A família do carcereiro foi salva sem crer?

Sua dúvida, se a família do carcereiro foi salva automaticamente, está nesta passagem: (Atos 16:29-32) “E, pedindo luz, saltou dentro e, todo trêmulo, se prostrou ante Paulo e Silas. E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa”.

Deixe-me mudar a cena e imagine que Paulo esteja em um barco jogando uma corda para o carcereiro e sua família que estão na água após um naufrágio. Paulo diria: “Agarre a corda e você e toda a sua família será salva”. Obviamente a corda seria o único meio de salvação para quem agarrasse a corda. De nada adiantaria o carcereiro agarrar e seus filhos não. A salvação estaria disponível a todos na corda, e o ato de agarrá-la garantiria o mesmo destino para todos. Se prestar atenção verá que Paulo e Silas não pregam a Palavra apenas ao carcereiro, mas “a todos os que estavam em sua casa”.

Mas a salvação no versículo que citou pode ter também mais de um aspecto: a salvação eterna e a salvação do mundo, que é a preservação do mal enquanto se vive aqui.

Ao crer no Salvador o carcereiro foi salvo de todos os seus pecados eternamente. Aqueles de sua família que creram também foram salvos, mas os que não creram foram colocados sob um privilégio que é o mesmo daqueles que são batizados sem crer em Jesus, ou seja, estão “a salvo” das contaminações deste mundo pela responsabilidade que agora têm por levarem o nome de Cristo sobre si (ainda que não tenham tido uma conversão real).

(1 Pe 3:20-21) “Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;”.

Noé salvou seus familiares ao levá-los para a arca, e Moisés salvou a todos os israelitas que foram conduzidos através do Mar Vermelho, inclusive as crianças. Neste sentido também uma esposa ou marido crente “salva” seu cônjuge e filhos incrédulos, colocando-os em uma posição de separação. Embora eles tenham de crer por si mesmos, o fato de viverem agora dentro de uma esfera cristã dá a eles um privilégio que outros não têm, como por exemplo ouvir mais a Palavra e observar mais a vida daquele que crê em Jesus.

(1 Co 7:14) “Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos”.

(1 Pe 3:1-2) “Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns não obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra; Considerando a vossa vida casta, em temor”.

Um caso semelhante ao do carcereiro você encontra em Cornélio, o centurião, ao qual um anjo avisou que deveria ouvir as palavras de Pedro, que serviriam para salvar a ele e sua família:

(Atos 11:14) “O qual te dirá palavras com que te salves, tu e toda a tua casa”.

Ainda que em todos os casos a salvação irá depender da fé individual, é de grande consolo para qualquer pai ou mãe crente saber que Deus promete esse privilégio aos seus familiares. Não são poucas as famílias que têm a alegria de ver todos os seus membros serem salvos depois da conversão do pai ou mãe.

Pode ser que a promessa tenha também o sentido da salvação ou preservação dos filhos pequenos, que ainda não têm idade para entender e crer no evangelho. Veja a seguir um trecho do livro “Acontecimentos Proféticos” de Bruce Anstey que explica isso:

“As crianças com idade insuficiente para serem consideradas responsáveis por seus pecados, cujos pais (ou mesmo um deles) são redimidos, subirão também para encontrar o Senhor nos ares. (1 Co 7:14 ‘santos’.) Os filhos de pais incrédulos serão deixados com seus pais não salvos para entrarem na tribulação.

À medida que forem crescendo, durante a tribulação, terão oportunidade de ouvir e crer no Evangelho do Reino. Se algum deles for morto durante os sete anos de tribulação, sua alma estará a salvo com Cristo no céu (Mt 18:10-11). De qualquer modo isto seria um ato de misericórdia, pois se fossem deixados para crescer e atingir a idade adulta separados da operação da graça de Deus, iriam se tornar como seus pais incrédulos, rejeitando o evangelho e sendo levados a juízo.

Por ocasião do arrebatamento o mundo não ficará esvaziado de suas crianças. ‘Deus não assaltará o berço do incrédulo no arrebatamento’ (C.H. Brown). Os tipos de juízo lançados sobre o mundo no livro de Gênesis nos dão indícios disto. Por ocasião do dilúvio os incrédulos e suas famílias não foram tirados antes que caísse o juízo, como aconteceu no caso de Noé e sua família. Do mesmo modo, no julgamento de Sodoma e Gomorra as famílias incrédulas daquelas cidades não foram tiradas antes que caísse o fogo e a saraiva, como aconteceu com a família de Ló”.