Paz no céu
Costumamos pensar na obra de Cristo apenas no sentido de nos salvar, mas sua morte, ressurreição e glorificação “à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1:3) têm uma abrangência bem maior. Antes de Adão e Eva caírem em pecado houve outra queda envolvendo Satanás, o “querubim guardião” (Ez 28:14). Aquilo criou uma situação estranha, pois tanto os anjos fieis a Deus como “as forças espirituais do mal”, contra as quais o cristão é exortado a lutar, passaram a compartilhar de uma mesma esfera “nas regiões celestiais” (Ef 6:12). Por isso nos capítulos 1 e 2 do Livro de Jó você encontra Satanás no céu e Apocalipse 12 revela a futura expulsão de Satanás e seus anjos com estas palavras:
“Houve uma guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram. Mas estes não foram suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar no céu. O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra. Então ouvi uma forte voz do céu que dizia: ‘Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e noite’” (Ap 12:7-10).
A vitória de Miguel e seus anjos contra os rebeldes do céu só será possível no futuro porque na cruz Jesus esmagou a cabeça da serpente, como havia sido predito no Jardim do Éden. Não foi por intermédio de anjos que Deus selou a sorte de Satanás, o querubim mais elevado na hierarquia angelical, mas por meio de um Homem, Jesus, descendente da mulher que o diabo enganou no princípio. Por isso o evangelho está entre as “coisas que até os anjos anseiam observar” (1 Pe 1:12) e buscam conhecer a “multiforme sabedoria de Deus” (Ef 3:10) manifestada através da Igreja.
“Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz. Antes vocês estavam separados de Deus e, em suas mentes, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês. Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação” (Cl 1:19-22).
Nos próximos 3 minutos Jesus chora.
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“Vocês não quiseram!”
“Quando se aproximou e viu a cidade [Jerusalém], Jesus chorou sobre ela e disse: ‘Se você compreendesse neste dia, sim, você também, o que traz a paz! Mas agora isso está oculto aos seus olhos. Virão dias em que os seus inimigos construirão trincheiras contra você, e a rodearão e a cercarão de todos os lados. Também a lançarão por terra, você e os seus filhos. Não deixarão pedra sobre pedra, porque você não reconheceu o tempo em que Deus a visitaria’”. (Lucas 19:41-44).
Duas passagens nos Evangelhos falam de Jesus chorando. Em João 11:35, quando Lázaro morreu, ele chorou, mas não um pranto de luto, pois sabia que traria Lázaro de volta da morte. Ele chorou por Marta e Maria, irmãs de Lázaro, e pela ruína causada pelo pecado. No original, a palavra grega para o choro das irmãs tem o sentido de pranto. A palavra usada para o choro de Jesus significa que verteu lágrimas em silêncio. Mas o choro à entrada de Jerusalém é de pranto, de profunda desolação.
A vinda de Jesus havia sido acompanhada da promessa de “paz na terra” (Lucas 2:14), mas os judeus rejeitaram seu Messias, apesar dos avisos dos profetas que tinham vindo antes dele. Ele já havia se lamentado disso em Lucas 13:34, quando disse: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedrejas os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! Eis que a casa de vocês ficará deserta. Eu lhes digo que vocês não me verão mais até que digam: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor’”.
Agora preste muita atenção nesta frase de Jesus ao falar dos judeus: “Vocês não quiseram”. Por não desejarem o Príncipe da Paz tudo o que restava para eles seriam guerras. Não é surpresa, portanto, toda a desgraça que caiu sobre esse povo nos últimos dois mil anos. O profeta Oseias revela o sentimento por detrás desse pranto de Jesus: “Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho... Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles não perceberam que fui eu quem os curou. Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los... O meu coração está enternecido” (Os 11).
Agora pense em seu destino se um dia Jesus precisar dizer de você que, por mais que tenha tentado atrair sua atenção, você não quis recebê-lo.
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