: “Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas nada encontrou, a não ser folhas. Então lhe disse: ‘Nunca mais dê frutos!’ Imediatamente a árvore secou” (Mt 21:19). A figueira representa Israel que Jesus encontrou sem fruto para Deus e determinou que secasse. E assim tem sido enquanto Jerusalém é “pisada pelos gentios, até que os tempos deles se cumpram” (Lucas 21:24). Por isso Paulo explica que “Israel experimentou um endurecimento em parte, até que chegasse a plenitude dos gentios” (Rm 11:25). Apesar da volta dos judeus à sua terra, o tempo de os gentios interferirem na terra deles ainda não chegou ao fim.
Jesus volta a falar da figueira: “Observem a figueira e todas as árvores. Quando elas brotam, vocês mesmos percebem e sabem que o verão está próximo. Assim também, quando virem estas coisas acontecendo, saibam que o Reino de Deus está próximo” (Lucas 21:29). Brotos e folhas dão uma aparência de vida às árvores, porém de nada valem se não existir fruto. Assim tem sido desde 1948, não apenas com a figueira, mas com “todas as árvores”. Nos últimos anos Israel renasceu graças à capacidade de seu povo, e o petróleo fez as nações vizinhas passarem de tribos nômades a potências com influência global. Mas nada de fruto para Deus.
Quando Adão e Eva caíram em pecado cobriram sua nudez com aventais de folhas de figueira. Assim está Israel hoje, com seus aventais de folhas e nenhum fruto para Deus. A volta à sua terra ainda não é o cumprimento da profecia que diz: “Quando vocês e os seus filhos voltarem para o Senhor, para o seu Deus, e lhe obedecerem de todo o coração e de toda a alma, de acordo com tudo o que hoje lhes ordeno, então o Senhor, o seu Deus, lhes trará restauração e terá compaixão de vocês e os reunirá novamente de todas as nações por onde os tiver espalhado... Ele os trará para a terra dos seus antepassados, e vocês tomarão posse dela” (Dt 30:2-5).
Os judeus voltaram para sua terra mas não para o Senhor. Sua inimizade contra Cristo permanece a mesma. A promessa de restauração é ainda futura, quando um remanescente se converterá em meio a grande tribulação e dois terços da população perecer, como mostra Zacarias 13:8-9: “Na terra toda, dois terços serão ceifados e morrerão; todavia a terça parte permanecerá... Colocarei essa terça parte no fogo, e a refinarei como prata, e a purificarei como ouro. Ela invocará o meu nome, e eu lhe responderei. É o meu povo, direi; e ela dirá: ‘O Senhor é o meu Deus’.”
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“Não passará esta geração”
Você não encontra a Igreja nas profecias do Antigo Testamento, e ela só aparece nos Evangelhos duas vezes, em Mateus 16:18 e 18:17. Por isso é inútil buscar nas profecias coisas relacionadas à Igreja. É de Israel e do mundo que elas falam. Mesmo assim, quando vemos sinais de que as profecias para Israel podem se cumprir a qualquer momento ficamos alegres, pois seu cumprimento só poderá acontecer após a Igreja sair daqui. E hoje vemos “a figueira e todas as árvores” brotando (Lucas 21:29).
Ao dizer aos discípulos, “quando virem estas coisas acontecendo, saibam que o Reino de Deus está próximo” (Lucas 21:31), Jesus não se dirigia a eles como Igreja, pois esta só viria a existir em Atos 2. Ele falava a um remanescente de judeus que “esperavam a redenção de Jerusalém” (Lucas 2:38), como foram Ana, Simeão e outros. Após Jesus ser rejeitado, morrer, ressuscitar e subir aos céus Deus enviou o Espírito Santo à terra, batizando os salvos num só corpo. Então a Igreja, o mistério guardado desde a eternidade, passou a existir reunindo judeus e gentios convertidos a Cristo.
Jesus diz aos discípulos: “Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam” (Lucas 21:32). Alguns achavam que ele falava da geração dos discípulos, mas quando eles morreram sem que Cristo tivesse voltado em glória, ficou claro que a interpretação devia ser outra. Ele poderia estar se referindo à geração que visse a “figueira e todas as árvores” brotando, ou seja, a atual. Apesar de não existir qualquer pré-requisito profético para o arrebatamento, esta interpretação nos levaria a cancelar o plano funerário, por assim dizer, já que somos a mesma geração que viu Israel ressurgir. A terceira possibilidade é que Jesus estaria falando de uma geração no sentido moral, de judeus que, à semelhança daqueles discípulos, estarão aguardando o Reino.
Após o arrebatamento, além desse remanescente judeu fiel, ficarão na terra judeus e gentios incrédulos e também cristãos nominais que não foram arrebatados por nunca terem nascido de novo. “Rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar” e não poderão mais crer. Será que você estaria entre os ‘deixados para trás’ que ouviram o evangelho e “não creram na verdade”? Ao contrário do que dizem nos filmes e livros sobre o tema, não haverá segunda chance para quem ouviu e não creu, pois “Deus lhes envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira, e sejam condenados todos os que não creram na verdade” (2Ts 2:10-12). Quem foi evangelizado e não creu em Cristo será enganado e crerá no anticristo.
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À espera da ira
A Bíblia tem apenas uma interpretação, mas muitas aplicações. Apesar de os evangelhos falarem especificamente de Israel e do mundo, seus princípios morais podem ser aplicados ao corpo de Cristo, que é a Igreja. É o caso de Lucas 21:34-36: “Tenham cuidado, para que os seus corações não fiquem carregados de libertinagem, bebedeira e ansiedades da vida, e aquele dia venha sobre vocês inesperadamente. Porque ele virá sobre todos os que vivem na face de toda a terra. Estejam sempre atentos e orem para que vocês possam escapar de tudo o que está para acontecer, e estar de pé diante do Filho do homem”.
Aqui os discípulos representam os judeus que passarão pela “grande tribulação” (Mt 24:21) que terminará uns sete anos após a Igreja ter sido arrebatada da terra para se encontrar com o Senhor nos ares. Ao cristão, porém, a promessa é: “Eu o guardarei da hora da provação que está para vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que habitam na terra. Venho em breve!” (Ap 3:10). A certeza de que não passariam pela grande tribulação foi dada também aos cristãos de Tessalônica, que “se voltaram para Deus, deixando os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livra da ira que há de vir” (1Ts 1:10).
Não se trata aqui da ira da condenação eterna, pois desta Jesus já livrou cada um que creu nele. Trata-se da ira que cairá sobre os incrédulos que estiverem na terra quando Cristo vier para reinar. A interpretação direta do texto é para os que estarão na terra na “grande tribulação” (Mt 24:21), que atingirá seu ponto máximo com as “sete últimas pragas, pois com elas se completa a ira de Deus... as sete taças de ouro cheias da ira de Deus” (Ap 15:1, 7) que “Os sete anjos vão derramar sobre a terra” (Ap 16:1), e não sobre os perdidos no juízo final. Mas a exortação à vigilância serve também para os cristãos hoje, que antes disso serão “arrebatados... nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares” (1Ts 4:17).
Após o arrebatamento essa expectativa afligirá a “todos os que vivem na face de toda a terra” (Lucas 21:35). Dentre eles estarão gentios, judeus e a falsa igreja ou “grande prostituta” (Ap 17:1). Mas esta não é a expectativa dos verdadeiros crentes hoje, que “não estão nas trevas, para que esse dia os surpreenda como ladrão” (1Ts 5:2). Estes não esperam por um ladrão que venha privá-los de seus “tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam” (Mt 6:19). Eles esperam pelo Amado de suas almas.
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À espera de Cristo
Pergunte a um grupo de cristãos qual é a expectativa de cada um e você terá diferentes respostas. Uns esperam que o evangelho seja pregado em todo o mundo para criar uma nova era de paz e prosperidade. Na profecia você realmente encontra uma terra transformada com Cristo reinando por mil anos, porém essa expectativa é para Israel, não para a Igreja. Afinal, como poderia “a esposa do Cordeiro” (Ap 21:9) viver na terra sabendo que “a nossa cidadania está nos céus” (Fp 3:20)? Nós reinaremos “sobre a terra” (Ap 5:10) e seus habitantes judeus e gentios, e não na terra.
Outros estão esperando por guerras, fomes e catástrofes globais, pela chegada do anticristo e, finalmente, pela vinda de Cristo em glória para julgar. Porém esta expectativa é para os cristãos nominais que serão deixados para trás após o arrebatamento da igreja, pois “rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar” (2 Ts 2:10). Ela também serve para um remanescente de judeus fiéis que sofrerá com a grande tribulação. Nesse tempo os verdadeiros salvos já não estarão no mundo, pois o Senhor prometeu que sua Igreja seria guardada “da hora da provação que está para vir sobre todo o mundo” (Ap 3:10).
Os viciados em teorias conspiratórias vivem nessa expectativa de catástrofes sem perceber que ocupar-se com o anticristo, guerras e organizações secretas não é ocupar-se com Cristo. Alguns ainda acrescentam a toda essa desgraça a ideia de que o crente será julgado no final e vivem em total insegurança e pavor. Não creram na afirmação de Jesus de que o crente já “tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida” (Jo 5:24).
Enquanto alguns esperam pela morte, pelo anticristo e pelo juízo final, qual a expectativa que Deus dá aos cristãos? “Esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos” (1Ts 1:10). Como será isso? “Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois disso, os que estivermos vivos seremos arrebatados juntamente com eles”. Onde? “Nas nuvens para o encontro com o Senhor nos ares” (1 Ts 4:16). Quando? “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (1 Co 15:52). Não se deixe enganar esperando pela volta de Cristo para alguma época remota. Para o cristão, entre o presente momento e o encontro com Cristo nos ares não há nada que ainda precise acontecer. Ou melhor, há sim: Um piscar de olhos!
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Judas quer ficar rico
Lucas não segue uma ordem cronológica. Os outros Evangelhos mostram Satanás entrando em Judas durante a refeição da Páscoa e antes da ceia do Senhor. Em João 13:27 Jesus diz que o traidor seria “aquele a quem eu der este pedaço de pão molhado no prato’. Então, molhando o pedaço de pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Tão logo Judas comeu o pão, Satanás entrou nele. ‘O que você está para fazer, faça depressa’, disse-lhe Jesus... Assim que comeu o pão, Judas saiu.”. Neste evangelho Judas, Satanás e os líderes religiosos aparecem reunidos numa mesma trama.
Aproximava-se “a festa dos pães sem fermento, chamada Páscoa, e os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei estavam procurando um meio de matar Jesus, mas tinham medo do povo. Então Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, um dos Doze. Judas dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes e aos oficiais da guarda do templo e tratou com eles como lhes poderia entregar Jesus. A proposta muito os alegrou, e lhe prometeram dinheiro. Ele consentiu e ficou esperando uma oportunidade para lhes entregar Jesus quando a multidão não estivesse presente” (Lucas 22:1-6).
Quando se quer eliminar um terrorista toma-se o cuidado de surpreendê-lo só a fim de evitar danos colaterais. Para os sacerdotes Jesus é um agitador que visa tirá-los do poder e deve ser capturado, porém longe da multidão. Mas como saber onde e quando? O que eles não imaginavam era que um dos discípulos fosse procurá-los, movido pela ganância. “O amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição” (1Tm 6:9-10).
Pense nisto na próxima vez que invejar algum milionário. Muitos dizem que “o dinheiro é a raiz de todos os males”, mas não é o que diz a passagem. Não é pecado ser rico. Pecado é querer ser rico. Lembre-se de que foi “um homem rico, de Arimateia, chamado José” (Mt 27:57-60) que Deus escolheu para ir a Pilatos requerer o corpo de Jesus. Só alguém rico e influente poderia ser recebido pelo governador, ter seu pedido atendido e ainda pagar as despesas do funeral. Outro rico, “Nicodemos, levou cerca de trinta e quatro quilos de uma mistura de mirra e aloés” (Jo 19:39) para preparar o corpo de Jesus. Se o Senhor lhe der mais do que o necessário, isto é um sinal de que você deve usar sua riqueza para ele.
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Encontro marcado com a morte
“Finalmente, chegou o dia dos pães sem fermento, no qual devia ser sacrificado o cordeiro pascal” (Lucas 22:7). Na mesma ocasião em que os judeus celebravam sua libertação da escravidão do Egito Jesus tinha um encontro marcado com a morte. Esta seria a verdadeira Páscoa, a concretização daquilo que foi tipificado em milhares de páscoas celebradas desde a libertação do povo hebreu. Mas desta vez o sacrificado não seria um animal, e sim um Homem, o único e suficiente “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).
Quando Deus, por intermédio de Moisés, libertou o povo da escravidão do Egito, a série de pragas que caiu sobre a terra culminou com a morte dos primogênitos. Só havia uma maneira de os hebreus escaparem daquele juízo que cairia sobre cada família: um sacrifício substitutivo. Para isso Deus deu instruções de como um cordeiro devia ser morto e seu sangue passado do lado de fora dos batentes da porta de cada casa. Deus disse:
“Esta é a Páscoa do Senhor. Naquela mesma noite passarei pelo Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor! O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito” (Ex 12:11-13).
A palavra “Páscoa” significa “passar por cima”, e foi o que o Senhor fez com as casas nas quais o sangue foi aplicado ao batente da porta: passou por cima, pois a morte já havia estado ali. A salvação proporcionada pelo sangue do cordeiro era ampla o suficiente para incluir também os egípcios que acreditassem na ameaça, e foi assim que muitos deles e de outros povos acabaram saindo junto com os hebreus. Em Números 11:4 nós os encontramos como “um bando de estrangeiros que havia no meio deles”.
Aquele sacrifício do cordeiro substituto era uma figura do sacrifício maior que Deus faria séculos mais tarde. Todavia, no lugar de um animal, Deus usaria o seu Cordeiro perfeito e sem mancha de pecado, seu próprio Filho Jesus. Se o sangue daquele sacrifício no Egito foi capaz de livrar da morte hebreus e estrangeiros que creram no que Deus disse, “quanto mais, então, o sangue de Cristo” (Hb 9:14). Se Jesus tivesse faltado ao encontro que Deus marcou com ele na cruz ninguém seria salvo. E o que aconteceria se os discípulos não seguissem as instruções dos próximos 3 minutos?
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Perguntar não ofende
Olhe ao redor e você encontrará hoje uma triste caricatura do cristianismo: homens corruptos atraindo multidões desesperadas por curas ou em busca de riqueza; shows de música, luz e pirotecnia apelidados de “louvor”; templos magníficos mantidos por clérigos que vivem no luxo e ostentação... Que semelhança tem isso com os cristãos do princípio, que congregavam em simplicidade e temor? Nenhuma. Em muitos casos, se você espremer será capaz de obter algumas gotas do evangelho da graça ainda incontaminado, mas na maioria das vezes até este virá poluído por regras, condições, rituais e outras coisas inventadas pelo homem.
Quando começou esse desvio? Logo após o tempo dos apóstolos, e Paulo previu que seria assim depois de sua partida: “Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos... Agora, eu os entrego a Deus e à Palavra da sua graça, que pode edificá-los e dar-lhes herança entre todos os que são santificados. Não cobicei a prata nem o ouro nem as roupas de ninguém. Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos supriram minhas necessidades e as de meus companheiros.” (At 20:29-34).
Veja o antídoto que ele receitou contra os lobos, hereges e avarentos: “Deus e a Palavra da sua graça”. Hoje não existem mais apóstolos, mas eles nos legaram a “Palavra da sua graça, que pode edificá-los e dar-lhes herança entre todos os que são santificados”. E nisto reside a importância da passagem que vamos ler em Lucas 22. Embora este episódio tenha ocorrido antes da criação da Igreja, ele estabelece um princípio que vale para todas as épocas, que é o de perguntar ao Senhor antes de agir. Este é nosso seguro contra ataques do inimigo e das heresias ou divisões: “Jesus enviou Pedro e João, dizendo: ‘Vão preparar a refeição da Páscoa’. ‘Onde queres que a preparemos?’, perguntaram eles” (Lucas 22:8-9).
Pedro e João não decidiram por si mesmos, não perguntaram aos outros discípulos e nem buscaram respostas na literatura dos sábios da época. Eles perguntaram ao Senhor. Hoje, você pode perguntar ao mesmo Senhor, em sua Palavra, onde e como você deve congregar, ou ainda verificar se o lugar e as práticas de onde você congrega estão corretas. Como fazer isso? Simples! Basta comparar com aquilo que Deus nos legou na sua Palavra dada por intermédio dos apóstolos. Quer alguns exemplos? Então nos próximos 3 minutos faremos algumas perguntas ao Senhor.
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Onde e como adorar?
Nos últimos 3 minutos vimos a importância do que Pedro e João fizeram ao perguntarem ao Senhor onde deveriam preparar a Páscoa. Naquela noite a Páscoa seria celebrada em milhares de lugares, mas Jesus estaria apenas no lugar indicado por ele. Se Pedro e João não tivessem perguntado e decidissem por si mesmos aonde ir, teriam celebrado a Páscoa sem desfrutar da presença do Senhor. Por isso, também hoje, devemos sempre perguntar ao Senhor onde e como adorá-lo, ou verificar na sua Palavra se estamos fazendo isso da forma correta.
Por exemplo, pergunte a ele se é correto estabelecer diferentes igrejas criando grupos independentes e com diferentes identidades, e a resposta será: “Concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês, e, sim, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer” (1 Co 1:10). E o Espírito seguirá mostrando que os que criam divisões e partidos entre os irmãos fazem isso “porque ainda são carnais... agindo como mundanos” (1 Co 3:3).
Se já é pecado dividir os irmãos, o que Deus dirá de dar diferentes nomes a essas divisões? O Senhor deixou claro que existe um único nome ao qual os salvos devem congregar para tê-lo em seu meio: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20). E Paulo avisa que quando “estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus... estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 5:4), suas decisões serão endossadas no céu. Jesus garantiu isso, ao dizer: “Tudo o que vocês ligarem na terra será ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra será desligado no céu” (Mt 18:18).
Apesar de vivermos cercados de “Igreja Isso” e “Igreja Aquilo”, o Espírito Santo diz o que pensa dessa colcha de retalhos criada pelos homens: “Há divisões entre vocês... cada um de vocês afirma: ‘Eu sou de Paulo’; ‘eu de Apolo’; ‘eu de Pedro’; e ‘eu de Cristo’. Acaso Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vocês? Foram vocês batizados em nome de Paulo?” (1 Co 1:11-13). “Pois quando alguém diz: ‘Eu sou de Paulo’, e outro: ‘Eu sou de Apolo’, não estão sendo mundanos?” (1 Co 3:4). Nenhuma distinção deveria existir entre os cristãos, pois em Cristo “já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos” (Cl 3:11).
Nos próximos 3 minutos perguntaremos o que Deus acha dos templos.
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Fim dos templos
Fazemos muitas coisas sem perguntarmos a Deus, e por isso existe tanta confusão no testemunho cristão. É o caso dos templos e santuários que cristãos bem intencionados constroem como se fossem lugares físicos de adoração. Mas será que Deus ordenou que os cristãos construíssem templos ou adotassem o modelo judaico de adoração?
É certo que Deus deu a Israel instruções precisas sobre o local onde queria ser adorado. Não era para eles imitarem os pagãos, que adoravam a seus deuses onde e como bem entendessem, mas os israelitas deviam buscar “o local que o Senhor, o seu Deus, escolhesse dentre todas as tribos para ali pôr o seu nome para sua habitação” (Dt 12:5). Não haveria outro nome e não haveria outro lugar onde Deus pudesse ser adorado. Deus ainda os alertou: “Tenham o cuidado de não sacrificar os seus holocaustos em qualquer lugar que lhes agrade. Ofereçam-nos somente no local que o Senhor escolher” (Dt 12:13-14). Esse lugar seria o Templo construído em Jerusalém por direção divina. Somente ali o povo deveria adorar.
Quando Jesus esteve aqui revelou uma mudança radical que estava para acontecer. Diante da afirmação da mulher samaritana de que os “judeus dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”, ele declarou: “Está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém... está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade... Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. (Jo 4:20-23). Mais tarde Deus permitiria a destruição total do Templo de Jerusalém, pondo um fim ao modelo judaico de adoração, e a epístola aos Hebreus comprova isso.
Hoje não temos um templo onde adorar e nem estamos separados da presença de Deus por um véu como os judeus estavam. “Temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo” (Hb 10:19-20). Embora não exista um lugar físico de adoração, o princípio de que é o nome do Senhor que valida o lugar permanece. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20). A ordem para hoje é clara: “Saiamos até ele [Jesus], fora do acampamento” (Hb 13:13), ou sistema judaico_._ Mas aonde ir? Perguntando ao Senhor, como os discípulos fizeram: “Onde queres que a preparemos?” (Lucas 22:9).
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O homem com o cântaro
“Jesus enviou Pedro e João, dizendo: ‘Vão preparar a refeição da Páscoa’. ‘Onde queres que a preparemos?’, perguntaram eles. Ele respondeu: ‘Ao entrarem na cidade, vocês encontrarão um homem carregando um pote de água. Sigam-no até a casa em que ele entrar e digam ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde é o salão de hóspedes no qual poderei comer a Páscoa com os meus discípulos?’ Ele lhes mostrará uma ampla sala no andar superior, toda mobiliada. Façam ali os preparativos’. Eles saíram e encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito. Então, prepararam a Páscoa” (Lucas 22:8-13).
Os discípulos acabam de descobrir que Jesus tem discípulos secretos em Jerusalém, como o homem que leva o cântaro e o pai de família disposto a receber aquele grupo de simpatizantes de um procurado pela justiça. Sabemos que a essa altura dos acontecimentos “Os chefes dos sacerdotes e os fariseus tinham ordenado que, se alguém soubesse onde Jesus estava, o denunciasse, para que o pudessem prender” (Jo 11:57).
Mas estas instruções escondem verdades ainda mais preciosas. A primeira é a singularidade do homem com um cântaro. Na época eram as mulheres que transportavam água, e dezenas delas circulavam pelas ruas. Os discípulos não têm dificuldade de encontrar o que era provavelmente o único homem fazendo aquela tarefa. Mas eles não deviam dialogar com o homem, apenas segui-lo. Sabe o que representa esse homem? E a água que leva? Vou dar uma pista.
“Quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês” (Jo 16:13-14). “Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra” (Ef 5:25).
É apenas seguindo a direção do Espírito Santo na Palavra de Deus que você encontrará o lugar que o Senhor escolheu para estar com os seus. Se seguir seus instintos ou opiniões humanas vai acabar no lugar errado. Na casa indicada, a “Ampla sala no andar superior, toda mobiliada” revela que há lugar para todos, que esse lugar está acima do nível do mundo e que nada precisa ser acrescentado. Nem enfeites, nem imagens, nem velas, nem corais, nem mesmo um homem à frente. Este lugar Jesus iria ocupar.
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Um parêntese na Páscoa
Após perguntarem ao Senhor, e seguirem suas instruções de onde ele queria que preparassem a Páscoa, só faltava Jesus. “Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos. E disselhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento” (Lucas 22:14-15). Cristãos não celebram a Páscoa, mas o mesmo privilégio de desfrutar de sua presença têm hoje os que lhe obedecem na forma e lugar de celebrar a Ceia do Senhor. Quando reunidos ao seu nome pelo Espírito Santo, “chegada a hora” o Senhor se põe no meio.
Aqui ele come “o pão da aflição” sem fermento e o cordeiro cozido da Páscoa judaica como qualquer outro judeu. O cálice não fazia parte da instituição original da Páscoa dada por Deus no Antigo Testamento, mas era um costume introduzido pelos judeus. “O vinho alegra o coração do homem” (Sl 104:15), mas para Jesus não há motivo para alegria. Esta será sua última Páscoa. Em questão de horas ele será imolado como um Cordeiro no holocausto do juízo divino. “_Pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado” (_1 Co 5:7).
A Páscoa só voltará a ser celebrada quando Israel for restaurado e Cristo reinar sobre o seu povo, tendo sua Noiva, a Igreja, reinando consigo. Mas neste momento ele se abstém do vinho e da alegria. Por isso, “recebendo um cálice, ele deu graças e disse: ‘tomem isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não beberei do fruto da videira até que venha o Reino de Deus” (Lucas 22:15-16).
Lucas abre agora um parêntese na celebração da Páscoa para a instituição da Ceia do Senhor, esta sim destinada à Igreja. Digno de nota é a diferença dos verbos gregos usados na passagem. Jesus ‘recebe’ de alguém o cálice da Páscoa, pois este é o sentido do verbo ‘receber’. Já que a Páscoa não tinha nada de novo, o que ele faz é apenas uma continuidade do que era feito há séculos. Porém ele ‘toma’ o pão, e de igual modo o cálice. No grego o verbo ‘tomar’ tem o sentido de uma iniciativa dele. Ninguém lhe passa o pão ou o cálice da Ceia do Senhor. É algo novo que ele acaba de instituir.
Jesus come a Páscoa, mas não come do pão e nem bebe do cálice da Ceia do Senhor. Ele apenas os entrega aos discípulos, pois em sua Ceia ele é o anfitrião e os discípulos são convidados. Assim é hoje, quando cristãos são congregados pelo Espírito para recordar o Senhor e anunciar a sua morte, e não para repetir rituais judaicos, como veremos nos próximos 3 minutos.
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A cópia do judaísmo
Jesus não disse para celebrarmos a Páscoa e nem outras datas. Advento, Natal, Quaresma, Semana Santa e datas destinadas a homenagear os chamados ‘santos’ não têm lugar na adoração cristã. Recebemos do Senhor apenas duas ordenanças: o batismo, feito uma vez na vida, e a Ceia do Senhor, celebrada “no primeiro dia da semana” como faziam os primeiros discípulos quando se reuniam “para partir o pão” (At 20:7).
Mas que mal há em celebrar essas datas se a intenção for agradar a Deus? O mal está em contrariar uma ordem dada por Deus e fazer as coisas segundo a própria vontade, o que é rebeldia. Saul sacrificou fora da ordem dada por Deus e foi repreendido: “Acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios quanto em que se obedeça à sua Palavra? A obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros. Pois a rebeldia é como o pecado da feitiçaria, e a arrogância como o mal da idolatria” (1 Sm 15:22).
A cristandade virou uma cópia do judaísmo, com templos, altares, clérigos, vestes especiais, candelabros e ‘dias santos’. Por isso Paulo repreende os cristãos da Galácia: “Vocês estão observando dias especiais, meses, ocasiões específicas e anos! Temo que os meus esforços por vocês tenham sido inúteis” (Gl 4:10-11). Aos Colossenses, que vinham sendo assediados “com argumentos aparentemente convincentes... e filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo”, Paulo escreveu:
“Não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo... Já que morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se ainda pertencessem a ele, se submetem a regras: ‘Não manuseie!’ ‘Não prove!’ ‘Não toque!’? Todas essas coisas... se baseiam em mandamentos e ensinos humanos” (Cl 2:4-23).
Se você pratica um cristianismo copiado dos rituais judaicos que Deus colocou de lado nesta nova dispensação, é melhor passar uma borracha em tudo o que aprendeu. Ore a Deus pedindo direção para começar de novo seguindo as instruções do Espírito Santo quanto à onde e como adorar. Nos próximos 3 minutos veremos algo mais sobre a Ceia do Senhor.
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Linguagem figurada
“Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim’. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês’” (Lucas 22:19-20).
Não existe fundamento para a ideia de que a ceia seja a repetição do sacrifício de Cristo, e que ali pão e vinho sejam transformados literalmente em carne e sangue. Primeiro, porque ao dizer “Isto é o meu corpo”, Jesus ainda não tinha morrido. O seu corpo estava bem ali e o sangue ainda corria em suas veias. Segundo, porque seu sacrifício não poderia se repetir jamais: “Fomos santificados, por meio do sacrifício do corpo de Jesus Cristo, oferecido uma vez por todas” (Hb 10:10). Se o pão não era literalmente o corpo de Cristo, o que seria então?
Um retrato. Você já viu alguém apontar para uma foto e dizer: “Aquele ali sou eu”? Quando Jesus disse “Eu sou o pão que desceu do céu” (Jo 6:41) você entendeu que ele se referia à figura do maná no deserto. Quando disse “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8:12) você não achou que ele brilhasse no escuro, e quando falou “Eu sou a porta” (Jo 10:9) nem precisou explicar que a linguagem era figurada. Ao dizer “Eu sou a videira; vocês são os ramos” (Jo 15:5) os discípulos não procuraram por folhas uns nos outros.
Considerar a Ceia uma transubstanciação do trigo em carne e do extrato de uvas em sangue é uma desonra para Cristo; é tentar fazer sua carne e sangue voltarem à condição de antes da ressurreição e glorificação. “Se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo” (2 Co 5:16). Então como ele está agora? “Vemos, todavia, aquele que por um pouco foi feito menor do que os anjos, Jesus, coroado de honra e glória” (Hb 2:9). Longe de nós achar que seu corpo possa retroceder à condição de fraqueza e humilhação de seus dias aqui.
Como o erro não caminha sozinho, a ideia de se beber vinho acreditando ser sangue esbarra na proibição de Levítico 17 e também na decisão dos apóstolos Atos 15:20 acerca dos gentios que se convertiam: “Devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham... do sangue”. E mais: nos lugares onde se crê na transubstanciação, nem mesmo uma ordem simples de Jesus é obedecida, pois apenas o autodenominado ‘sacerdote’ bebe do cálice. No entanto Jesus ordenou: “Bebei dele todos” (Mt 26:27).
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Coma do pão e beba do cálice
Não foi à toa que Jesus escolheu o pão como figura de seu corpo. Para um pão ser produzido é preciso que o trigo seja triturado, a massa batida e finalmente assada no fogo. Tudo aponta para Cristo, pois “se o grão de trigo... não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto” (Jo 12:24). De igual modo, a uva precisou ser esmagada para se transformar em vinho. Ao dizer “Isto é o meu corpo dado em favor de vocês... e meu sangue, derramado em favor de vocês” (Lucas 22:19-20) o Senhor mostra que nos substituiu na morte para podermos ter vida.
Na Páscoa os judeus recordavam a bondade de Jeová por libertá-los da escravidão; na Ceia lembramos o Senhor e anunciamos sua morte. Na Páscoa eles comiam o “pão da aflição” (Dt 16:3) que experimentaram quando escravos; na Ceia anunciamos, não a nossa aflição, mas a do Senhor. A Páscoa era retrospectiva; a Ceia é comemorativa e celebrada com a perspectiva futura de nosso encontro com o Senhor, pois a celebramos “Até que ele venha” (1 Co 11:26).
A Ceia do Senhor não é uma pregação do Evangelho ou meio de salvação, pois dela participam os que já estão salvos. Não é feita com orações e súplicas, mas com ações de graças. Não nos ocupamos com um ritual, mas com Cristo simbolizado pelo pão e pelo cálice de vinho representando seu corpo e seu sangue. Não são pães, fatias ou hóstias, mas, “um único pão... [pois]somos um só corpo, pois todos participamos de um único pão” (1 Co 10:17). Não são dadas graças genéricas pelos símbolos, mas pelo pão e pelo vinho: “Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos... Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos” (Mt 26:26-27).
A Ceia não é aberta, mas exclusiva àqueles que foram recebidos em comunhão à mesa do Senhor, que não estejam vivendo em pecado. “Um pouco de fermento faz toda a massa ficar fermentada... Com qualquer que, dizendo-se irmão, for imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão, com tais pessoas vocês nem devem comer... Não podem beber do cálice do Senhor e do cálice dos demônios; não podem participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios” (1 Co 5:6-13; 10:21). Assim, aos que estão aptos a participar, a ordem é: “Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice” (1 Co 11:28). Não é um exame para decidir se deve ou não comer e beber, mas para comer e beber: “Então coma do pão e beba do cálice”.
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O pecado do mundo
Jesus, “Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim’. Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês” (Lucas 22:19-20). Foi com Israel, e não com a Igreja, que Deus fez essa “nova aliança”, conforme profetizou Jeremias: “Farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá. Não será como a aliança que fiz com os seus antepassados... Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo... todos eles me conhecerão, desde o menor até o maior... Porque eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados” (Jr 31:31-34).
A nova aliança está fundamentada no sacrifício de Cristo e terá efeito em Israel quando o povo se arrepender e Cristo estabelecer o seu Reino. Enquanto isso a Igreja desfruta dos benefícios dessa aliança, mas não foi com ela que Cristo fez a nova aliança. Para ser “nova” precisaria existir uma “velha” aliança com a Igreja, o que não é o caso. A Igreja começou no capítulo 2 de Atos e sua cidadania e destino não são terrenos, como Israel, mas celestiais. “A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3:20).
O sacrifício de Cristo também tem uma dupla aplicação para atender a dois aspectos da ruína causada pelo pecado. Deus precisava tratar da questão do pecado, no singular, e perdoar os pecados, no plural. João Batista fala da primeira quando vê Jesus passar: “É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Em virtude da obra de Cristo foi garantida a retirada do pecado do mundo, pois ele veio “para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo” (Hb 9:26).
O cristão ainda traz em si o pecado, pois existe dentro dele uma velha natureza herdada de Adão, mesmo depois de ter recebido a nova natureza. É o pecado em nós que nos leva a pecar; o pecado é que produz os pecados. Na ressurreição já não traremos o pecado em nós, graças ao Cordeiro que morreu. Quando Cristo voltar para reinar os benefícios dessa obra serão estendidos à Criação, a Israel e às nações, mas o pecado só será erradicado de vez nos “novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2 Pe 3:13). E os “pecados”? É o que veremos nos próximos 3 minutos.
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Muitos, mas não todos
Apesar de Cristo ter morrido e ressuscitado, cumprindo todas as demandas da justiça divina concernentes ao pecado, ainda não vemos isso realizado no mundo. A razão é que a salvação é pela fé, e não pelo que vemos, “pois nessa esperança fomos salvos. Mas, esperança que se vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está vendo? Mas se esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo pacientemente” (Rm 8:24).
“Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” (1 Co 15:25-26). “Agora, porém, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas. Vemos, todavia, aquele que por um pouco foi feito menor do que os anjos, Jesus, coroado de honra e glória por ter sofrido a morte, para que, pela graça de Deus, em favor de todos, experimentasse a morte. Ao levar muitos filhos à glória, convinha que Deus, por causa de quem e por meio de quem tudo existe, tornasse perfeito, mediante o sofrimento, o autor da salvação deles” (Hb 2:8-10).
Mas se o Cordeiro de Deus experimentou a morte “em favor de todos” (Hb 2:9), por que nem todos serão salvos? Pela mesma estranha razão de alguns casos de sequestro. Quando um governo paga o resgate de um grupo de cidadãos sequestrados por extremistas, nem sempre todos voltam aos seus lares. Alguns se convertem à causa ou se apaixonam pelo inimigo e decidem ficar. O resgate foi pago por todos, mas nem todos foram salvos. Cristo “morreu por todos” (2 Co 5:14) e o preço pago foi suficiente para que nenhum se perdesse. Porém, “oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação” (Hb 9:28).
Você só será salvo se estiver entre os que “o esperam para salvação”(Hb 9:28), e isto implica não estar apaixonado pelo inimigo. O pecado do mundo foi resolvido pela obra da cruz, mas os pecados de cada um precisam ser perdoados. Se é verdade que na cruz Jesus morreu para tirar o pecado do mundo, também é certo que ali “ele carregou o pecado de muitos”(Is 53:12), não de todos. Ao crer em Cristo você desfrutará dos mesmos benefícios prometidos a Israel na nova aliança: “Eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados” (Hb 8:12). Mas, se persistir na incredulidade, “já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus” (Hb 10:26).
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O cálice da consolação
Existe outro aspecto da Ceia do Senhor que é de consolo para os que creem em Cristo, que foram perdoados de seus pecados e agora “o esperam para salvação” (Hb 9:28). Falo do consolo que dá sabermos que estamos firmados numa questão resolvida. Quando Buda morreu, suas últimas palavras aos discípulos foram: “Continuem se esforçando”. E as últimas palavras de Jesus? “Está consumado!” (Jo 19:30).
Se você ainda continua “se esforçando”, aceite o convite que Jesus faz e descanse numa obra terminada, da qual não resta coisa alguma para você fazer ou completar. Jesus diz: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mt 11:28). Se você vive aflito na dúvida se já “se esforçou” o suficiente ou se as boas obras que pratica são suficientes para livrá-lo da condenação, aceite as palavras de Jesus, que disse: “A obra de Deus é esta: crer naquele que ele enviou” (Jo 6:29).
A Ceia do Senhor é também um memorial de consolo. Havia entre os judeus um costume funerário que é citado pelo profeta Jeremias, porém ali na forma de negação, pois se tratava de um castigo para Israel: “Ninguém oferecerá comida para fortalecer os que pranteiam pelos mortos; ninguém dará de beber do cálice da consolação nem mesmo pelo pai ou pela mãe” (Jr 16:7). Partir o pão e “beber do cálice da consolação” em conexão com a morte não era um costume estranho aos judeus, e seu objetivo era o de trazer consolo aos que velavam pelo morto.
Ao instituir a Ceia nos mesmos moldes, o Senhor proveu um momento de consolo para recordarmos os benefícios que fluem de sua morte no tempo de sua ausência. Privados de enxergá-lo como os discípulos o enxergavam naquela noite, podemos vê-lo no pão e no cálice de vinho que representam seu corpo e seu sangue. Mas se os discípulos celebravam aquela Ceia com Jesus antes da morte, nós a celebramos do modo como foi revelada a Paulo, na certeza do sacrifício já consumado e com a brilhante perspectiva de sua vinda. “Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha” (1 Co 11:26).
Se “o amor é tão forte quanto a morte” (Ct 8:6), a Ceia nos fala de um amor mais forte que a morte, o de nosso Senhor Jesus Cristo, que “nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança” (2Ts 2:16). “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4:25).
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Dois traidores
Os discípulos se surpreendem ao descobrirem que existe um traidor entre eles. Como já disse aqui, Lucas não segue uma ordem cronológica, mas moral. Por isso os versículos 21 ao 23 teriam se passado no momento em que comiam a ceia da Páscoa, e não a Ceia do Senhor. O Evangelho de Mateus mostra essa ordem e também a pergunta de Judas diante da revelação de Jesus: “Acaso, sou eu, Mestre? Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste” (Mt 26:25). Pedro, então, toma a iniciativa de pedir a João que pergunte quem seria o traidor:
“‘Senhor, quem é?’ Respondeu Jesus: ‘Aquele a quem eu der este pedaço de pão molhado no prato’. Então, molhando o pedaço de pão, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Tão logo Judas comeu o pão, Satanás entrou nele. ‘O que você está para fazer, faça depressa’, disse-lhe Jesus... Assim que comeu o pão, Judas saiu. E era noite” (Jo 13:23-30). Judas sai antes de Jesus instituir a Ceia do Senhor, e é provável que o pão tenha sido “molhado no prato” com o molho da carne da ceia pascal, e não com vinho. A saída de Judas é acompanhada da expressão “e era noite”. É impossível pensar em um momento mais sinistro do que este da traição.
Jesus cita um Salmo escrito mil anos antes: “Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar” (Sl 41:9). Possuído pelo diabo, Judas levantaria seu “calcanhar” contra Jesus, e este teria o seu próprio “calcanhar” ferido pela serpente, na expressão usada por Deus no Éden ao anunciar a morte de Cristo: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” (Gn 3:15). A traição e morte de Cristo não eram nenhuma surpresa, pois estavam perfeitamente alinhados com os desígnios de Deus.
Mas não é apenas Judas que tem seu coração exposto. Referindo-se aos discípulos, depois de revelar que “Satanás pediu vocês para peneira-los como trigo” (Lucas 22:31), Jesus avisa que Pedro está prestes a negá-lo. Pedro, porém, retruca: “Estou pronto para ir contigo para a prisão e para a morte” (Lucas 22:33). O pecado premeditado de Judas, fruto de seu amor ao dinheiro, seria imperdoável e o levaria à destruição. Porém haveria perdão para a autoconfiança de Pedro, por quem Jesus intercederia para que depois ele confirmasse seus irmãos. Enquanto a expectativa da morte em cruz aterroriza o coração de Jesus, os discípulos estão preocupados com outra coisa, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Menos é mais
“Surgiu também uma discussão entre eles, acerca de qual deles era considerado o maior. Jesus lhes disse: ‘Os reis das nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre elas são chamados benfeitores. Mas, vocês não serão assim. Pelo contrário, o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve. Pois quem é maior: o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve’” (Lucas 22:24-27).
Nem bem terminam de celebrar a Ceia do Senhor com vistas à sua morte, e os discípulos já estão preocupados em saber qual deles é o maior. Se a expectativa do dinheiro levou Judas a trair Jesus, o desejo de poder é o que leva os discípulos a almejarem uma posição de destaque. Assim somos nós. Quando não estamos ocupados em suprir as necessidades fisiológicas de nosso paladar carnal, ficamos deslumbrados com o brilho das riquezas ou pela possibilidade de ocuparmos o topo da pirâmide do poder, a fim de exercermos domínio e sermos paparicados pelos homens.
Jesus explica essa estranha simbiose entre os que controlam e os que são controlados: “Os reis das nações dominam sobre elas; e os que exercem autoridade sobre elas são chamados benfeitores” (Lucas 22:25). O objetivo dos primeiros é dominar, a disposição dos outros é serem dominados em troca de benfeitorias. Se para o ser humano é natural querer exercer o domínio, para o cristão a ordem é: “O maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa como o que serve. Pois quem é maior: o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve” (Lucas 22:26-27).
Ali está aquele a quem Deus “constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo; o Filho [que] é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa... que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens... [que] humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Hb 1:2-3; Fp 2:6-8). No entanto, depois de admoestar seus discípulos, Jesus “levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura” (Jo 13:4-5).
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A recompensa
O que você faria se estivesse à beira da morte sabendo que tinha sido traído por um de seus amigos, que outro iria negá-lo três vezes, enquanto todos eles, ao redor de seu leito, discutissem qual deles seria o maioral? Se fosse comigo, eu diria: “Para mim chega! Vocês não são meus amigos coisa nenhuma! Sumam daqui que vou ligar para outros que são bem mais amigos que vocês!”. Felizmente o Senhor Jesus não é como eu ou você, “porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso” (Tg 5:11).
Em circunstâncias muito mais graves e solenes do que as de meu exemplo, as suas palavras de graça aos onze que ficaram com ele são: “Vocês são os que têm permanecido ao meu lado durante as minhas provações. E eu lhes designo um Reino, assim como meu Pai o designou a mim, para que vocês possam comer e beber à minha mesa no meu Reino e sentar-se em tronos, julgando as doze tribos de Israel” (Lucas 22:28-30). Apesar de suas fraquezas, o Senhor jamais se esqueceria de que eles haviam suportado provas e dificuldades; que haviam deixado tudo para segui-lo e sido rejeitados e perseguidos por isso.
A recompensa lhes será dada quando Cristo vier estabelecer seu reino de mil anos na terra. Os apóstolos da Igreja se sentarão em tronos para julgar as doze tribos de Israel. Cada cristão também terá seu galardão ou recompensa pela fidelidade demonstrada a Cristo em sua vida aqui. Conforme o Senhor prometeu em João 5:24, o crente “tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida.” Outra versão traz “não será julgado”, pois Cristo foi julgado na cruz em seu lugar. Mas ainda que o crente não seja julgado como serão os incrédulos, as suas obras serão testadas. Não será um julgamento do crente, mas de obras, como acontece em um concurso de obras de arte.
O Espírito Santo nos revela que “Deus não é injusto; ele não se esquecerá do trabalho de vocês e do amor que demonstraram por ele, pois ajudaram os santos e continuam a ajudá-los” (Hb 6:10). A salvação não vem das boas obras, mas as boas obras vêm da salvação e serão recompensadas quando Cristo voltar. A obra de cada salvo “será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um. Se o que alguém construiu permanecer, esse receberá recompensa. Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo” (1 Co 3:13-15).
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Mudança radical
Devemos estar atentos ao fato de que quando Deus diz algo, isso nem sempre vale para todas as ocasiões. É o caso desta passagem: “Então Jesus lhes perguntou: ‘Quando eu os enviei sem bolsa, saco de viagem ou sandálias, faltou-lhes alguma coisa?’ ‘Nada’, responderam eles” (Lucas 22:35). Enquanto Jesus andou com eles, suas necessidades eram supridas, e as pessoas, beneficiadas pelas curas, lhes davam abrigo e proteção.
Antes a ordem que os discípulos receberam havia sido: “Não se dirijam aos gentios, nem entrem em cidade alguma dos samaritanos. Antes, dirijam-se às ovelhas perdidas de Israel... Não levem nem ouro, nem prata, nem cobre em seus cintos; não levem nenhum saco de viagem, nem túnica extra, nem sandálias, nem bordão” (Mt 10:5-10).
Porém agora os judeus haviam rejeitado a Jesus e em poucas horas ele seria preso e condenado à morte. Por isso eles não deviam mais se considerar “em casa” entre os de seu próprio povo. Sua missão não ficaria mais restrita a Israel, como tinha sido até então, mas incluiria o “Ide por todo o mundo” (Mc 16:15). Do capítulo 13:31 ao final do capítulo 17 do Evangelho de João, você encontra a longa conversa de Jesus com os discípulos depois que Judas saiu do meio deles. O Senhor revela que eles seriam odiados por todo mundo, e isso não mudou desde então.
Dois mil anos se passaram e cristãos continuam a ser mortos por sua fé. Ao crer em Jesus você deixa de pertencer a este mundo, e ele diz: “Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia... Se me perseguiram, também perseguirão vocês... Tratarão assim vocês por causa do meu nome” (Jo 15:18-21).
Porém muitos são perseguidos mais por se intrometerem na vida alheia, do que por levarem o nome de Jesus. Ao invés de pregarem o evangelho, que se resume a “Cristo morreu pelos nossos pecados... foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia” (1 Co 15:1-3), pregam mudança de vida, hábitos e costumes, e combatem os que se opõem. Todavia, vestir terno em defunto não faz dele um vivo, assim como obrigar incrédulos a andarem como cristãos não lhes dá vida eterna. “Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, pois o remendo forçará a roupa, tornando pior o rasgo” (Mt 9:16). Quem crer terá sua vida transformada, “‘não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito’, diz o Senhor” (Zc 4:6).
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Briga de foice
Imagine que você seja um advogado inexperiente e seu chefe lhe diga: “Amanhã deixarei você assumir as rédeas no julgamento. Prepare-se, pois vai ser briga de foice”. No dia seguinte você é preso no fórum, armado de foice e tentando colocar um cabresto no juiz. Jesus aqui usa linguagem figurada para dizer aos discípulos que devem se preparar.
“Então Jesus lhes perguntou: ‘Quando eu os enviei sem bolsa, saco de viagem ou sandálias, faltou-lhes alguma coisa?’ ‘Nada’, responderam eles. Ele lhes disse: ‘Mas agora, se vocês têm bolsa, levem-na, e também o saco de viagem; e se não têm espada, vendam a sua capa e comprem uma. Está escrito: ‘E ele foi contado com os transgressores’; e eu lhes digo que isto precisa cumprir-se em mim. Sim, o que está escrito a meu respeito está para se cumprir’. Os discípulos disseram: ‘Vê, Senhor, aqui estão duas espadas’. ‘Basta!’, respondeu ele” (Lucas 22:35-38).
Levar “bolsa” e “saco de viagem” é o mesmo que dizer para se abastecerem de dinheiro e roupas. E a espada? Que eles se sentiriam em meio a uma ‘briga de foice’. Os discípulos levam ao pé da letra e nem mencionam a bolsa e o saco de viagem. Não se sabe de onde eles logo tiram “duas espadas”. O Senhor lhes diz “Basta!”, não no sentido de que duas seriam suficientes, mas que aquele assunto estava encerrado. Se não fosse assim, como conciliar o ensino do mesmo Jesus? Pois foi ele quem disse:
“O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem... Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas... Amem os seus inimigos e orem pelos que os perseguem” (Jo 18:36; Mt 5:39-44).
Eles não entendem, e são repreendidos, quando um deles “puxou a espada e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha. Disse-lhe Jesus: “Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão” (Mt 26:51-53). Cristo não tinha vindo tirar vidas. Pedro, o ‘cortador de orelhas’, mais tarde escreveria: “Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos... Ele não cometeu pecado algum, e nenhum engano foi encontrado em sua boca. Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pe 2:21-23).
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Da maldição para a benção
Meu pai era um ávido leitor de revistas técnicas, livros históricos e romances. Foi até assinante de um clube do livro, de onde recebeu um volumoso romance de mistério, desses que é impossível parar de ler. Ele sempre recordava o arrependimento de ter perdido uma noite de sono para chegar ao final, quando a trama seria desvendada e o assassino revelado. Porém, ao virar a última página, encontrou um aviso: “Sentimos informar que devido à morte do autor esta obra ficou inacabada”.
Se você acha que ele ficou frustrado, imagine a frustração de milhares de judeus que ainda hoje leem um livro inacabado, o Antigo Testamento, que termina com uma maldição: “Eu virei e castigarei a terra com maldição” (Ml 4:6). Se lessem a obra completa veriam que ela termina com uma bênção: “A graça do Senhor Jesus seja com todos” (Ap 22:21). No coração de todo judeu sincero ecoa a mesma pergunta feita a Filipe pelo eunuco, convertido ao judaísmo, que retornava frustrado de Jerusalém: “De quem o profeta está falando? De si próprio ou de outro?” (At 8:34).
“O eunuco estava lendo esta passagem da Escritura: ‘Ele foi levado como ovelha para o matadouro, e como cordeiro mudo diante do tosquiador, ele não abriu a sua boca. Em sua humilhação foi privado de justiça. Quem pode falar dos seus descendentes? Pois a sua vida foi tirada da terra’ ... Então Filipe, começando com aquela passagem da Escritura, anunciou-lhe as boas novas de Jesus” (At 8:32-35).
Em Lucas 22:37, pouco antes da cruz, Jesus diz: “Está escrito: ‘E ele foi contado com os transgressores’; e eu lhes digo que isto precisa cumprir-se em mim. Sim, o que está escrito a meu respeito está para se cumprir.” Ele se refere ao mesmo capítulo lido pelo eunuco, e esta é apenas uma das centenas de profecias, tipos e figuras do Antigo Testamento que se concretizam em Cristo no Novo Testamento. Sem o Novo Testamento, o Antigo é um livro inacabado e seu leitor estará sempre se perguntando: “De quem o profeta está falando?”.
No capítulo 11 da carta aos Hebreus há uma lista de todos os que são da família da fé desde Abel. A lista termina dizendo: “Todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados” (Hb 11:39-40). Você já alcançou essa “coisa melhor” e a bênção do Novo Testamento, ou parou na maldição do Antigo?
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Carne fraca, espírito pronto
“Jesus foi para o monte das Oliveiras, e os seus discípulos o seguiram. Chegando ao lugar, ele lhes disse: ‘Orem para que vocês não caiam em tentação’. Ele se afastou deles a uma pequena distância, ajoelhou-se e começou a orar: ‘Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua’” (Lucas 22:39-42).
Deus se apraz em colocar ao seu serviço as nossas habilidades naturais, por isso deu a Lucas, “o médico amado” (Cl 4:14), a tarefa de falar da humanidade de Jesus. Veja que Mateus e Marcos apenas mencionam que a sogra de Simão tinha febre, porém Lucas dá um diagnóstico de “febre alta” (Lucas 4:38). Em Atos 28:8 ele descreve o pai de Públio, de Malta, como “doente, acamado, sofrendo de febre e disenteria”. Lucas é o único a descrever a agonia física e emocional de Jesus com detalhes não vistos nos outros evangelhos: “Apareceu-lhe então um anjo do céu que o fortalecia. Estando angustiado, ele orou ainda mais intensamente; e o seu suor era como gotas de sangue que caíam no chão” (Lucas 22:43-44).
Tudo isso reflete a perfeita humanidade de Jesus, que, apesar de Deus, é humano o suficiente para sentir angústia e aflição diante da expectativa de sofrimento e dor. Espiritualmente ele está fortalecido, mas fisicamente está à beira de um colapso. Por isso ele ora ao Pai e é amparado por um anjo. O “cálice” do sofrimento o aterroriza, e se existisse outra maneira de Deus tirar o pecado do mundo, ele passaria longe da cruz. Mas ele ora para que a vontade do Pai prevaleça, pois sabe que não existe alternativa.
“Quando se levantou da oração e voltou aos discípulos, encontrou-os dormindo, dominados pela tristeza. ‘Por que estão dormindo?’, perguntou-lhes. ‘Levantem-se e orem para que vocês não caiam em tentação!... O espírito está pronto, mas a carne é fraca’” (Lucas 22:43-46; Mt 26:41). Jesus ensina o poder da oração diante das provas, e apesar de muitos utilizarem a expressão “a carne é fraca” como desculpa para caírem em pecado moral, não é disto que fala aqui. Seu assunto é a fragilidade do corpo humano para resistir à tortura física e mental. Apesar da debilidade do corpo de carne, o espírito de Jesus está pronto para o que deve enfrentar, e essa prontidão de espírito está disponível a todo crente. Paulo orou para que Deus fortalecesse os efésios “no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito” (Ef 3:16).
Nos próximos 3 minutos Jesus ganha um beijo. De Judas.
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O beijo da traição
Enquanto Jesus falava com seus discípulos, “Apareceu uma multidão conduzida por Judas, um dos doze. Este se aproximou de Jesus para saudá-lo com um beijo” (Lucas 22:47). Um beijo demonstra afeto, respeito e consideração. É também uma forma de cumprimentar, equivalente ao moderno aperto de mão. Se Judas apontasse o dedo para Jesus revelaria suas intenções. Se apenas o cumprimentasse poderia passar despercebido dos outros discípulos. Mas não de Jesus, que conhecia seu pensamento, desejos e intenções. Por isso Jesus pergunta, em tom de exclamação: “Judas, com um beijo você está traindo o Filho do homem?!” (Lucas 22:49).
Judas não sairia ileso daquela tentativa de fingir devoção. E você, é alguém que realmente crê em Cristo como seu Salvador, ou não passa de um que o beija aos domingos? De pessoas assim Jesus falou: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens” (Mt 15:8-9). Dos que “viram os sinais miraculosos que ele estava realizando e creram em seu nome”, João revelou que “Jesus não se confiava a eles, pois conhecia a todos” (Jo 2:23-25).
Mas por que Judas precisaria mostrar aos soldados quem era Jesus? Porque, ao contrário das imagens religiosas, ele não tinha olhos azuis, cabelos louros e uma auréola em torno da cabeça. Era igual a qualquer judeu comum de sua época, com olhos e cabelos negros ou castanhos e pele bronzeada. Não se destacava dos discípulos, principalmente à noite. Isaías profetizou de seu aspecto exterior: “Ele não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada em sua aparência para que o desejássemos” (Is 53:2). Tal descrição era condizente com o aspecto exterior do Tabernáculo no deserto, a grande tenda que representava a presença de Deus na terra.
O Tabernáculo tinha quatro coberturas, e quem estivesse dentro veria a mais bela de todas. Assim é hoje para os salvos por Jesus. Enquanto os incrédulos enxergam nele uma pedra comum, que só faz tropeçar, “para vocês, os que creem, esta pedra é preciosa”, escreveu Pedro (1 Pe 2:7). A feia cobertura exterior do Tabernáculo era feita de peles de animais. Algumas traduções falam de texugos, outras trazem golfinhos ou genericamente animais marinhos. Esqueça a ideia de um casaco de visom ou de uma capa de couro brilhante. O Tabernáculo, visto de fora, “não tinha qualquer aparência ou majestade que nos atraísse”. Assim é Jesus para quem não o conhece na sua intimidade: feio e sem graça.
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A defesa da fé
Ao chegarem os guardas trazidos por Judas, “Os que estavam com Jesus lhe disseram: ‘Senhor, atacaremos com espadas?’. E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita” (Lucas 22:49-50). O Evangelho de João revela que foi Simão Pedro quem atacou Malco, o servo do sumo sacerdote encarregado de prender Jesus. Pedro não era um soldado acostumado ao manejo da espada e pode muito bem ter mirado no pescoço ou na cabeça do homem, mas acertou apenas a orelha. Pedro é imediatamente repreendido por Jesus:
“Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão. Você acha que eu não posso pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos? Como então se cumpririam as Escrituras que dizem que as coisas deveriam acontecer desta forma?” (Mt 26:52-54).
Paulo escreve que, “embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (2 Co 10:3-5). Tudo isso mostra claramente que os métodos do cristão para a defesa da fé não são os métodos dos homens.
Efésios 6:13-18 ensina que a “armadura de Deus”, ou equipamento de batalha do cristão, em nada se assemelha aos armamentos usados pelos homens em suas guerras. Ela inclui “o cinto da verdade”, que dá firmeza ao corpo, “a couraça da justiça”, que protege o coração e seus sentimentos, e “o pés calçados com a prontidão do evangelho da paz” para trilharem a senda de Jesus. Para se defender o crente possui “o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno” e “o capacete da salvação” que protege sua mente. A única arma ofensiva é a espada, mas nem um pouco parecida com aquela usada por Pedro. Trata-se da “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus”.
Os cristãos devem destacar a presença de “Cristo como Senhor no coração” e estarem “sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança” que possuem, porém “com mansidão e respeito, conservando boa consciência”, pois “é melhor sofrer por fazer o bem, se for da vontade de Deus, do que por fazer o mal” (1 Pe 3:15-17).
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O último milagre de Jesus
As primeiras palavras de Jesus nos Evangelhos foram para seus pais, aos doze anos, quando o encontraram no Templo: “Por que vocês estavam me procurando? Não sabiam que eu devia estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2:48-49). Ele já cuidava dos interesses de seu Pai antes mesmo de dar início ao seu ministério público e transformar água em vinho na festa de casamento em Caná (Jo 2:11). Aquele seria o seu primeiro milagre.
A desastrada tentativa de Pedro de impedir a prisão de Jesus, decepando a orelha do servo do Sumo-Sacerdote, só serviu para revelar que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens” (2 Co 5:19). Então, “tocando na orelha do homem, ele o curou” (Lucas 22:51). O último milagre de Jesus foi curar o líder do grupo que havia sido enviado para prendê-lo. Jesus havia dito: “Enquanto é dia, preciso realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar...” (Jo 9:4).
Como já fazia aos doze anos, Jesus continua neste capítulo cuidando dos interesses de seu Pai, e esses interesses são de bênção, não de juízo ou punição; de mãos que curam, não que empunham a espada. Tempos antes, na sinagoga, quando leu Isaías 61, Jesus parou no ponto em que o texto dizia: “...e proclamar o ano da graça do Senhor” (Lucas 4:19). Ele não continuou lendo. Ainda não era a hora do que vinha a seguir nas palavras do profeta: “...e o dia da vingança do nosso Deus” (Is 61:2).
Se João Batista viera no caráter de um “que jejua e não bebe vinho”, Jesus era visto por seus críticos como “comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores” (Mt 11:16-19). Isso tinha um quê de verdade. Em seu primeiro milagre Jesus transformou água em vinho e em seu último curou um pecador inimigo de Deus. “A Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1:17). “A Lei e os profetas duraram até João [Batista]” (Lucas 16:16).
Mas aquele que veio “anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros” (Is 61:1) em poucas horas estará preso, em trevas e abandonado por Deus. A ele podem ser aplicadas as palavras do profeta: “Vocês não se comovem, todos vocês que passam por aqui? Olhem ao redor e vejam se há sofrimento maior do que o que me foi imposto e que o Senhor trouxe sobre mim no dia em que se acendeu a sua ira. Do alto ele fez cair fogo sobre os meus ossos” (Lm 1:12-13).
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A hora de vocês
“Então Jesus disse aos... líderes religiosos que tinham vindo procurá-lo: ‘Estou eu chefiando alguma rebelião, para que vocês tenham vindo com espadas e varas? Todos os dias eu estava com vocês no templo e vocês não levantaram a mão contra mim. Mas esta é a hora de vocês — quando as trevas reinam.’ Então, prendendo-o, levaram-no para a casa do sumo sacerdote. Pedro os seguia à distância” (Lucas 22:52-53).
João escreve que, ao se entregar aos que vinham prendê-lo, Jesus deixa escapar uma centelha de poder ao usar as mesmas palavras que usou em Êxodo ao se apresentar a Moisés como o “EU SOU”, ou “JAVÉ”. João diz: “Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, saiu e lhes perguntou: ‘A quem vocês estão procurando?’ ‘A Jesus de Nazaré’, responderam eles. ‘Sou eu’ [ou ‘Eu Sou’], disse Jesus. Quando Jesus disse: ‘Sou eu’, eles recuaram e caíram por terra” (Jo 18:4-6). Lá em Êxodo ele havia se apresentado como o “EU SOU O QUE SOU” (Ex 3:14).
Esta não é a única vez que Jesus se apresenta como o “EU SOU”. Em outras ocasiões ele declarou: “Se vocês não crerem que EU SOU, de fato morrerão em seus pecados... Quando vocês levantarem o Filho do homem, saberão que EU SOU... Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, EU SOU... Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que EU SOU” (Jo 8:24, 28, 58; 13:19). Então Jesus é o mesmo Jeová do Antigo Testamento? Sim.
Ele é o mesmo Jeová que se apresenta severo em algumas circunstâncias no Antigo Testamento, ou se senta para comer com Abraão em Gênesis 18:17-18, revela a ele seus planos de destruir Sodoma e Gomorra e ainda escuta pacientemente Abraão intercedendo pelas cidades. Ele é o mesmo que voltará em poder para julgar, então com aquela aparência tão terrível que fez João cair “aos seus pés como morto” em Apocalipse 1:17.
Se você não crê que Jeová é Jesus e Jesus é Jeová, então não crê na divindade de Cristo, ou não crê na divindade de Jeová, ou crê em uma forma de politeísmo. Seu problema só fica maior e sem solução. Percebe agora a importância do fato de Jesus se entregar sem resistência aos seus captores? Por algumas horas Deus permitiria que as trevas reinassem e os homens tomassem as rédeas dos acontecimentos. “Esta é a hora de vocês, quando as trevas reinam”, disse Jesus. Aquelas trevas são as mesmas que ainda reinam no coração dos que insistem em fazer a própria vontade.
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Quando o coração esfria
Jesus é levado preso para a casa do Sumo Sacerdote e Pedro observa de longe. Perder a proximidade e comunhão com Jesus não foi algo repentino. Começou com Pedro, dominado pela autoconfiança, dizendo: “Estou pronto para ir contigo para a prisão e para a morte” (Lucas 22:33). Depois ele achou que a energia da carne impediria que fosse separado de Jesus. Só acertou uma orelha. Agora Pedro se limita a seguir Jesus de longe, para que as pessoas não pensem que ele seja amigo daquele que o mundo rejeitou. Será que você conhece alguém assim?
Mas ficar longe do único capaz de acalentar seu coração faz Pedro sentir frio. Não existe calor e conforto longe de Jesus, daquele de quem dois outros discípulos mais tarde diriam depois de terem caminhado com o Ressuscitado: “Não estavam ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?” (Lucas 24:32). Quando confiamos em nós mesmos, usamos de artifícios carnais para manter nossa comunhão, ou seguimos a Jesus de longe com medo de sermos identificados com ele. No fim acabamos buscando o calor das fogueiras do mundo e a companhia daqueles que condenaram o Senhor.
Quando os inimigos de Jesus “acenderam um fogo no meio do pátio e se sentaram ao redor dele, Pedro sentou-se com eles. Uma criada o viu sentado ali à luz o fogo. Olhou fixamente para ele e disse: ‘Este homem estava com ele’. Mas ele negou: ‘Mulher, não o conheço’. Pouco depois, um homem o viu e disse: ‘Você também é um deles’. ‘Homem, não sou!’, respondeu Pedro. Cerca de uma hora mais tarde, outro afirmou: ‘Certamente este homem estava com ele, pois é galileu’”. Neste ponto o Evangelho de Mateus acrescenta que Pedro “começou a se amaldiçoar e a jurar: ‘Não conheço esse homem!’” (Lucas 22:55-60; Mt 26:74).
Até o modo de falar muda após alguns minutos na companhia dos ímpios. Pedro xinga e amaldiçoa. Onde estava a mensagem de perdão e salvação que ele pregou nos últimos três anos em que andou com Jesus? “Falava ele ainda, quando o galo cantou. O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito: ‘Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes’” (Lucas 22:60-61). Preso e prestes a morrer, Jesus ainda se preocupa com Pedro, e esse amor e cuidado não mudou. O mesmo que morreu e ressuscitou agora zela por seu coração para que não esfrie. Iria você querer se aquecer nas fogueiras dos inimigos do Senhor?
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Sair chorando
Todo cristão sincero se identifica com Pedro em seu fracasso. Um pouco antes Jesus tinha avisado: “‘Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos’. Mas ele respondeu: ‘Estou pronto para ir contigo para a prisão e para a morte’”. (Lucas 22:31-33). Satanás queria peneirar todos eles como trigo, mas Simão Pedro corria maior risco. Sua fraqueza estava na confiança própria.
A autoconfiança é vista na carreira profissional como vantagem competitiva, e pode até ser quando o contrário disso é o desânimo, a falta de coragem e sentimento de auto piedade. Mas o cristão possui um recurso muito mais seguro e eficaz que a autoconfiança: a confiança que vem do alto. Posso até ‘confiar no meu taco’, como se costuma dizer, por ter me empenhado em treinar para uma competição, estudar para uma prova ou me capacitar para um emprego. Mas o cristão sabe que precisa de outro tipo de confiança para não ir sozinho à luta. Confiança no Senhor.
Muitos confundem ‘confiar em Deus’ com uma atitude de comodismo, de deixar ‘ao Deus dará’ ou esperar que as coisas caiam do céu. A Bíblia mostra que não é bem assim. “Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, mas o Senhor é que dá a vitória” (Pv 21:31). É responsabilidade humana o preparar-se, mas a vitória é divina_. “Se não for o Senhor o construtor da casa, será inútil trabalhar na construção. Se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda” (_Sl 127:1). Repare que é o Senhor o construtor, mas alguém assenta os tijolos. É o Senhor quem vigia a cidade, mas existe uma sentinela montando guarda.
Confiar em si mesmo foi a ruína de Pedro. Mesmo depois de convertidos trazemos essa velha natureza teimosa, independente e autossuficiente que herdamos de Adão, e sempre que tiramos do Senhor o olhar ela nos faz pecar. O que fazer então? Olhar para o Senhor, pois nossos olhares certamente se cruzarão. “O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro”. De nada adiantaria Pedro culpar outros ou tentar se defender. Ele havia sido peneirado como trigo e falhara, mas mesmo assim continuava trigo, não joio. “Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia” (Pv 28:13). Pedro “saindo dali chorou amargamente” (Lucas 22:61-62). Ele não apenas chorou, mas saiu dali, abandonando a companhia dos inimigos do Senhor e a falsa sensação de conforto daquela fogueira.
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Livrando-se de Jesus
“Os homens que estavam detendo Jesus começaram a zombar dele e a bater nele. Cobriam seus olhos e perguntavam: ‘Profetize! Quem foi que lhe bateu?’ E lhe dirigiam muitas outras palavras de insulto” (Lucas 22:63-65). Pedro já não estava ali para ver como o Senhor se comportou diante de seus acusadores, mas o Espírito Santo mais tarde lhe revelaria que “ele não cometeu pecado algum, e nenhum engano foi encontrado em sua boca. Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1 Pe 2:22-23).
“Ao romper do dia, reuniu-se o Sinédrio, tanto os chefes dos sacerdotes quanto os mestres da lei, e Jesus foi levado perante eles.” Os sacerdotes intercediam pelo povo diante de Deus, mas aqui acusam o Filho de Deus diante do povo. “‘Se você é o Cristo, diga-nos’, disseram eles. Jesus respondeu: ‘Se eu vos disser, não crereis em mim e, se eu vos perguntar, não me respondereis. Mas de agora em diante o Filho do homem estará assentado à direita do Deus Todo-poderoso’. Perguntaram-lhe todos: ‘Então, você é o Filho de Deus?’ ‘Vós estais dizendo que eu sou’, respondeu ele. Eles disseram: ‘Por que precisamos de mais testemunhas? Acabamos de ouvir dos próprios lábios dele’” (Lucas 22:66-71).
Jesus não andava por aí proclamando ser o Cristo, por isso a pergunta deles é no mínimo estranha: “Se você é o Cristo, diga-nos”. O que os faz pensar assim? Certamente os sinais que Jesus fez, que os profetas haviam apontado como as credenciais do Messias. “Então, você é o Filho de Deus?”. Jesus responde de modo a colocar sobre eles toda a responsabilidade de estarem conscientemente condenando seu Messias: “Vocês estão dizendo que eu sou”. Isso deve ter atingido suas consciências como um raio, mas mesmo assim eles estão dispostos a se livrarem dele. Afinal, como poderiam continuar vivendo sua vida de independência e autossuficiência se o Filho de Deus permanecesse ali para atrapalhar?
Embora este julgamento tenha ocorrido há séculos, ele se repete hoje cada vez que alguém é apresentado a Jesus e se recusa a crer nele. Aceitá-lo implicaria sujeitar-se a ele como Senhor; rejeitá-lo dá a falsa sensação de continuar numa vida de independência. Até quando? Até aquele dia quando terá de dobrar os joelhos diante do “Filho do homem... assentado à direita do Deus Todo-poderoso” e ouvir de sua boca a sentença: “Aparte-se de mim para o fogo eterno” (Mt 25:41). Então aqueles que não quiseram Jesus aqui não o terão também ali. Eternamente_._
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A volta do rejeitado
Chegamos ao capítulo 23 de Lucas, ao momento mais solene da história da humanidade. Alguns dias mais tarde Pedro dirá aos judeus: “Vocês negaram publicamente o Santo e Justo e pediram que lhes fosse libertado um assassino. Vocês mataram o autor da vida!” (At 3:14-15). Embora os judeus tenham sido os principais responsáveis pela morte de Jesus, neste capítulo vemos todas as classes de pessoas representadas nessa injustiça.
Os religiosos entregam Jesus às autoridades seculares para ser executado. O povo prefere “Barrabás, que havia sido lançado na prisão por causa de uma insurreição na cidade e por assassinato” (Lucas 23:19). Os ladrões, alheios à própria sorte, se põem ao lado das autoridades e do povo contra Jesus. Então Pilatos, de forma sarcástica, manda pregar uma placa sobre a cruz, e sem saber torna oficial o fato de toda a humanidade estar representada ali: “Este é o Rei dos Judeus”, anuncia em três idiomas. O latim, do poder secular e militar; o grego, língua universal do comércio, da filosofia, artes e ciência, e o hebraico, representando a religião. Por fim, o próprio Deus, que é luz, será obrigado a abandonar “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Então as trevas reinarão.
Você fica indignado com tanta violência e corrupção no mundo? O que você esperava? A humanidade condenou à morte o Filho de Deus, o autor da vida! É muita ingenuidade achar que este mundo tenha conserto. Talvez você diga que se estivesse lá não o teria rejeitado. Não? Seria você melhor que Pedro, que conviveu com Jesus por mais de três anos e mesmo assim se acovardou quando uma simples criada o expôs como amigo dele? Não se iluda, todos nós teríamos feito o mesmo, pois nascemos inimigos de Deus.
Dizem que se Jesus viesse hoje não seria tratado assim, pois a humanidade está mais evoluída. É mesmo? Neste exato momento algum ‘homem evoluído’ está detonando uma bomba amarrada ao corpo em meio a uma multidão. A questão agora é entre você e Deus. A primeira vinda de Cristo ao mundo já passou, e na próxima “ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram” (Ap 1:7). “Naquele dia os seus pés estarão sobre o monte das Oliveiras, a leste de Jerusalém, e o monte se dividirá ao meio” (Zc 4:4). “Então ele dirá aos que estiverem à sua esquerda: ‘Malditos, apartem-se de mim para o fogo eterno, preparado para o diabo e os seus anjos’” (Mt 25:41).
Você não vai esperar até lá para reconciliar-se com Deus, vai?
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Quer ver milagres?
Concluído o julgamento religioso, Jesus é levado a Pilatos para o julgamento civil. Por estarem sob domínio romano, os judeus não podem executar um transgressor. Jesus foi condenado pelos judeus por se declarar Filho de Deus, o que ele realmente era. Agora, diante de Pilatos, os judeus tentam convencer o inimigo invasor de que Jesus conspira contra César. Mas não era isso que eles próprios gostariam de fazer?
“E começaram a acusá-lo, dizendo: ‘Encontramos este homem subvertendo a nossa nação. Ele proíbe o pagamento de imposto a César e se declara ele próprio o Cristo, um rei’. Pilatos perguntou a Jesus: ‘Você é o rei dos judeus?’ ‘Tu o dizes’, respondeu Jesus. Então Pilatos disse aos chefes dos sacerdotes e à multidão: ‘Não encontro motivo para acusar este homem’” (Lucas 23:2-4). Nada é mais degradante do que ver um ímpio ter mais discernimento do que aqueles que conhecem a Palavra de Deus.
Pilatos quer livrar-se do problema, por isso “sabendo que Jesus era da [Galileia], jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, que também estava em Jerusalém naqueles dias. Quando Herodes viu Jesus, ficou muito alegre, porque havia muito tempo queria vê-lo. Pelo que ouvira falar dele, esperava vê-lo realizar algum milagre” (Lucas 23:7-8).
Quantos hoje ficam alegres ao ouvirem falar de Jesus, mas não por estarem dispostos a crer com o coração e confessá-lo como Senhor, submetendo-se a ele. Ficam alegres apenas com possibilidade de presenciarem algum milagre: serem curados de uma enfermidade, prosperarem nos negócios ou resolverem um relacionamento amoroso. Se este for o seu caso, você não é diferente de Herodes Antipas, o mesmo que mandou matar João Batista por incomodar sua consciência adúltera; o mesmo filho de Herodes, o Grande, que quis se livrar de Jesus quando nasceu e promoveu o massacre dos meninos de Belém.
Portanto, não se iluda com as multidões que hoje enchem os templos da cristandade, achando que todos ali estão interessados em Jesus. “Enquanto [Jesus] estava em Jerusalém, na festa da Páscoa, muitos viram os sinais miraculosos que ele estava realizando e creram em seu nome. Mas Jesus não se confiava a eles, pois conhecia a todos. Não precisava que ninguém lhe desse testemunho a respeito do homem, pois ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2:23-25). Você já parou para pensar qual o real motivo de você querer ver a Jesus?
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Imagine
Gosto das canções dos Beatles, mas “Imagine” me faz arrepiar. De terror. Em que pese sua beleza poética e melódica, a canção seria o fundo ideal para a cena que temos diante de nós no capítulo 23 de Lucas. Tudo se encaixa: As pessoas unidas em um propósito comum, vivendo em harmonia e sem a preocupação de um destino no céu ou juízo no inferno. Imagine tudo isso “e o mundo viverá como um só”, cantava John Lennon.
De judeus a gentios, de reis a ladrões, de sacerdotes a soldados, aqui todos são um só. “Os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei estavam ali, acusando-o com veemência... Herodes e seus soldados ridicularizaram-no e zombaram dele... Herodes e Pilatos, que até ali eram inimigos, naquele dia tornaram-se amigos... Igualmente o insultavam os ladrões que haviam sido crucificados com ele” (Lucas 23:10-12; Mt 27:44).
No Éden nossos ancestrais creram na promessa da serpente: “Vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:5). O que o diabo não contou foi que, apesar de se tornarem “conhecedores do bem e do mal”, eles não teriam poder para fazer o bem ou evitar o mal. Ao decidirem ser “como Deus”, romperam seus laços com o Criador, acabaram nos “laços do diabo, em que à vontade dele estão presos” (2Tm 2:26).
Hoje o homem sonha e canta uma paz mundial, um mundo livre de diferenças, com um só propósito, porém sem Deus. Ou melhor, pode-se até crer em uma força superior, energia cósmica ou grande arquiteto do universo, como se exige nas sociedades que visam unir os homens, independentemente de suas crenças, raças ou nacionalidades. Como nada acontece sem um denominador comum, nada melhor do que a inimizade contra Deus para servir de elemento aglutinador da paz.
Existe nesta cena um frenesi de atividade humana, com todos falando e todos votando com unanimidade. Apenas um está em silêncio: Jesus. Herodes “interrogou-o com muitas perguntas, mas Jesus não lhe deu resposta” (Lucas 23:9). Hoje, quando a violência e a iniquidade correm soltas no mundo, Jesus está em silêncio. Ele voltará a falar ao mundo, porém não serão palavras de graça, mas de juízo. No livro de Apocalipse ele diz: “Continue o injusto a praticar injustiça; continue o imundo na imundícia; continue o justo a praticar justiça; e continue o santo a santificar-se. Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez” (Ap 22:11-12).
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Dia de eleição
Pilatos sabe que não faz sentido condenar Jesus, e tenta de todas as formas livrar-se dessa responsabilidade. Por três vezes ele afirma que Jesus é inocente, além de dizer que Herodes pensava o mesmo. Na Páscoa era costume soltar um prisioneiro, e é com esta possibilidade que Pilatos conta para libertar Jesus. Porém ele acaba cedendo ao clamor popular: “Acaba com ele! Solta-nos Barrabás!... Crucifica-o! Crucifica-o!... pediam insistentemente, com fortes gritos, que ele fosse crucificado; e a gritaria prevaleceu. Então Pilatos decidiu fazer a vontade deles” (Lucas 23:18-23).
O nome “Barrabás” é, na verdade, um sobrenome composto das palavras “Bar” e “Abbas”. No hebraico não se usava sobrenomes como hoje, mas a pessoa era identificada pelo nome do pai. Daí você encontrar nomes como “Simão Barjonas”, que significa “Simão filho de Jonas”, “Bartolomeu” que é “Filho de Tolmai” e “Bartimeu”, o “Filho de Timeu”. A ironia do momento é que o verdadeiro “Filho de Deus” está sendo trocado por uma versão pirata: “Barrabás” — o “Bar Abbas” ou “Filho do Pai”.
Em diferentes passagens Barrabás é identificado como ladrão, insurgente e homicida. Estas características são encontradas no diabo, o ladrão que “vem apenas para furtar, matar e destruir”, em contraste com Jesus, “o bom Pastor” que “dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10:10-11). Barrabás também prefigura o anticristo, que será aclamado pela opinião pública. E aí, você realmente acredita que este mundo tenha conserto, depois de ter trocado o “Filho de Deus” por um falso “Filho do Pai”?
Ao escancarar as trevas que traz no coração, a humanidade inaugura o que seria aclamado como a solução para todos os problemas da sociedade: um sistema de governo em que a voz do povo governado prevalece sobre a autoridade do governante. Se o Império Romano é o “quarto reino, forte como o ferro” do sonho profético de Nabucodonosor no capítulo 2 do Livro de Daniel, ou a materialização das pernas da grande estátua, nesta cena temos o embrião dos pés e dos dedos, “em parte de barro e em parte de ferro” (Dn 2:42). Trata-se do futuro renascimento do Império Romano, que “será em parte forte e em parte frágil”. O ferro tipifica a mão forte do governo, porém o barro revela a humanidade. Se na prova cair uma questão perguntando quando foi que começou a democracia, pode responder que foi há dois mil anos com a eleição de Barrabás.
Nos próximos 3 minutos os judeus selam seu próprio destino.
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Futuro sombrio
Em outro evangelho Jesus carrega a cruz, mas aqui nos é dito que ela é carregada por Simão de Cirene. As duas coisas aconteceram em diferentes momentos. Antes o Senhor havia exortado os discípulos a carregarem cada um a sua própria cruz, mas ele certamente não falava de uma cruz de madeira, como fazem os pagadores de promessas na tentativa de agradarem a Deus por seus esforços. Em Lucas 9 Jesus disse:
“Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a vida por minha causa, este a salvará” (Lucas 9:23-24). A cruz era o instrumento de morte, como é a cadeira elétrica hoje. Tomar a própria cruz não significa se resignar a um sofrimento, mas considerar-se morto para o mundo, porém vivo para Deus.
“Fui crucificado com Cristo”, escreveu Paulo aos Gálatas apontando a posição que um crente ocupa agora aos olhos de Deus e do mundo. “Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim... Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo... Da mesma forma, considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus” (Gl 2:20; 6:14; Rm 6:11).
O cortejo era acompanhado por mulheres que “lamentavam e choravam”, e Jesus lhes diz: “Filhas de Jerusalém, não chorem por mim; chorem por vocês mesmas e por seus filhos! Pois chegará a hora em que vocês dirão: ‘Felizes as estéreis, os ventres que nunca geraram e os seios que nunca amamentaram!’. Então dirão às montanhas: ‘Caiam sobre nós!’ e às colinas ‘Cubram-nos!’. Pois se fazem isto com a árvore verde, o que acontecerá quando ela estiver seca?” (Lucas 23:27-31).
Jesus é a “árvore verde” que veio dar fruto e foi cortada. Israel, a árvore seca, já sofreu dois mil anos de perseguição pelo que fez a Jesus, porém mais sofrimentos aguardam esse povo e também os gentios que pisam “aos pés o Filho de Deus” e insultam “o Espírito da graça” (Hb 10:29): “Os reis da terra, os príncipes, os generais, os ricos, os poderosos... gritarão às montanhas e às rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia da ira deles; e quem poderá suportar?’” (Ap 6:15-17).
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Entre ladrões
“Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, ali o crucificaram com os criminosos, um à sua direita e o outro à sua esquerda... Um dos criminosos que ali estavam dependurados lançava-lhe insultos: ‘Você não é o Cristo? Salve-se a si mesmo e a nós!’ Mas o outro criminoso o repreendeu, dizendo: ‘Você não teme a Deus, nem estando sob a mesma sentença? Nós estamos sendo punidos com justiça, porque estamos recebendo o que os nossos Atos merecem. Mas este homem não cometeu nenhum mal’” (Lucas 23:32-33, 39-41).
Mateus e Marcos dizem que “igualmente o insultavam os ladrões que haviam sido crucificados com ele” (Mt 27:44; Mc 15:32), portanto algo fez com que um dos malfeitores parasse de ofender a Jesus. O que o teria feito mudar de ideia? Certamente as palavras de Jesus intercedendo por seus algozes: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lucas 23:34). João e Paulo explicam que “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele... Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens” (Jo 3:17; 2 Co 5:19).
Neste ladrão vemos a conversão do pecador. Ele é um condenado prestes a morrer e se perder eternamente, mas não parece ligar para isso, como qualquer pessoa que “pensa que escapará do juízo de Deus”. Ele insulta Jesus, como muitos fazem, sem perceber que “está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento e Deus retribuirá a cada um conforme o seu procedimento” (Rm 2:3-6). Porém, quando escuta as palavras de bondade ditas por Jesus, é como se despertasse para a exortação: “Será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?” (Rm 2:4).
Portanto, não é você, de si mesmo, quem se arrepende, como se fosse uma boa obra sua, mas é a bondade de Deus que o leva a arrepender-se, pois o Espírito Santo é quem convence “do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16:8). E, uma vez arrependido, você passa a condenar-se a si mesmo — como fez o ladrão — e a justificar a Deus. Então vem o pedido de um que deposita toda a sua fé e confiança em Jesus: “Lembra-te de mim quando entrares no teu Reino”. Será que Jesus respondeu ao ladrão: “Ok, então desça daí, arrume sua vida, seja batizado, filie-se a uma igreja e depois venha falar comigo”? Não, ele apenas disse: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso” (Lucas 23:42-43).
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Hoje no Paraíso
Nos últimos 3 minutos vimos o que o ladrão convertido na cruz pediu e recebeu. Você reparou que ele pediu uma coisa e recebeu outra? Assim é a maneira de Deus, porque nem sempre sabemos ou entendemos o que pedimos. O ladrão arrependido reconheceu que Jesus era o Rei esperado para governar Israel. Reconheceu também que, apesar de tudo, o seu reino seria de algum modo estabelecido. Tudo o que ele pediu foi ser lembrado por Jesus quando este entrasse em seu reino. Só isso. Não ser esquecido.
Ele certamente não esperava pela resposta de Jesus, que não falou do reino, mas do Paraíso. Não em alguma data futura e indeterminada, mas no menor espaço de tempo possível, e ainda com uma garantia: “Eu lhe garanto: Hoje você estará comigo no paraíso” (Lucas 23:42-43). Em 2 Coríntios 12:2-4 Paulo identifica o Paraíso como o terceiro céu e Apocalipse 2:7 revela ser a presença de Deus. Mas como poderia Jesus ir ao Paraíso naquele mesmo dia se dizem que ele desceria ao inferno?
A confusão é gerada por uma tradução pouco precisa do Salmo 16:10, citado também em Atos 2:27: “Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção”. Outras versões dizem “não deixarás a minha alma na morte”, outras, “na região dos mortos” ou “no sepulcro”. A palavra grega é “hades”, que não significa um lugar, mas uma condição. Naquele dia o ladrão e Jesus estariam ao mesmo tempo no “hades” e “no Paraíso”, isto é, na condição de terem a alma e o espírito separados do corpo, porém no lugar chamado Paraíso.
Então quando é que Jesus teria descido ao inferno? Nunca. A palavra “inferno” não existe na Bíblia. Ela foi usada por tradutores no lugar de palavras com diferentes significados, como “hades”, que é a condição de morte, e “geena”, que é o “lago de fogo”, o destino final dos perdidos. O lago de fogo ainda está vazio. Todos os que morreram estão no hades, isto é, na condição de morte, mas alguns já estão salvos, com Cristo, e outros perdidos e impossibilitados de passarem para o lado dos salvos. Um dia todos deixarão o hades — ou a condição de morte física — para receberem seus corpos: uns para estarem com Deus em corpo, alma e espírito, outros para serem lançados no lago de fogo. Em ambos os casos, eternamente.
Mas se Jesus subiu naquele dia ao Paraíso, quando ele teria pregado aos condenados que estão no hades, como Pedro diz em sua carta? Há muitos séculos, antes do Dilúvio, como veremos nos próximos 3 minutos.
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Hoje é o dia da salvação
Quando alguém pega a promessa de Jesus ao ladrão arrependido, de que estariam juntos naquele mesmo dia no Paraíso, e junta com Atos 2:27, que previa que Cristo não ficaria no hades, e ainda acrescenta 1 Pedro 3:19 e 4:6 ao pacote, a confusão fica completa. Como já expliquei, hades não é um lugar físico, mas o estado de separação do corpo quando a pessoa morre. Sua alma e espíritos continuam vivos e despertos com Cristo no céu, no caso dos salvos, ou longe de Cristo e sofrendo nessa condição, no caso dos perdidos. Mas vamos ler a passagem em 1 Pedro 2:5; 3:19 e 4:6, inserindo algumas explicações no texto para facilitar sua compreensão.
“[Deus] não poupou o mundo antigo quando trouxe o dilúvio sobre aquele povo ímpio, mas preservou Noé, pregador da justiça, e mais sete pessoas... [Jesus] foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual [Espírito] também foi e pregou [por intermédio de Noé] aos espíritos [que agora estão] em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída... Por isso mesmo o evangelho foi pregado também aos [que hoje estão] mortos, para que eles, mesmo julgados no corpo segundo os homens, vivam pelo Espírito segundo Deus” (1 Pe 2:5; 3:19; 4:6).
Juntando tudo, Jesus não foi ao hades pregar o evangelho no dia em que morreu na cruz. Nesse dia ele foi direto ao Paraíso, se é que você acredita no que ele disse ao ladrão. O que Pedro menciona em sua carta ocorreu muito tempo antes, quando Jesus, no Espírito, usou Noé, o “pregador da justiça”, para avisar os homens do juízo que iria cair sobre o mundo. Essa pregação de Noé durou mais de cem anos, enquanto Deus pacientemente aguardava a construção da arca. Os espíritos dos que ouviram a pregação de Jesus por intermédio de Noé e morreram no dilúvio, estão hoje aprisionados no hades aguardando para serem lançados no lago de fogo.
Nos últimos dois mil anos muitos ouviram o evangelho e morreram na incredulidade e estão hoje no hades. Escutaram da graça de Deus enquanto estavam vivos e agora, mortos, já nada podem fazer para mudar seu destino. De nada adiantaria Cristo ir até eles pregar o evangelho, pois o dia da oportunidade já passou. Que dia? O mesmo que Jesus prometeu ao ladrão que estaria com ele no Paraíso: Hoje! Se você ainda não tomou uma decisão por Cristo, lembre-se de que esse mesmo “hoje” serve para quem escuta o evangelho saber que Amanhã será tarde demais. “Se hoje vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração” (Hb 4:7).
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O ponto alto da história
A crucificação de Jesus é o ponto alto da história de ódio do pecador por seu Criador. Até este momento os homens pensavam estar no controle da situação, e o próprio Jesus lhes havia dito: “Esta é a hora de vocês, quando as trevas reinam” (Lucas 22:53). Mas Deus, que até aqui parecia indiferente a tudo o que faziam ao seu Filho, apaga a luz. Homem algum poderia evitar que o sol do meio dia se tornasse em trevas. Aquele era também um sinal de que Deus abandonava Jesus ali para assumir os nossos pecados como se fossem seus, e pagar por todos eles. Por isso ele declara profeticamente no Salmo 69:4: “Sou forçado a devolver o que não roubei”.
Não existe vida para o homem do lado de cá da cruz e da morte. É preciso estar em Cristo, ter morrido ali com ele e ressuscitado ao terceiro dia, para receber vida nova. Na cruz Deus colocou um ponto final na raça dos filhos de Adão para iniciar uma nova criação que está além da morte, onde a verdadeira vida começa.
O Filho de Deus se fez Filho do Homem para, por sua morte, poder transformar em filhos de Deus aqueles que nasceram filhos de homens. O que tinha vida em si mesmo, veio ao mundo morrer para dar vida aos que estavam mortos em delitos e pecados. Aquele que tinha seu lar no céu desceu à terra para dar um lar no céu a nós, criaturas da terra. O único que era perfeitamente justo foi feito pecado na cruz, para que nós, que nascemos em iniquidade, fôssemos feitos justiça de Deus. O imortal se fez mortal para dar vida eterna a nós mortais. Ele que era eternamente livre se fez escravo deixando-se pregar numa cruz, a fim de libertar a nós, escravos do pecado. Aquele que era infinitamente rico se fez pobre ao entregar seu último bem, a própria vida, para enriquecer aqueles que nem vida possuíam. Aquele que é luz desceu às trevas, para transformar em filhos da luz a nós, que éramos trevas. Aquele que estava no seio do Pai veio a esta terra distante e desceu à morte, para levar para perto de si aqueles que estavam longe de Deus.
Jesus bradou em alta voz: ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’. Tendo dito isso, expirou. O centurião, vendo o que havia acontecido, louvou a Deus, dizendo: ‘Certamente este homem era justo’. E todo o povo que se havia juntado para presenciar o que estava acontecendo, ao ver isso, começou a bater no peito e a afastar-se. Mas todos os que o conheciam, inclusive as mulheres que o haviam seguido desde a Galileia, ficaram de longe, observando essas coisas” (Lucas 23:44-49).
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Rico ou pobre?
Hoje há tantos evangélicos pregando prosperidade que quase nos esquecemos de que nos anos 70 e 80 a moda entre católicos era a “Teologia da Libertação”. Ao contrário da “Teologia da Prosperidade”, que tenta aplicar à Igreja as promessas feitas a Israel ao afirmar que todo cristão deve ser rico, a chamada “opção pelos pobres” foi adotada por revolucionários para dar um tom religioso ao marxismo e à luta de classes.
Nenhuma delas tem fundamento bíblico, pois o objetivo do cristão neste mundo não é ser pobre ou rico, e nem colocar pobres contra ricos ou se achar capaz de erradicar a pobreza. É claro que a Palavra de Deus sempre exortou “que nos lembrássemos dos pobres” (Gl 2:10), mas Jesus deixou claro que “Os pobres vocês sempre terão consigo” (Jo 12:8), mostrando que este problema não será resolvido até que ele venha para reinar.
É tão errado um rico gloriar-se em sua riqueza, quanto um pobre em sua pobreza. No corpo de Cristo existem mais pobres que ricos, mais iletrados que sábios, mais fracos que poderosos, mas “quem se gloriar, glorie-se no Senhor” (1 Co 1:26-31). Deus permite as diferentes condições para usar os seus de diferentes maneiras. Cristianismo não é comunismo. Os pobres não devem acreditar nas palavras dos pregadores da prosperidade, achando que se fossem ricos seriam felizes, e os ricos não devem confiar nas riquezas, mas estarem prontos a ajudar “especialmente aos da família da fé” (Gl 6:10), ou seja, dando prioridade aos seus irmãos em Cristo.
Se alguns discípulos, pobres e humildes, não tinham acesso ao governador Pilatos para requerer o corpo de Jesus, Deus usou dois discípulos ricos e influentes para esta tarefa. “José, membro do Conselho, homem bom e justo... de Arimateia... “dirigindo-se a Pilatos, pediu o corpo de Jesus”, e “Nicodemos levou cerca de trinta e quatro quilos de uma mistura de mirra e aloés” para preparar o corpo para o sepultamento no sepulcro novo doado por José de Arimateia. (Lucas 23:50-56; Jo 19:38-42).
Entre o povo de Deus há pessoas de diferentes classes sociais, mas todos devem aprender a se contentar com o que possuem, seja riqueza ou pobreza, à semelhança do apóstolo Paulo, que disse: “Aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4:11-13).
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Crer no impossível
Chegamos ao último capítulo do Evangelho de Lucas, quando “no primeiro dia da semana, de manhã bem cedo, as mulheres tomaram as especiarias aromáticas que haviam preparado e foram ao sepulcro. Encontraram removida a pedra do sepulcro, mas, quando entraram, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. Ficaram perplexas, sem saber o que fazer” (Lucas 24:1-4). A perplexidade delas é igual à minha e à sua, quando as coisas não saem do modo como esperávamos. A razão é que, à semelhança daquelas mulheres, nos esquecemos de incluir Deus em nossa equação. Então, quando Deus age fora do esperado, perdemos o chão.
Para elas, a dor da morte de Jesus aumentou ainda mais com a ideia de seu corpo ter sido roubado do sepulcro. Mas e se ele tivesse ressuscitado? Não, elas não cogitariam tal coisa, pois aí seria preciso pensar fora da caixa de como as coisas acontecem nesta vida sem a intervenção divina. Porém, em alguns minutos elas irão aprender que, para Deus, nada é impossível.
“De repente dois homens com roupas que brilhavam como a luz do sol colocaram-se ao lado delas. Amedrontadas, as mulheres baixaram o rosto para o chão, e os homens lhes disseram: ‘Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se do que ele lhes disse, quando ainda estava com vocês na Galileia: ‘É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia’. Então se lembraram das suas palavras” (Lucas 24:4-8).
A espera entre a morte de Jesus e a boa notícia dos anjos elas passaram horas de angústia e depressão. A Lei do descanso obrigatório no sábado não permitia que fossem dar sequência aos trabalhos de aplicar especiarias aromáticas ao corpo do defunto. É triste ver quantos hoje vivem nesse hiato de sofrimento e dor. Ouviram que Jesus morreu, penduram na parede de suas casas uma miniatura da cruz com a figura de um homem morto, e passam a vida “procurando entre os mortos aquele que vive”.
Isso faz lembrar a história do jovem que, ao se converter a Cristo, entendeu logo que crer no evangelho incluía crer na morte e ressurreição de Cristo. Então, quando reparou no crucifixo na parede da sala, não hesitou em arrancar dele a figura do homem morto. Quando sua mãe viu a cruz vazia, exclamou horrorizada: “Cadê o Jesus que estava aqui?!”. “Ressuscitou!”, respondeu o jovem com a naturalidade de quem crê no impossível.
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Nem razão, nem emoção
As mulheres que foram ao sepulcro com perfumes para aplicar ao corpo morto de Jesus eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, além de outras. Mas em outra parte vemos Maria, de Betânia, aplicar perfumes ao corpo vivo de Jesus. Incitados por Judas, alguns protestaram. Afinal, o dinheiro do perfume teria sido melhor empregado se fosse dado aos pobres. Na ocasião Jesus repreendeu os discípulos, dizendo:
“Deixem-na em paz. Por que a estão perturbando? Ela praticou uma boa ação para comigo. Pois os pobres vocês sempre terão consigo, e poderão ajudá-los sempre que o desejarem. Mas a mim vocês nem sempre terão. Ela fez o que pôde. Derramou o perfume em meu corpo antecipadamente, preparando-o para o sepultamento. Eu lhes asseguro que onde quer que o evangelho for anunciado, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória” (Mc 14:6-9).
Aquela mulher era a única com discernimento espiritual para crer nas palavras de Jesus: “É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia” (Lucas 24:6-7). E os outros? Bem, talvez pensassem como Pedro, que reagiu à notícia da morte e ressurreição dizendo: “‘Nunca, Senhor! Isso nunca te acontecerá!’ Jesus virou-se e disse a Pedro: ‘Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens’” (Mt 16:22-23).
Erramos quando tentamos compreender as coisas de Deus com a razão ou com a emoção. Quando nossas conclusões não são sopradas pelo diabo, como aconteceu com Pedro, elas brotam de sensações e desejos carnais que nada têm a ver com as coisas espirituais. Afinal, seria perfeitamente natural alguém reagir como Pedro diante de um que dizia que seria morto para depois ressuscitar. Ninguém gosta de morrer ou de perder alguém para a morte, e ressurreição não é coisa lógica que se aceite com a razão.
Por isso, para o incrédulo, que anda segundo “a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora atua nos que vivem na desobediência... satisfazendo as vontades da carne, seguindo os seus desejos e pensamentos... a palavra da cruz é loucura... Mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos inteligentes” (Ef 2:2-3; 1 Co 1:18-19).
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Pare de duvidar e creia!
“Quando [as mulheres] voltaram do sepulcro, contaram todas estas coisas aos Onze e a todos os outros... Mas eles não acreditaram nas mulheres; as palavras delas lhes pareciam loucura. Pedro, todavia, levantou-se e correu ao sepulcro. Abaixando-se, viu as faixas de linho e mais nada; afastou-se, e voltou admirado com o que acontecera” (Lucas 24:9-12). Aqui só fala de Pedro e de como teria ficado “admirado”, mas em outro Evangelho vemos que ele estava acompanhado de João na visita ao sepulcro vazio, e este, chegando lá, “viu e creu” (Jo 20:8). Creu em que, se no sepulcro restavam apenas “as faixas de linho e mais nada” (Lucas 24:12; Jo 20:6-7)? Creu nas Escrituras que previam a morte e ressurreição do Messias, e nas palavras de Jesus.
Naquele primeiro dia da semana, e nos demais do período de quarenta dias que Jesus ainda ficaria na terra, muitos teriam o privilégio de vê-lo, e outros creriam pelo testemunho destes. O Evangelho de Marcos nos diz que “quando Jesus ressuscitou, na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demônios” (Mc 16:9). Vemos que apareceu também a Pedro, antes do encontro com dois discípulos no caminho de Emaús.
Em sua carta aos Coríntios, Paulo diz que Jesus “_Apareceu a Pedro e depois aos Doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez... Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos” (_1 Co 15:5-8). Ele não menciona as mulheres, pois na época elas não eram tidas como testemunhas. Embora então só restassem onze apóstolos, Paulo fala de Jesus ter aparecido “aos doze”, tratando-os como um corpo administrativo, algo como quando dizemos que o Congresso aprovou uma lei, mesmo que nem todos os congressistas estivessem presentes à sessão.
Não sabemos quantos desses creram na ressurreição antes de terem visto o Ressuscitado. O que sabemos é que Tomé não creu enquanto não o viu com seus próprios olhos e foi convidado a tocar em seu corpo. Talvez você considere Tomé feliz por tamanho privilégio, mas não é o que Jesus pensa dos que querem ver para crer. “Disse-lhe Tomé: ‘Senhor meu e Deus meu!’ Então Jesus lhe disse: ‘Porque me viu, você creu? Felizes os que não viram e creram’.” Talvez a reprimenda feita a Tomé sirva para você, caso esteja vacilando em aceitar o evangelho, ou se for um daqueles que vivem correndo atrás de sinais, curas e milagres: “Pare de duvidar e creia”, Jesus disse a Tomé e diz o mesmo a você e a mim (Jo 20:27-29).
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Nova criação
No dia da ressurreição dois discípulos “estavam indo para um povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém. No caminho, conversavam a respeito de tudo o que havia acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles; mas os olhos deles foram impedidos de reconhecê-lo” (Lucas 24:13-16). A pergunta que me vem à mente é: O que aqueles dois discípulos estavam fazendo fora de Jerusalém?
Mesmo que não compreendessem os avisos de Jesus, de que seria entregue à morte e ressuscitaria ao terceiro dia, por que não deram crédito às mulheres que “contaram que tinham tido uma visão de anjos, que disseram que ele estava vivo”? Talvez pela decepção de não ter ocorrido o que queriam, “que fosse ele que iria trazer a redenção a Israel” (Lucas 24:21).
Sempre que nossa vontade não está em harmonia com os pensamentos de Deus ficamos decepcionados e nos afastamos do lugar onde o Senhor gostaria que estivéssemos. Naquele momento Jerusalém era o lugar onde deveriam estar, e a redenção que Deus tinha efetuado ia além da mera libertação do opressor romano. Pela obra da cruz Deus “nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados” (Cl 1:12-13).
Seus “rostos entristecidos” e olhos marejados são incapazes de ver as coisas com clareza. Jesus havia predito aquela tristeza, quando disse: “Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria... agora é hora de tristeza para vocês, mas eu os verei outra vez, e vocês se alegrarão, e ninguém lhes tirará essa alegria” (Jo 16:21-22). Agora Jesus está bem ao lado deles, mas a alegria prometida não parece se manifestar. Afinal, eles nem mesmo o reconhecem!
Em 2 Coríntios 5:16-17 Paulo diz que “se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo”. Durante alguns anos eles andaram ao lado de um Jesus fraco e humilde. Agora caminham com o Ressuscitado, num corpo de carne e ossos, porém não mais desta criação. Mas eles só irão perceber isso daqui a pouco, quando o Senhor expressar comunhão com eles e abrir seus olhos. É impossível conhecer a Cristo com os sentidos que herdamos de Adão. Por isso Jesus diz que “Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo” (Jo 3:3). Com que olhos você busca ver a Jesus? Com os olhos da carne, da inteligência e razão?
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Todas as Escrituras
Os discípulos a caminho de Emaús são repreendidos por serem lerdos em crer no que diziam as Escrituras. “Ele lhes disse: ‘Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?’ E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras” (Lucas 24:25).
O tema principal do Antigo Testamento é Cristo, o Cordeiro que viria para morrer no lugar do pecador, ressuscitar e “entrar na sua glória”. O tema do Novo Testamento é o mesmo Cristo, que agora já veio e cumpriu a obra que havia sido prenunciada no Jardim do Éden, quando Deus sacrificou um animal inocente para cobrir com sua pele a nudez de Adão e Eva. No passado uma pessoa devia crer no Cordeiro que Deus iria providenciar; hoje você é salvo crendo no Cordeiro que Deus já providenciou.
Quando Jesus começa “por Moisés e todos os profetas” para explicar o que tinha sido escrito de si mesmo, ele está incluindo todas as Escrituras, de Gênesis a Malaquias. Alguém que diz crer apenas nos Evangelhos ou nas palavras de Jesus, e não no Antigo Testamento, certamente nunca percebeu que ele está aqui autenticando tudo o que foi escrito, inclusive aquelas passagens que muitos consideram desagradáveis ou politicamente incorretas segundo os costumes da civilização moderna.
Lembre-se de que ainda que nós não sejamos capazes de compreender o que Deus disse e fez no Antigo Testamento, mesmo assim ele é Deus e a sua Palavra é verdade. Sempre que duvidarmos dele estaremos errando, por mais que a lógica e o bom senso queiram nos dizer que é a sabedoria humana que deve prevalecer. Os homens têm suas próprias maneiras de enxergar as coisas por desconhecerem os propósitos de Deus e se colocarem como o centro do Universo. É por isso que Jesus repreende os fariseus por sua incredulidade no capítulo 5 do Evangelho de João:
“Como vocês podem crer, se aceitam glória uns dos outros, mas não procuram a glória que vem do Deus único? Contudo, não pensem que eu os acusarei perante o Pai. Quem os acusa é Moisés, em quem estão as suas esperanças. Se vocês cressem em Moisés, creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Visto, porém, que não creem no que ele escreveu, como crerão no que eu digo?” (Jo 5:44-47).
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Coisas são abertas
O conhecimento e apreciação de Cristo começam quando ele nos abre as Escrituras. Com os discípulos no caminho de Emaús, Jesus não traz novas revelações, mas fala do que já fora revelado. “E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras.”. Delas os discípulos comentariam mais tarde, dizendo: “Não estavam ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?” (Lucas 24:27-32).
A fé cristã não existe independente das Escrituras. Você não pode criar um Jesus segundo os seus próprios caprichos. Ou você crê no que é revelado na Bíblia, ou você não crê em Jesus de maneira alguma. Pessoas insatisfeitas com as Escrituras correm atrás de “fábulas profanas de velhas”, mas “o Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência cauterizada” (1Tm 4:1-2, 7).
Três coisas são abertas aos discípulos: As Escrituras, os olhos e o entendimento. As Escrituras são o ponto de partida para se conhecer a Cristo. Sempre que o Senhor abre as Escrituras a alguém, passa a existir nesse coração o desejo de querer mais e de não perder sua companhia. Isto é o que distingue um verdadeiro crente de um mero religioso. “Fique conosco”, é a reação dos discípulos ao chegarem a Emaús, quando o Senhor parece querer seguir adiante sozinho. São eles que convidam Jesus a entrar e ficar, não o contrário. Quando as Escrituras fazem arder o seu coração, seu maior desejo é que o Senhor fique sempre com você.
“Então, ele entrou para ficar com eles. Quando estava à mesa com eles, tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles. Então os olhos deles foram abertos e o reconheceram, e ele desapareceu da vista deles” (Lucas 24:29-31). Esse ato de intimidade e comunhão faz com que seus olhos sejam abertos. Mas por que o Senhor desaparece da vista deles? Porque, com os olhos da alma abertos, eles não precisarão mais ver para crer. Poderão continuar desfrutando do Senhor e de sua presença mesmo durante a sua ausência, a qual já dura mais de dois mil anos. Mais tarde, quando eles estiverem reunidos com os outros discípulos em Jerusalém e o Senhor se colocar no meio deles, será a vez de lhes abrir o entendimento. Como ele continua fazendo ainda hoje, ao valorizarmos a Pessoa de Cristo, e mais ninguém, quando estamos congregados ao seu Nome.
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Jerusalém
Depois de lhes abrir as Escrituras para poderem identificar nelas o Cristo que havia de vir, morrer, ressuscitar e voltar aos céus, e após lhes abrir os olhos para desfrutarem da certeza da ressurreição, eles ainda precisavam fazer algo: voltar ao lugar de onde nunca deveriam ter saído. A intenção do Senhor era que os discípulos estivessem em Jerusalém para reencontrá-los ali, porém aqueles dois haviam tomado a iniciativa de partir da cidade.
No passado Deus havia estabelecido um lugar para colocar o seu Nome, e esse lugar seria Jerusalém. Ele dissera aos israelitas “[Vocês] procurarão o local que o Senhor, o seu Deus, escolher dentre todas as tribos para ali pôr o seu nome... Tenham o cuidado de não sacrificar os seus holocaustos em qualquer lugar que lhes agrade. Ofereçam-nos somente no local que o Senhor escolher numa das suas tribos” (Dt 12:4-14).
Isso iria mudar, como o próprio Jesus revelou à mulher samaritana, ao dizer: “Está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém” (Jo 4:21). Mas até que essa “hora” chegasse, quando a Igreja, o povo celestial de Deus, passaria a congregar ao Nome do Senhor Jesus, Jerusalém ainda era a “cidade do Grande Rei” (Mt 5:35).
Todavia esse “Grande Rei” havia sido rejeitado por seu próprio povo e entregue ao governador Pilatos, cujos soldados “tiraram-lhe as vestes e puseram nele um manto vermelho; fizeram uma coroa de espinhos e a colocaram em sua cabeça. Puseram uma vara em sua mão direita e, ajoelhando-se diante dele, zombavam: ‘Salve, rei dos judeus!’ Cuspiram nele e, tirando-lhe a vara, batiam-lhe com ela na cabeça. Depois de terem zombado dele, tiraram-lhe o manto e vestiram-lhe suas próprias roupas. Então o levaram para crucificá-lo” (Mt 27:28).
Na cidade onde havia sido morto, ele também seria sepultado, e daquele mesmo sepulcro ele ressuscitaria, conforme havia prometido aos discípulos. Os dois discípulos a caminho de Emaús agora entendem que devem retornar a Jerusalém. “Levantaram-se e voltaram imediatamente para Jerusalém. Ali encontraram os Onze e os que estavam com eles reunidos, que diziam: ‘É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!’ Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como Jesus fora reconhecido por eles quando partia o pão”(Lucas 24:33-35). Agora estão todos ali e só falta um: o próprio Senhor no meio deles. E é isto o que eles estão prestes a testemunhar.
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Jesus no meio
Os discípulos que retornaram de Emaús ainda falavam de seu encontro com o Senhor quando “o próprio Jesus apresentou-se entre eles e lhes disse: ‘Paz seja com vocês!’ Eles ficaram assustados e com medo, pensando que estavam vendo um espírito. Ele lhes disse: ‘Por que vocês estão perturbados e por que se levantam dúvidas em seus corações? Vejam as minhas mãos e os meus pés. Sou eu mesmo! Toquem-me e vejam; um espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho’. Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. E por não crerem ainda, tão cheios estavam de alegria e de espanto, ele lhes perguntou: ‘Vocês têm aqui algo para comer?’ Deram-lhe um pedaço de peixe assado, e ele o comeu na presença deles” (Lucas 24:36-43).
Após séculos de influência de filosofias pagãs, os cristãos perderam de vista uma verdade importante acerca da ressurreição: a de que Jesus ressuscitou em um corpo tangível de carne e ossos. Não era um corpo translúcido ou de ectoplasma, mas o mesmo corpo sepultado dias antes e transformado em uma matéria até então desconhecida, pois ninguém havia ressuscitado assim. Um corpo que não estava mais sujeito ao tempo e ao espaço, podendo aparecer no meio dos “discípulos reunidos a portas trancadas” (Jo 20:19) e comer peixe diante deles.
Assim como Adão foi formado do pó da terra em um corpo para viver no tempo, Cristo é o protótipo do Homem da nova Criação em um corpo para a eternidade. “De fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo as primícias dentre aqueles que dormiram. Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem” (1 Co 15:20-23).
O que isso tem a ver com você? Tudo, se você tiver sido salvo por Cristo, pois é num corpo assim que viverá para sempre, imune à morte, doenças e sofrimentos. Se a sua esperança for limitada a uma vida saudável, segura e próspera aqui, você ainda não entendeu que “a nossa cidadania está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, para serem semelhantes ao seu corpo glorioso” (Fp 3:20). Agora a melhor parte: isto pode acontecer agora mesmo, “num abrir e fechar de olhos” (1 Co 15:52).
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Sua próxima piscadela
Nas epístolas de Paulo nós encontramos a palavra “mistério” repetida diversas vezes. Isto porque Paulo recebeu revelações desconhecidas dos profetas do Antigo Testamento e até dos apóstolos que andaram com Jesus. Aos outros apóstolos já tinha sido revelado o “mistério do Reino de Deus” (Mc 4:11), mas os mistérios revelados a Paulo não estão limitados à terra e ao tempo, como é o caso do Reino de mil anos, mas têm uma amplitude eterna. O “mistério” da ressurreição é um deles, e Paulo o apresenta aos Coríntios começando com o contraste da primeira Criação:
“O primeiro homem era do pó da terra; o segundo homem, do céu. Os que são da terra são semelhantes ao homem terreno; os que são do céu, ao homem celestial. Assim como tivemos a imagem do homem terreno, teremos também a imagem do homem celestial. Irmãos, eu lhes declaro que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem o que é perecível pode herdar o imperecível” (1 Co 15:47-50).
“Eis que eu lhes digo um mistério”, continua Paulo ao trazer uma revelação inédita: “Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados. Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade. Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: ‘A morte foi destruída pela vitória’. ‘Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?’ O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 15:51-57).
Se o Cristo que você segue é apenas um provedor de benefícios para esta vida, então você ainda não conheceu o verdadeiro. Isto aqui é um grão de poeira comparado à eternidade. O Universo, o tempo e a matéria deixarão de existir quando “Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada... Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor. Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça”(2 Pe 3:10-13). Em que vida estão suas expectativas? Nesta, sofrida e perecível, ou na eterna, em um corpo ressurreto semelhante ao de Jesus?
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Da Lei para a graça
Aproxima-se o momento em que Jesus se despedirá de seus discípulos para subir aos céus. Ele lhes diz: “‘Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’. Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras” (Lucas 24:44-45). A Lei, os profetas e os Salmos representavam todo o Antigo Testamento, porém nem os discípulos, que andaram por três anos com Jesus, seriam capazes de compreender as Escrituras se o Senhor não lhes abrisse o entendimento.
O apóstolo Paulo deixa isso claro, ao dizer que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14). Isto significa que o mais sábio incrédulo nunca será capaz de entender uma vírgula sequer da Bíblia, enquanto o mais iletrado crente absorve naturalmente os mistérios de Deus quando guiado pelo Espírito Santo. Entendeu agora a razão de não existir nada para você aprender em livros, filmes e novelas com temas bíblicos produzidos por incrédulos?
Os discípulos aqui são vistos ainda no caráter de um remanescente judeu e no contexto do reino a ser estabelecido na terra. Ainda não são membros do corpo de Cristo, a Igreja, que só seria formada no capítulo 2 do livro de Atos. Mas as palavras de Jesus inauguram o evangelho da graça de Deus, que se resume nesta frase: “O Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vocês são testemunhas destas coisas” (Lucas 24:46-48).
João escreveu que “a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (Jo 1:17), e Paulo pregou aos Coríntios a boa nova de “que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15:1-4). Este evangelho de Lucas, que começou com uma cena tipicamente judaica e terrena, com o sacerdote Zacarias ocupado com a Lei e os serviços do Templo, termina abrindo os céus e inaugurando o evangelho da graça de Deus. A partir daí os discípulos não mais sairão pregando preceitos da Lei, mas a salvação pela fé em Cristo, que morreu e ressuscitou. E você, será que está entre aqueles que ainda pregam a Lei e uma salvação baseada em obras?
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Alegria, alegria!
Jesus encerra sua despedida com a promessa de enviar o Espírito Santo, que só poderia vir morar nos crentes após ele ser glorificado nas alturas. Para isso eles deviam permanecer em Jerusalém, a mesma cidade onde ele tinha sido rejeitado, morto e ressuscitado, e de onde o evangelho da graça sairia levando “o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações” (Lucas 24:47). Ali também o Espírito Santo pousaria na Igreja que estava para ser formada. Jesus diz: “Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto” (Lucas 24:49).
Depois disso ele leva os discípulos a Betânia, a aldeia que era o lugar preferido do Senhor. Ali ele encontrava repouso na casa de Lázaro, era servido por Marta e desfrutava da total atenção de Maria assentada aos seus pés (Jo 12:1-3). Não poderia existir um lugar mais apropriado para ser a última parada de nosso Senhor na terra. Dali ele não só voltaria aos céus, mas subiria abençoando os seus. “Tendo-os levado até as proximidades de Betânia, Jesus levantou as mãos e os abençoou. Estando ainda a abençoá-los, ele os deixou e foi elevado ao céu” (Lucas 24:50-51).
Este evangelho começa e termina com alegria. Primeiro, quando o anjo anunciou a Zacarias o nascimento de João Batista: “Ele será motivo de prazer e de alegria para você, e muitos se alegrarão” (Lucas 1:14). Depois, “quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê [João] agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: ‘Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria’” (Lucas 1:41-44). Mais tarde os pastores ouviriam da boca do anjo “boas novas de grande alegria” pois “na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2:10-11).
Ao virem Jesus subir aos céus, os discípulos “o adoraram e voltaram para Jerusalém com grande alegria” (Lucas 24:52). Eles o adoraram porque Jesus é Deus, e se alegraram porque ele lhes abrira as Escrituras, os olhos e o entendimento para desfrutarem da graça de uma obra completa, que garantia o perdão de pecados e a vida eterna. Tudo agora fazia sentido. Enquanto aguardavam o Espírito Santo, “permaneciam constantemente no templo, louvando a Deus” (Lucas 24:53). Mais tarde, com a formação da Igreja, eles entenderiam que não seria mais no Templo que deviam adorar, mas na presença do próprio Senhor, que prometera estar no meio de dois ou três congregados ao seu nome. Ali ele desfrutaria da total atenção dos seus e seria o lugar do seu agrado. Como em Betânia, quando andou aqui.
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Mario Persona é palestrante, professor e consultor de estratégias de comunicação e marketing e autor dos livros “Laura Loft - Diário de uma recepcionista”, “Coleção O que respondi...”, Coleção “O Evangelho em 3 Minutos”, “Meu carro sumiu!”, “Quero um refil!”, “Crônicas para ler depois do fim do mundo”, “Dia de Mudança” (também em inglês: “Moving ON”), “Marketing de Gente”, “Marketing Tutti-Frutti”, “Gestão de Mudanças em Tempos de Oportunidades”, “Receitas de Grandes Negócios” e “Crônicas de uma Internet de verão”. Todos eles podem ser encontrados em formato impresso em www.clubedeautores.com.br e em formato e-book em www.smashwords.com. Nas horas livres o autor dedica-se a escrever e traduzir textos e livros sobre a Palavra de Deus. Visite www.3minutos.net e www.respondi.com.br
Mario Persona participou também como autor convidado das coletâneas “Os 30+ em Atendimento e Vendas no Brasil”, “Gigantes do Marketing”, “Gigantes das Vendas”, “Educação 2007”, “Professor S.A.” e “Coleção Aprendiz Legal”, além de ter sido citado como “Case Mario Persona” no livro “Os 8 Pês do Marketing Digital”. Traduziu obras como “Marketing Internacional”, de Cateora e Graham, “Administração”, de Schermerhorn, “Liberte a Intuição”, de Roy Williams, além de diversos livros de comentários sobre a Bíblia.
É convidado com frequência para palestras, workshops e treinamentos de temas ligados a negócios, marketing, comunicação, vendas e desenvolvimento pessoal e profissional. Alguns temas são:
Gestão de Mudanças
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