Será que Romanos 2:28-29 ensina que os cristãos são judeus espirituais?
“Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.” Romanos 2:28-29
Esta passagem tem sido usada para dizer que os cristãos seriam judeus espirituais, por ter ocorrido neles uma obra interna de fé em suas almas. Essa ideia equivocada resulta de se tirar os versículos de seu contexto. Trata-se de um exemplo clássico de não “manejar (gr. “dissecar”) bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15). A compreensão do esboço básico da epístola aos Romanos e de suas várias seções corrigiria esse equívoco num instante. Tal compreensão iria mostrar que nesta parte Paulo não está falando de cristãos, mas de judeus em sua configuração natural como judeus na economia judaica. Ele não introduz aqui as bênçãos do evangelho e a salvação da alma mediante a fé (mencionadas no capítulo 1:16), o que só fará ao chegar aos capítulos 3:21-5:11. Nesta seção anterior da epístola (Romanos 1:18-3:20), onde nosso texto é encontrado, o apóstolo está mostrando a total depravação de toda a raça humana. Ele enxerga a raça humana como estando em três classes — o gentio degradado (Romanos 1:19-32), o gentio culto (Romanos 2:1-16), e o judeu esclarecido (Romanos 2:17-3:8). Paulo conclui que todos os três estão necessitados de salvação (Romanos 3:9-20). Então, nos capítulos 3:21-5:11, ele introduz o remédio de Deus que é encontrado no evangelho, recontando as muitas bênçãos que este assegura àquele que crê.
Romanos 2:28-29 se encaixa em um lugar da epístola onde Paulo está demonstrando que, mesmo tendo sido os judeus um povo favorecido por estar “exteriormente” conectado com Abraão, e por possuir “os oráculos de Deus” (as Escrituras do Antigo Testamento), e também por possuir uma religião dada por Deus (o Judaísmo), se os judeus não tivessem fé ao praticarem aquela religião, os seus privilégios e a circuncisão de nada adiantariam no que diz respeito ao seu destino eterno. Portanto, o fato de alguém ser judeu de nascença não é suficiente para salvá-lo eternamente. Os israelitas que viveram nos tempos do Antigo Testamento, precisavam ter fé — precisava ter existido uma obra “no interior” de suas almas — a fim de ter algum significado para Deus. O ponto que Paulo tentava frisar era que ser judeu exteriormente não era suficiente.
As pessoas acham que esta passagem esteja ensinando que todo cristão é um judeu, mas na verdade o que ela está ensinando é que nem todo judeu é judeu! Um verdadeiro judeu na religião dos judeus deveria não apenas ser da linhagem sanguínea de Abraão, mas também possuir a fé de Abraão (Romanos 9:6-8). É triste admitir que nem todos os judeus têm fé. Como mencionado, o evangelho e as bênçãos que este oferece e pelo qual uma pessoa se torna cristã, nem sequer entra no assunto da epístola de Paulo até ele chegar ao capítulo 3:21. Até esse ponto da epístola ele está estabelecendo a necessidade do judeu de ir a Cristo para ser salvo. Portanto, Romanos 2:28-29 não está sequer falando de cristãos. Entender o contexto da passagem esclarece esse equívoco imediatamente.