O cego que nasceu assim

João 9:1-3

Ao encontrarem o cego de nascença, os discípulos de Jesus tentam descobrir a causa do problema, e erram ao levantarem apenas duas possibilidades. Eles perguntam: “Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?” (João 9:2).

A origem de um rio é sua nascente, mas a razão de ele correr neste, e não naquele lugar, depende de vários fatores. É simples entender que a origem de todo o sofrimento é o pecado que arruinou a criação, mas não é tão simples assim descobrir por que um sofre e outro não.

Apesar de existirem problemas que são um resultado direto de nossos erros — como bater no poste por dirigir embriagado — é preciso cautela antes de culpar alguém por algum defeito, doença ou desgraça. Ao encontrarmos uma pessoa que sofre, costumamos agir como os três amigos que visitaram jó em sua tribulação: eles estavam indo muito bem até decidirem abrir a boca.

A interpretação que os três amigos dão para a desgraça de Jó no livro de mesmo nome não representa a sabedoria de Deus, e sim a sabedoria humana. Em 1 Coríntios diz que o mundo não conheceu a Deus pela sabedoria humana, portanto o método usado por Elifaz, Bildade e Sofar não serve para discernir a razão do sofrimento de alguém.

Elifaz fala da experiência própria e individual. Ele diz no capítulo 4 do livro de Jó “Pelo que tenho observado...” (Jó 4:8). Bildade, o outro amigo, apela para a tradição. No capítulo 8 ele diz: “Pergunte às gerações anteriores e veja o que os seus pais aprenderam...” (Jó 8:8). No capítulo 11 é a vez de Sofar apresentar seu argumento religioso e legalista. Segundo ele, se Jó “consagrar o coração... se afastar das suas mãos o pecado, e não permitir que a maldade habite em sua tenda...” (Jó 11:13-14) tudo irá bem.

Somos assim: julgamos as pessoas pela nossa Experiência, pelas nossas tradições e pela religião, e deduzimos que, se alguém sofre, é por ter falhado em algum destes pontos. É claro que esse tipo de julgamento também me faz sentir superior à pessoa que sofre, e minha mensagem acabará sendo: “Seja como eu sou, faça como eu faço, viva como eu vivo, e você não irá sofrer”. Mas, parafraseando José no livro de Gênesis, “estaria eu no lugar de Deus?” (Gênesis 50:19).

Paulo, na carta aos Romanos, diz: “Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu a mente do Senhor?” (Romanos 11:33). Pois é, nem eu nem você somos capazes de entender os motivos e razões de Deus. O melhor é não sairmos por aí dando o nosso veredito para a razão do sofrimento de cada um.

Quando os discípulos perguntam se o cego nasceu assim por causa de algum pecado dele ou de seus pais, Jesus responde: “Nem ele nem seus pais pecaram” (João 9:3). Então por que ele nasceu cego? A resposta está nos próximos 3 minutos.

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