Mateus 14

Mateus 14

Este capítulo começa com o Senhor sendo rejeitado, e isto fica evidente pelo fato de Seu precursor e arauto, João Batista, ter sido morto (Mateus 14:1-12). Depois de ter sido rejeitado o Senhor foi para um lugar deserto onde continuou seu ministério para as multidões (Mateus 14:13-14).

Naquele lugar de desterro o Senhor “curou os seus enfermos”. Isso dava testemunho do fato de que Deus havia realmente visitado o Seu povo na Pessoa do Messias, pois as Escrituras afirmam claramente que quando Ele viesse para estabelecer o Seu reino as curas generalizadas seriam um de seus feitos notórios a todos (Salmos 103:3; Isaías 33:22-24; 35:1-7). Outra característica notável do reino do Messias como é apresentado no Antigo Testamento é que ninguém seria pobre ou passaria fome. Ele fartaria “de pão os seus necessitados” e seria aquele que “que dá pão aos famintos” (Salmos 132:15; Salmos 146:7; Amós 9:13). O Senhor demonstrou isto ao alimentar os cinco mil que estavam com ele no deserto, confirmando assim que Ele tinha poder para estabelecer o reino conforme prometido pelos Profetas (Mateus 14:15-21). Portanto, durante o ministério terreno do Senhor eles “provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro” (Hebreus 6:5). Foi dada a eles uma amostra das coisas que caracterizariam o reino, caso eles O recebessem.

Todavia, esta passagem de Mateus 14 não registra qualquer indício de que o povo apreciasse o que o Senhor tinha feito, e tampouco houve qualquer reconhecimento de que Ele seria verdadeiramente o Messias de Israel. É o que mostra a narrativa, ilustrando assim a infidelidade da nação e sua recusa em reconhecê-Lo como seu Messias. Foram recolhidas “doze alcofas cheias” como uma abundância que seria guardada para ser usada no futuro (Mateus 14:20). Isto sugere que o Senhor ainda não tinha desistido da nação de Israel, e aquilo que sobrepujou seria usado no futuro quando Ele voltasse para tratar com eles outra vez. Nessa ocasião haveria um cesto da bênção de Deus para cada uma das doze tribos.

Por não existir qualquer reação da parte do povo naquela ocasião o Senhor dispensou a multidão (Mateus 14:22-23). Isto ilustra o endurecimento de suas relações com a nação que seria temporariamente deixada de lado. Os doze apóstolos foram então colocados no “barco” e enviados “para o outro lado” do mar. Isto significava uma nova abordagem de Deus no testemunho cristão do tempo presente. O barco sendo enviado através do mar é uma figura do testemunho cristão saindo em meio aos gentios (Atos 15:14). Os apóstolos que entraram no barco representam o remanescente crente de judeus tirados do Judaísmo e introduzidos na Igreja (Atos 2:41; 4:4; 5:14; 6:7; Romanos 11:5; Gálatas 6:16). Enquanto isso o Senhor “subiu ao monte para orar, à parte”. Isto significa a ascensão do Senhor em glória para assumir Sua atual função de Sumo Sacerdote em oração intercessora a favor daqueles que são Seus neste mundo (Romanos 8:34; 7:25).

A jornada dos discípulos no barco até o outro lado foi feita à noite (Mateus 14:24-25). Isto corresponde ao fato de os homens maus terem expulsado o Senhor, que é “a luz do mundo” (João 9:4-5) deixando este mundo em um estado de trevas morais e espirituais. Além disso, durante o tempo da ausência do Senhor, longe de Seus discípulos, uma grande tempestade se abateu sobre o barco. Isto fala da tentativa de Satanás de destruir o testemunho cristão. O “vento”, que “era contrário”, aponta para o fato de que Satanás bombardearia a Igreja com más doutrinas (Efésios 4:14; 2 Pedro 2:1). Todavia, perto do fim da jornada, “à quarta vigília da noite”, a qual se estende até o amanhecer, os discípulos viram o Senhor vindo em direção a eles caminhando sobre as águas e gritaram! (Mateus 14:25:26). Isto aponta para o despertamento ocorrido no testemunho cristão nestes últimos dias. Há cerca de 180 anos o mundo cristão tomou consciência da realidade de que o Senhor estava para voltar em breve. A verdade do Arrebatamento foi recuperada naquela ocasião. A iminência disso cativou a muitos, fazendo com que deixassem de lado os interesses e bens mundanos para servirem ao Senhor com propósito de coração. Isto tem sido chamado de “clamor da meia noite” (Mateus 25:6).

Pedro ficou tão impressionado com a vinda do Senhor em direção a eles que saiu do barco para ir ao encontro do Senhor (Mateus 14:28-29). Isto é uma figura do testemunho remanescente que se formou no século dezenove. Cristãos de várias denominações abandonaram suas posições eclesiásticas e começaram a congregar ao nome do Senhor Jesus somente; eles não tinham o suporte de qualquer sistema religioso, mas confiavam simplesmente no Espírito de Deus em todas as questões concernentes à adoração e ao ministério da Palavra. No que diz respeito a estas coisas, eles trilharam como Pedro o caminho que só pode ser trilhado por fé.

Mas Pedro tirou seus olhos do Senhor e começou a olhar para as ondas, passando a afundar (Mateus 14:30). Se Pedro, ao caminhar sobre as águas, representa os primeiros dias do testemunho remanescente do século 19, Pedro afundando nas águas representa estes últimos dias. O problema foi que Pedro estava tentando fazer algo que ele já estava fazendo, porém sem olhar para o Senhor — e tal coisa não poderia ser feita. De igual modo irmãos em nossos dias estão aprendendo que não são capazes de seguir em frente na condição de um testemunho remanescente (isto é, fazendo o que os irmãos fizeram no passado) sem a energia espiritual e a fé que eles tinham. Todavia, quando Pedro começou a afundar ele fez a coisa certa ao clamar: “Senhor, salva-me!” (Mateus 14:30). Isso é tudo que podemos fazer hoje. Precisamos coletivamente clamar ao Senhor para salvar o testemunho dos santos congregados ao Seu nome (Mateus 18:20). O que encontramos de encorajador no fato de Pedro ter pedido por socorro ao Senhor é que imediatamente o Senhor encontrou-Se com os discípulos e a jornada chegou a fim! (Mateus 14:31-33). Isso nos fala da vinda do Senhor no arrebatamento. Quando vemos as coisas afundando é um sinal de que a vinda do Senhor está próxima. Possamos, portanto, ficar encorajados com isso.

Ao chegarem ao outro lado do lago vemos uma cena de bênção generalizada na terra de Genesaré. Trata-se de uma figura da bênção milenial que ocorrerá após a Igreja ter terminado seu curso neste mundo e um remanescente de Israel ter sido restaurado ao Senhor. “Os homens daquele lugar o conheceram” (Mateus 14:34-36). Isto aponta para o fato de que no dia milenial “a terra se encherá do conhecimento do Senhor” (Isaías 11:9). Além disso, Israel sob a Nova Aliança terá um conhecimento íntimo do Senhor e ficarão felizes de poder ensinar essas coisas às nações (Isaías 2:2-3). “E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor” (Jeremias 31:34). Todos na terra de Genesaré foram abençoados. “Trouxeram-lhe todos os que estavam enfermos... e todos os que tocavam [o Senhor] ficavam sãos” (Mateus 14:36).