No fogo cruzado

João 19:1-12

Dois homens são pegos em um fogo cruzado. Um é Jesus, atacado de todos os lados pelo povo, clero e soldados. Logo mais ele seria pego em outro fogo cruzado: a cruz. Suas criaturas continuariam a atacá-lo de um lado, enquanto Deus o atacaria de outro, castigando-o por pecados que ele não cometeu.

No capítulo 50 de Isaías o próprio Jesus descreve, de forma profética, o momento em que é coroado de espinhos e vestido com a capa roxa de um rei: “Ofereci minhas costas para aqueles que me batiam, meu rosto para aqueles que arrancavam minha barba; não escondi a face da zombaria e da cuspida” (Isaías 50:6).

Antes de ter suas mãos e pés perfurados pelos pregos, Jesus precisou permitir, por assim dizer, que Deus furasse suas orelhas. No capítulo 21 do livro de Êxodo, a Lei determinava que um escravo hebreu só seria escravo por seis anos. Ao sétimo ele sairia livre. Porém, se tivesse recebido de seu senhor uma esposa, e esta lhe tivesse dado filhos, apenas ele estaria livre.

Mas havia uma maneira de mostrar seu amor pela esposa: recusar a liberdade. Para isso o seu senhor deveria levá-lo à presença dos juízes, colocar sua orelha de encontro ao batente da porta, e furá-la com uma ponta de metal. A madeira do batente ficaria marcada e a orelha do escravo perfurada. Para sempre ele levaria em seu corpo a marca de seu amor pela mulher.

No Salmo 40, Jesus profeticamente fala ao Pai: “Sacrifício e oferta não quiseste; as minhas orelhas furaste”. Por amor de sua noiva, a Igreja, Cristo se fez servo e se dispôs a morrer. No mesmo Salmo ele continua: “Tenho grande alegria em fazer a tua vontade, ó meu Deus” (Salmos 40:6-8). Por isso neste evangelho vemos um Jesus sereno e tranquilo em meio a chibatadas, socos e cuspidas. Ele sabe que é a vontade do Pai que ele dê sua vida como sacrifício em lugar do pecador.

Pilatos, porém, está atribulado. Três vezes ele disse não ver crime algum em Jesus e tentou fazer os judeus mudarem de ideia. Sua esposa o alertou para não se envolver com aquele justo, pois tivera um sonho ruim. O terror de Pilatos aumenta quando os judeus dizem que Jesus declarou ser Filho de Deus. “De onde você vem?”, pergunta Pilatos a Jesus. Sem resposta. O orgulho de Pilatos lhe sobe à cabeça: “Não sabe que eu tenho autoridade para libertá-lo e para crucificá-lo?”. Agora Jesus responde: “Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima” (João 19:9-11).

Pilatos está apavorado, porém o brado dos judeus é decisivo: “Se deixares esse homem livre, não és amigo de César” (João 19:12). Pilatos não pretende correr esse risco, por mais que sua consciência lhe diga para fazer o contrário.

Nos próximos 3 minutos é minha vez de perguntar: “Qual é o seu César?”.

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