O arrebatamento da igreja será na tribulação?
Uma das mais benditas verdades resgatadas nos últimos dois ou três séculos é a do arrebatamento da igreja antes que venha a grande tribulação. Essa verdade coloca a esperança do cristão em seu devido lugar. “O meu senhor vem!” E nada mais entre o momento presente e o “fechar e abrir de olhos”, quando veremos a face do Senhor a nos buscar.
Portanto, a reposta é “Não”, o arrebatamento não será no meio da tribulação e nem após ela. O arrebatamento pode ocorrer antes que eu termine de digitar esta resposta, a qualquer momento ANTES que os juízos de Deus caiam sobre este mundo.
Quando não são as religiões tradicionais católicas e protestantes querendo misturar Israel e Igreja e acreditando em uma promessa terrena para a Igreja*, surgem novas teorias que tentam harmonizar o arrebatamento com a vinda de Cristo para reinar, tirando os olhos do cristão a possibilidade imediata de ver a face do Senhor e fazendo-o olhar para os acontecimentos do mundo e a esperar pela vinda primeira, não do Senhor, mas do anticristo.
*A teologia do domínio, que acredita que Israel perdeu o direito às promessas e que estas valem agora para a Igreja, que tem o direito de cristianizar o mundo e deixá-lo pronto para que Jesus venha reinar. Essa teologia levou a igreja de Roma às Cruzadas e os protestantes fundamentalistas norte-americanos à invasão do Iraque e a manter uma política externa de guerras e conquistas.
A nova teoria surgida após a Segunda Guerra Mundial e chamada de “mid-tribulação” tenta harmonizar o arrebatamento pré-tribulação com a visão tradicional de conquista do mundo pelos cristãos, colocando o arrebatamento na metade da sétima semana de anos profetizada por Daniel. Um desdobramento dessa teoria surgiu na década de 70 com o nome de “pré-ira” ou “pré-juízo”, colocando o arrebatamento em algum ponto da segunda metade da última semana profética de Daniel.
Mas essa ideia de um arrebatamento no meio da tribulação ou nos últimos três anos e meio nega alguns princípios básicos da interpretação dispensacionalista das escrituras. Por dispensações entendo as diferentes maneiras de Deus tratar com o homem ao longo da história, o que coloca Israel e a Igreja em posições particulares e distintas. Perder isto de vista é misturar as profecias (feitas a Israel) com as revelações (feitas à Igreja).
Alguns problemas da teoria de um arrebatamento no meio da tribulação:
Essa teoria interpreta erroneamente que o arrebatamento viria a ocorrer ao soar de uma das trombetas de Apocalipse. O problema é que as trombetas de Apocalipse são as trombetas dos sete anjos, não a trombeta de Deus:
(Ap 10:7-11) “Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos. E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre”.
A trombeta do arrebatamento é a “trombeta de Deus”, não do anjo, e é a mesma de 1 Coríntios 15:52:
(1Ts 4:16) “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro”.
(1 Co 15:52) “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados”.
A trombeta de Mateus 24:31 não é a mesma do arrebatamento de 1 Tessalonicenses 4:16. Em Mateus são os anjos que reúnem os escolhidos, no arrebatamento é o próprio Senhor.
(Mt 24:31) “E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus”.
(1Ts 4:16) “Porque o mesmo Senhor descerá do céu... seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor”.
Um versículo às vezes utilizado para indicar que a igreja passaria pela tribulação é 1 Pedro 4:17, mas ali não está falando de um tempo futuro (Apocalipse), mas do tempo presente vivido pelos destinatários da carta e todos os cristãos no tempo da igreja na terra:
(1 Pe 4:17) “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?”.
Eu poderia continuar detalhando todas as falhas da teoria de um arrebatamento no meio da tribulação, mas creio que estas já são suficientes. Talvez a mais importante delas seja o problema que essa interpretação encontra em Mateus 24, ao dizer que os acontecimentos da passagem que é tipicamente judaica (são vários os elementos que apontam para Israel ali, como “sábado”, “Judéia” e perseverança para a salvação da carne) seria compartilhada pela Igreja. Se Jesus estivesse falando para a Igreja, por que a preocupação com o sábado?
Um dos argumentos usados para dizer que Mateus 24 está falando da igreja em meio à tribulação é o uso da palavra “eleitos” ou “escolhidos” no versículo 22. Um dos partidários dessa teoria argumenta:
“Sempre que a palavra grega eklectos (eleito, escolhido) é usada no Novo Testamento para falar de indivíduos ela se refere aos crentes em Cristo, judeus ou gentios (Mt 20:16; 22:14; Lucas 18:7; Romanos 8:33; Colossenses 3:12; 2 Timóteo 2:10; Tito 1:1; 1 Pe 1:1; 2:9; Ap 17:14). Esta palavra nunca se refere a judeus ou à nação de Israel. Por que seria diferente em Mateus 24?”. [Extraído de “The Olivet Discourse — For the Church or Israel?” e Parousia #9, October, 2003].
Será que essa afirmação tem fundamento? Muitas doutrinas erradas são construídas sobre afirmações falsas e este é um exemplo. A palavra grega eklektos (eleitos ou escolhidos) aparece em várias passagens do Novo Testamento e pode se referir tanto a cristãos (Igreja) como a judeus. É o contexto que vai determinar, e é este o caso de Mateus 24. É claro que ela “sempre” se refere aos “crentes em Cristo”, mas é preciso lembrar que hoje os crentes em Cristo são Igreja, e durante a tribulação eles farão parte do remanescente judeu que irá se converter.
Posso usar qualquer palavra, como “casa”, “comida”, “cidade”, o que for, e afirmar o que eu quiser tornando aquela palavra exclusivamente aplicável para aquilo que quero demonstrar. Daí minha pergunta: Quem disse que a palavra “eleitos” sempre fala de cristãos e nunca está relacionada a Israel? O simples contexto de Mateus 24 mostra que neste caso é de judeus convertidos a Cristo durante a tribulação que a palavra fala.
A teoria de um arrebatamento no meio da última semana profética vem satisfazer principalmente aqueles que gostam de teorias conspiratórias e sentem certa emoção e comoção de acompanharem os acontecimentos do mundo e de sociedades secretas, como os Illuminati e outros pretensos donos do poder mundial.
Por mais sinceros que sejam os adeptos da teoria de um arrebatamento no meio da tribulação (ou após a tribulação, como alguns protestantes, ou nenhum arrebatamento, como creem os católicos), é uma pena que estejam perdendo de vista a bendita esperança do crente, que é a vinda iminente de Cristo para buscar sua Igreja.
Ficar ocupado com os acontecimentos mundiais ou esperar pela manifestação do anticristo ANTES de ver a face de Jesus não é exatamente uma boa notícia como a de João 14:3: “E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”. Paulo esperava pelo arrebatamento já nos seus dias:
(1Ts 4:17-18) “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”.
Que consolo pode haver em palavras que dizem para o crente esperar pela manifestação do anticristo e por todas as catástrofes previstas para a última semana da profecia de Daniel?