Deus ainda fala conosco hoje?
Certamente que Deus fala conosco hoje, mas nem sempre ele faz isso da mesma maneira. Quando o assunto é a revelação de Deus dada ao homem, então não há nada mais para ser dito. O apóstolo Paulo, por assim dizer, “fechou” o cânon sagrado ao trazer o último assunto que faltava: o corpo de Cristo. Embora cronologicamente ele não tenha sido o último apóstolo a escrever, os outros (jo em Apocalipse, por exemplo), não acrescentaram novos assuntos, mas trouxeram detalhes daquilo que Deus já havia revelado, como a volta de Cristo, por exemplo.
(Cl 1:24-26) “...pelo seu corpo, que é a igreja; Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir [completar] a palavra de Deus; O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos”.
Desde o início a revelação de Deus tinha um objetivo: revelar o seu Filho, Jesus, e a obra que ele veio consumar. (Hb 1:1-2) “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo”. Ap 19:10 “...porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”.
Até mesmo os profetas do Antigo Testamento foram usados para anunciar coisas que nem eles mesmos entendiam, ou que nem eram para o tempo em que viveram, mas tudo tinha por objetivo Cristo.
(1 Pe 1:10-12) “Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar”.
(Dn 12:9) “E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim”.
Algumas vezes a Bíblia declara que Deus falou em som audível, embora o entendimento fosse dado apenas para aqueles que eram de Deus, como aconteceu aqui:
(Jo 12:28-29) “Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. Ora, a multidão que ali estava, e que a ouvira, dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou”.
(Atos 9:4; 22:29) “E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?... E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém... E os que estavam comigo viram, em verdade, a luz, e se atemorizaram muito, mas não ouviram [discerniram] a voz daquele que falava comigo”.
Em outras ocasiões não dá para afirmar que tenha sido uma voz audível, uma impressão, um pensamento ou uma sensação. Mas Deus falou muitas vezes e continua falando de diversas maneiras ao seu povo hoje, principalmente pela sua Palavra, a Bíblia.
Deus pode nos trazer à mente uma passagem ou usar outra pessoa para isso, seja diretamente, seja pela leitura ou pelo ouvir de algum irmão ministrando a Palavra. Sempre que a Palavra de Deus chega até nós ela não voltará vazia, mas irá cumprir os propósitos de Deus. Infelizmente às vezes esse propósito é o de mostrar que não estamos atentos à sua voz, e acabamos perdendo muito com isso.
Se alguém achar que a Bíblia é uma comunicação limitada e que precisa receber algo de novo, alguma trovoada vinda do céu ou uma voz clara e audível, é porque ainda não conhece o poder da Palavra de Deus que tem em mãos. Veja esta passagem:
(2 Pe 1:3-4) “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo”.
O que isso quer dizer é que não nos falta coisa alguma. “Nos deu TUDO o que diz respeito à vida e piedade”. O dia que você achar que já conhece tudo o que concerne à vida e piedade, e está ciente dessas “grandíssimas e preciosas promessas” por meio das quais possamos ser participantes da natureza divina, então talvez irá precisar de alguma revelação fresquinha vinda dos céus. Mas não acredito que seja este o seu caso e nem o meu. Vamos terminar nossa vida aqui sem termos absorvido 1% do que Deus já revelou em sua Palavra. Quem fica correndo atrás de novas profecias, sonhos e revelações é porque ainda não aprendeu a se contentar com a plenitude que há em Cristo.
O objetivo do que Deus nos fala em sua Palavra é nos fazer pensar como ele pensa e agir neste mundo como Jesus agiria se ainda estivesse andando aqui. Deus usa os dons de ministério para nos trazer da sua Palavra e com três objetivos principais: edificação, para crescermos à estatura de Cristo, exortação, para quando andamos errados e precisamos de correção, e consolação, para nos alegrar enquanto andamos neste deserto.
(1 Co 14:3) “Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação”.
(2Tm 3:16-17) “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”.
Portanto Deus ainda fala, mas em tempos de ruína como estes em que vivemos devemos entender que ele não faz isso com a frequência que fazia em outras épocas, como no início da Igreja, por exemplo. Vivemos em um tempo parecido com o de Juízes, quando cada um fazia o que bem entendia, por não terem uma direção. (Jz 17:6) “Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus olhos”.
O livro de 1 Samuel também mostra um estado de coisas parecido com o da cristandade hoje: aqueles que deveriam estar ministrando por Deus em favor do povo estavam engordando e roubando para si próprios aquilo que o povo ofertava a Deus. Eram sacerdotes que nem sequer conheciam o Senhor. Basta ler o capítulo 2 de 1 Samuel para ver algo muito semelhante ao que fazem os pregadores que só sabem pedir dinheiro.
(1 Sm 2:12) “Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial; não conheciam ao Senhor. Porquanto o costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém algum sacrifício, estando-se cozendo a carne, vinha o moço do sacerdote, com um garfo de três dentes em sua mão; e enfiava-o na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto o garfo tirava, o sacerdote tomava para si; assim faziam a todo o Israel que ia ali a Siló. Também antes de queimarem a gordura vinha o moço do sacerdote, e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote; porque não receberá de ti carne cozida, mas crua. E, dizendo-lhe o homem: Queime-se primeiro a gordura de hoje, e depois toma para ti quanto desejar a tua alma, então ele lhe dizia: Não, agora a hás de dar, e, se não, por força a tomarei. Era, pois, muito grande o pecado destes moços perante o Senhor, porquanto os homens desprezavam a oferta do Senhor”.
Além disso era um tempo em que a Palavra de Deus era rara (“de muita valia”), pois não havia “visão manifesta”. (1 Sm 3:1) “O jovem Samuel servia ao Senhor, perante Eli. Naqueles dias, a palavra do Senhor era mui rara; as visões não eram frequentes”.
Talvez você discorde dizendo que tem um montão de “igrejas” por aí onde todos os dias as pessoas têm visões e recebem revelações. Será? Uma vez um irmão contou que alguém na “igreja” onde estava chegou atrasado ao culto porque o pneu do carro furou e não conseguiu trocá-lo, pois seu macaco quebrou. Ao chegar, disse rapidamente à “pastora” que “se atrasou porque seu macaco estava com um problema”. Mais tarde, a mulher no púlpito disse que estava recebendo uma revelação de Deus para aquele irmão, e disparou: “Irmão, não te desesperes porque o Espírito diz que o teu macaco já foi curado!”.
Meu conselho para não ser enganado pelos falsos profetas é que você confira tudo o que diz a Palavra de Deus. Alguns dirão: “Oras, mas isso seria desconfiar do ‘ungido de Deus’!”. Talvez seja isso que o “pastor” tenha lhe ensinado, ameaçando-o com fogo e enxofre se desconfiar dele. Não se preocupe. Eu não conheço ninguém em nossos dias mais ungido do que o apóstolo Paulo, no entanto o Espírito Santo chama de “mais nobres” aqueles que foram conferir se existia fundamento no que Paulo e Silas estavam dizendo.
(Atos 17:10-11) “E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Bereia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”.
Hoje há muitos enganadores, lobos, falsos mestres e falsos profetas querendo se passar por arautos de Deus, quando na verdade não passam de ministros do diabo. Paulo fala deles:
(2 Co 11:13-15) “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”.
Os tribunais estão cheios de processos com acusações de estelionato contra pastores e líderes religiosos, mas infelizmente suas ovelhas são tão cegas que acreditam ser isso perseguição religiosa, e enxergam seus líderes como vítimas e mártires. Não são, e basta ver que os processos são por crimes de estelionato, lavagem de dinheiro, sonegação, formação de quadrilha, conspiração, etc. Não precisa ser muito inteligente para ver que isso nada tem a ver com o único crime de que eram acusados os cristãos e mártires do passado: pregar o nome de Jesus.
(Atos 4:17) “Mas, para que não se divulgue mais entre o povo, ameacemo-los para que não falem mais nesse nome a homem algum. E, chamando-os, disseram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem, no nome de Jesus”.
(1 Pe 4:14-16) “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; Mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte”.
Quem não sabe distinguir entre ser perseguido por pregar o nome de Jesus e ser processado por arrancar o dinheiro dos incautos nem deveria sair de casa desacompanhado. Não são poucos os que hoje vivem na miséria porque doaram absolutamente tudo — dinheiro, eletrodomésticos, casa e carro — para algum líder religioso.
Voltando à questão de Deus falar conosco, o melhor mesmo é conhecer bem a Palavra de Deus para evitar ser enganado. Eu particularmente não gosto quando alguém vem a mim dizendo que “Deus lhe disse para me dizer tal e tal coisa...”. Isso é manipulação. Qualquer pessoa que vem a mim dizendo que o que vai falar é uma mensagem recebida diretamente de Deus está me obrigando a não julgar o que ele vai dizer, a engolir do jeito que está. Porém a Palavra de Deus é muito clara: eu devo julgar sim, não importa quem fale.
(1 Co 14:29) “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”.
(Jo 7:24) “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça”.
(Mt 7:15) “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores”.
(Mt 10:16) “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas”.
(Atos 20:29) “Porque eu sei isto que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho;”.