Um cristão não deve fazer dívidas?

Como cristãos nós devemos nos contentar com aquilo que o Senhor coloca em nossas mãos, e às vezes ele até coloca demais para vermos se somos fiéis. Temos alguns versículos que nos ensinam isso na Palavra de Deus:

(1Tm 6:7-11) “Porque nada trouxe para este mundo, e nada podemos daqui levar; tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes. Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”.

Existe uma passagem que fala especificamente de dívidas:

(Rm 13:7-8) “Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra. A ninguém devais coisa alguma, senão o amor recíproco; pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei”.

Mas, como pode ver do contexto, aí está falando de dívida no sentido de deixar de pagar o que deve, e não de ter contraído a dívida. Quando fazemos um financiamento, não estamos fazendo uma dívida, mas um contrato com um compromisso para pagamento em uma data previamente estipulada. Isso só se tornará uma dívida no momento em que deixar de ser pago na data especificada.

Esta aqui também fala de não vivermos apegados ao dinheiro e à vontade de possuir sempre mais:

(Hb 13:5-6) “Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei. E assim com confiança ousemos dizer: O Senhor é o meu ajudador, e não temerei O que me possa fazer o homem”.

Quanto às dificuldades que você está passando, principalmente como consequência de um mau planejamento financeiro, na vida passamos por altos e baixos, e geralmente os baixos são mais comuns em início de carreira. Eu me lembro de quando meus filhos eram pequenos que o mês sempre durava mais que o dinheiro. Quando decidimos construir uma casa, não fizemos como o Senhor ensina:

(Lc 14:28-30) “Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar”.

Então ficamos em um impasse: ou continuávamos morando em uma casa inacabada, ou abríamos mão de algumas coisas. Juntamos tudo o que podíamos vender e saímos vendendo. Enquanto isso eu fazia bicos traduzindo textos para empresas e dando aulas particulares de inglês, enquanto minha esposa fazia bordados para vender.

Isso ajudou até a formar meus filhos, pois foram criados sem vergonha (Epa! no bom sentido!) de trabalhar e muito cuidadosos no gastar. Minha filha, quando estava na faculdade, fazia doces em casa para vender na escola e ganhar algum dinheiro, mesmo numa época quando nossas finanças iam bem. Ela apenas estava sendo empreendedora. Meu filho desde adolescente já fazia trabalhos de digitação e até software para escolas e empresas.

O melhor mesmo é aprender a administrar as finanças para não dar o passo maior que a perna. Em casos excepcionais (doença ou desemprego que implica em realmente faltar o básico) os irmãos devem amparar o próximo e às vezes até mesmo a assembleia da qual o irmão com dificuldade faz parte acaba ajudando. Mas ainda assim é preciso a assembleia ter muito critério ao fazer isso, pois tudo o que envolve dinheiro envolve também um cuidado maior. Não são poucas as famílias e amizades destruídas por causa de dinheiro.

Minha sugestão é que você junte o que puder se desfazer para pagar as dívidas e passe a se planejar melhor. O crediário e o cartão de crédito pegam muita gente no contrapé por dar a sensação de que você tem aquele dinheiro que não tem. A crise nos EUA foi fruto de uma cultura em que as pessoas se acostumaram a viver com mais do que podiam. Uma hora a casa cai, e lá caiu feio. Tem muita gente desempregada e cada vez que vou visitar meus filhos percebo as condições da população em geral mais deterioradas. Tem muito morador de rua nos EUA, coisa que não se via há poucos anos.

(Pv 22:7) “O rico domina sobre os pobres e o que toma emprestado é servo do que empresta”.

O jeito é apegar-se aos versículos acima que devem servir de bússola para nosso andar. Não que a gente deva comprar tudo à vista, o que é um problema no Brasil, onde o preço à vista geralmente é o mesmo preço à prazo. Mas mesmo quando financiar, devo já lançar na previsão mensal aquele compromisso para não dever nada a ninguém. Um financiamento de um carro, ou de uma casa, por exemplo, pode ser a única maneira de termos esses bens de maior valor, mas nunca devemos assumir isso de forma leviana, e sim tendo a certeza de que as parcelas representem apenas uma pequena fração de nossa receita.

O jeito agora é você apertar o cinto e pedir a direção do Senhor de como se desfazer de algumas coisas ou procurar formas de aumentar a renda. Geralmente na emergência a curto prazo é mais fácil resolver as coisas reduzindo as despesas e vendendo alguma coisa, do que tentando aumentar a receita.


Por que Jesus não voltou como prometeu em Mateus 10?

Mateus 10

A Bíblia se divide entre o que é para Israel (todo o Antigo Testamento e partes dos evangelhos) e para a Igreja (partes dos evangelhos, Atos e todas as epístolas). Apocalipse é para a Igreja mas a partir do capítulo 4 fala de Israel e do mundo.

(Mt 10:22-23) “E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem”.

Para entender a passagem é preciso entender o contexto:

(Mt 10:5-7) “Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; e, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus”.

Fica claro que Jesus está comissionando os discípulos para uma missão muito especial, que não tem nada a ver com a Igreja e tudo a ver com Israel. Primeiro, porque a Igreja ainda não existia nos evangelhos (ela só seria fundada em Atos 2), segundo, porque a mensagem que eles devem pregar é a da chegada do reino dos céus. Não se trata do evangelho da graça que prega “crê no Senhor Jesus e serás salvo”, que é a mensagem atual do cristão para o mundo.

O reino dos céus é a esfera, na terra, que compreende todos os que reconhecem o senhorio do Rei que desceu dos céus, Jesus, sejam eles falsos ou verdadeiros (observe que no reino dos céus há joio e trigo misturados).

Em João 1:11 diz que Jesus “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”. Nesta parte do evangelho está se cumprindo o “veio para o que era seu”, ou seja, seu povo terreno, Israel.

A partir do momento em que seu povo não o recebeu, Deus passou a tratar da promessa de um novo povo, Igreja, revelada parcialmente em Mateus 16 e 18 (a revelação completa do que é a Igreja só seria dada a Paulo alguns anos depois da fundação da própria Igreja em Atos 2):

(Mt 16:18) “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;”.

(Mt 18:20) “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.

Portanto, considere a passagem de Mateus 10 como as coisas teriam se desenrolado “se” Jesus não tivesse sido rejeitado. Você pode até saltar para o capítulo 24 de Mateus, onde a frase “quem perseverar até o fim será salvo”, para ver em detalhes o que acontecerá no tempo que antecede a vinda de Cristo para reinar (naquela ocasião a Igreja não estará mais na terra).

Fica mais fácil entender isso quando pensamos na Igreja como um parêntese, que foi aberto com a rejeição de Jesus por Israel, e será fechado com o arrebatamento da Igreja. Esta não aparece no Antigo Testamento, nem mesmo nas profecias, porque era um “mistério” ou “segredo” bem guardado para ser revelado só a Paulo.

(Cl 1:26) “O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos”.

É muito simples entendermos tudo isso quando vemos que os apóstolos não estão mais por aí levando a mensagem do reino em Israel. A missão só faz sentido se for cumprida por outros, e é o que acontecerá após o arrebatamento, quando Deus voltará a tratar com Israel e um remanescente de judeus fiéis irá se levantar para levar adiante essa missão interrompida.

Mateus 10 não tem nada a ver com o evangelho da graça que é destinado a todas as nações, pois é uma missão especialmente dirigida a Israel. Durante o período entre o arrebatamento e a vinda de Cristo para reinar esse evangelho do reino voltará a ser pregado, não só pelos judeus, mas até mesmo pelos anjos, algo que não ocorre hoje.

(Ap 14:6-7) “E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo. Dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”.