O que é a Teologia Reformada do Pacto?
1. A Teologia Reformada do Pacto trata-se de um sistema de ensino que não faz diferenciação na família de Deus. Ela enxerga os santos de todas as eras (Antigo Testamento, Novo Testamento e reino milenar) como sendo uma companhia de crentes igualmente abençoados em seu relacionamento com o Senhor. São considerados como parte da Igreja de Deus, o corpo e noiva de Cristo, como o “um só povo de Deus”. Portanto a Igreja (segundo o modo de pensar desses) é algo que teria começado há muito tempo no Antigo Testamento. E a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes (Atos 2) não seria mais que um reavivamento ocorrido dentro da Igreja. Assim, as bênçãos distintas que as Escrituras apresentam como sendo exclusivas dos cristãos seriam consideradas como pertencentes a todos os santos em todas as épocas.
2. A Teologia Reformada do Pacto rejeita a ideia de que haverá uma restauração literal de Israel e um reino literal sobre o qual Cristo irá reinar por mil anos (o Milênio). Ela enxerga Israel como tendo perdido para sempre suas bênçãos materiais por causa de sua incredulidade, e que o reino de Cristo seria algo apenas espiritual — não haveria um reino literal. Portanto, as promessas feitas para os patriarcas de Israel concernentes à bênção literal da nação teriam se tornado nulas e sem efeito, e os movimentos de Deus visando a restauração de Israel, que são registrados nos escritos dos Profetas do Antigo Testamento, teriam se concretizado no dia de Pentecostes de uma maneira meramente espiritual (Atos 2). A bênção agora, tanto para judeus como gentios, é possuída apenas em uma linha espiritual, não material, e todo aquele que crê é considerado o “Israel espiritual” e estaria sob a Nova Aliança (Jeremias 31:31-34).
3. A Teologia Reformada do Pacto nega que esteja para acontecer uma Grande Tribulação neste mundo, com uma Besta Romana, o Anticristo, o Armagedom, o Rei no Norte, Gogue etc. Todas essas coisas são consideradas como já tendo acontecido por volta do ano 70 D.C. Deste modo, os eventos no livro de Apocalipse e outras passagens proféticas teriam já acontecido ou estariam acontecendo hoje de uma maneira espiritual. Além disso, o Arrebatamento e a Manifestação de Cristo seriam considerados um único e mesmo evento que deverá ocorrer depois que a Igreja for bem sucedida em evangelizar o mundo. Já que o mundo está longe de ser convertido em curto prazo, a vinda do Senhor não seria considerada iminente! Enquanto isso, os Cristãos são encorajados a não apenas pregar o evangelho, mas também a exercer uma influência piedosa onde quer que puderem para ajudar na reforma do mundo. O envolvimento em política, reformas sociais, etc. é considerado um dever cristão.
No que concerne ao reino de Cristo, alguns teólogos do Pacto são Amilenistas (ou Amilenialistas) e outros Pós-milenistas ou (Pós-milenialistas). Ambos acreditam que estaríamos vivendo agora mesmo no tempo do reino público de Cristo, isto é, naquilo que os dispensacionalistas chamam de “Milênio”. Os Amilenistas ensinam que não haverá um reino literal de Cristo! Ao invés disso creem que o reino só existe como algo místico ou espiritual no qual estaríamos vivendo agora. Para eles os eventos proféticos registrados no livro de Apocalipse já teriam acontecido ou estariam acontecendo nos dias de hoje, porém de uma maneira espiritual. Eles creem que o Senhor não irá voltar à terra no sentido literal (o Arrebatamento), mas que Sua vinda seria algo espiritual que ocorre quando o crente morre. No momento da morte o Senhor viria (em espírito) e levaria a alma do crente para o céu. Portanto, a vinda do Senhor já teria acontecido milhares de vezes e continuaria a acontecer sempre que um crente morresse!
Os Pós-milenistas, por sua vez, acreditam que o Senhor voltará literalmente, mas que isso não é algo iminente. Isso só aconteceria após os cristãos terem evangelizado e convertido suficientemente o mundo a Cristo. Portanto, eles acreditam que o mundo será endireitado pela influência do evangelho, ao invés do juízo, como ensinam as Escrituras (Isaías 26:9), e que isso iria então se transformar no reino de Cristo. Além disso, acreditam que a Igreja já teria passado pela Grande Tribulação, a qual eles creem ter ocorrido na época da destruição de Jerusalém por Tito e pelos romanos no ano 70 da era cristã. Portanto, a Grande Tribulação não iria acontecer no futuro. Eles ensinam que, quando Senhor vier, tanto o Arrebatamento quanto a Manifestação irão acontecer ao mesmo tempo. O Senhor iria ressuscitar os mortos — justos e injustos ao mesmo tempo — levando os justos (com os santos vivos) entre nuvens para se encontrarem com o Senhor nos ares. Ele então os traria diretamente de volta à terra e estariam com o Senhor enquanto Ele julgasse os ímpios que Ele teria também ressuscitado nessa ocasião. Todos os justos iriam então viver com Cristo na terra durante o Estado Eterno. Os teólogos do Pacto não percebem que haverá uma seção celestial no reino para os santos glorificados quando Cristo reinar publicamente (Daniel 7:18, 22, 27; Mateus 13:43).
No que diz respeito ao atual chamado do evangelho, a Teologia do Pacto mistura o Evangelho da Graça de Deus com o Evangelho do Reino em um mesmo apelo evangelístico. A consequência é o erro de “reinalizar” a Igreja. A Igreja e o reino são vistos como uma coisa só, e consequentemente, Cristo é chamado de Rei da Igreja e dizem que Ele reina sobre ela agora. Por considerarem Israel como sendo a Igreja no Antigo Testamento, e a Igreja como o Israel no Novo Testamento, eles acreditam que os cristãos deveriam guardar a Lei. Por isso transmutam falsamente o Sábado para o Dia do Senhor, e insistem que os cristãos devem “observar” e “guardar” o Dia do Senhor como se fosse o Sábado. Consequentemente também não veem qualquer problema em adotar os métodos e princípios judaicos de adoração que Israel usava nos tempos do Antigo Testamento.
Em suma, a Teologia Reformada é uma interpretação errônea das Escrituras que enxerga a salvação e bênção do homem como o foco primário das tratativas de Deus sobre a terra. Deste modo os teólogos reformados acreditam que João 3:16 seja o versículo-chave da Bíblia. Todavia, as Escrituras ensinam que o propósito de Deus tem a ver com algo muito mais elevado que a bênção do homem. Esse propósito diz respeito à exibição da glória de Cristo no mundo porvir em duas esferas (o céu e a terra), através de um vaso especialmente formado por Deus, a Igreja. Efésios 1:10, portanto, é um versículo mais adequado para definir o propósito final de Deus na consumação dos séculos. Deus ama a todos os homens e está salvando alguns por Sua graça, mas por maior e mais maravilhosa que seja esta obra, ela aparece no panorama geral enquanto Deus trabalha o Seu propósito final que é o de exibir a glória de Cristo naquele dia vindouro.
Colocando de uma maneira mais simples, a Teologia do Pacto é um sistema de interpretação da Bíblia que enxerga as promessas e profecias do Antigo Testamento como se estivessem sendo cumpridas hoje na Igreja e de maneira espiritual. Já que essas coisas não podem ser demonstradas como tendo acontecido literalmente, os teólogos do Pacto inventaram um falso princípio de interpretação conhecido como “espiritualização”. Desse modo eles tomam algumas declarações das promessas e profecias do Antigo Testamento e reivindicam que elas estariam se cumprindo hoje espiritualmente ou alegoricamente, ao invés de literalmente. Este método de interpretação da Bíblia é chamada de “Teologia do Pacto” ou “Aliança” por ser supostamente baseada nos pactos ou alianças de promessa que Deus fez com Abraão, Moisés, Davi, et. Ela é também elaborada sobre dois pactos fictícios que não são mencionados nas Escrituras — o Pacto da Graça e o Pacto das Obras.
Suas origens podem ser traçadas desde os primeiros séculos da história da Igreja, quando homens (como Agostinho) ensinaram algumas dessas coisas. Elas foram mais tarde formuladas como um sistema de doutrina e popularizadas pelos reformadores nos anos 1500. Portanto, ela é às vezes chamada de “Teologia Reformada”, embora suas origens estejam muito antes da Reforma. É triste precisar dizer que este método errôneo de interpretação tem levado muitos amados cristãos a acreditarem em uma porção de coisas que são contrárias às Escrituras.
Quando você dá um passo para trás e observa esta interpretação errônea, pode até perguntar: “Quem é que iria acreditar em algo assim?”. A resposta é vista na figura apresentada no início deste livro, ou seja, a maior parte das organizações eclesiásticas cristãs atuais professa essa teologia como parte de sua declaração denominacional de fé!
O principal erro, do qual deriva boa parte dos erros colaterais da Teologia do Pacto, é a ideia equivocada do “um único povo de Deus”. Ela não enxerga a verdadeira natureza da Igreja, sua vocação e esperança como sendo uma companhia especial de crentes que pertencem ao céu e que possuem um lugar especial em relação a Cristo como seu corpo e noiva. A Teologia do Pacto possui, por assim dizer, uma espécie de fôrma na qual ela derrama os santos de todas as épocas e faz de todos eles o povo de Deus chamando-os de Igreja. Essa teologia não distingue “as coisas excelentes” (Fp 1:10 — ou “coisas que diferem” na Young’s Literal Translation) nas tratativas de Deus para com os homens, e por isso falham em enxergar que existem diferentes categorias em “toda família” de Deus — alguns estando nos “céus” e outros na “terra” (Efésios 3:15). Portanto, os teólogos do Pacto tentam fazer da Igreja a continuadora espiritual de Israel. Em seu pensamento as bênçãos prometidas a Israel estão sendo cumpridas na Igreja de uma maneira espiritual, e por isso não se cumprirão no sentido literal para Israel. Essas noções deixam os que seguem a Teologia do Pacto em uma grande dificuldade quando interpretam as Escrituras, pois muitas das coisas que foram prometidas a Israel no Antigo Testamento não fazem sentido se interpretadas alegoricamente.
Desnecessário é dizer que esse sistema errôneo de interpretação se opõe a todo o conceito da interposição da vocação celestial da Igreja como sendo algo intercalado (como um parêntese) nas tratativas de Deus para com a nação de Israel.