A necessidade de se manejar corretamente a Palavra da Verdade
As Escrituras dizem: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja [reparte] bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15). Este versículo indica que a Palavra de Deus possui divisões, e se quisermos ser aprovados diante de Deus precisamos saber distingui-las em nossos estudos das Escrituras. A tendência da maioria dos cristãos é enxergar a Palavra de Deus como uma massa indistinta de versículos bíblicos que teriam sido todos escritos especificamente para nós, os crentes no Senhor Jesus. Todavia, existem coisas que foram escritas para Israel e pertencem àquele povo, e há também coisas que foram escritas para a Igreja e dizem respeito especificamente a ela. As Escrituras fazem distinção entre estes dois grupos de pessoas abençoadas como sendo entidades distintas das nações gentias. Ela diz: “Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus” (1 Coríntios 10:32). Manejar ou repartir bem a Palavra da Verdade é estudar a Bíblia, observar, e entender as distinções que Deus fez entre estes diferentes grupos. Israel, Igreja e Gentios têm vocações, bênçãos e destinos completamente diferentes no plano de Deus para a bênção dos homens. Cada grupo foi chamado com o propósito de manifestar as glórias e excelências de Cristo em diferentes esferas de Seu reino vindouro, não apenas na terra, mas também nos céus:
• Israel — “A esse povo que formei para mim; o meu louvor relatarão” (Isaías 43:21; 60:1-22; Salmos 79:13).
• Gentios — “E os gentios... publicarão os louvores do Senhor” (Isaías 60:3-6).
• Igreja — “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2:9; Apocalipse 21:10-11).
O fato de 2 Timóteo 2:15 dizer “... que maneja [reparte] bem a palavra da verdade” indica que as Escrituras podem ser mal manejadas ou repartidas e aplicadas. Este tem sido o caso do método pactualista de interpretação bíblica que examinaremos no final deste livro. Portanto, é preciso ter cuidado no manuseio das Escrituras e prestar atenção às distinções entre o que é interpretação e o que é aplicação.
Como cristãos, somos culpados de cristianizar as Escrituras que não foram dirigidas a nós e imaginar que elas tenham sido. Pegamos passagens que foram claramente escritas para Israel e imaginamos que estejam se referindo à Igreja. Um exemplo disto são os subtítulos de algumas Bíblias que aparecem no topo de várias páginas, particularmente nos livros dos Salmos e do profeta Isaías. Esses subtítulos, que não fazem parte das Escrituras divinamente inspiradas, foram adicionados pelos tradutores para instruir o leitor (infelizmente de forma errada) que essas passagens teriam sido escritas (na opinião deles) para a Igreja, quando elas foram claramente escritas para Israel. É compreensível que isso tenha acontecido, já que os tradutores eram teólogos reformados da Teologia do Pacto. Não estamos dizendo que os cristãos não deveriam ler e buscar por lições morais e práticas nas passagens do Antigo Testamento — 1 Coríntios 10:11 e 2 Timóteo 3:16 indicam que devemos fazê-lo. Mas isto não significa que as passagens do Antigo Testamento tenham sido escritas para cristãos, pelo menos quando o assunto é a interpretação. Romanos 15:4 diz: “Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança”. Aquelas coisas no Antigo Testamento foram escritas “para” nós, mesmo que não tenham sido dirigidas “a” nós. Isto é algo que deve ser observado e compreendido por todo estudante da Bíblia.