Somos tentados pelo diabo como Jesus foi tentado?

Existe uma diferença entre a “tentação” de Jesus, que seria melhor traduzida como “teste” ou “prova”, e a tentação pela qual passamos. Repare que o episódio todo começa não por iniciativa de Satanás, mas do Espírito Santo, que leva Jesus ao deserto para ser “testado” pelo diabo.

(Lc 4:1-2) “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto; E quarenta dias foi tentado pelo diabo, e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminados eles, teve fome”.

Embora o caráter daquela “prova” ou “teste” não seja o mesmo das tentações que sofremos, o exemplo de Jesus ao se firmar na Palavra de Deus serve para nós também. Jesus passou no teste. O Espírito não o levou lá para ver se caía em tentação, mas simplesmente para provar que era impossível isso acontecer, pois Jesus, Deus e Homem perfeito, seria incapaz de pecar.

Nós somos tentados por nossas concupiscências, nossos desejos da carne, da velha natureza que continua em nós. Obviamente Satanás e seus anjos e demônios muitas vezes preparam o caminho para isso, colocando diante de nós coisas e situações que apelem para nossos desejos carnais.

(Tg 1:12-15) “Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam. Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”.

Mas veja que as tentações nem sempre são de caráter sexual como muitas vezes pensamos ao falar da “carne” e “pecado”. Quando você vê alguns programas de pregadores da prosperidade na TV percebe que eles estão fazendo o papel do diabo ao estimular seus seguidores a caírem na tentação das riquezas. Essas pregações de prosperidade nada mais são do que shows de tentação para despertar nas pessoas a cobiça por maiores riquezas e poder.

(1Tm 6:9) “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína”.

Quando lemos o que aconteceu aos israelitas no deserto, vemos que uma tentação pode ser por coisas absolutamente lícitas e comuns em nossa vida. Repare que o que a Palavra de Deus chama de “idolatria” nesta passagem nada mais era do que comer, beber e se divertir. E realmente essas coisas são idolatria quando se tornam a razão principal de nosso viver.

(1 Co 10:7) “Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar”.

Um crente cai em tentação quando quer cair, pois ele está perfeitamente capacitado pelo Espírito Santo que habita em si a fugir da tentação. Porém a vontade da carne é poderosa quando damos ouvidos a ela e deixamos de nos dedicar à comunhão com Deus. Portanto, antes de tentarmos culpar Satanás pelas tentações, como desculpa para o fato de termos sucumbido a elas, é bom ter em mente o versículo abaixo:

(1 Co 10:13) “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”.

Depois de publicada esta resposta alguém escreveu como ficaria então a passagem em Hebreus que afirma que Jesus foi tentado como nós somos tentados.

(Hb 4:15) “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.

Tanto em Lucas como em Hebreus a palavra grega é “peirazo” que significa testar (como fazer exame na escola), portanto não dá aí para comparar só pensando no significado do grego, mas sim no contexto. A diferença grande está justamente pelo final do versículo de Hebreus que impõe a imensa diferença que existiu entre a tentação de Cristo e a que sofremos. A palavra “mas”, “porém” ou “exceto” faz toda a diferença. Veja as diferentes traduções:

(ACF) “Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.

(AveMaria) “Porque não temos nele um pontífice incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas. Ao contrário, passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado”.

(Darby) “For we have not a high priest not able to sympathise with our infirmities, but tempted in all things in like manner, sin apart”.

(FDB) “car nous n’avons pas un souverain sacrificateur qui nee puisse sympathiser à nos infirmités, mais nous en avons un qui a été tenté en toutes choses comme nous, à part le péché”.

(LITV) “For we do not have a high priest not being able to sympathize with our weaknesses but One having been tried in all respects according to our likeness, apart from sin”.

(PAST) “De fato, não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado como nós, em todas as coisas, menos no pecado”.

(YLT) “for we have not a chief priest unable to sympathise with our infirmities, but one tempted in all things in like manner — apart from sin;”.

Isso esclarece a tentação que ele sofreu no deserto, isto é, uma tentação “com exceção do pecado”. Não é “sem pecar” como diz a Bíblia na Linguagem de Hoje ou “sem ter cometido pecado”, porque ali o sentido é “sem ter em si o pecado”, “pecado à parte” ou “o pecado não estando envolvido na questão”. Jesus sabia o que era passar por provações e privações, além de tentações, mas nenhuma resposta havia em seu ser santo para o pecado. Ele era tentado de fora para dentro, nós somos tentados de fora para dentro e de dentro para fora.